Dominguice

Sou amigo de Jesus. O Jesus de quem sou amigo existe. Está vivo. Uma das razões sendo a de que não morreu na cruz, com esse Jesus da agonia não fiz amizade. Outra das razões está na sua substância, as palavras (muito mais do que uma). Essa substância imaterial dá-lhe uma essência literária. E, na literatura, Jesus é imortal enquanto tiver leitores. Mas será também divino? Depende. Que coisa será o divino? Apenas duas naturezas à escolha: ou o totalmente estranho, ou o completamente próprio. A nós, animais com partes racionais.

Como o Jesus de quem sou amigo é (para mim) um exemplo de lirismo rebelde e coragem ética, não duvido que seja divino. O que nos é próprio é o que há de mais estranho.

44 thoughts on “Dominguice”

  1. eu só vou lendo as palavras de jesus ao acaso, às vezes gosto muito e fico a pensar onde me posso encaixar e quase sempre encaixo, nada me empurra directamente para ele – para procurar lê-lo. mas como só muito excepcionalmente digo, e não como adágio repetível, que os amigos dos meus amigos meus amigos são, neste caso, e porque és tu, talvez esse jesus possa ser meu amigo também de quando em vez – estou cá para ouvi-lo se ele precisar. !ai! que riso. porque a ti te prefiro, sinceramente digo, com coragem ética e lirismo rebelde, em carne e osso formoso, divinal.

  2. Nossa Senhora dinse com um Santo sorriso:
    «a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu [Lúcia] ficas cá mais algum tempo» (13 de junho de 1917).
    Imagino o que Jesus, se fosse vivo, teria dito a esta gaja.
    Fosca-se.
    (Coitadinhos do Francisco e da Jacinta. Ninguém s’alembra deles. Nem mesmo o Papa Xicão)

  3. Ainda bem.
    Só que este não é o lugar privilegiado para escrever sobre religião – re ligare .
    Levar-nos-ia muito longe e consumiria muito tempo. Com frequentadores que não conhecem o primeiro canto da melodia universal ? Impossível .
    Lamento .

  4. o dealer já bazou, ficaram os ganzados a debitar alucinações sobre retornos imateriais nas têbês e outros orgãos into-xicação soxial.

  5. regresso ao feudalismo continua em alta nos noticiários, só falta rasgar a constituição e o papa entronizar a criatura marcelóide para completar a palhaçada.

    para quem tenha dificuldades em perceber fenómenos de alienação de massas:

    ” A Sociedade do Antigo Regime, fortemente estratificada, organizava-se por Ordens ou Estados: Clero, Nobreza e 3.º Estado (Povo). Cada categoria social era definida pelo nascimento, funções e estatuto jurídico. O Clero e a Nobreza eram grupos privilegiados, isentos do pagamento de impostos. O 3.º Estado não tinha privilégios e arcava com o pagamento de todos os tributos. O centro da vida política do reino encontrava-se na corte do Rei, local onde o seu poder devia ser afirmado. ”

    https://ensina.rtp.pt/explicador/sociedade-e-poder-nas-sociedades-de-antigo-regime-h51/

  6. – Outra das razões está na sua substância, as palavras (muito mais do que uma). Essa substância imaterial dá-lhe uma essência literária. E, na literatura, Jesus é imortal enquanto tiver leitores. –

    Não me parece historicamente correta esta observação acerca das “palavras” e “literatura” de Jesus.
    Quais palavras e qual literatura se, historicamente, Jesus não deixou nada escrito e tudo o que lhe é imputado segundo os evangelhos, canónicos e não canónicos, foi escrito muito posteriormente e, sobretudo, depois de Paulo (Saúlo) e suas famosas epístolas. E estas são literatura grega e especialmente platónica com alguma inspiração religiosa dado que, como é historicamente um facto, Saúlo era um estudioso helenista ao serviço de Caifás, Sumo-Sacerdote do Templo e da religião oficial judaica, convertido na queda de cavalo quando ia reprimir os crentes de Jesus em Bagdad.
    Claro, se se acreditar e aceitar como suas as parábolas dos evangelhos, então, Jesus será imortal enquanto tiver leitores.

