A abstenção é a causa principal para a surpreendente derrota de Medina em Lisboa, se começarmos por ser apenas descritivos. O voto em Moedas foi igual ao da direita em eleições passadas, somando os partidos coligados, enquanto o incumbente viu desaparecerem 25 mil votos. Quer dizer que a direita não cresceu, o PS é que mirrou. A partir daqui, dois automatismos preenchem os espaços de opinião: (i) usar a abstenção e seu efeito em Lisboa para lhe impor uma intencionalidade laranja (no caso, a de ser prova do falhanço executivo dos socialistas no governo da Câmara e do País e sinal do “novo ciclo”), (ii) e fazer da abstenção um monstro inofensivo e familiar, pois a cada acto eleitoral o monstro é fonte de alarme, e esse alarme é fonte de indiferença até para os alarmistas. Alguns destes, no delírio de acharem que têm coisas para dizer que valham o tempo que demora a ouvi-las, não perdem a oportunidade para meter a cassete do “voto obrigatório”, um castigo que gostariam de ver aplicado sem piedade a esses milhões de madraços que preferem ficar em casa ou andarem a passear em vez de irem meter um voto branco ou nulo nas urnas.
A falta de imaginação é característica fatal do nosso comentariado. Daí não se ter falado num outro sentido possível para a abstenção em Lisboa: ser uma manifestação de agrado com Medina e um efeito da confiança desses cidadãos no regime democrático. Para a primeira possibilidade, temos o conjunto de todas as sondagens anteriores à votação que mostravam isso mesmo. Para a segunda, temos as estatísticas internacionais que mostram ser inevitável o aumento da abstenção à medida que as democracias vão ficando consolidadas, previsíveis, fiáveis. Não é, para uma fatia muito larga dos abstencionistas, por recusarem a democracia ou ela lhes ser indiferente que não votam, precisamente ao contrário: identificam-se tanto com os valores democráticos, e confiam tanto nos representantes políticos, que deixaram de se preocupar com assuntos para os quais não têm interesse ou disponibilidade cognitiva suficiente na ocasião. Se juntarmos a este quadro a evidência de que é preferível não ter votos nascidos da ignorância, do fanatismo ou da doença mental, antes da informação, da inteligência e da reflexão, quase que acabamos como qualquer cientista político desde Platão – a fazer figas para que a abstenção seja cada vez maior.
a direita uniu-se e o moedas fez campanha. a esquerda desuniu-se e o medina não fez campanha.
Não me parece nada que tenha sido a abstenção a causa da perda de mandato de Medina.
A resposta é bem mais simples: foi a mediocridade da gestão de Medina e os esquemas montados pela camarilha na Câmara que irritaram os eleitores. Medina apenas governou para uma minoria, complicando a vida aos restantes.
O que aconteceu em Lisboa não é diferente do que já aconteceu muitas vezes em eleições: não foram os ganhadores que ganharam, mas foram os derrotados que perderam e, consequentemente, ao perderem permitiram a ascensão dos adversários.
E, sinceramente, acho que Medina percebeu isso muito bem.
Larga esse tinto , é bera : as pessoas não votam , como eu , porque não temos ninguém em quem votar. à medida que a fachada da “partidocracia” vai ficando maior , mais as pessoas exigentes se afastam da farsa.
e , aliás , os “democratas ” adoram a abstenção , porque de não ser assim , já existiria um sistema de voto electrónico , e , desde o sofá , o descontente votaria , digo eu.
no meu município fiz campanha por “amiguismo” , por exemplo , eram todos tão maus que mais vale apoiar um amigo ,mesmo sendo do cds . apesar disso , nem votei.
Com cinismo e deserção cívica se passam atestados de óbito à democracia. Tudo com uma lata descomunal.
à democracia partidária , que ele há mais , mas não as deixam nascer. e para o novo nascer , o velho tem de morrer.
Houve claramente uma desmobilização entre os potenciais eleitores de Medina induzida pelo otimismo das sondagens, a que juntaram outros factores como os erros nas candidaturas a algumas juntas de freguesia (Arroios por exemplo), a irritação dos lisboetas com as ciclovias e outras obras afins que beneficiam apenas uma minoria de pessoas, perante a relativa passividade perante problemas urgentes como o aumento dos preços da habitação. Dito isto o programa de Moedas para Lisboa é uma mão cheia de banalidades …
gostava de saber como é que o moedas vai cumprir as promessas de acabar com as ciclovias, aumentar o estacionamento e reduzir o preço em 50%, quando as directivas da cee têm em vista a redução do transporte privado em centros urbanos. se não cumpre os objectivos da comunidade europeia na redução de emissões de co2 não recebe fundos e se calhar vai ter de devolver aquilo que o medida já gastou. portanto a grande bandeira eleitoral foi içada de pernas para o ar e ficou a 1/2 haste ou seja o ganda ex-comissário europeu que geria milhões enfiou uma colossal tanga aos indignados dos pópós.
nem a propósito , a caixa de pandora… enquanto houver gente que possa comprar os “representantes” do povo nunca haverá democracia a sério , até lá não passa duma fantochada. e haverá sempre quem possa comprar os intermediários enquanto não houver democracia directa ou um sistema de governo do povo para o povo e pelo povo por inventar , dispomos hoje de carradas de meios para poder participar na gestão da res publica sem pagar a intermediários que levam a parte de leão do nosso trabalho.
“é preferível não ter votos nascidos da ignorância, do fanatismo ou da doença mental, antes da informação, da inteligência e da reflexão”. Lapidar. Brilhante. Seria a via para o avanço da democracia, não fosse o caso de não funcionar, como prova o facto de que quem escreveu isto e a restante seita socretina insistir em votar.
“Democracias directas e “sistemas de governo do povo para o povo e pelo povo por inventar”
A indigência intelectual é bem servida pela irresponsabilidade da propostas.
sim , claro , porque continuar com democracia à zézito sócrates , o rei sou eu , é de uma inteligência supina e de uma responsabilidade cívica que faz favor. vá dar banho ao cão. e não se esqueça de pagar a quota no partido que lhe dá de comer.
“vá dar banho ao cão”
A indigência intelectual é bem servida pela inépcia dos argumentos.
Esta, não!
Medina perdeu não porque a abstenção traduz uma confiança crescente na Democracia!
Medina perdeu porque vinte e cinco mil eleitores do PS se desinteressaram, para além dos que se abstêm regularmente!
Se o PS teimar em continuar a não querer perceber isto, nunca mais se recompõe em Lisboa…
E perorar com os imaculados e inquestionáveis dinheiros europeus contra a vontade cristalina do eleitorado é assim como brandir uma espada reluzente contra uma metralhadora.
a infantilidade intelectual é bem servida pela inépcia prática…insistir nos pseudo beneficios de um sistema que caiu claramente na oclocracia e que se recusa a procurara soluções é de burrico teimoso ,resistente á mudança. e dos que usam paletes.
“Antolhos” ou “palas”. Duro de ouvido a tocar do dito dá sempre desafinação. A obsessão com o “zezito” (“zézito” é analfice) insemina tímpano e ouvido médio e phode o resto da canção.
bem me parecia que paletes eram resmas. a idade não perdoa , distrai-me com a imagem do burrico a dar à nora ,sempre na mesma volta , com as palas muito bem postas.