Dominguice

Tornei-me fã do Kelly Slater e do Cristiano Ronaldo só quando já estavam na fase da perda de capacidades físicas e, portanto, também mentais. No seu período de triunfos homéricos, ignorei-os olimpicamente. Eram banais, nisso de serem extraordinários. Mas acompanhar os episódios da sua crescente fragilidade, e a angústia impossível de disfarçar que se abatia sobre o seu orgulho, tornou-se um curso de antropologia. Porque eles continuaram a competir ao mais alto nível possível, bem para lá do que quase todos os outros colegas de profissão conseguiram nas suas carreiras. Quase todos os outros no mundo, desde que existe desporto profissionalizado.

A alegria do desporto não vem da patologia Scolari e sua doença do ganhar por meio a zero, para dar um exemplo próximo de abjecto atrofio cínico. A alegria que o desporto proporciona, para o meu palato, nasce de sermos testemunhas do imprevisível que tange o impossível. A vingança do acaso contra o destino.

38 thoughts on “Dominguice”

  1. as capacidades mentais do ronaldo nunca foram muitas.. de aí investir tanto , coitado , no físico. envelhecer vai ser trágico , burro como sempre e fraco.
    já o surfista é outra cena , músico , filantropo e defensor de uma vida simples e sustentável , tem imenso para dar , ganhe campeonatos de surf ou não.

  2. Eusébio foi e é, pra mim, o exemplo do magnifico atleta português que respeitou o público que o admirava – o idolatrava até. Todo o país, todos os clubes, todos os jogadores, todo o mundo, o admiravam e acarinhavam pelo que foi no desporto que praticou e pela pessoa que era – e que nunca deixou de ser. Simples e respeitador dos que o admiravam.

    Ronaldo é provocador de todos os que o admiraram e ainda admiram, É um manipulador que se diverte com manifestações de luxúria . Todos os movimentos no palco da bola e fora dele são, hoje, de uma forma ou de outra, comerciais.

    No Europeu 2016, a nossa sorte foi ele ter saído do campo. Após aquele golo do Maravilhoso e Inolvidável Éder, seguiu-se a exibição inesquecível do que é o verdadeiro Ronaldo, procurando atrair por gestos, empurrões, safanões, movimentos erráticos, indicações para o interior do relvado e arrepelões ao treinador, as câmaras de televisão e fotográficas sobre si. Ficou desvairado pela secundarização da sua pessoa naquele acontecimento singular.

    Eusébio sim! Brilhantíssimo atleta. Admirável ser humano.
    (Acresce que era do Benfica)

  3. Essa, (passo a citar) “da perda de capacidades físicas e, portanto, também mentais” não é um erro?

    Quantas construções e obras intelectuais, das mais importantes e complexas do ser-humano, não foram realizadas após a idade do Ronaldo (logo, quando essas capacidades físicas anatómicas e corpóreas idênticas às de Ronaldo que o Post considera) diminuíram?

    O ser-humano não é o corpo que habita. Quem confunde ‘corpo’ com ‘ser-humano’ está a tentar regressar ao tempo em que foi ‘macaco/macaca’, que é um estádio de evolução da Vida mais atrasado do que desejar ser ‘humano’. É o desejo de regressão à animalidade, contrário à superação e evolução.

  4. Inventa-se um desporto ou um jogo: correr, saltar, levantar pesos, chutar bolas, acertar em alvos, mover peças num tabuleiro, tanto faz. Para além de exercitar o corpo ou a cabeça de quem o pratica, de distrair quem o vê e de soltar a raiva duns trogloditas, é objectivamente inútil. Nenhum avanço cultural, artístico ou científico virá dum novo recorde dos cem metros ou dum golo decisivo.

    Revi há tempos o famoso golo de Maradona contra a Inglaterra, não o da mãozinha, o outro: o mais incrível da história do futebol, pelo golo e pelo contexto histórico. Incontáveis milhões jogam futebol e só um tipo, um gordo baixito e drogado, era capaz de fazê-lo. Um talento sem par.

