Desbloquear – III

Vou continuar a aproveitar as palavras da nossa amiga Sofia Loureiro dos Santos, por trazerem aspectos que pedem discussão:

Valupi, é verdade que este governo tem liderado um governo de crise. Mas o problema é a falta de liderança política e a sensação de que não dirige, mas antes é dirigido. Pelas circunstâncias internacionais, já todos percebemos que todos somos dirigidos, Portugal e os outros países. Mas pelos outros partidos, pelo Presidente da República e por algumas figuras do PS, que têm tido intervenções na vida política que descredibilizam o Parlamento e o PS, não.

O cenário de um Governo dirigido pelos outros partidos, e até pelo Presidente, não é correcto. Sem maioria, há que negociar ou abandonar. Como o PS insiste em assumir as suas responsabilidades, e como também espera pelas eleições presidenciais para se poder lançar num novo ciclo, temos a actual situação de fragilidade geral. Todos os actores políticos, sem excepção, estão a passar por um terreno que não conhecem, onde as areias movediças são bem mais perigosas do que os pântanos. E ainda poderíamos juntar a este ramalhete de desgraças a desgraça da Justiça, a qual tem tido influência na actividade política. Quanto às figuras do PS que descredibilizam o Parlamento e o partido, e sem saber ao certo a quem alude a Sofia, esse é o menor de todos os problemas. Polémicas e casos imprevistos são inevitáveis, pois estamos vivos e cada um pensa pela sua cabeça. O PS, contudo, é muito maior do que os melindres desses episódios, alguns meramente do foro psicológico.

Estamos sem estabilidade governativa porque os eleitores acreditaram que os males do País resultavam da maioria do PS. Como agora se vê, perante a demissão da oposição face às suas responsabilidades, o pior que pode acontecer numa democracia é o ataque e boicote ao Governo pelo simples facto de tentar governar. Há algo de profundamente errado no modo como se entende o papel da oposição.

3 thoughts on “Desbloquear – III”

  1. Se há maioria, reclama-se contra a diatdura da dita. Se não há, clama-se pela urgência de uma maioria. Os reclamantes são exactamente os mesmos. Creio que já todos se aperceberam de que este modelo de democracia está esgotado. Os deputados representam exclusivamente o partido que os colocou na lista do poleiro. O “programa” vencedor é imposto tanto aos derrotados votantes como aos abstencionistas. E estes estão sempre em maioria absoluta. Daí a «reclamação contínua».
    Penso, Valupi, que não é esta “maioria reclamante” que está demente nem tão pouco a “minoria” vencedora. O que acontece é que o belo fato da nossa querida democracia já não se ajusta ao corpo de uma sociedade em crescimento acelerado.
    A viragem para um novo paradigma está a ser dolorosa e mais lenta do que o desejado.
    Fala-se em «revisão constitucional» quando se exige uma revisão da própria democracia.
    O pior é que esta revisão não pode ser feita sem as pessoas e muito menos contra as pessoas. Por isso o parto está a ser dificil e demorado.
    Avance-se, para já, no plano teórico, deixando de falar nas tradicionais distinções «esquerda» e «direita». Já deu para ver que, neste tempo de trabalhos de parto todos jogam em todos os tabuleiros, quando isso convem às suas clientelas da AR ou às suas «massas simpatizantes».
    Quanto mais atrasarmos a dicussão teórica, mais tempo daremos às corporações que surgem de todo o lado, cada vez mais organizadas e poderosas, marcando a cadência do passo «democrático». Na prática, os actuais partidos já não passam de maionetas mas mãos desses disivos e, na prática, decisores.
    Lembrem-se do Belmiro: se querem um jornal para dizer o que pensam comprem um, que o Público é meu.
    E os juizes, só por pura condenscendência, ainda não colocaram o PM na cadeia, a aguardar absolvição em prisão preventiva.
    Se preferires, Valupi, podes continuar a lutar contra moinhos de vento e chamar F.P. a todos. Pelo menos lavas a alma.
    Tens talento e inteligencia para muito mais.
    P.S.
    Fez-me pena ver aquele inocente balbuciar de Paulo Pedroso ainda a sonhar com uma hipotética união da «esquerda». São estes os politicos da renovação? Mais «renovador» seria Passos Coelho, que se propõe rebentar, de vez, com o Estado Democrático que temos.
    Mas penso que ele nem sabe o que anda para aí a dizer.

  2. Estamos metidos num grande imbróglio. Mas porque será que mesmo assim, tanta gente se esgadanhe por governar? Por exemplo o sr Siva diz que a situação do país está insutentável, embora muito èticamente não ponha nela as suas culpas, é evidente que quer continuar presidente, o que seria sem o imbróglio? Os outros candidatos não acrescentam a ponta dum corno para uma soluçao definitiva das contas públicas,por isso não dispensam os mesmos palácios, as mesmas viagens, o mesmo orçamento, as mesmas mordomias, logo o imbróglio traz muitas vantagens aos presidentes.

    Não é possível governar (bem) sem Estado controlar a despesa, mas esse desígnio, mais importante que encontrar petróleo nas Berlengas, não convém aos políticos-dependentes que nos cercam, e a muitos diversificados e féis serventuários que por aqui andam, para que tudo continue na mesma. Portanto, com modelo atrás de imbróglio, imbróglio virá.

  3. É para mim e provávelmente não só, um momento feliz ir ao Lidl neste tempo de crise mundial e ver como nunca antes, gente das mais variadas origens fazer compras tal qual como eu. Não sei se estão gratas ou não, sei que uma vez que as deixaram entrar lhes deve ser garantido o mínimo para viverem dignamente. Sei que não teriam qualquer possibilidade nos seus países de origem e provavelmente não o teriam em qualquer outro, por isso neste particular, José Sócrates têm todo o meu apoio. É uma medida que não dá votos mas que alimenta, dá comida a quem tem fome; perante este facto quem hostiliza ou fica indiferente não dá valor ao privilégio que é não viver aquela situação.

    Aplicar medidas de política económica, antes de fazer a pedagogia da sua doutrina é tão velho como mercantilismo, naquele tempo proceder assim era porque os proletários estavam abaixo de cão, e agora será porquê?

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