Dominguice

Pois. Mas tu irias para o Governo, serias ministro do não sei quê? Uma percentagem ínfima qualquer responderia que sim. Não me refiro à resposta boçal ou displicente, antes à vera decisão. O mesmo, mas com um ínfimo a crescer, para o cargo de direcção máxima numa grande ou média empresa. O mesmo para entrar no palco mediático, continuando o ínfimo a engordar, se estiverem protagonistas notáveis presentes e desafiantes. A quantidade daqueles que realmente tenta ocupar o topo das hierarquias é sempre ínfima na comparação com os outros que apenas ameaçam ou fantasiam o mesmo, mais os restantes que nem sequer gastam uma caloria para lá chegar.

Eis a tragédia: porque não nos ensinam a querer o topo da hierarquia, não aprendemos a ser reis ou presidentes de nós próprios.

30 thoughts on “Dominguice”

  1. pois, isso do topo tem muito o que se lhe diga – é sempre um dispositivo de fazer viver ou fazer morrer à mão de semear. quando penso nisso, como agora, só me vem à ideia valores, carácter, consciência, limpeza. e imediatamente sorrio por ter a certeza de que sou rainha, presidente, deusa de mim: para mim e para os outros. mas ninguém me ensinou nem tive de aprender, apenas fiz viver o que a poeira estelar me deu.

    ainda na sexta feira, estava eu a ouvir piano enquanto fazia a lista de contratos renovados, sem ter dado conta da sua entrada para a outra sala, de repente ouço um vulto a aproximar-se da minha secretária. era o gestor que me tinha contratado e que foi embora vai fazer dois anos. olá Olinda, dê-me dois beijinhos, enquanto eu lhe estendia a mão. estava bastante envelhecido, os quarentas pareciam muito cansados e encorrilhados, mas com um brilho no olhar a olhar para mim. e eu sei porquê. porque durante seis anos eu fui a única que lhe disse, através do meu trabalho, que o trabalho dele fedia e lhe dava constantemente pistas para o limpar. e constantemente fui ameaçada de despedimento por atrevimento e ousadia. e agora, em outra empresa, ele lembrou-se disso, lembra-se de mim, eu hierarquicamente muito abaixo, e veio beijar-me. gostei muito, muito, de a ver, Olinda. porque agora ele tem, no topo do topo, quem o impeça de feder.

  2. nunca iria para ministra posto que são cargos desnecessários : ” yes , minister” , exemplifica bem aquilo que é preciso.
    na boa para qualquer cargo de direção em empresas , desde que o emprego não incluísse reuniões sem ser de trabalho e tretas para redes e comunicações sociais. não dou entrevistas nem saio na tv. já paguei para me substituirem em cenas dessas , sério -:) aversão total aos minutos de fama.

  3. uma é da opinião que não se deve feder nas empresas e a outra já pagou para federem por ela.
    falta a camachada a recklamar que na ruzzia não há problemas destes porque quem quiser chegar ao topo tem de passar pelos testes da janela do 10º andar ou tomar chá com o chefe.

  4. Voltando de novo a Bertolt Brecht questionando as mesmas lengalengas, vestidas com novas roupagens, modernaças!

    “Dificuldade de Governar
    1.
    Todos os dias os ministros dizem ao povo
    Como é difícil governar. Sem os ministros
    O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
    Nem um pedaço de carvão sairia das minas
    Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
    Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
    Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
    Sem a autorização do Führer?
    Não é nada provável e se o fosse
    Ele nasceria por certo fora do lugar.

    2.
    É também difícil, ao que nos é dito,
    Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
    As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
    Se algures fizessem um arado
    Ele nunca chegaria ao campo sem
    As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
    De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
    Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
    Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

    3.
    Se governar fosse fácil
    Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
    Se o operário soubesse usar a sua máquina
    E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
    Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
    E só porque toda a gente é tão estúpida
    Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

    4.
    Ou será que
    Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
    São coisas que custam a aprender?”

    Gostou Valupi? Força, está no seu palco…

  5. Em resumo: qualquer hierarquia é primitiva, nociva. O poder e a riqueza devem ser limitados. Quem tem muito deve ter muito menos. Quem está no topo tem de cair. As fortunas são para dividir. As grandes empresas são para partir. Todas as ‘celebridades’ caladas e removidas do pedestal. Sim, à força.

    1. Não deves pensar que és algo de especial.
    2. Não deves pensar que és tão bom quanto nós.
    3. Não deves pensar que és mais inteligente do que nós.
    4. Não deves pensar que és melhor do que nós.
    5. Não deves pensar que sabes mais do que nós.
    6. Não deves pensar que és mais importante do que nós.
    7. Não deves pensar que és bom seja no que for.
    8. Não deves rir-te de nós.
    9. Não deves pensar que alguém se importa contigo.
    10. Não deves pensar que nos podes ensinar seja o que for.