    E depois? Podemos revê-lo centenas de vezes: não ficaremos mais espertos, mais cultos, mais sábios, mais nada. Não aprendemos nada. Não nos eleva ou inspira. É mero eye candy, um fugaz momento de entusiasmo, como ver um acrobata no circo. Vale um bilhete e um ‘ohhh’. E é só.

    Ah e tal, mas é fascinante ver ‘perfeccionistas’ como o bronco mamão Ronaldo a quebrar recordes e a expandir limites. Sim, é fascinante se formos carneiros ou palermas. Quero lá saber se o bronco ganha uma taça ou se um queniano corre a maratona em menos um minuto. Os recordes já estão muito além do comum mortal; além de inúteis só trazem ganância, tribalismo e desperdício.

    É tão contraproducente o tempo e as vidas estouradas nesta trampa. A gente que sonha com bola em vez de ser útil à sociedade. A desigualdade extrema normalizada por estes mamões.

  5. O CONTRIBUTO DO DESPORTO

    O contributo do «Desporto» radica em ser um sistema de regulação dos comportamentos competitivos em sociedade. Ser um controlo (regulação) social dos comportamentos de competição (isto é, da porção e da proporção da agressividade e violência permitidas nas relações de competição). Ser uma instituição que define (educa) quais os limites à liberdade e livre-arbítrio individual são permitidos para as relações de confronto, rivalidade e competição (diferente da competição que ocorre na guerra, na economia, nas empresas, e na vida quotidiana). Logo, o contributo do «Desporto» tem a ver com o objectivo adaptativo dos seres-humanos aprenderem a viver em comunidade, sem se destruírem e matarem uns aos outros por causa da competição, rivalidade e agressividade (que existe geneticamente neles). No «Desporto» obriga-se o indivíduo a competir como a sociedade quer, não como o indivíduo decidiria por si só (como na ‘actividade física’, na ‘competição não-desportiva’, ou no ‘jogo’). O «Desporto» é, portanto, uma regulação, e não uma superação. É a sociedade a sobrepor-se ao indivíduo. A sociedade, no «Desporto» (ao contrário dos outros tipos de competição não-desportiva que ocorre na vida social), obriga a que o resultado das competições não determine um estatuto de superioridade na repetição das sucessivas vezes que os indivíduos/equipas compitam (reiniciam as competições do ‘zero-a-zero’, do mesmo ‘sítio-de-partida’, etc.). Esta Igualitarização e Institucionalização dos competidores e da sua forma de competir é o que define e especifica o «Desporto» e o seu contributo.

    Assim sendo, os ronaldos, messis, pélés, eusébios (e todos/as e quaisquer ‘heróis’ do «Desporto») são os ‘Educadores do Povo’, no que se refere aos comportamentos competitivos.

  6. Há um momento no futebol internacional entre países que detesto e me causa grande nojo. É quando as equipas cantam os hinos nacionais antes dos jogos, arrastando os espetadores para aquele fervor patriótico que, no nosso caso, é de arrasar tudo à volta à canhonada.

  7. «O «Desporto» é, portanto, uma regulação, e não uma superação. É a sociedade a sobrepor-se ao indivíduo.»

    É geralmente o exacto oposto: a glorificação do indivíduo, como se vê no bronco Ronaldo, no surfista Slater mencionado no post, ou qualquer outro atleta ou jogador conhecido.

    Quando muito exalta-se um pequeno grupo de indivíduos, uma equipa que supostamente representa milhões de cidadãos. Tal como na política, não representam porra nenhuma além de si próprios e dos mamões – multinacionais, oligarcas e corruptos vários – que os controlam. Pior, servem para distrair e adormecer a carneirada enquanto lhes impingem tribalismo e consumismo.

    Os Ronaldos e Eusébios são, na prática, tão ópio do povo como a religião. São os padrecas sobrepagos desta nova religião, deste circo do capitalismo que é o desporto profissional. Numa sociedade civilizada há lugar para o desporto amador, para competições entre pessoas e países, desde que dentro de limites; o cancro é o desporto profissional. Como no resto, a ganância corrói tudo.

  8. Yo, as “batalhas campais” são fora do recinto desportivo, lá dentro é ‘penalti’, ‘expulsão’, ou ‘invalidação do resultado, marca, golo, etc.’.

