Dominguice

Não há palavras a mais, há palavras a menos. Há palavras por inventar.

Esta intuição é libertadora. Nascente de criatividade. Transporte para uma segunda infância.

13 thoughts on “Dominguice”

  1. Gosto muito da disciplina da linguagem. Houve dois autores que me marcaram (Paul Ricouer e Émile Benveniste); custou um bocado entender o seguinte, mas com interpretações inter-literárias pelo meio, como a arte, consegui alcançar o que argumentos dedutivos também concluem: a linguagem funde-se no real.
    mesmo as palavras existentes já elas estão cheias de tensão e ambiguidade e nós nada sabemos delas! Por exemplo, o pronome pessoal “Eu” é uma palavra impossível de ser unida por um conceito universal. Nunca iremos saber como o outro que também é um outro “Eu” objetifica na sua mente as percepções dos objetos e fenómenos. Nunca irei compreender aquilo que tu compreendes. E a linguagem será sempre uma outra barreira ao conhecimento.
    Ouvir Carlos Magno falar de Camões e da língua portuguesa foi para mim o momento alto da semana. Conseguiu explicar brilhantemente o contrário do que acabei de dizer.

  2. a diferença é que o magno é um pedante profissional, enquanto tu não passas de aprendiz deslumbrado do pedant-ò-culturismo.

  3. ‘nós não somos do século d’inventar as palavras. as palavras já foram inventadas. nós somos do século d’inventar outra vez as palavras que já foram inventadas ‘ j. almada-negreiros dixit
    mas o século a que ele se refere é o xx, nós do xxi havemos de tentar dispensar as palavras.

  4. alguém leu a proposta de reforma da justiça que o rio apresentou ao costa?

    essa merda existe mesmo ou foi só para fazer barulho e disfarçar o cagaço em coragem política.

  5. As palavras são os algozes da espécie humana.

    As palavras (ditas ou por inventar) são meras permutações e combinatórias do limite do ser-humano. São a prisão que encarcera a lógica humana, e a impede de evoluir. Com as palavras não há evolução nem futuro. É o cárcere de um jogo de repetição do mesmo, apenas organizado de forma diferente.

    “Aquilo que não podemos pensar, não podemos pensar; também não podemos dizer aquilo que não podemos pensar” (L. Wittgenstein, 1918, ‘Tractatus Logico-Philosophicus’, 5.61)

    As palavras (tal como a luz-fotão) são a energia emitida pelo efeito da passagem de um estado excitado a um estado não-excitado do comportamento. Efeito esse que, no decorrer da evolução filogenética, foi utilizado pelos seres-vivos para uma função secundária, concretamente, a de comunicarem.

    O ‘núcleo de cada Língua’ é composto por um Sujeito e um Objecto. O Verbo gira em redor do ‘núcleo da Língua’. O Verbo, tal como um electrão, gira em redor do ‘núcleo da Língua’ composto por um Sujeito (analogamente a um protão) e um Objecto (analogamente a um neutrão).

    O Sujeito e o Objecto estão ligados por uma força múltipla de aproximadamente 1017 Kg/m3. O Sujeito possui uma carga positiva, o Objecto é neutro. O Sujeito pode passar ao estado de Objecto, e o Objecto ao estado de Sujeito. O Verbo possui uma carga igual à do Sujeito, repelindo-se quando são do mesmo sinal, e atraindo-se quando são de sinal contrário.

    Dentro de cada diferente Língua cada ‘núcleo da Língua’ (Sujeito + Objecto) está afastado do Verbo cerca de 10.000 vezes de distância o tamanho do núcleo. Entre o núcleo e o Verbo existe o espaço vazio da IMPRONUNCIA, nela ocorrendo os Verbos, os quais definem a identidade de cada diferente Língua. Razão pela qual todas as Línguas humanas existentes estão confinadas matematicamente a seis tipos de combinatórias entre Sujeito, Objecto e Verbo. Concretamente, “SOV, SVO, VSO, VOS, OSV, OVS” (Joseph Greenberg, 1963, “Some universals of grammar with particular reference to the order of meaningful elements”, in ‘Universals of Language’, Cambridge, Mass.). Os tipos SOV, SVO e VSO correspondem etnograficamente às Línguas actualmente mais frequentes. E a evolução em abstração ocorreu através das etapas: “pictográfica, ideográfica, logográfica, silábica, fonética” (provavelmente devido a “um menor tempo de aprendizagem e uma menor sobrecarga da memória”, de acordo com a opinião de José Pinto de Lima, 1997, “Evolução das Línguas – variação, adaptação, selecção”, revista ‘Língua e Cultura’, n.os 3 e 4, janeiro-junho 1997, Sociedade da Língua Portuguesa, Lisboa, p.16).