  7. Como o Jesus de quem sou amigo é (para mim) um exemplo de lirismo rebelde e coragem ética, não duvido que seja divino. O que nos é próprio é o que há de mais estranho.

    concordo completamente. um momento que levo comigo, parte de uma carta do barão de Monstequiue “muy humilde carta aos inquisidores de Portugal e Espanha” atira aos inquisidores a intolerância para com aqueles que “seguem” um Deus que o próprio Jesus amou na sua vida. acho que essa referªencia é uma lição

  8. jose neves, é indiferente para a natureza literária de Jesus a autoria dos textos. O mesmo para Sócrates, em que diferentes autores mostram diferentes Sócrates. Mas é precisamente por só podermos aceder a essas figuras através dos textos de terceiros que elas são palavras, discurso, texto e nada mais. E nada menos.

  9. – é indiferente para a natureza literária de Jesus a autoria dos textos. –

    Valupi, nesse sentido do valor filosófico, ético, moral, estético e literário dos textos totalmente de acordo. Além de Sócrates, o mesmo se pode dizer de alguém muito mais recente como Shakespeare, o cânon referencial absoluto segundo Harold Bloom, de quem muita gente culta duvida que seja o verdadeiro autor da obra que lhe é imputada.

  10. ” Una joven asegura haber recuperado la visión en Fátima: “Cuando he abierto los ojos…veía”
    Esta joven madrileña que participa en la JMJ afirma haber recuperado la vista tras comulgar en el Santuario de Fátima donde el Papa ha presidido el rezo del Santo Rosario ”

    https://www.cope.es/religion/hoy-en-dia/iglesia-universal/jmj/jmj-lisboa/noticias/una-joven-asegura-haber-recuperado-vision-fatima-cuando-abierto-los-ojosveia-20230805_2845210

  11. vai dar jeito nas negociações com os sindicatos dos médicos, particularmente oftalmologistas

  12. “O mesmo para Sócrates, em que diferentes autores mostram diferentes Sócrates”

    A ver, de Sócrates temos palavras escritas por quem o conheceu e ouviu directamente, enquanto aluno (Platão, Xenofonte) ou enquanto critico (Aristofanes). De Jesus não temos absolutamente nada de semelhante. Os primeiros registos escritos das “suas” palavras são escritos passado no minimo 3 décadas por pessoas que não reclamam tê-lo ouvido ou sequer visto. Ora, apesar de todas as inferências, interpolações e suposições que constituem aquilo que designamos por História Antiga, as duas situações não são comparáveis.

  13. o caso de shakespear então é ainda menos equivalente.
    ninguém põe em causa a existência de shakespear, apenas se disputa se o nome que vem assinado nas variadas peças é o nome real de uma pessoa, no caso william shaksper de stratford-upon-avon, ou um pseudónimo relativo à deusa Atena (the spear shaker) e que esconde o verdadeiro autor (ou autores) das peças em causa.

  14. Cá está um exemplo de re ligare simples e rápido,

    A história de como a Igreja Católica emprestou sua reputação para legitimar o regime fascista é contada no livro O papa e Mussolini: a conexão (re ligare) secreta entre Pio XI e a ascensão do fascismo na Europa, do historiador americano David I. Kertzer, estudioso da história política e religiosa da Itália. Kertzer debruçou-se sobre os arquivos do papado de Pio XI, abertos em 2006 por Bento XVI, para compor o livro, que venceu o Prémio Pulitzer de melhor biografia em 2015.