    As invasões dos recintos desportivos (fora e dentro dos estádios, pavilhões ou percursos, etc.) é feita pelos não-desportistas. As destruições, assaltos, destruições e manifestações violentas são feitas pelos não-desportistas (ou seja, pelos que não têm autorização social para pisarem os recintos desportivos e neles praticarem «desporto»).

    A imprevisibilidade e o acaso (que Valupi refere) existem desde que feitas na gaiola da prisão social das regras impostas pelos regulamentos desportivos. Nesse sentido, essa imprevisibilidade e acaso são uma espécie de cenoura pendurada à frente dos olhos do burro para que seja isso desde que na prisão do que a sociedade quer. É essa alienação e embuste que o «Desporto», enquanto instituição social, comete contra a liberdade e livre-arbítrio individual.

    Filipe Bastos, o uso do «Desporto» para o negócio exterior a ele é o mesmo que sucede com a religião, a energia nuclear, as armas, a droga, a prostituição, ou com outra coisa qualquer. Não tem a ver com a coisa em si, mas com um uso exterior à coisa.

  9. Fernando, o fervor patriótico pela soberania e independência das Nações é um mal, que deve ser arrasado?
    Ou não será o contrário, os fascistas e a meia-dúzia que apropria 90% da riqueza daquilo que os Povos criam, e que querem dominar as Nações não são os nazis, napoleões e estalines?

  10. Cada maluco com a sua ideia, aqui vai a minha.
    Quem tenha praticado desporto de competição, sabe que o primeiro “adversário” a ultrapassar são os seus próprios limites, assim como uma espécie de competição consigo próprio.
    A competição com terceiros vem a seguir e será tão mais conseguida quanto com mais sucesso for superada a 1ª fase.
    Faz muito tempo que Ronaldo só compete consigo próprio, uma competição solitária que mais não é que uma espiral negativa de eventos em que o único sucesso é financeiro.
    Será muito proveitoso para o Ronaldo, mas falho em entender o que tem de interessante.

  11. PedroM, quem tenha praticado «Desporto» sabe que esses limites próprios, e essa competição consigo próprios têm de ser praticados dentro das regras a priori impostas pelos regulamentos e arbitragem desportiva.

    Fora do «Desporto» também podem praticar aquilo que quiserem, com os limites que lhes aprouver (inclusive a guerra, o crime, a destruição, a organização em máfias, etc.), mas nesse caso não é «Desporto».

    O «Desporto» é exactamente essa diferença social, de aprisionar os limites e o que é próprio de cada indivíduo dentro de regras sociais.

  12. Impronunciável,

    Sim, o desporto é uma expressão socialmente aceitável de pulsões que nos preenchem, dominam (?) até, e que se manifestadas de outro modo poderiam assumir formas destrutivas, socialmente insuportáveis.
    Isso é um ponto de partida, não de chegada.
    Uma “verdade” comunmente aceite.
    Isto faz-me lembrar aquela frase:
    “A dança é uma expressão perpendicular de um desejo horizontal”.
    C’est la meme chose.

  13. PedroM, eu também pratiquei «desporto» (profissional) durante muitos anos. Quantas vezes me apeteceu agredir um adversário, e não o fiz por saber que seria punido e prejudicava a ‘equipa’? Esse é o ponto-de-partida e o ponto-de-chegada de «aquilo que é o Desporto».

    Só um ser-humano que aceita ser submetido ao ‘Social’ (à moral, ética e às regras prescritas nas Leis) pode ser um «desportista».
    O ser-humano que não aceita essa subjugação social (que escolhe ser criminoso, que escolhe experimentar os seus limites sem estar sujeito a quaisquer regras vindas do exterior, etc.) não consegue «praticar Desporto».

    Ou seja, o ponto-de-partida e o ponto-de-chegada são a regulação dos comportamentos humanos (neste caso, de competição). Pois o «ganhar e perder» e a «vitória e derrota» são completamente diferentes dentro e fora de «aquilo que é o Desporto».

