Do novo amigo do Rui Rio

André Ventura mostra-se cauteloso, quiçá agnóstico ou então humilde, na questão de atribuir aos processos e dinâmicas da reencarnação a responsabilidade pela presença do espírito de Sá Carneiro dentro dele. Que se trata de um espírito, e que a sua propriedade é de Sá Carneiro, sobre isso não duvida. Como explica publicamente, sente a coisa a preencher-lhe o interior de si próprio, daí a sua confiança na identificação do que seja. Agora, saber como é que esse espírito lá foi parar e ter certezas a respeito, aí o cavalheiro revela prudência. A problemática é sobrenaturalmente complexa, como se sabe dos estudos budistas e pitagóricos (para só referir as tradições mais populares acerca do assunto). Devemos todos aplaudir a postura de André Ventura numa matéria onde, se não fosse tão decente e responsável, facilmente estaria a dar largas à pulsão de reclamar já uma reencarnação consumada, completa, oficial do tal espírito do tal Sá Carneiro que lhe está a dar força para lutar. Com ele não há cá desses populismos exploradores da crendice da turbamulta, antes prefere a austeridade e rigor do método científico, ficando à espera da evidência empírica.

Já em relação a Fátima, André Ventura partilha inequívocas convicções e disponibiliza as datas para quem as quiser confirmar. A chave está no dia 13 de Maio, quase sempre um dia propício para piqueniques e o uso de sandálias abertas e/ou camisolas de manga cava (para quem goste, não é obrigatório) desde que não chova. No caso deste senhor, ficamos na posse de um segredo: ele tem o sonho de concorrer para um qualquer lugar na Junta de Freguesia de Fátima. É bonito, é o que o povo merece, boa sorte André!

Quanto a querer todas as igrejas cristãs no CHEGA, o enfoque deve ser integralmente dirigido ao verbo. André Ventura sabe muito bem, e muitíssimo melhor do que nós pecadores e mortais, que não vale a pena estar a convidar, a sugerir, a pedir às igrejas cristãs para se reunirem espontaneamente num lugar à sua escolha. Tiveram dois mil anos para o fazer e deu invariavelmente merda. Pelo que só resta aparecer algo que imponha o triunfo da sua vontade. Essa entidade é André Ventura, muito provavelmente (é uma fezada minha, admito-o) por ser André Ventura o próprio Deus que essas igrejas dizem adorar e com quem vão passar a poder enviar pedidos e receber ordens directas sem as demoras das rezas e outras soluções arcaicas. Basta que declarem aceitar a sua transformação em franchisados do CHEGA e pronto, haverá logo distribuição de pacotes de leite e de frascos de mel nas assembleias religiosas aderentes. Aliás, o papa Francisco já foi avisado pelo nosso comandante de que vai ser despedido por incompetência não tarda. Justíssima decisão.

Pelo que tudo acaba por se resumir ao Paulo Pedroso, conclui-se inevitavelmente sem surpresa. Paulo Pedroso deixa o espírito de Sá Carneiro aos saltos, com isso provocando movimentos musculares descontrolados no André Ventura (alguns deles peristálticos, com todos os inconvenientes que se podem imaginar numa figura com tanta exposição pública). Paulo Pedroso, há que ter coragem para o dizer, nunca seria eleito para a Junta de Freguesia de Fátima, como acabará por acontecer ao André Ventura se existir alguma réstia de providência divina neste mundo. E o Pedroso, vamos falar francamente, não tem pinta de ter sido criado pelo mesmo Deus que está ao comando do CHEGA. Aquilo é mais obra do Diabo; ou até coisa pior, tal o cheiro a decência e a Estado de direito democrático que exala.

Ontem, Rui Rio e Manuela Ferreira Leite explicaram que o PSD está feliz com o início de uma amizade que promete casamento. O que se passa nos Açores não é para ficar nos Açores, é para chegar ao Continente, ocupar o Parlamento e tomar de assalto S. Bento. Foi o que se fez na Revolução Liberal, é o que se vai fazer na Santa Aliança em que o CHEGA pode – e deve – continuar a arregimentar o seu exército para-anormal, prometendo o Apocalipse da República e da racionalidade, enquanto o PSD trata das relações públicas dessa intimidade amorosa de forma a garantir a “moderação” nos costumes.

Tudo a bem da Nação, escusado será lembrar.

2 thoughts on “Do novo amigo do Rui Rio”

  1. “sente a coisa a preencher-lhe o interior de si próprio”!!!!!!!
    Oh diabo…… qual coisa será?
    Queres ver que o gajo……

  2. Misturar política com religião só pode dar “bosta”.
    Assim como política com futebol, e outras “mistelas”.
    Isto é obvio.
    Agora este cromo está a ficar super-demagogo, ultra populista, e muito perigoso. Nada de concreto se conhece quanto a propostas políticas ( a não ser as boçalidades da castração química, da remoção do ovário, e da prisão perpétua ) .
    Ao corte da mão esquerda e do pé direito, ou vice-versa, pouco falta .
    Agregar Fátima, melhor dizendo, a intrujice de Fátima, é obsceno .
    Toda a gente assistiu àquela irresponsabilidade do ajuntamento . Depois, para a outra peregrinação, a seguinte, a de Outubro, assistí a um sacerdote local, a dizer na TV : aqui estamos todos protegidos pela Nossa Senhora de Fátima.
    Ora, aqui chegado, entramos em assuntos sérios: qualquer eclesiástico sério, equilibrado, e culto, acredita que não ocorreu nenhuma aparição da Virgem, em Fátima. E a muitos deles, não terá faltado vontade de aconselhar o imprudente, a estar calado .
    Misturar religião com medo e superstição, e fazer dela negócio, é para mim, das piores coisas da actividade humana .
    Muitos dos peregrinos partiram das regiões do norte, e não será por acaso, penso eu, que os concelhos à volta do Porto, estão todos, basicamente, desculpem, fudidus !
    A Fé ( tradicionalmente entendida como acreditar em algo que não se pode ver ) que nega a Ciência, é tão nula como a Ciência que nega a Fé .
    Explico : toda a gente sabe que não é a fé ( religião ) que efectua tratamentos cirúrgicos e por isso ninguém se desloca a uma igreja para extrair um dente ou engessar uma perna partida, para já nao falar sequer em intervenções mais complicadas .
    E, também, e por outro lado, qualquer cientista, que tenha a pretensão de provar cientificamente, in laboratório, a inexistência de Deus, ( a Fé ) tem estado até agora, votado ao fracasso . Acresce que, um homem de ciência, desprovido de quaisquer princípios morais ( incluindo mesmo aqueles inculcados em algumas religiões, portanto, na parte ligada à Fé ), pode ser um perigo, veja-se o caso do médico de Auschwitz, só para mencionar um exemplo .
    Agora, este Ventura, é um extravagante cromo : ungido missionário, APOIADO NA PARTE IMATERIAL ( para não escrever espiritual porque muita gente não acredita na existência do espírito ) nada mais nada menos, que pela N.ª Senhora de Fátima, e assessorado pelo “espírito” de Sá Carneiro, na PARTE MATERIAL, nada de concreto consegue apresentar . Hehehe .
    É obra !!!

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