Desbloquear

“Para desbloquear a esquerda democrática portuguesa é preciso também que haja alternativas sólidas aos governos de maioria absoluta”, referindo depois que este apelo não se dirige apenas ao PS, mas também aos restantes partidos da esquerda (Bloco e PCP) “para que aceitem o princípio da realidade, a opção europeia do país, para que sejam capazes de gerir as lideranças e saber o que é necessário”.

Paulo Pedroso

*

Que pensam Bloco e PCP deste pedido de Paulo Pedroso? Talvez o mesmo que pensa o PS quando ouve Louçã ou Jerónimo a reclamar o seu simétrico: que o PS aceite a meta do idealismo, admita a saída do colete europeu, promova a rotatividade das lideranças e saiba o que é justo. Todavia, vai bem Pedroso por este caminho, posto que nele acredita. A grande curiosidade é descobrir se encontrará algum interlocutor na esquerda da esquerda. Nenhum sinal, o mais ténue, aponta nesse sentido. Bem pelo contrário.

O Bloco tem de manter a estratégia de fractura do PS, sob pena de se reduzir ao que é: uma manta de retalhos incoerentes e anacrónicos, mantida unida pelo marketing de Louçã. E o PCP é uma organização religiosa, cada vez mais dependente das liturgias e dos fanáticos.

Talvez o caminho tenha de ser outro: desistir de quem não aceita a democracia e partir ao encontro daqueles que estão afastados da política. Esses ignoram o seu poder, pelo simples facto de ignoraram os seus direitos e os deveres de todos.

43 thoughts on “Desbloquear”

  1. Val,

    desde que a referência na conversa sejam maiorias absolutas, temos o caldo entornado.
    É uma doença infantil da nossa democracia não saber equacionar uma forma estável de um governo de maioria relativa,e viver com isso.
    Se não se entendem para convergir num governo, devem (sim devem, é um dever) convergir em manter as regras e condutas de democratas.
    Evitar as golpadas uns dos outros não é mais do que a obrigação de todos.
    Se Povo não vota? É um problema dos partidos e de mais ninguém.
    Cada um é Rei em sua própria casa.
    Moralistas, sacristias etc. Basta.

    “alternativas sólidas” em política? Não sei. Explica.

  2. Precisamente por o comportamento da “esquerda da esquerda” ser aquele que aqui se aponta/denuncia (acho que Paulo Pedroso faz o mesmo), é que o PS não devia “largar o osso” do combate político à esquerda. Que o PS desista de interpelar a “esquerda da esquerda”, e se limite a atacá-la, só é mau para o PS. O PS, desistindo dessa frente, facilita a vida a todos os seus adversários.
    Já agora, acho que vale a pena atender a que os eleitores do BE e do PCP não foram comprados por esses partidos: continuam a ser cidadãos a quem o PS deve dirigir-se politicamente, em vez de desistir deles.

  3. armando ramalho, tens de fazer essa pergunta ao Pedroso.
    __

    Porfírio Silva, sem dúvida: não desistir dos cidadãos, nenhuns. Esse é o trabalho dos quadros e ideólogos do partido, mais os simpatizantes. Mas o mesmo já não colhe para BE e PCP, organizações que hostilizam o PS de forma aviltante, pois não lhe admitem legitimidade democrática: dizem que está ao serviço da direita. Este maniqueísmo serve uma estratégia de barricada, mantendo o combate paralisado de forma a garantir territórios, pelo menos. O resto, é desgaste e oportunismo, como no fenómeno da transferência de votos por causa do conflito com os professores.

    BE e PCP lutam sempre pela sobrevivência, reconhecendo que não podem ocupar o centro.