  14. IMPRONUNCIÁVEL, sim, esse fervor patriótico pela soberania e independência das nações é uma manifestação que deve ser controlada e até (mera utopia) ser extinta no futuro – sabe-se lá quando… -, se o ser humano não desaparecer entretanto. Quanto ao como, só nesse futuro se saberá.. Por mim poderia ter sido o mês passado, se todos estivessem de acordo.

  15. Fernando, porquê?

    Qual é a justificação (ideológica, moral, ética e política) para esse ódio às soberanias e identidades Nacionais? Porquê esse ódio a «ser Português, e ter orgulho nisso? Qual é a alternativa ao Nacionalismo identitário e soberano, e quem manda nela?

    Por exemplo, os Liberais (globalistas e internacionalistas) acreditam ingenuamente que o ‘Mercado’ é um ente divino, independente da vontade humana. Foi-lhes inculcado ideologicamente que esse ‘Mercado’ não é uma maquinação feita por um grupo concreto de pessoas.

    O que existe em alternativa às Identidades Nacionais é essa ingenuidade, de que há um Sumo Sacerdote (uma União, uma Globalidade, um Directório Comunista ou Bloquista, que escapam ao desígnio humano por leis divinas ou científicas, quiçá, uma sociedade anónima transnacional detida por meia-dúzia de accionistas de carne-e-osso).

  16. não percebo o que quer dizer ..há muitos desportos , imensos não exigem qualquer confrontação com adversários , o caso de quase todos os desportos no mar e no ar , o tiro ao alvo , lançamento de dardo , corrida carradas deles , logo , para mim , não faz sentido nenhum o que diz , Imp.

  17. para jogar à canasta também tenho de seguir regras , se não expulsam -me por batoteira. e não é nenhum desporto , é um divertimento. se for a dinheiro será outra coisa , sei lá.

  18. temos o contrato social para isso , não é o desporto que faz com que não nos agridamos seja em que situação for. e há a figura de crime , quando o saltamos.

  19. Não há “muitos desportos”, há só um «Desporto». O que existem é várias «modalidades de praticar Desporto».

    Não é por ter regras (e cada um poder decidir punições ou qualquer outro regulamento) que é Desporto. É «Desporto» só quando essas regras forem instituídas pelos poderes públicos e leis da Sociedade, e qualquer resultado (derrota, vitória, marca, resultado, etc.) só ser válido se escrutinado por uma arbitragem independente da vontade dos competidores composta por pessoas nomeadas e validadas pelas instituições públicas.

    Apenas quando um ‘jogo’, ‘exercício’, ‘prática’, ou uma qualquer ‘actividade física’ cumprirem essas regras de submissão social e institucional, legalmente obrigatórias e estipuladas pelas Federações Desportivas com reconhecimento pelo Estado, é que passa a ser «Desporto». Se não forem, não são «Desporto». A YO continua a não conseguir distinguir «objecto/forma da prática», «uso», e «finalidade/significado». Continua à procura do «Desporto» nas «formas e objectos» das práticas. Não consegue perceber que o «Desporto» está a um outro nível lógico de perpetração social e cultural. Continua a querer que, por exemplo, quando o Ronaldo faz ginástica ou treina em casa, está a «fazer-praticar Desporto». E estende esse seu raciocínio a todas as práticas físicas.

    Não se trata de nenhum “contrato social”. Trata-se de um mecanismo cultural (institucional) que os seres-humanos criaram para se educarem e regularem a si próprios. Para se aperfeiçoarem a lidar com as relações de competição.

  20. Trata-se de um mecanismo cultural (institucional) que os seres-humanos criaram para se educarem e regularem a si próprios. Para se aperfeiçoarem a lidar com as relações de competição. ??????

    já ouviu falar no direito e nas leis ? nas normas , regras e usos e costumes que o antecederam ? na lei do mais forte ? sabe porque aceitamos Estado ? abdicamos de parte da nossa liberdade em troca de segurança. e isso não tem nada a ver com desporto , que é puro divertimento e aperfeiçoamento do corpo. hoje em dia , um negócio.

