Dominguice

Precisamos de falar a mesma língua para comunicarmos uns com os outros. Desde a infância que o conseguimos fazer, e cada vez melhor até um certo ponto de crescimento. A partir desse ponto, imprevisível, só o domínio da língua comum não chega para a nossa necessidade de comunhão. Precisamos, então, de aprender a falar as mesmas palavras. Saber o que o outro quer realmente dizer quando usa “vou”, “medo”, “amor”. Saber que o outro sabe o que quero realmente dizer quando uso “quero”, “triste”, “liberdade”.

Não há escolas de palavras. Quase nunca temos tradutores à borla que nos possam valer. Daí se acabar, eventualmente, por ter de recorrer aos serviços dos psicólogos, dos advogados, dos polícias. Péssimos serviços apesar de bem intencionados e úteis. Simulacros de tradução das palavras que somos.

20 thoughts on “Dominguice”

  1. é muito, muito, muitíssimo, difícil comunicar de – e com – verdade e a comunicação trancende as palavras que tantas vezes são cegas e surdas e mudas. mas também somos palavras, eu sou, esse universo por dentro da ilha. e das palavras fazemos pontes para chegar a outra ilha. outras vezes não conseguimos, nadamos e cansamo-nos: voltamos para trás para a nossa ilha onde sabemos, porque a vemos, o que significa cada palavra que utilizamos e soltamos. há quem as consiga abraçar e há as palavras que ficam soltas e a zangarem-se umas com as outras de outros, uma batalha de palavras perdidas e encontradas em contra-boca a quererem fugir, outras a gritar, depois também há o vento esperto que a algumas dá boleia, carrega-as na asa sem canal. palavras muitas, pouca, grelhadas, assadas, brancas, cor-se rosa, palavras de seda ou de fazenda ou de tule; palavras que cantam e que dançam; palavras que esfaqueiam, palavras que beijam, palavras. palavras que esperamos, palavras com pele e com osso, palavras na terra do quintal, palavras porque só as temos mesmo quando não as temos. palavras, afinal.

    adorei, adorei, adorei. palavra.

  2. será por isso que instintivamente escolhemos para nos relacionar determinadas pessoas, suponho que falarão a mesma “língua” que nós. e nessa escolha a comunicação não verbal deve ter um papel relevante.

  3. entretanto , havendo problemas entre pessoas que falam “línguas” diferentes , temos a figura do mediador , cuja função é exactamente clarificar conceitos e por as pessoas a comunicar.
    ora , aqui , a educação cívica é que poderia ter um belo papel , ensinando os miúdos a mediar conflitos e métodos participativos de resolver problemas , cada um resolvendo as suas cenas sem intervenção estatal.

  4. curioso
    que o valupi não considere os politicos como parte desses péssimos serviços de traduções das palavras que somos.
    talvez tenha sido um esquecimento, mas não deixa de ser estranho.

  5. tal como no tango, são precisos dois para comunicar, yo.
    muitas vezes, a comunicação torna-se impossível por vontade de uma das partes integrantes e não propriamente por alguma incapacidade desta.
    e nesses casos, não há mediador que lhe valha. excepto talvez como testemunha.
    como dizia o filósofo americano g. constanza “não é mentira, se tu acreditares”

  6. Esta pretensa necessidade de “comunhão”, tu é que a tiras da manga, sem justificação. E’ provavelmente uma ânsia mistica, responsavel de muitas infelicidades, talvez de todas elas. Mas nada nos diz que é necessaria. Em vez dela, a inteligência, a ciência, a urbanidade, a sociedade, a propria amizade chegam amplamente para prencher a vida, e mesmo para nos tornar melhores, aprendendo nas varias escolas da realidade, que são todas elas, por definição, escolas de palavras (nas mais variadas linguas). O resto é o famoso “there are more things”. Ou seja, essencialmente, teatro…

    Boas

  7. E temos as palavras que nem como palavras valem, palavras ocas, conchas vazias, comboios de palavras umas às outras atreladas, nada dizendo e tudo fingindo dizer, palavras de plástico os oceanos empestando, bandos de palavras, cardumes de palavras, manadas de palavras no pasto pastando e o pasto cagando. Adivinhem quem vem jant… perdão, quem vem pastar, de quem estou eu a falar? Um penico de plástico a quem acertar.

  8. não se trata de preencher a vida , trata-se de dispensar a lei e o direito como cimento social. acho eu.

  9. Ai a fome no mundo, caraças! Que preocupeidados que nós estamos todos! O trigo, o trigo ucraniano, Dio mio! As barrigas das criancinhas africanas por ele ansiando e a Moscóvia tudo fornicando!

    Que importa que a Rússia exporte, em média, duas a quatro vezes mais trigo do que a Ucrânia e que essas exportações estejam a ser impedidas de chegar ao mercado mundial? Não interessa corno, o que importa é a narrativa, que se foda a realidade! A narrativa tem dono e as palavras também, e o “falarmos a mesma língua para comunicarmos uns com os outros” não adianta nada. Bastaria uma pikena googlação com “wheat exports by country” para o perceber, mas o que interessa isso aos borregos?

    Slava borreguini! Méééééé!

    https://swentr.site/business/559561-russia-sanctions-removal-lavrov/

    “Those illegitimate restrictions that were imposed… prevented operations with Russian grain, including insurance, including the admission of our ships to foreign ports and foreign ships’ entry into Russian ports,” Sergey Lavrov said.
    “After the signing of agreements in Istanbul at the initiative of the UN Secretary General, he volunteered to seek the removal of these illegitimate restrictions. Let’s count on him to succeed,” the foreign minister added.
    At a news conference last month, he said: “There is a problem with the export of Russian grain. Although the West loudly reminds everyone that grain is not subject to sanctions, for some reason they are bashfully silent about the fact that ships carrying Russian grain are subject to sanctions. They are not accepted in European ports, they are not insured, and, overall, all logistics and financial matters, which are associated with the supply of grain to the world markets, are under sanctions of our Western colleagues.”

  10. Yo,

    Eu percebo que o post é mais sobre o domingo, ou assim, mas para todos os efeitos, no dominio da lei e do direito é que não ha mesmo, por principio, ou mesmo por hipotese, nenhuma comunhão possivel para la da que se pode exprimir numa lingua comum…

    Boas

  11. ah , agora lembrei-me da coisa do espírito da lei e das várias interpretações possíveis da mesma lei. ó pá , nem aí comunicamos direito -:)

  12. onde está a revolução para a evolução? que desconsolo, quero lá saber do montenegro, quero é daquilo e do começa a semana com isto. domingo e segunda são dias de dominguices e segundices, homessa

  13. e amanhã , 26 de julho , começa o novo ano solar , segundo os mayas , portanto

    “un día que invita a amar a todos y a reflexionar sobre el significado del saludo maya In Lak’ech cuya traducción es Yo soy otro tu.
    Al saludo de In Lak’ech se responde con Ala K’in que significa Tu eres otro yo “

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