  4. Este Valupetas não deixa de ter a sua piada… Por um lado, vai dizendo à audiência socretina que não é do PS, que não votou PS, e até diz que não defende o governo PS ou as suas medidas ou políticas (dando como exemplos – para rir – a sua oposição à IVG e a já não sei mais o quê relativo aos costumes ou às causas fracturantes). Mas, por outro lado, o mesmo Valupetas faz questão de indicar aos dirigentes do PS quais são as estratégias e orientações políticas, ou caminhos, que estes devem seguir, assim como aquelas que eles não devem seguir – até mais estas do que aquelas, pois sempre que o BE ou o PCP entram na discussão, percebe-se que o Valupetas estremece e fica em estado de pânico.
    Se ainda houvesse dúvidas àcerca da área política e ideológica onde se poderia situar o Valupetas, estas suas reacções revelam que o tipo está em sintonia com os Proenças de Carvalhos e Migueis Júdices: a «direita astuta» que apoia o Pinto de Sousa e a sua orientação neoliberal (a que chamam «reformas»), e que avisa contra o «perigo» da «esquerda imbecil» ganhar influência política.
    O que o move, está visto, não é qualquer projecto ideológico ou político, mas sim um anti-projecto. O que o move é impedir o crescimento e o poder de influência da esquerda. O que até nem é nada de estranho num gajo que não gosta dos «anacronismos» nem da «religiosidade» desta esquerda, mas que louva, elogia e defende os «anacronismos» e a «religiosidade» da Igreja Católica.
    È isto a «esquerda» moderna: a «esquerda» liberta do anacronismo da palavra «esquerda», por um lado, e que adopta como seus os «princípios religiosos» mas «modernos» da ideologia dominante, por outro. O «dualismo maniqueísta» que o Valupetas contesta é assim substituido por um monismo que está para além do bem e do mal: a impostura.

  5. “O que o move, está visto, não é qualquer projecto ideológico ou político, mas sim um anti-projecto. O que o move é impedir o crescimento e o poder de influência da esquerda.”
    Isto sim, tem piada.

    Acabaste de descobrir a pólvora. A causa de todos os males do mundo: a esquerda não se implanta e governa devido a um Valupi. Parabéns.

    Claro que também não queres o neo-liberalismo na constituição. Propões alguma coisa?
    O estado social assim está bom, ou apetece-te mais?
    E que tal estatizar a banca? Gente que não produz, será que merece lucros? Comecemos por os esmifrar em impostos.
    E as necessidades básicas, porra? Haver quem ganhe com água, energia, comunicações ou transportes é forçar a insurreiçao.
    E tanta propriedadezinha para aí meia abandonada que é só nacionalizar.

    O que é que se segue? Vá… dirige a banda.
    Vamos a eles.

  6. Estou de acordo, Val.
    O Porfírio Silva também refere pontos que há que ter em conta , a questão é que o PCP e o BE não dão sinais de quererem “falar” com o PS.
    Eu até tenho para mim que sempre que o PSD está no poder o PCp e os sindicatos afectos ficam mais dialogantes, não com o PS, mas com o poder laranja.
    Cumprimentos

  7. Este portugal continua cego. Proença de Carvalho, que sabe esse gajo, do que quer que seja? Dêem – só um exemplo, por favor. Só um. Ok, Não vale falar de Estado de Direito, que isso é coisa que o homem larga pelos poros….

  8. Pergunto-me..há quantos anos está Francisco Louçã à frente do Bloco de Esquerda?
    E o que vai ser do Bloco de Esquerda quando Francisco Louça sair da sua liderança?

  9. Este país (ou este mundo…) não é para velhos.

    Acho que toda a gente sabe por aqui, porque estou farta de o dizer, que tenho duas filhas. A mais nova tem 12 anos. Em Fevereiro de 2007, aquando do referendo do aborto, tinha 9 anos. Um dia, por essa altura, perguntou-me se eu também achava que se devia poder deixar matar criancinhas.
    Sou muito cuidadosa, mesmo com gaijinhas de 9 anos, nas explicações que dou, evitando, na medida do possível, condicioná-las de alguma forma. Assim, expliquei-lhe o melhor que soube e consegui os dois lados da questão e pedi-lhe para pensar. O facto da irmã mais velha dela ter trissomia 21 e já na altura ser legal o aborto nestes casos deixou-a baralhada, afinal já se podiam matar criancinhas, e comunicou-me que a opinião dela era que a lei devia ser mudada porque achava inconcebível que uma mulher que abortasse corresse riscos de cadeia.
    Poucos dias depois de me ter comunicado a sua decisão apanhei-a ao telefone com a avó, a minha mãe, a senhora minha mãe. Discutiam o referendo e o voto. A gaijita estava a meter uma cunha à avó, assim tipo presente de Natal – pedia-lhe para votar “Sim” por ela já que ela não podia votar. O argumento? O argumento era fatal – a lei, qualquer lei que dali saísse, era para ela e não para a avó, a avó já não iria nunca ter de decidir se abortava ou não mas ela, do alto dos seus 9 anos, não sabia o que a vida lhe reservava e se tivesse que tomar uma decisão difícil como essa preferia fazê-lo não tendo de pensar que, para além de tudo o resto, corria riscos de vir a ser presa. A minha mãe, a senhora minha mãe, avó dela, desligou-lhe o telefone. Explicou-me depois que se recusava a falar “dessas coisas” com miúdas. Eu ainda hoje me rio.
    A gaijinha tem 12 anos, vai fazer 13. Não, não vai votar no próximo PR mas o outro, o a seguir, já vai contar com o voto dela. E com o voto de muitos outros da idade dela. Que não fazem a mais pequena ideia do que é isso de esquerda e de direita, porque se estão nas tintas para quem se sentava onde no Parlamento. A noção de Direita ou Esquerda está datada historicamente e tenho sérias dúvidas que a geração que aí vem a compre. Eu, que nas mesmas eleições já votei PP e PCP, espero sinceramente que baralhem e voltem a dar.
    Desbloquear a esquerda? E que tal desBloquear a política?