    Valha-nos as re ligações de são cerejeira…

  15. Sr. Mentecapto e associados

    Não vou alimentar polémica, apenas me defendo da utilização abusiva e deturpada que faz, da palavra que utilizei, re ligare, para esclarecer o seguinte :
    Não sou católico nem defendo a Igreja Católica, apenas utilizei o termo no sentido mais profundo, cada um pode religar-se, não sendo sequer precisa qualquer instituição dita religiosa, ponto final.
    Mas para colocar as coisas no seu lugar, convinha que os srs. se preparassem melhor e investigassem.
    Assim, David Israel Kertzer, tem no seu currículo não só o livro que referiu, como alguns mais, em que sempre aborda e ataca a IC, tais como o Rapto de Edgardo, e os Papas anti-judeus, O papa e Mussolini, A guerra não-sagrada, O papa que queria ser rei, O papa na guerra, etc., isto é, uma vida e obra dedicadas a atacar a IC .
    O que ele refere, é desmentido, entre outros, pelo rabino David D. Gallin, no livro o Mito do papa de Hitler . Documentem-se com o sermão proferido pelo bispo de Munster, contra a matança generalizada ordenada por Hitler contra os “deficientes” .

  16. jose neves, acerca da “vexata quaestio” sobre a identidade de Shakespeare, a melhor anedota que conheço é a seguinte: “Não foi Shakespeare quem escreveu as obras que lhe atribuem. O verdadeiro autor é outra pessoa, a qual também se chamava Shakespeare.”
    __

    Mesmo que os evangelhos presentes na Bíblia resultem de autores que não conheceram presencialmente Jesus, esses mesmo autores conheceram quem com ele conviveu (vale para os sinópticos, não para o de João), para além de se considerar que existiu uma versão anterior (ou seja, mais antiga, portanto mais coeva do Jesus histórico) que lhes serviu de base, a fonte Q.

    Nesse sentido, comparando com a figura de Sócrates, temos palpites mais coerentes a respeito de Jesus do que de Sócrates.

  17. estou com muita vontade de dizer que quem melhor escreveu sobre jesus o evangelho de jesus foi Saramago que se chamava Saramago.

  18. realmente a preocupação com as fontes neste assunto é admirável , até já valem testemunhos por ouvir dizer…dai-me paciência , Senhor. homens de pouca fé, precisam de validação de outros, o seu Íntimo não lhes chega.

  19. “esses mesmo autores conheceram quem com ele conviveu”

    de que forma sabemos isto, se nem sequer sabemos com qualquer medida de certeza quem foram esses autores visto os textos não estarem assinados nem nunca terem sido atribuidos a ninguém em particular?

    “para além de se considerar que existiu uma versão anterior”

    esta versão anterior é uma suposição, tal como o é a da tradição oral para a transmissão das histórias durante as décadas em que não existem registos escritos, e chega a ser considerada uma suposição romântica, no sentido em que daria muito jeito aos historiadores e teólogos que assim fosse mas nenhuma prova temos de que assim tenha efectivamente sido.

  20. yo,

    o meu intimo disse-me que as palavras de jesus não são de deus e sim do diabo. e agora, como faço? a yo pode-me indicar uma forma eficaz e eficiente de distinguir um do outro?

  21. “nem nunca terem sido atribuidos” isto não será totalmente verdade, mas se disser “já não são atribuidos pelos estudiosos do assunto” a ninguém em particular creio que já não erro. a lição aqui é nunca dizer nunca.
    quanto ao shakespeare, avanço que o interesse literário que poderá ter a questão autoral não é tanto para se saber exactamente quem foi que escreveu aquelas maravilhas, pode ter sido um, outro, ou até mais do que um e ninguém ficava espantado ou aborrecido. o amago da questão é existirem tantos candidatos e – esta parte é muito importante – existirem tantos candidatos porque todos eles sem excepção têm mais e melhores argumentos para serem os autores da obra do que o “homem de stratford”.

  22. “de que forma sabemos isto, se nem sequer sabemos com qualquer medida de certeza quem foram esses autores visto os textos não estarem assinados nem nunca terem sido atribuidos a ninguém em particular?”

    ou falas do Paulo e das suas epístolas (eu referia-me especificamente aos evangelhos)? porque se sim, aqui o maior problema é ele ter uma visão da mensagem de jesus substancialmente diferente da daqueles que supostamente com ele privaram.

