Dominguice

Miguel Arruda alcançou o feito homérico de ser um refrigério humorístico à escala internacional numa semana de trumpatologia aguda. Devia haver um qualquer prémio para a façanha ou organizar-se um peditório nacional para o recompensar. Não o teria conseguido se tivesse cometido crimes que manifestassem alguma capacidade de causar danos graves a alguém, como fazer assaltos violentos ou ameaçar a integridade física de terceiros. Foi ao contrário. Os crimes, se esquecermos o grande incómodo material e psicológico das vítimas, tiveram como alvo principal o destino público da sua pessoa, de agora em diante um saco de encher de piadas. Para sempre. Isto porque em cima dos furtos picarescos teve engenho e arte para dar explicações ainda mais burlescas. O resultado levou a sua figura para uma dimensão de ridículo que a razão já não acompanha. E isso leva a reconhecer que só estando fatalmente diminuído no plano cognitivo teria ignorado as evidentes e inevitáveis consequências dos seus actos — os do aeroporto e aqueles que nos ofereceu depois de ter sido apanhado pelas autoridades. Miguel Arruda, como pessoa doente, merece compaixão e precisa de ajuda.

As bocas no Parlamento sobre o caso foram uma forma de violência contra si que, em simultâneo, nasciam da motivação para atingir o Chega e Ventura no desopilanço sarcástico. Tudo normal e automático. Já a violência de Pedro Pinto, líder da bancada do Chega, que ostensivamente aludiu a possíveis agressões físicas contra ele vindas dos deputados do partido, é de outra natureza, e explica o percurso de Miguel Arruda. Uma pessoa tão imbecil como este homem da mala pode ter um discurso fascistóide articulado, funcional. Ameaçar de porrada quem nos envergonha para o levar a fugir igualmente não carece de significativo gasto neuronal. É precisamente por Ventura e falange terem vindo a normalizar a semiótica da violência política no campo das ameaças físicas que importa não exercer violência psicológica contra o taralhouco açoriano. Nem contra ninguém do Chega. Combater Ventura passa, essencialmente, por explicar Ventura.

19 thoughts on “Dominguice”

  1. «Miguel Arruda, como pessoa doente, merece compaixão e precisa de ajuda.»

    Aproveitando o ambiente filosófico destas reflexões dominicais: porque não estender a compreensão e a compaixão ao pulha Ventura? Não serão as escolhas e a pulhice deste também uma doença? O que define uma doença? O Arruda decidiu roubar as malas; o Ventura decide ser pulha.

    Toda a gente, até o 44 ou o Al Capone ou o Genghis Kan, é o resultado dos seus genes, da sua educação, das circunstâncias a que tem de adaptar-se, das suas sinapses e da química do seu cérebro. Há quem diga que não somos realmente responsáveis por nada; que tudo o que somos e fazemos é o resultado lógico, previsível e inescapável disto. O Arruda ladrão de malas. O Ventura pulha.

  2. «Miguel Arruda, como pessoa doente, merece compaixão e precisa de ajuda.»
    IRONICAMENTE

    Ao contrario do que se usa dizer, a ocasião não faz o ladrão, SÓ o REVELA.
    A ajuda que ele e todos com a mesma patologia ou similares, precisam, é o tratamento chamado
    DEIXA DISSO

  3. Filipe Bastos, o livre arbítrio existe e a prova é a resistência. Não nos abandonamos às brisas da natureza. Sofremos por isso.
    Imagina te entre duas margens de um rio. Sabes que por cada braçada que dás é uma a mais que tens de dar para voltar. Isso chama se determinismo. Mas há uma opção. Podes nadar até à outra margem e suprimir qualquer causa dada. Hei de pintar esse quadro. Vai se chamar livre arbítrio

  4. «Filipe Bastos, o livre arbítrio existe e a prova é a resistência.»

    Quem argumenta que tudo o que fazemos é o resultado previsível e inevitável de como o nosso cérebro funciona nega a existência de livre arbítrio, Eduardo. A resistência não é excepção, faz parte dessa lotaria que nos calhou. Ou seja, há um conjunto de factores que nos farão dar mais uma braçada, factores fora do nosso alcance, e só nos iludimos ao pensar que é uma escolha.

    Aqui um longo artigo sobre o assunto:
    https://theguardian.com/news/2021/apr/27/the-clockwork-universe-is-free-will-an-illusion

  5. Existe livre arbítrio , pois genética e educação contam para o carácter, sem dúvida, mas continuamos a fazer contas de custo benefício na hora das decisões.

  6. Novamente, yo, os defensores desta tese dir-lhe-ão que as suas contas de custo/benefício são também previsíveis e inevitáveis em função do seu conjunto de factores mentais.

    Isto enfurece as pessoas, pois invalida noções que lhes são caras como a da culpa e a do mérito. Somos todos o chatGPT: funcionamos melhor ou pior consoante o processador e a memória que nos calhou, o que nos ensinaram e o código que resulta da nossa interacção com o mundo. Tudo isto pode ser medido e previsto com elevado grau de certeza quando se tem todas as variáveis.

    Não sei se viu o 12 Monkeys, um filme divertido do Terry Gilliam. O personagem do Brad Pitt, que é maluco, às tantas diz assim: “When I was institutionalized, my brain was studied exhaustively… I was interrogated, I was x-rayed, I was examined thoroughly. Then, they took everything about me and put it into a computer where they created this model of my mind. Yes! Using that model they managed to generate every thought I could possibly have in the next, say, 10 years. Which they then filtered through a probability matrix of some kind to determine everything I was gonna do in that period. So you see … [they] know everything I’m ever gonna do before I know it myself.”