  10. Porfírio, mas claro que o Valupetas até tem razão quando fala em «maniqueístas» que teimam em distinguir a esquerda da direita. Mas eu também tenho quando digo que o gajo não passa de um impostor. Não leste com atenção tudo o que eu disse, pá!

    tra.quinas, também não leste com atenção o que disse, pá! O Valupetas não é nada do que tu dizes que eu digo. Mais e melhor do que ele, como eu disse, fazem os Proenças e os Júdices… e os Pinto de Sousas. O gajo é apenas um comedor-de-parvos…
    Ah, e não acredites nessa conversa do Pinto de Sousa àcerca da constituição, porque no preâmbulo desta também é dito que se caminha para uma sociedade socialista, e no entanto para a «esquerda» moderna isso pouco interessa na prática. È um «anacronismo», como diz o impostor…

  11. O Paulo Pedroso até pode ter alguma razão no objectivo. Na esperança e na boa vontade.
    O que não encontramos é qualquer aderência com a realidade.
    O que é que os Estatutos do PCP e os programas do Bloco dizem do PS?
    De qualquer política, que não seja a deles?
    Do que pensam dos que querem continuar na UE?
    Dos que consideram não haver alternativa à Nato?
    O que disseram da moeda única? já se retrataram?
    Já se retrataram do que insultaram o Sampaio? O Guerres?
    Do que mantiveram nos seus programas contra a Constituição que agora dizem acarinhar?
    Entre muitasoutras coisas a Constituição coloca os alunos e as escolas bem à frente dos interesses das corporações…
    Em que votação nos últimos 10 anos votaram com o PS as reformas da Justiça, da Educação, do desperdício na saúde, o fim das mordomias das corporações?
    Quantas vezes se uniram à direita mais reaccionária para destruir garantias do Estado Social?, aumetando as despesas e reduzindo na mesma medida o esforço de coesão?
    E a manipulação da Lei que permite ao PCP ter tempos de antena e dinheiros em dobro com a invenção dos Verdes? Aquilo é um partido democrático e respeitador da Lei ou apenas um travesti?
    Logo que o PCP e o Bloco vierem dar o dito por não dito, o Paulo Pedroso ganha a palma de ouro. Entretanto ficamos todos à espera.
    Sentados.

  12. Mas voltemos ao assunto…
    O Pinto de Sousa aldrabão disse que o PSD actual representa a direita ultra-liberal, e que não devem contar com ele para inscrever o neoliberalismo na Constituição. Se calhar o mentiroso até está a dizer uma grande verdade, mas o PSD actual só é «ultra-liberal» porque o PS actual (ou a dita «esquerda» moderna) ocupou o espaço politico-ideológico do PSD: o espaço conhecido como liberalismo ou neoliberalismo. É natural, portanto, que o PSD ainda queria ir mais além que o PS na liberalização das relações sociais e da sociedade, para mostrar que é uma alternativa, que é diferente, para mostrar que é mais «moderno», pois claro!
    Agora, no que diz respeito à Constituição essa tirada do mentiroso é só mais uma mentira para acalmar as consciências dos mais ingénuos que ainda acreditam que o «PS moderno» é um partido de esquerda. Aliás, o Passos Coelho também já veio acalmar as consciências «social-democratas» e respondeu que não pretende qualquer Constituição neoliberal, pois o PSD é um partido «social-democrata». ehehehhehehhehehh.
    Demonstra-se, assim, que os dois pertencem à mesma escola (até porque podiam ter sido colegas na JSD): a escola dos aldrabões que dizem uma coisa e fazem outra. Aliás, basta lembrar as promessas do Pinto de Sousa no que toca à revisão do código do trabalho neoliberalizante do Bagão Félix, para se perceber que com o Pinto de Sousa pode-se contar para tudo. Porque é um daqueles gajos a que qualquer pessoa emprestaria o seu carro…