  23. quanto à tua proposição de que temos “palpites mais coerentes” acerca de jesus do que de sócrates, vou tentar responder não enveredando pela parte inacreditável das histórias que temos sobre jesus, ou seja, concentrar-me no clark kent e não no super-homem.
    ora, se nem a mensagem filosófica/religiosa do gajo conseguimos aproximar com certeza (existem pelo menos mais uma dezena de evangelhos datados da mesma época dos de que falávamos, não existem só aqueles que entraram no cânone, e como decerto saberás a decisão de entrada não foi propriamente histórico-cientifica), estás aqui a tentar demonstrar exactamente o quê? que existiram pessoas chamadas jesus naquele sitio e naquela época? é que aposto que também existiram algumas chamadas sócrates noutro sitio e noutra época.

  24. claro que não , Jesus não transformou água em vinho? virar alcoólico já é.
    fumar também não : o tabaco não é uma planta» não venenosa ? o mesmo vale para a maria juana -:)

  25. andar de joelhos em peregrinação já é. e uma bela de ofensa a Deus , uma valente estragadela. flagelar-se e andar de cilicios , idem. como é possível acharem que aprecia essas aberrações ?

  26. (Estou a seguir com interesse o debate)
    Ao tempo que dizem ter existido Jesus, o profeta, filho de Deus, esse Jesus nascido numas palhinhas deitado, fruto de uma miserável traição ao honrado carpinteiro, havia uma multidão de profetas a propagandear um mundo diferente, seguramente melhor, disputando a hegemonia de algumas religiões e do império romano, ao contrário dos deuses da Grécia Antiga que não se disputavam entre si. Cada um tinha o seu “território”. E quando algum fugia a esta conduta era porratêdo que até fervia. Aliás, as lutas sangrentas religiosas ao longo dos séculos são, ainda hoje, a continuação da disputa daqueles tipos que ficavam horas e dias a falar sozinhos, como deixou bem claro o…., não me lembra agora o nome, no seu livro…., cujo título não me ocorre também.

    (Nunca li a Bíblia. Nem uma linha. Mas tenho a perceção – eu sou muito de perceções – que esses profetas resistiam à evolução de novas formas de organização das sociedades. O tal Jesus incluído. Eram os populistas da altura, estavam contra as elites políticas existentes. Manipulavam o povo, como o fizeram, por expl., durante séculos na Europa. E na recente JMJ de Lisboa)

    O questão profunda… por mim deixada subjacente no 1º. parágrafo procura – espero conseguir – sensibilizar os excelentes comentadores deste post a discutir a prática, as vantagens e desvantagens que as religiões modernas trouxeram à humanidade. Progressos? Tragédias?

    (Senhor Valupi, desculpe baixar o nível)

  27. independentemente da crença, as religiões são o único sistema formal organizado de transmitir valores de geração em geração . normalmente estão ligadas ao direito natural. são muito superiores ás ideologias nessa missão “educativa”, pela transcendência. tiveram sempre uma função social muito importante, e continuam a ter. criavam uma ” consciência colectiva”, como perceberam bem Justiniano e outros governantes -:)
    já agora, o budismo, como filosofia de vida, e muito anterior ao cristianismo, século V a. C , ou assim

  28. progresso e tragédia , ambos, creio., já que também foi e é usada como instrumento de dominação pelo Poder.

  29. Sr. Valupi, refiro-me ao cristianismo e ao islamismo; e, permita-me a liberdade de linguagem, aos seus derivados.

  30. Fernando, o cristianismo e o islamismo não são modernos, no sentido historiográfico do conceito de modernidade.

    Ambas as religiões são evoluções, ou derivados, ou adaptações, do judaísmo.

  31. o judaísmo , islamismo e cristianismo derivam de abraão , que nem sequer se sabe se existiu. .religiões abraâmicas. têm uma raiz comum , e é só. querem tudo , caramba.

  32. “as religiões são o único sistema formal organizado de transmitir valores de geração em geração ”

    eeerrrr, isso talvez fosse um bocadinho verdade quando elas dominavam os sistemas de ensino. mas já não é assim há décadas e ainda bem.

  33. quando o valupi se sentir magnânimo perante a plebe historiográfica que diga aqui então quem foi que escreveu os evangelhos e com quem foi que esses autores falaram que tenha conhecido jesus directamente.
    está uma distinção académica à espera dele!

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