  6. Eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra escovando osso. No começo achei que aqueles homens não batiam bem. Porque ficavam ali sentados na terra o dia inteiro escovando osso. Depois aprendi que aqueles homens eram arqueólogos. E que eles faziam o serviço de escovar osso por amor. E que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão. Logo pensei de escovar palavras. Porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos. Eu queria ir atrás dos clamores antigos que estariam guardados dentro das palavras. Eu já sabia também que as palavras possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas. Eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar de cada uma. Para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos. Comecei a fazer isso sentado em minha escrivaninha. Passava horas inteiras, dias inteiros fechado no quarto, trancado, a escovar palavras. Logo a turma perguntou: o que eu fazia o dia inteiro trancado naquele quarto? Eu respondi a eles, meio entressonhado, que eu estava escovando palavras. Eles acharam que eu não batia bem. Então eu joguei a escova fora.

    Barros, Manoel de. Escova. In

  7. é possivel vivermos uma segunda terceira infância. sempre que declinares os métodos apolíneos que a razão sugere, vive os dionisiacos. isto é, leva os fenómenos ao extremo e vive os a partir disso mesmo. rejeita a funcionalidade e vive as emoções. as crianças são assim e também aqueles que sabem “brincar com coisas sérias”. é assim que vivo e não me arrependo

  8. Diz o algoz para o prisioneiro: “No início é o verbo”.

    O algoz são os que nos fizeram nascer. Os que cometeram esse acto fascista e criminoso de não nos terem pedido autorização para nascermos, obrigando-nos a morrer e a viver no mundo humano deles.

    O algoz são «os que nos querem ensinar a viver, e a acreditar no que dizem e pensam». São os deuses, os profetas, os pregadores, os ideólogos, os filósofos, os educadores, os professores, os pais, os que apascentam rebanhos, os propagandistas da escrita e dos Media, e por aí a fora.

    O algoz são os que nos obrigaram a nascer para sermos obrigados a viver e morrer no mundo deles, sem nos terem pedido autorização. São os que nos ensinam as palavras.

  9. Mesmo não estando encartado…

    A linguagem não deveria ser vista necessariamente como a adaptação humana. Temos consciência, a pedagogia, a atribuição social e a estética…. A estética! Por exemplo, a palavra é rainha/rei no teatro, e no entanto o seu reverso, o silêncio, é dos melhores momentos, dos mais sublimes e expressivos, quando interpretado por bons atores, e quando as encenações não estão a cargo de carapaus de corrida, armados em autores, deturpadores, manipuladores das emoções dos espetadores. Então no cinema nem se fala. A maior parte do tempo é “silêncio”, não se fala – fala a música, falam as imagens, falam as expressões dos atores.
    Para mim não há palavras a menos. Mais palavras para quê? Eu sei para quê, mas não vem agora ao caso…
    (Nos momentos mais gostosos da vida não há palavras. Era o que faltava!)

  10. as pessoas são dotadas de consciência para se libertarem dos algozes… é só olhar para os bichos , que emitem sons e vivem como se tem de viver na terra. em alternativa podemos olhar para os Índios do amazonas ou para os bosquímanos.
    que culpa tem o universo dos palermas adorarem sofisticação e artifícios , homessa.

  11. A palavra (língua, linguagem, fala, escrita, narrativa, texto, etc.) é o algoz da consciência humana. É ela que nos impede de deixarmos ser o que somos. É ela que nos condena a sermos eternamente humanos/as. Só haverá Liberdade e Continuidade sem palavras.

  12. Impronunciável ,

    No principio era o verbo, na Bíblia, significa a palavra criadora, o som (vibração ?), através da qual, todo o seguinte, a parte material, incluindo o ar, que sopra aqui e sopra ali e ninguém sabe de onde vem e nem para onde vai, foi criado.

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