  13. «As Jornadas não vão dar em nada: constituem um cenário teatral pouco convincente, uma demonstração enganosa que pretende legitimar as malfeitorias de um Governo cuja acção tem tripudiado sobre a nobre ideia de socialismo. Os exercícios de retórica apenas reconhecem as funções do poder, e poucas vezes, muito poucas vezes, o poder reconhece os erros e os desvios próprios. Nos discursos de mera circunstância, somente Ferro Rodrigues, pelo qual desejo manifestar consideração, se aproximou da génese da crise, denunciando, timidamente, o carácter predador do capitalismo e da fase de domínio sobre todas as formas sociais em que se encontra. Mas ficou-se pela superfície. É pena.

    Não esperava afirmações contundentes nem rupturas com um passado que, amiúde, chega a ser escabroso. Porém, talvez não fosse má ideia que alguns dos dirigentes socialistas tivessem a coragem de cauterizar as características patológicas de que o PS e os seus Governos têm enfermado.

    O problema da identidade política e ideológica daquele partido foi esquecido. Não houve discussão teórica, e podem crer que, no estrangeiro, sobretudo em França [verbi gratia os textos vivíssimos de Alain Badiou e de Myriam Revault d’Allonnes] têm sido apresentadas curiosas soluções que, pelo menos, renunciam ao mutismo e à resignação. Não houve polémica nem remorso nem grandeza nestas Jornadas Parlamentares do PS. O PS não tem feito o que é preciso fazer.»

    Muito bem, Baptista Bastos!
    «cenário teatral» dos impostores; «demonstração enganosa» que legitima as práticas neoliberais do governo; meros «exercicios de retórica» para entreter os ingénuos e idiotas úteis; «discursos de circunstância» negados pelas acções e medidas legislativas concretas, «identidade politica e ideológica esquecida» e posta na gaveta (melhor: deitada ao lixo), porque o que está a dar é ser-se «moderno».
    O que é preciso fazer, para começar, é reconhecer que o Pinto de Sousa e seus seguidores não passam de uns aldrabões, de «tralha» socretina!

  14. Este “DS” está a entrar em transe.
    Quem o injecta?
    Já cita o BB na sua fase descendente!
    Eu cá gosto é de revolucionários que querem a revolução já!
    Pronta a servir.
    Especialmente se vierem da direita tranmontana então temos um quadro perfeito!

  15. MFerrer, pá, quando essa «revolução,já!» chegar, toma cuidado, pois os tachistas e\ou maridos de tachistas como tu são os primeiros a quem é cortada a cabeça!

  16. Pois, pois, ds. A minha curiosidade era mais no sentido de te ler propostas concretas. Vá lá… que pelo menos deixasses exemplos onde essas práticas de boa governança de esquerda têm sido executadas e com que resultados. Mas tu és mais rebentação das ondas, só fica a espuma. E pouco tempo.
    Percebe-se que a tua noção de esquerda é vergar a corporativismos há muito instalados e mais ou menos ultrapassados pelo suceder dos dias. Interesses esses que são muitas vezes já mais bacocos do que as ideias que começaram por contestar. Desenvolvimento das sociedades, dizem.

  17. Pronto, tra.quinas, eu faço-te a vontade e apresento-te propostas concretas, mas aviso-te desde já que não são nada originais e que têm direitos de autor.
    Em primeiro lugar revia o código laboral do Bagão Félix; a seguir propunha que se criassem 150000 empregos para acabar com taxas de desemprego vergonhosas; depois propunha referendar o tratado europeu (que um certo palhaço celebrou e aplaudiu, mas que parece que agora, a propósito da golden share na PT, acusa de ser ultraliberal); e finalmente propunha que não se subissem os impostos sobre o trabalho.
    É isto tudo impossivel e irresponsável, como diz um certo aldrabão da «esquerda» moderna? Mas então só posso concluir que ser-se «responsável» é não cumprir com a própria palavra, e desculpar-se com «inevitabilidades» económicas.
    Percebe-se assim qual é a tua noção de «esquerda» e a de todos aqueles que se reclamam de «modernos»: ser-se de «esquerda» (da moderna) é adoptar as políticas neoliberais que se critica e ataca quando se está na oposição, assim como, acrescente-se, diabolizar os sindicatos, apelidando-os de corporações, como a neoliberal Thatcher ensinou e os idiotas úteis repetem.