  21. Muito antes da escrita, e do aparecimento dos seres-humanos, o sistema-Vida criou mecanismos e sistemas de regulação que estão presentes nos organismos e sociedades desde há mais de 4,6 mil milhões de anos neste planeta.
    Por exemplo, fora das relações de competição, no que se refere à «escolha da Relevância, de aquilo que se deve transmitir às gerações seguintes», o sistema-Vida quando chegou à fase evolutiva a que chamamos «homo sapiens» codificou no cérebro 7 critérios de «escolha da Relevância» que funcionam independentemente da vontade humana,
    E para as outras áreas e domínios essenciais do funcionamento da Vida há outros exemplos.
    A YO vive no antropocentrismo, acreditando que é tudo feito pelo ser-humano, como se de um milagre se tratasse.

  22. de forma nenhuma vivo no antropocentrismo , não acho que o homem seja a medida de todas as coisas e acredito que para vivermos em sintonia com a natureza temos de observar os animais e reapender o esquecido….e há sociedades muito melhor organizadas que a nossa , como as abelhas e as formigas curiosamente todas têm rainhas -:)

  23. O «Desporto» é uma cerimónia ritual criada pelos seres-humanos sobre o «ganhar e perder». Não tem nada a ver com o ‘divertimento’ (basta ver como os ‘desportistas’ expõe o seu corpo, as lesões e mazelas que têm, o que têm de sofrer no treino, de 10 em10 segundos levam pancada dos adversários, ou partem tendões, ossos e músculos, etc.).

    ‘Divertimento’ é nada, tanto há divertimento a matar como a rezar, a escrever ou a cagar, a comer ou a beber, a fazer ‘bem’ ou a fazer ‘mal’.

    As sociedades das abelhas e formigas são sociedades fascistas, totalmente hierarquizadas e submetidas a um poder único normalizador, onde o erro é punido cruelmente com a morte ou a rejeição social sem perdão. Não há o espaço de liberdade, aperfeiçoamento, ou permissão para o erro que há nas sociedades humanas. É por isso que o «Desporto» enquanto instituição social é um avanço evolutivo em relação a essas sociedades de insectos.

  24. «O uso do “Desporto” para o negócio exterior a ele é o mesmo que sucede com a religião, a energia nuclear, as armas, a droga, a prostituição, ou com outra coisa qualquer. Não tem a ver com a coisa em si, mas com um uso exterior à coisa.»

    Como a yo, parece-me que atribui ao desporto um papel ou uma importância estranha, e que ao seu uso prático e real – alienação e negócio de mamões – não atribui importância suficiente.

    Sim, serve também como «mecanismo cultural (institucional) que os seres humanos criaram para se educarem e regularem a si próprios»; mas quando falamos do desporto profissional que passa nas TVs e arrasta multidões não é isso que importa. Soa académico – ou ingénuo – sugerir o contrário.

    Mais: pelas razões já apontadas, há muito que qualquer saldo positivo do desporto foi ultrapassado. No Ocidente muita gente já acordou do carneirismo religioso, mas substituiu-o pelo desportivo.

  25. Filipe Bastos, concordo com algumas coisas que disse sobre o «uso» actual do Desporto. Todavia, a alienação, o negócio, a batota, e todas as coisas que o ser-humano é capaz de fazer às coisas do mundo, são inevitáveis em todos os domínios do comportamento humano. O que é ‘novo’, em termos evolutivos, é o próprio sistema (ser, organismo, indivíduo, etc.) adquirir a capacidade para se regular e se corrigir.

    Quando comparamos os comportamentos das ‘crianças chimpazés’ com os das ‘crianças humanas’ percebemos essa ‘novidade’ de forma muito clara. Por ex., em, Heather Pringle, 2013, “Evolution of Creativity: the rise of the innovative mind”, Scientif American, march 2013, p.29, Mark Thomas (University College London, escreve (passo a citar): ”
    — “Chimps can show other chimps how to hunt termites. But they don’t improve on it, they don’t say «let’s do it with a different kind of probe». They just do the same thing over and over. Modern humans, in contrast, suffer from no such limitations. Indeed, we daily take the ideas of others and put our own twist on them, adding one modification after amother, until we end up with something new and very complex. Last March a study published in ‘Science’ by Lewis Dean, a behavioral primatologist now at the Physiological Society in London, and four colleagues, revealed why human beings can do this and chimpanzees and capuchin monkeys cannot. (….) Only one of the 55 chimpazees reached the highest level after more than 30 hours od trying. The human children, however, fared far better. Unlike the groups of monkeys, the human children worked collaboratively, talking among themselves, offering encouragement and showing one another the right way to do things. After two and a half hours, 15 of the 35 children had reached level three. This ratcheting process push H. sapiens to new creative heights in Africa some 90,000 to 60,000 years ago and in Europe 40,000 years ago”.