    Um ministro é um mero lacaio, um tacho menor; ainda assim deve ser posto no lugar: acabou-se o carrão com motorista, os salamaleques e mordomias.

    Deve até ser indiferente quem está no governo: deve ser um mero executor da vontade popular.

  6. “Sr. “Gostou…” junte às sua memórias mais esta: “ópera dos três vinténs”.

    as coisas que um gajo tem acesso através do google e do tube, até parece kulto.

    “Mas, tome cuidado não lhe vá causar desinteria que lhe agrave os entrefolhos hemorroidais!”

    não percebi do que se trata, mas acho que nem brecht e weil tenham escrito e composto sobre “desinteria” ou “entrefolhos hemorroidais”, temas muito abordados nos comentários do melómano kamachove.

  7. – Eis a tragédia: porque não nos ensinam a querer o topo da hierarquia, não aprendemos a ser reis ou presidentes de nós próprios.-

    O problema, caro Valaupi, é que apesar de frequentarmos todos a mesma escola e os mesmos professores que nos ensinam a todos a mesma matéria e nos tentam levar todos ao topo por algum tipo de “agon” grego através de exames e outros recursos didáticos, cada um nasceu e mantém-se sempre uma individualidade ontologicamente única, indivisível e por conseguinte inimitável e inigualável.
    O grande erro do marxismo foi Marx, na senda de Sócrates o grego, pensar que por meio da educação se podia atingir a igualdade de pensamento entre todos. Como rato das bibliotecas e estudioso inovador crítico do processo histórico das sociedades e seus modos de produção concluiu que, além da educação, era necessário que também os meios de produção fossem comuns.
    A experiência prática demonstrou que, mesmo partilhando o homem tudo em comum, educação e propriedade, a igualdade tão almejada e erradamente entrevista nas sociedades primitivas, o “homem novo”, paradigma da igualdade tal como a ambicionada igualdade matemática era um sonho inalcançável e, como tal, a insistência em realizá-lo à força, inevitavelmente, conduziria tal sonho ao pesadelo do terror.
    Duma certa forma hoje em dia todos, e especialmente os mais dotados, são educados para atingir o “topo da hierarquia” e alguns, já muitos hoje em dia, atingem topos de hierarquia (do cânon como diz Harold Bloom) embora, contudo, a maioria se dedique ao esforço mínimo e desse modo, ignorantemente, chega a pensar que sabe tudo mas apenas sabe tudo de quase nada e quase nada de tudo.
    A pretensa conquista do igualitarismo é uma impossibilidade humana pois, se tal fosse possível, mataria a dialética do pensamento que corresponde na termodinâmica à entropia zero e, por conseguinte, à impossibilidade de produzir energia e, no nosso caso, de produzir pensamento.

  8. “é que apesar de frequentarmos todos a mesma escola e os mesmos professores que nos ensinam a todos a mesma matéria”

    de que planeta é que veio este? onde raio é que isto que está escrito acima é verdade?
    e o resto não vale a pena sequer ler, pois é como estar a tentar perceber as conclusões de alguém que parte do pressuposto que a terra é plana.

  9. “Em resumo: qualquer hierarquia é primitiva, nociva”

    mais um que se auto impede de participar em orquestras e bandas ou praticar seriamente qualquer desporto colectivo.
    temos pena.

  10. coitado do valupi.
    revela-se um politico mais frustrado do que o pacheco pereira.
    isto é dominguice ou é confessionário?

  11. josé neves, somos todos únicos, vimos com chip inimitável, um par de íris e um par de impressões digitais , e o par nem sequer é igual -: )

  12. Acho que já percebi o texto. De facto isso tem muito q se lhe diga, e não discordo nem concordo com o Valupi ou o jose neves . Quer dizer, com o jose neves discordo. Mas antes, sobre os comentadores acho q estás a exagerar muito. O trabalho deles não é assim tão difícil quanto isso. Necessitam simplesmente de uma coisa para serem notáveis. Ler sobre a atualidade e informar se bem sobre os temas semanais. Melhor ainda (e é isso q faz alguns ser quase “eruditos”) é desenvolver e ler de maneira q entendam o país onde vivem. Feito esse trabalho, basta depois a experiência e o à-vontade para estar num estúdio. Qql um de nós poderia faze lo.

    Oh jose noves, então primeiro há aqueles q não se dedicam a nada ou dedicam se ao esforço mínimo. Depois conclui que há uma lei superior , da entropia ou não sei quê, que estabelece a impossibilidade do igualitarismo. E diz q a dialética do pensamento pode morrer caso esses seres inferiores nao cumpram com o seu propósito. Então decida se: neste mundo existem seres inferiores incapazes de atingirem o “máximo” ou ha uma lei que dita que as coisas sao assim por que são? Nem uma coisa nem outra !