    Diria que já estivemos mais longe disto vir a ser parcialmente possível.

  7. por exemplo : há certos tipos de actos a que o corpo obriga , como comer. depois podemos decidir se vamos ao mac comer merda e beber coca cola ou se vamos à taberna beber uma bejeca e comer uma bifana grelhada , se vamos a casa comer sopa e beber um vinho e tal , depende do que valorizamos em nós -:) os primeiros já nem têm cérebro , tão comido pela pub está.

  8. “custo/benefício são também previsíveis e inevitáveis em função do seu conjunto de factores mentais.”
    e aqui entra a educação… que não é mais que a tentativa , primeiro dos pais , depois da sociedade ( socialização) de condicionarem as nossas escolhas mostrando como benéfico certas coisas e como custos outras .
    no caso dos pais , a educação boa inclui o ensinar a saltar obstáculos e a adiar satisfação.
    portanto , podemos sempre resistir às tentativas de condicionamento e das quais nos poderemos libertar se tivermos tido a sorte de ter uns pais que nos ensinassem a saltar obstáculos -:)

  9. embora às vezes ache que os planetas são como teclas dum pc e que alguma coisa lá em cima nos formata como bonecos de um jogo , tão estranhos são os mapas astrais. a primeira vez que fiz um fiquei abismada : afinal eu não sou eu , sou um produto duma mistura de posições planetárias. até a necessidade de especular constantemente estava lá escarrapachada.

  10. e o LIVRE ARBITRIO de meter baixa psicologica á conta do erário publico não vos incomoda?

    quer dizer, meter baixa é um livre arbitrio á vontade do fregues e de quem ele contrata para lha passar?

    Que a mim mete-me nojo o peito ufano
    De crápulas que só enriqueceram
    Com a prática de trafulhice tanta
    Que andarem à solta só me espanta.

  11. «há certos tipos de actos a que o corpo obriga , como comer. depois podemos decidir se vamos ao mac comer merda e beber coca cola ou se vamos à taberna beber uma bejeca»…

    Certo yo, mas também essa decisão é produto dos tais factores / variáveis que, diz esta tese, podem ser identificados e mapeados como num software. Até a capacidade de adiar a satisfação, tão valorizada pela sociedade como mérito e justificação do sucesso, não é uma escolha pessoal: é fruto da educação que recebemos e das áreas do cérebro que a afectam, como o córtex pré-frontal.

    É como ver o chatGPT dar respostas que parecem humanas, e depois ver o seu código-fonte e os dados que o alimentam: não só percebemos como o faz como podemos prever o que vai fazer. Com suficiente ‘computing power’ até a aleatoriedade e os seus erros podem ser previstos.

    No caso do cérebro ainda não é possível computar tal quantidade de variáveis, e ainda pouco sabemos de quais são, mas caminha-se para lá. Se ou quando lá chegarmos, estas noções de culpa, mérito, merecer, desmerecer, tudo isto levará uma grande volta. Tal como a noção de identidade.

  12. E de baixa psicologica, tem o livre arbitrio de passar a deputado independente dos cheganos, o que parece que lhe vai valer mais 60 mil eirozes por ano para despesas parlamentares e de gabinete

    a confeção das eirozes fica ao seu livre arbitrio, podem ser fritas, grelhadas ou de caldeirada

    há excepções em que o crime compensa

  13. ah ah , basicamente tive uma conversa com a chat nesses termos , e já virou negócio , começou a fazer perguntas , a enrolar a coisa para acabar o tempo grátis. só visto a manhosice dos mamões.

    entretanto , a China comunista continua a trabalhar para o povo :

    “Na semana passada, a startup de tecnologia sediada em Hangzhou lançou um assistente digital gratuito que, segundo ela, usa menos dados e custa uma fração do custo dos modelos de empresas já estabelecidas, possivelmente marcando um ponto de virada no nível de investimento necessário para a IA.

    https://www.cnnbrasil.com.br/economia/negocios/entenda-o-que-e-deepseek-ia-que-derrubou-acoes-de-tecnologia-nesta-segunda/

    estou desejando que aprontem substituto para o windows , que será gratuito.

  14. a china como difusora de tecnologia para os pobres , a estragar o negócio dos mamões. ó pá , quem diria. se vierem com a conversa da espionagem , vou ali e já venho..prefiro ser espiada por chineses que por amaricanos.

  15. «prefiro ser espiada por chineses que por amaricanos»

    De acordo. Mas o mais certo é acabarmos espiados por ambos.

  16. até aí já eu sei : uma característica do deus inventado é a omnisciência , claro desejo dos homens que inventaram tal imagem e que a tecnologia a tornou possível.
    por mim os chineses podem recolher toda a informação que quiserem , não há nada que recolham que me possa prejudicar ; dos amaricanos tenho medo, muito medo. o deep state é composto por gente que me mete nojo,

  17. A proposito de inteligencia artificial e da estupidez natural, da nova geringonça chinoca.
    O embaixador Francisco Seixas da Costa, para a testar, perguntou á engenhoca chineza com o logo da baleia azul, quantos livros tinha publicado.
    A coisa respondeu com magnifica descrição da lista elaborada de livros sobre diplomacia, que o sr. embaixador NÃO ESCREVEU, se os livros existem foram escritos por outrem ou então é tudo falso.
    Podem confirmar no blog dele.

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