Donde vem o conhecimento acerca da credibilidade, fiabilidade e viabilidade dos programas políticos que os partidos elaboram e propõem ao eleitorado? Donde vem essa lunática convicção de se terem as melhores soluções para a desmesurada complexidade envolvente? Não se fala sobre isso, nunca. Nem sequer os jornalistas políticos gastam uma caloria com o assunto, quanto mais o comentariado. Prefere-se a fulanização, a intriga e a baixa política. O espaço público é assolado por um maremoto de dramatização que reduz à emoção mais básica e asinina as supostas razões em contenda. A energia gasta na paupérrima retórica vem da identidade tribal, não de Atena, a deusa da Cidade.
Políticos que apostam tudo na estupidificação da comunidade, por se saberem incapazes de competir em honestidade intelectual e talento de serviço público, têm a barriga e a boca cheia de certezas – portanto, cheias de ódio. Por estes frutos podres os conhecereis.
Exactissimamente. E nem falemos nos blogues…
Boas
Ah, os programas políticos, pois. Mas, além de quem os escreve, mais alguém ainda os lê?
Que percentagem de eleitores, antes de votar, se dão ao incómodo de ler algo que para nada serve, que, afinal, nada diz?
Principalmente, desde que são afixados na Internet, já que, dantes, ainda dava para por o livrinho a servir de calço em baixo do pé de uma mesa que teimasse em não ficar quieta…
Os lusitanos votam nas pessoas. Sempre o fizeram.
Assim continuarão a fazer.
Bom Domingo!
isso não sei mas imagino uma catacumba escura e uma lista de palavras fracturantes que depois desenvolvem por forma a aprisionar as moleirinhas do povo.
Os portugueses votam em pessoas quando elegem o PR. De outra maneira apareciam fotografias de pessoas em todos os boletins eleitorais em todas as eleições como as legislativas que aí vêm. E foi precisamente esse mal entendido – que pelos vistos perdura – que gerou todo o ódio que continua a marcar a vida política em Portugal. A tal fulanização da política.
Concordo com a reflexão do “post” e com os dois comentários iniciais.
No entanto gostaria de acrescentar que as pessoas votam sobretudo nos partidos que, à priori, entendem ser os que melhor defendem os seus interesses particulares ou de grupo, isto é, tendo em conta o seu alinhamento político. Muitas vezes tanto lhes faz que à frente do “seu” partido esteja o “A” ou o “B”.
Quanto aos programas eleitorais, poupava-se muito tempo e dinheiro se se dispensasse a sua feitura e apresentação. Não são precisos para nada (ninguém os lê), excepto quando se quer acusar algum adversário, caso em que se usa o “localizar” para pesquisar determinada palavra num texto em “PDF” de um qualquer programa eleitoral.
O mesmo não digo dos debates eleitorais televisivos, pois neste caso sempre podemos avaliar os gestos e a postura dos candidatos para perceber que tipo de pessoas são. Mas, em prol de uma saúde auditiva, sempre podemos cortar o som (experimentem desligar o som, é interessante vê-los). O que dizem conta pouco.
para isso era preciso , em primeiro lugar , que os partidos quando elaboram os programas se deixassem de frases feitas muito bonitas e correctas de esquerda ou direita , de generalidades , de modelos chapa 4 e tal de pessoas sem nada na cabeça , ospois , em segundo , toda e qualquer mudança a fazer terá de ter o programa de execução e os resultados esperados , para percebermos se é exequível ou não. , em terceiro , tendo em consideração que partem para governar com base no programa , teriam de avaliar o que conseguiram e indemminizar o país caso não o consigam porque faltar à palavra dada e meter-se a governar sem saber terá de ter castigo. a lata tem de ser transformada em ferro…a coisa não pode ser fácil.
estive a pensar outra vez e decidi o que é preciso: sair da catacumba e escrever, como se fosse sempre a primeira vez, cavalos e oliveiras. depois misturar tudo, e fazer uma ode dançante.
governar um país é um assunto sério , e não pode ficar nas mãos de irresponzabilizados ( isso) , porque assim , qualquer crominho tipo pan pode , um dia destes , aparecer de pm e obrigar-nos a ter porquinhos de estimação em vez de presunto.
Pois é, Val, mas os programas estão online. É só lê-los.