    Os registos documentais, arqueológicos e antropológicos do que sucedeu às relações de competição no Peloponeso de 1000 a.C a 776 a.C (que é a data dos primeiros Jogos Olímpicos em Olímpia) mostram como se foi construindo socialmente essa cerimónia ritual do «ganhar e perder» a que actualmente chamamos «Desporto».

    Porém, nessa época, na mesma ‘Cultura Grega’, essa solução ritual e teatralizadora do que se queria regular institucionalmente, não foi só no «Desporto». Ocorreu também, por exemplo, naquilo a que hoje se chama «Democracia» (as disputas e rivalidades de opinião foram também submetidas a uma regulação ritual nos Parlamentos e Ágoras).

    Logo, estamos perante a evidência de um salto civilizacional, que abrangeu todos os níveis do viver humano em sociedade, de que o «Desporto» é apenas uma parte.

    De facto, verificamos que a queda do mundo Micénico ocorre por volta de 1200 a.C, prolongando-se até 800 a.C :
    — Coincide com a gradual substituição do bronze pelo ferro.
    — Coincide com a invasão Dórica.
    — Coincide com uma profunda mudança demográfica que originou um aumento significativo da população.
    — Coincide com uma mudança social que fez desaparecer todo o sistema económico centrado no ‘Palácio’. Que baseava a concentração da riqueza no excedente produzido pelo trabalho camponês, e que, com a colonização, passa a utilizar mão-de-obra escrava.
    — Coincide com uma mudança cultural de que se destaca o aparecimento do alfabeto grego; coincide com a mudança do estilo protogeométrico para o geométrico; coincide com a substituição dos frescos de Santorini pelos vasos monumentais e o aparecimento dos edifícios rectangulares.
    — Coincide, no plano religioso, com a substituição dos cultos antigos pela predominância dos a Zeus.
    — Coincide, no plano político, com o aumento da importância das cidades-estado e com o aumento exponencial da rivalidade e da conflitualidade entre elas.
    — No plano militar, a corrida e as deslocações a pé, ganham um novo estatuto, e um prestígio que não possuíam no período Micénico. De facto, a infantaria e os hoplitas tornam-se predominantes (V. D Hanson, 1999:35).

    Ficamos, obviamente, em presença de uma época de profundas transformações na ‘Sociedade Grega Antiga’, no seu modo de viver, nas suas representações, e na sua mentalidade. Ora, é exactamente neste período que nos surge o registo concreto e seguro do início dos primeiros Jogos, em Olímpia (776 a.C.).

    Não se trata de ‘divertimento’, de ‘saúde’, de ‘exercício’, de ‘actividade física’ … trata-se de outra coisa completamente diferente e nova.

  26. «… trata-se de outra coisa completamente diferente e nova.»

    Não digo o contrário, foi certamente um marco civilizacional a par de outros que elencou. A questão é porquê focarmo-nos nisso e não na sua forma actual, a que importa hoje e amanhã.

    Tal como a democracia, sobre cuja origem e sobre cujos princípios bonitos podemos falar toda a semana, mas que se tornou há muito o que está à vista – uma partidocracia controlada por meia dúzia de DDT nacionais e internacionais, gerida a nível europeu por tecnocratas e outros lacaios desses DDT, gerida a nível nacional por uma classe de chulos e pulhas sistematicamente impunes.

    (Até na origem, aliás, a democracia pouco tinha de democrático: tinha e tem ainda muito o que evoluir.)

    Conhecer o passado é importante, não podemos é ficar obcecados por ele. Como Portugal, eternamente preso à ditadura do Botas, que ainda culpa por tudo e mais umas botas, e ao golpe corporativo do 25 Abril, que reescreveu como fantasia hippie-xuxo-lírica de ‘liberdade’; ou os EUA e os seus ‘Founding Fathers’, os santinhos lá da carneirada; ou a Inglaterra e os seus chulões reais; etc.