    Pouco importa se nos ensinam a ser reis ou não, nem sei bem o q isso pode querer dizer. A frase q todos andamos na mesma escola é discutível. Não digo q isso seja verdade ou não. Simplesmente não sei. Onde quero chegar é q as pessoas chegam onde os acasos as levam. E qql diretor chegou lá por estar na hora certo no lugar certo em muitos momentos. Então e todos os outros candidatos q não lá conseguiram chegar, não gastaram calorias ? Como é q sabes isso?

    Há ainda aqueles que decidiram melhor do q outros. Ou que tiveram uma experiência muito mais positiva durante fases de amadurecimento da vida. Enfim, há n condicionantes.

  13. A bastonária da ordem dos advogados licenciou se aos 31 anos. Se tivesse saído da universidade aos 23 ,24 etc a vida dela provavelmente seria diferente. E o q terá sido para q ela saísse da universidade da universidade tardiamente? Um mero acaso ou uma decisão calculada ? Aposto na primeira.

    Aliás, se essa lei fosse mesmo verdadeira, não encontravas gente que não gasta uma caloria a “lá chegar”.

  14. Camacho, já me tinhas mostrado essa xD é demasiado deprimente . Mostraste no dia em q partilhaste uma q gostei mais. Boogyman.

    No outro dia, ao ver uma foto cinematográfica dum por do sol, veio me à cabeça esta frase: a vida é muito simples, um dia estamos à superfície noutro estaremos debaixo dela. Há dias em q é só mesmo isso
    https://youtu.be/Fa8Q4cJGMKg

  15. Os pontos de interrogação eram emojis representando notas musicais, mas parece que o copy paste se meteu nos copos.

  16. Letra completa:
    ____________________________________

    The Piano Has Been Drinking (Not Me) (An Evening With Pete King)

    The piano has been drinking, my necktie is asleep
    And the combo went back to new york, the jukebox has to take a leak
    And the carpet needs a haircut, and the spotlight looks like a prison break
    And the telephone’s out of cigarettes, and the balcony is on the make
    And the piano has been drinking, the piano has been drinking

    And the menus are all freezing, and the light man’s blind in one eye
    And he can’t see out of the other
    And the piano-tuner’s got a hearing aid, and he showed up with his mother
    And the piano has been drinking, the piano has been drinking
    As the bouncer is a sumo wrestler cream-puff Casper milktoast
    And the owner is a mental midget with the i.q. of a fence post
    Cause the piano has been drinking, the piano has been drinking

    And you can’t find your waitress with a Geiger counter
    And she hates you and your friends and you just can’t get served without her
    And the box-office is drooling, and the bar stools are on fire
    And the newspapers were fooling, and the ash-trays have retired
    Cause the piano has been drinking, the piano has been drinking
    The piano has been drinking, not me, not me, not me, not me, not me

    Source: LyricFind
    Songwriters: Tom Waits
    The Piano Has Been Drinking (Not Me) (An Evening With Pete King) lyrics © BMG Rights Management, Jalma Music
    ____________________________________

    https://en.wikipedia.org/wiki/The_Piano_Has_Been_Drinking_%28Not_Me%29_%28An_Evening_with_Pete_King%29?wprov=sfla1

  17. “US troops in Ukraine can now earn hazard pay”, By Rachel S. Cohen, Thursday, Jul 27, ‘Military Times’

    https://www.militarytimes.com/news/your-military/2023/07/27/us-troops-in-ukraine-can-now-earn-hazard-pay/

    “US troops in Ukraine”?! What?! WHAT?! Impossível, só pode ser propaganda putinista!

    ‘Military Times’
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  18. simpático este tom waits, não esqueceu referências ao q.i. e corte de cabelo do joaquim capacho, que apressada e comovidamente agradece no comentário metido a martelo sobre a crise nas hierarquias na produção de malaquias.

  19. O excelente e meritório historiador José Neves, a grande revelacäo universitaria da geracäo post 25A facilita e rasura um pouco a ontologia do combate(“agon” )que estrutura a mundividência do saber e activismo intelectual de cada um de nós. E que se sabe sempre pouco… Diz ele….Deve reportar-se ao modus operandi das bibliotecas portuguesas escassas em profissionalismo e actualidade ,salvo os honro
    sos casos do ICS, da Nova e da Católica. E sem boas bibliotecas näo se pode viver, dizia Serge. Chatelet,
    filosofo e obreiro da Uni Paris VIII, afiancava que foi nas bibiotecas de bairro pariseenses que estudou
    Hegel, Marx e tutti-quanti.Niet

  20. Nunca imaginaste, Eduardo Ricardo, que no momento ideal em que conseguisses que todos pensassem o mesmo que tu, deixava de haver pensamento? Que nesse instante tinhas produzido o igualitarismo total e desse modo matado a essência do ser humano que a natureza levou milhões de milhões de anos meticulosamente a organizar?

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