O do Bloco é fabuloso (de fábula), mas é preciso desbastar muita conversa fiada e muita treta do país das maravilhas para chegar aos pontos essenciais. Por exemplo, a “reversão das privatizações nos sectores estratégicos”, que seria financiada pela emissão de dívida pública. O Bloco quer, pois, renacionalizar a EDP, a Galp, a REN, os CTT, a ANA, etc. A diferença em relação a 1975 é que desta vez o Estado pagaria aos accionistas (fica a promessa). O Bloco quer também a “recuperação do controlo público sobre a banca”, uma espécie de romagem de saudade a 1975. O Bloco queria um aumento dos funcionários públicos em 40.000 durante a legislatura de 2019-2023 (este objectivo foi fixado em 2019, ainda antes da pandemia, agora seria muito maior) e aumentos de vencimentos para todo o funcionalismo público acima da taxa de inflação.
Portanto, aumentos brutais não só da dívida pública como também das despesas correntes do Estado, muito agravados ainda pelas restantes medidas incluídas no programa, todas a exigir fortes aumentos da despesa pública. Mas o génio financeiro do Bloco (o Xico Louçã, certamente) acha possível, ao mesmo tempo, reduzir substancialmente a dívida pública. Como? Com a varinha mágica da “reestruturação da dívida”, impondo por exemplo reduções arbitrárias dos juros pagos pelo Estado português e o aumento igualmente arbitrário dos prazos até 90 anos, isto é, até ao primeiro quartel do séc. XXII. O Bloco diz que com “negociações” se consegue isso, e a gente sabe que os bloquistas são peritos a negociar.
Com estas e outras medidas geniais, um governo do Bloco (pura fantasia de carnaval) seria capaz de alcançar poupanças de mais de dois mil milhões de euros por ano, ou seja, dez mil milhões na legislatura e assim caminhar para reduzir o rácio da dívida pública para 71% do PIB (lá para o séc. XXIII ou XXIV). Tudo isto, claro, com uma taxa implícita de crescimento do PIB de 3,5% ao ano, que o Bloco já encomendou e está, portanto, garantida. E com a redução do horário de trabalho semanal para 35 horas. O Bloco é o partido dos magos da economia & finanças.
Porque é que digo que estes (e alguns outros ainda) são os pontos essenciais do programa do Bloco? Porque, sem eles, nenhuma das dezenas de belas medidas propostas pelos bloquistas seria realizável. A chatice é que, com eles, na prática, ainda menos realizáveis seriam. Dilema insolúvel.
Mas há outro dilema insanável com o Bloco. Um partido lunático e irresponsável como este está condenado a ficar para sempre na oposição, porque o eleitorado não é tão estúpido que lhe queira dar força para governar. O problema é que enquanto for um partido de oposição, protesto e reivindicação, os programas que apresenta serão fatalmente lunáticos e irresponsáveis, porque a tentação para isso será sempre irresistível. É o círculo vicioso do Bloco.
“Políticos que apostam tudo na estupidificação da comunidade, por se saberem incapazes de competir em honestidade intelectual e talento de serviço público, têm a barriga e a boca cheia de certezas – portanto, cheias de ódio. Por estes frutos podres os conhecereis”.
Aqui temos uma descrição lúcida da classe política cleptocrática que ocupa as instâncias do poder neste regime jacobino e maçónico.
Não acrescento nem uma vírgula.
Sobre o mundo de fantasia prometido pelo BE ja falou o Júlio e muito do que disse aplica-se ao PCP. Mas a comunicação social é em grande medida responsável por este estado de coisas. Com efeito, qual o escrutínio ao programa com que Carlos Moedas venceu as eleições para a CML? Por exemplo, o impacto da gratuitidade dos transportes públicos no equilíbrio financeiro das empresas? O candidato Carlos Moedas apontou falhas do anterior presidente em relação à habitação em Lisboa mas as propostas de isenção do IMT para imóveis até 250 mil Eur são uma mão cheia de nada. O montante da isenção vai ser absorvido pelo aumento de preços neste segmento (bastante reduzido) do mercado. Estas medidas nada fazem para travar a expulsão de muitos habitantes de Lisboa vítimas dos aumentos de preços do arrendamento e da pressão dos investidores estrangeiros. Quantas vezes se viu estas questões serem suscitadas nas entrevistas que se sucederam a tomada de posse? só se falou em tom bovinamente laudatório do discurso de posse com a presença em peso da direita e depois nas promessas da fábrica de unicórnios …