  18. Isso não são ideias requentadas, ds. É já matéria em decomposição, mais apropriada para estrume. Principalmente quando não são idealizadas propostas alternativas e muito menos se faz o esforço de tentar avaliar o impacto da sua hipotética aplicação. E se a memória não me falha, maior parte disso até já foi sujeito a sufrágio eleitoral.

    Preferes dar a entender que não há impossíveis, mas lá dares exemplos concretos de países europeus onde as taxas de desemprego ou os impostos estejam a cair vertiginosamente, esqueces-te. E o resto é isso, resto. Pois muito bem: vamos então baixar os impostos, alterar o código do trabalho de forma a dificultar a actuação dos empregadores, admitir mais 150000 funcionários públicos e, em extremo, sair da EU. Tudo sem nenhum tipo de problema porque ainda nos restaria a agricultura de subsistência, a pesca à linha, as chouriças tradicionais e poisos para a emigração existirão sempre a pontapé.

    Bem sei que não te vou dar nenhuma novidade, mas ainda assim insisto: essa tua fixação obsessiva no Primeiro Ministro não te ajuda mesmo nada.

  19. Se o meu problema é a «fixação obsessiva» com o Pinto de Sousa, o teu problema (assim como o de muitos outros) é exactamente o contrário, como o teu comentário revela: a memória curta! Só isso explica que se apoie quem promete umas coisas e faz outras.
    Mas diga-se a verdade que a tua «esquerda» só podia ser mesmo um produto da memória curta, de quem não tem memória e acaba por isso a defender «soluções» e «inevitabilidades» neoliberais. Tens toda a legitimidade para o fazer, mas tem um pouco de pudor e não digas que isso é ser de «esquerda».
    Corrijo-me, portanto: o apoio ao Pinto de Sousa explica-se pela falta de memória ou pela incapacidade de ser-se intelectualmente honesto.

  20. O meu problema principal não é o José mas antes a refundação do ideário socialista não sei como. Lembro-me de Havana há vinte anos, morta ou quase, não havia lojas, não havia cor. Vá lá que havia música porque essa é gratuita. Belos metais.

    Para já a Espanha ganhou à Alemanha o que já dá tusa…

    No entanto a lógica da inevitabilidade da asfixia das gentes por efeito das dívidas públicas dos Estados terá sempre a minha repulsa, não reconheço a soberania dos bancos sobre os Estados e muito menos sobre os povos.

    O Aspirina tem demasiada pedalada para o meu andamento de Verão junto com uma internet com um feitio desgraçado e a dor de cornos de ver como a gaya scienza se poderá articular com a Hipótese de Gaia do Lovelock, mas o Ravara pôs aí uma coisa algures em que chamava o Jacob Fugger à liça.

    Ora nem mais, Portugal e Espanha resolveram um problema similar no século XVI.

  21. Eu não digo que estes socretinos têm falta de memória e/ou são intelectualmente desonestos (ou aldrabões)? Porque é que eu digo isto? Porque acabei de passar pelo blogue do socretino até à medula e tachista MFerrer, e dei com a seguinte pérola que transcrevo em parte: «Direito sem ideologia?Isso é o quê? Whisky sem alcool? Constitui um velho sonho da direita esta coisa de nos quererem convencer que pode haver um ordenamento jurídico neutro e desinteressado. Só acredita nisso quem for muito muito muito tonto.».
    Como fica assim demonstrado, os socretinos até dão razão ao Marx quando reconhecem que não há direito sem ideologia. Mas foram estes mesmos socretinos que se regozijaram com a aprovação de um tratado europeu de orientação neoliberal e que aplaudem a legislação laboral e económica neoliberalizante parida pelo governo do Pinto de Sousa. É caso para dizer: Porreiro, pá!
    Tão tontinhos que são estes tipos da «esquerda» neoliberal moderna…

  22. oh diabos, estamos feitos aqui no Aspirina, aquele B é fudido:

    «Les probabilistes du monde entier se sont défendus vaillamment. « Cette crise n’est en rien une crise des mathématiques », a rétorqué Nicole El Karoui. Elle résulterait de l’application dévoyée des spéculateurs. Christian Walter, chercheur au Centre de recherche sur les risques financiers de l’École de management (EM) de Lyon, réfute cette explication. Dans son essai paru récemment, Le Virus B (Seuil), il explique que la crise n’est pas due à l’avidité de certains, mais à une mauvaise estimation des risques.»

    in Cocanha.