    Interessa-me menos saber como as coisas eram do que como são; e interessa-me menos saber como são do que como deviam ser. Este desporto não serve. Esta democracia também não.

  27. pois, a democracia tem defeitos, mas muito melhor do que todas as outras alternativas que os críticos acima nem coragem têm de apresentar. o que não serve são cretinos como vocês que pretendem destruir o único sistema político que vos dá liberdade para o contestar. emigrem para a coreia do norte e não chateiem.

  28. agora despejam entulho alt right para curar a ressaca da derrota em frança, enquanto o psico killer do cremelim manda bombardear um hospital oncológico em kiev e ameaça com uma guerra nuclear se o mundo civilizado as anexações dos grunhos. só pára quando o bidden for reeleito, até lá vão fazendo merdas destas para esconder o estado de impotência falida em que se encontram.

  29. “Este desporto não serve. Esta democracia também não.”

    “… interessa-me menos saber como são do que como deviam ser.”

    Totalmente de acordo.

    Vocifera a Cuja do «hospital oncológico», cheia de medo, a tremer: «E agora? Ai de mim! Que, se me tiram esta porcaria onde vivo, fico sem nada saber e fazer».

    Em pânico, o Cujo da colonialista e genocida Nato (que foi roubar e invadir a Rússia desde 1991 com um comediante fascista contratado pela CIA), grita: «Ai os russos, que aí vêm!».

    Entretanto, a alguns dias de uma nova ‘Cimeira da Nato em Washington com o decrépito Biden, responde o Dragão Chinês, Xi Jiping, … com manobras e exercícios militares conjuntos daqui a uns dias com a Bielorrússia … na fronteira da Polónia no Báltico (!).

    Ou seja, tal como Filipe Bastos disse no início: “Não servem. Não prestam”. Venha … «O Que Devia Ser».
    E o Impronuncialismo, corrobora: Tenhamos coragem (moral e física) de rebentar com tudo isto que nos geringonça e infecta. A partir das ruas. Para encontrarmos o ‘novo’, a ‘evolução’, … «O que Há-de Vir».

    Não cheguem à podridão da monárquica portuguesa, que disse: “Morro porque não consigo viver. Vivo porque não consigo morrer”.

    Revolução ou Morte?

  30. «pois, a democracia tem defeitos…»

    O problema não é os defeitos da democracia; o problema é não termos democracia.

    Quando tivermos democracia, quando pudermos escolher mais que a máfia que nos vai chular, roubar e endividar durante quatro anos, logo poderemos preocupar-nos com esses defeitos.

    Entenda uma coisa: a escolha não é entre ditadura e democracia. Isso é o que nos impingem para nos condicionar e atrofiar a mioleira, no seu caso com sucesso. A escolha é entre esta partidocracia e uma democracia, óbvia e necessariamente mais directa. Precisamos evoluir deste esgoto partidário, desta cidadania infantil que tudo consente e tudo delega. Precisamos disso ontem.

  31. os pazkóvios que dormem aqui no caixote ainda não receberam instruções dos mozkóvios sobre o falhanço na frança. alegrem-se, o antôneo corrêa tânger foi nomeado vice duma organização de patriotismo europeu pelo kapagêbê, notícia dada pelo ventrulhas durante uma visita a um canil em barcarena.

    https://cnnportugal.iol.pt/patriotas-pela-europa/andre-ventura/chega-assume-vice-presidencia-do-patriotas-pela-europa-liderado-pelo-partido-de-le-pen-e-bardella/20240708/668c2091d34e04989222e64c

  32. reedição da internacional comunista
    caso não saibas , o mélenchon é anti israel e pró rússia ( a nato é que tem a culpa , segundo o senhor) …

  33. e os gladiadores romanos , Imp , são uma excepção ? o desporto na roma antiga é uma categoria à parte ? é que às vezes morriam , e não morriam mais porque significava perda de dinheiro -:) já na altura era um negócio -:)

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