  23. Tal como tu tens todo o direito a perseguires essa visão idealista da política que professas, ds. Só quem nunca chegou sequer a assumir responsabilidades de governação poderá gabar-se de não ter falhado a promessas eleitorais.

    A questão essencial é óbvia: naquilo que nos parece feio, só conseguimos olhar os defeitos.

    Mas desengana-te, os eleitores do PS não são desonestos nem andam iludidos por quem está à frente do partido. Pelo contrário, têm perfeita noção das diferenças entre as soluções protagonizadas pelo PS e pela restante direita quando são governo. Elas ficaram bem à vista nos últimos vinte e cinco anos e têm sido suficientemente lembradas e dissecadas tanto aqui com noutros espaços de diálogo. Se não lhe quiseres chamar esquerda chama-lhe o que quiseres mas evita dizeres que é tudo a mesma coisa porque não andamos todos a dormir.

    De facto, as comparações com a esquerda radical e ortodoxa são impossíveis porque simplesmente esses não querem mesmo governar. Mas qualquer simples exercício de imaginação será suficiente para deixar bem claro o quanto seriam desastrados os resultados dessas políticas.

  24. Agora é a minha vez! tra.quinas, enumera-me lá algumas dessas «diferenças» entre a direita e a «esquerda» moderna no que diz respeito às soluções governativas. Assim de repente até me parece que quem mais privatizou e neoliberalizou a economia neste país foi o PS. Quem mais hostilizou e diabolizou os sindicatos (corporações, na linguagem Thatcherista) foi este governo. Assim, diferenças, diferenças, existem no discurso, mas isso só revela como os eleitores da «esquerda» moderna são de facto os mais tontinhos de todos (e aí está o MFerrer para o demonstrar).

  25. Pingback: TZ at Aspirina B
  26. Não queiras que eu seja melga, ds. Olha… ainda agora o uso da golden share de forma a evitar que a PT se transformasse numa operadora de esquina com todos os prejuízos para o país que isso significaria em termos de emprego qualificado.

    Interessa-me muito mais os aspectos práticos do que a teoria e aí estás careca de saber que existem toneladas de cabelo.

    Ainda assim e a correr, deixo-te meia dúzia de lembretes: os genéricos, a reforma da segurança social garantindo alguma sustentabilidade e sem recurso aos privados, a manutenção de uma série de benefícios sociais que a direita há muito gostava de ver abolidos, as reformas na educação de forma a garantir à escola pública capacidade de concorrência com os privados quer ao nível das condições físicas (parque escolar) quer de oportunidades (Magalhães incluído), a requalificação dos recursos humanos nomeadamente criando condições para que mais de um milhão de portugueses voltassem à escola com as novas oportunidades, os programas de apoio à manutenção de empregos durante a presente crise económica, a desburocratização de uma série de serviços acabando com um código de subserviências que sempre atrofiaram o nosso desenvolvimento e claro, a existência de uma visão estratégica de desenvolvimento que só a médio prazo dará frutos: passa pelo apoio à investigação científica, pela diminuição da dependência energética, pela reformulação das infra-estruturas logísticas e de transportes. Não te parece que a criação de condições de desenvolvimento com alternativas ao poder económico instalado também pode ter algo de socialista?

    Queres mais?

  27. Olha, que engraçado… Nessas medidas avulsas eu consigo ver exactamente o contrário daquilo que tu vês. Primeiro, no que diz respeito à golden share basta lembrar as perguntas que ontem o Honório Novo fez ao ministro das finanças (a propósito da privatização total da GALP e da EDP) para se perceber que isso é tudo conversa e estratégia para enganar os ingénuos, e que mais tarde ou mais cedo o Pinto de Sousa reconhecerá a soberania do «mercado livre» e do direito neoliberal europeu (como é seu timbre, e a GALP e EDP mostram). No que toca aos benefícios sociais aquilo a que se assistiu foi ao anunciar de diversas medidas avulsas sem a correspondência à realidade que os «tempos de antena» do Pinto de Sousa gostam de fazer crer, e que agora até vão estar sujeitos a tectos máximos, para além de se andar a dar com uma mão o que se anda a tirar (a mais) com outra (basta lembrar que subsídio de desemprego foi alvo de restrições nos dois mandatos do Pinto de Sousa). A «reforma» (lá vem a palavra mágica) da segurança social, como muitos já vieram dizer, (mas o governo esconde) vai traduzir-se em as pessoas passarem a receber como reforma apenas METADE do que hoje recebem. A «reforma» (outra vez, a palavra mágica) da educação traduz-se na manipulação de estatísticas e na entrega de canudos sem qualquer acréscimo nas aprendizagens, e dever-se-ia chamar antes de «reforma» neoliberal financeira, pois a «ministra da educação» é mais uma espécie de secretária de estado das finanças. Enfim, o que te sugiro é consigas ver as coisas para além da propaganda socretina, pois esse tua enumeração de medidas não passa de uma repetição daquilo que se ouve da boca do próprio aldrabão…

  28. Supunha-te mais lúcido e acutilante, ds. A utilização da golden share obrigou a Telefónica a ter que negociar com a PT, caso contrário a perda da Vivo estava consumada. É isso que importa e não os teus devaneios delirantes que sugerem que este governo poderá colocar a dependência energética do país na mão de privados. Como por aqui não chove nem petróleo, nem ouro, nem euros, é natural que existam tectos para a despesa. Ou pensas que isto é só pôr as rotativas da Santa Casa da Moeda a trabalhar?

    Há uns poucos de anos a preocupação era que em breve não iria haver dinheiro para reformas. A falência do sistema, lembras-te? Agora estás preocupado que só vai haver dinheiro para metade, nem tu sabes quando. E quando a esperança de vida chegar aos 100 anos continuará a haver muito boa gente a defender que só se deve trabalhar 40 anos e receber 120 de reforma. E ainda tens dúvidas da renovação do parque escolar público, ou de que muito português agradece de facto a oportunidade de melhorar os seus conhecimentos e qualificações? Ou falas do que não sabes, ou pensas que de doutor para baixo não se pode falar de qualificações. Ou ambas, e então a conversa de pouco ou nada serve.

  29. ò tra.quinas, sabes o que acontecia no tempo do Salazar? Não havia qualquer défice financeiro, não havia qualquer sistema em falência, pois também não havia sistema. Desta forma, como qualquer bom neoliberal defenderá, a forma mais fácil de resolver as contas do Estado é «libertá-lo» das suas despesas. Com as pensões reduzidas para metade, pode-se dizer que o Pinto de Sousa vai pelo bom caminho…
    Também no tempo do Salazar, o ensino a partir da 4ª classe era quase só para as elites. O resto ficava pelo saber ler e fazer contas ou pelo analfabetismo. As reformas «educativas» do Pinto de Sousa que estabelecem que não é preciso estudar para aprender fazem o mesmo de outra forma: com as passagens administrativas e os canudos entregues no acto da inscrição, poupa-se dinheiro com o sistema, por um lado, e garante-se o analfabetismo da maioria (pois apenas interessa apresentar resultados estatisticos falsificados), pelo outro, assim como a concordância dos horários da «escola – ou armazém- a tempo inteiro» com os horários laborais flexiveis e precários dos respectivos pais. Mais uma vez, o Pinto de Sousa vai pelo bom caminho…
    Quanto aos meus «devaneios delirantes» a respeito da GALP, EDP e por aí fora, só são devaneios para quem fecha os olhos à realidade, preferindo abrir os ouvidos à propaganda socretina, não encontrando qualquer incoerência entre o que se quer para a PT e o que se quer para as empresas prontas a privatizar. No tempo do Salazar o Espírito Santo, o Champalimaud e os Mellos eram quem mais ordenava. Hoje, o Espirito Santo e os Mellos (mas também os tipos da Mota-Engil) continuam a ter aliados no governo. O Pinto de Sousa está portanto no bom caminho…
    Como eu disse atrás, governo mais neoliberal do que este nunca tivemos. O PSD à beira disto até acaba por ser verdadeiramente um partido «social-democrata»…

  30. Bem… começo a ficar preocupado, ds. Equiparar o sistema de ensino, o de apoios sociais e o tecido social e económico actual aos do tempo da ditadura é de quem deixou queimar os neurónios e perdeu por completo as sinapses que fazem a ligação com a realidade. E deixas claro que não limitas os assuntos mal resolvidos ao Primeiro-Ministro. Recomendo-te ajuda técnica ou então uma purga da sociedade à boa maneira estalinista.

    E a verdade é que a conversa já vai longa e tu não és capaz de te descoser com exemplos concretos actuais de aplicação das tais politicas que dizes socialistas. O dizer mal de quem governa e estabelecer associações depreciativas, quase mórbidas, basta-te. Essa postura tresanda e o meu olfacto tem limites.

    Ainda agora o PSD acabou de elogiar a decisão da UE sobre a utilização da golden share no caso PT. Que as diferenças existem é óbvio, que tu não as queiras ver é problema teu.

  31. Ò tra.quinas se achas que eu preciso de ajuda técnica, tu lá saberás do que falas, pois o teu discurso é todo ele esquizofrénico. Ou, por isto mesmo, provavelmente não sabes é do que falas….
    Mas, olha, eu não fui tão longe como o insuspeito António Barreto para quem o Pinto de Sousa lhe parece fascista. Eu só disse que o gajo ia pelo bom caminho.
    Quanto aos teus limites olfactivos, tens a minha solidariedade, pois não deve ser fácil viver sem cheirar e ser ao mesmo tempo ceguinho. Pelo menos ainda vais ouvindo bem a propaganda socretina. Deus te ajude, que o reino dos céus é dos coitadinhos.

  32. Mas, pronto, concedo… Nesta questão da PT, o PSD dos Passos Coelho é diferente do PS do Pinto de Sousa. Mas também é diferente do PSD do Santana Lopes que já veio dizer que está do lado do Pinto de Sousa.
    Continuação de boas alucinações e audições socretinas, tra.quinas…

  33. Deixa-te de tretas, ds. Olha que estás a inchar, a inchar e ainda rebentas.

    Eu repito: não és capaz de te descoser com exemplos concretos actuais de aplicação das tais politicas que dizes socialistas. Nem tu nem o Barreto. O que muitos como tu querem é um sistema social de esmolinhas e sopinhas para os desgraçadinhos para manter tudo como está. Esquece, isso já não tem consonância com a realidade.

    Perde a vergonha e diz qual é o modelo social que propões. Onde é que ele vigora e está a dar bons resultados? Assim sim, esclarecias logo toda a gente em vez de andares para aqui a rebolar em teorias e conversas de tia.

  34. «sistema social de esmolinhas e sopinhas»

    Aconselho-te a releitura do meu comentário que fala do «bom caminho» do Pinto de Sousa. Mas, agora, abre os olhos e destapa o nariz para perceberes melhor quem é que pretende um «sistema de sopinhas e esmolinhas».
    E devolvo-te o teu pedido: Tem vergonha, tu, pá! Defende o que quiseres e quem quiseres, não digas é que isso é ser de esquerda (como eu já disse num comentário atrás). A não ser assim o teu psiquiatra ainda vai ter que te aumentar a dose contra a esquizofrenia.

  35. Acalma-te e enxerga, ds. Devolveres-me o pedido para ter vergonha? Estás meio a dormir pela certa. Disse foi para perderes a vergonha e dares exemplos de aplicação das tais políticas socialistas que tanto te seduzem e manténs fechados numa aura de mistério e silêncio. A gente percebe e desculpa: não os tens para dar. E é aí que está o fulcro da questão, topas? Reduzes-te a conversa fiada.

  36. Sim, pá, reparei nisso depois de escrever, mas a verdade é que vai dar ao mesmo: não tenhas vergonha das tuas posições de direita e neoliberais e assume-te como tal. Topas? Quando o fizeres, eu dar-te-ei os exemplos que pedes, ainda que pouco interessem a um neoliberal, suponho…
    Mas não me confundas com o teu lider e com a «conversa fiada» socretina, OK? O mundo não se reduz às tuas audições socretinas…

  37. Porque voltamos ao mesmo: no mundo socretino e na cabeça dos socretinos, a orientação política e a governação a seguir é inevitável, não há alternativas. São o que se pode classificar de «homens unidimensionais»…

  38. Se calhar pensas que teria algum problema em me assumir se as minhas ideias estivessem próximas de alguma direita. Possivelmente pensas que as opções políticas são assim a modos que uma inevitabilidade do berço a que temos de manter fidelidade sob pena de renunciar o passado. Ou que a direita transmite sarna.
    Para além da tua conversa fiada gratuita, é evidente a visão panorâmica reduzida, só admites o preto e o branco e demonstras uma enorme falta de sensibilidade para as nuances. Certamente percebeste o desenho.
    E quanto aos exemplos faz o que bem quiseres porque é a tua eficácia argumentativa e coerência que estão em causa. Não a minha.

  39. Claro que só admito o preto e branco: como o Valupetas disse, eu sou um «maniqueísta». Agora, tu e o Valupetas são daqueles tipos que estão para além do bem e mal (do preto e do branco), como eu também já disse: são impostores.
    Dorme bem, pá!

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