Luís Pedro Nunes - Estive uma única vez com António Mexia para lançar um livro que consegui a custo que a EDP patrocinasse. Meia hora se tanto. Mas acho estranho que ninguém tenha achado estranho o que se passou esta semana. Eu estive a ler sobre isto antes de vir para aqui porque não é uma posição fácil. António Mexia foi constituído arguido em 2017, não está em fase de investigação, passou por três juízes que não acharam que fosse preciso medidas de coacção. Assim que caiu nas mãos de Carlos Alexandre, se disse logo imediatamente "Bom, este Mexia é o último dos poderosos e este juiz é o tomba-poderosos, portanto alguma coisa vai acontecer..." E assim aconteceu. Onde nenhum outro juiz tinha visto nada, Carlos Alexandre arranjou umas medidas de coacção, que toda a gente achou que eram absurdas, de António Mexia e Neto Manso não poderem entrar na empresa, nem falarem com o segurança, coisa que coincidiu com o fim de mandato, o que fez com que Mexia não se possa recandidatar a presidente da empresa. Sendo que não há uma acusação, é apenas arguido, não se sabe se vai a julgamento e, se for a julgamento, não sabe se vai ser condenado. As pessoas acham que a energia está cara em Portugal por causa dele, não é verdade. E quero dizer que já foi condenado, já teve uma pena [...]
Daniel Oliveira - Só quero dizer que eu tenho a pior opinião possível sobre António Mexia e concordo com tudo o que o Luís Pedro disse.
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Não é a primeira vez, embora seja um espectáculo recente, que Luís Pedro Nunes faz críticas à Justiça portuguesa, particularmente ao juiz Carlos Alexandre, que posso assinar por baixo. Neste caso, e para alguém que declarou ter estado a ler sobre o assunto, só é pena que não tenha dado mais atenção ao que o próprio António Mexia escreveu na sua carta de despedida. Nesta, o autor alerta para a curiosidade de o processo dos CMECs ser uma “investigação artificialmente arrastada“. Já conta com 8 anos de existência, tendo nascido em 2012 a partir de “insinuações e especulações” com base em recortes de jornais, e a recente alteração das medidas de coacção para alguns arguidos não resultou da descoberta de qualquer facto novo, tão-só da chegada de Carlos Alexandre ao palco – o que levou o Ministério Público a finalmente interrogar os arguidos há três anos à espera de serem ouvidos. Trata-se de um arbítrio, portanto, que obriga a concluir que a Justiça é uma roleta russa. Outro aspecto do caso que podia ter ocupado parte dos neurónios do Luís Pedro, dada a sua altíssima relevância, diz respeito ao facto de António Mexia e João Manso Neto serem gestores de uma empresa privada.
Que outros processos foram, e continuam a ser, “artificialmente arrastados”? Em que outros processos a distinção entre esfera pública e privada foi anulada pelos procuradores e juízes para se conseguirem ou tentarem condenações de corrupção e prisão efectiva nunca antes vistas, exorbitantes face à jurisprudência respectiva, e publicitadas como exemplares? Porquê e para quê? E como se permite tal? Responder a estas questões parece muitíssimo menos importante do que pedir a cabeça de ministros quando morrem pessoas em incêndios, se furta armamento ao Exército ou se tortura um homem sob a responsabilidade do Estado português causando a sua morte. No entanto, e para aumentar a ironia do espanto acima confessado pelo artista do Eixo do Mal, igualmente ninguém parece achar estranho que a Justiça, tanto na área da investigação como do julgamento, se comporte como se fosse tacitamente consensual no regime e na sociedade considerar que todos os actos governativos dos Executivos socialistas entre 2005 e 2011 são suspeitos de ilegalidade até prova em contrário. Daí vindo uma permissão, mesmo uma missão ou cruzada, para abrir processos a partir de qualquer pretexto – podem ser parcerias público-privadas, cartões de crédito oficiais, compra de livros, escrever em blogues – e passar a gerir de acordo com esconsas motivações e crípticas agendas os calendários dos actos processuais, a recolha de informação sobre a privacidade dos suspeitos e arguidos, e a sua divulgação oficial ou criminosa ao público.
Felizmente, podemos recorrer ao bom do Luís Pedro para termos umas luzes sobre tamanho fenómeno do Entroncamento. É que este bravo, capaz de se chegar à frente para resgatar a honra de um antigo patrono, move-se pela simpatia e não pela capacidade de abstracção. Assim, ele simpatiza com o Mexia. Porque o Mexia começou por simpatizar com ele ao lhe passar um cheque, vamos arriscar. Estas circunstâncias financeiras favoráveis terão então criado as também favoráveis condições cognitivas para que o co-autor da obra A Energia da Amazónia ficasse disponível para avaliar os imbróglios judiciais do ilustre cidadão na berlinda. Excelente casamento de interesses, digo-o sem bosão de cinismo, pois todos não seremos de mais para denunciar a menor violação do Estado de direito (seguindo o perspicaz remoque de Lucas 16:10). E calhando estar em causa as decisões de um juiz que já cagou d’alto na presunção de inocência de um cidadão sob a sua responsabilidade constitucional e deontológica, assim contribuindo de forma supinamente caluniosa para a sua condenação pública e quiçá condenação institucional, o mesmo juiz que lançou em público ameaças contra outros juízes e que em público lançou a suspeita de que todo o aparelho de Justiça conspirou para o privar de continuar a perseguir um ex-primeiro-ministro cuja culpabilidade não lhe oferece a menor dúvida, diria que não é concebível maior dano aos pilares civilizacionais em que queremos viver do que não poder confiar na Justiça. Todas as suspeitas e todas as condenações transitadas em julgado de corrupção que envolvam políticos, banqueiros e empresários, a soma das que a cornadura se consiga lembrar, não passam de uma suave brisa primaveril comparadas com o terramoto comunitário de termos um juiz justiceiro que se sabe inimputável e impunível. Porque se assim é – e é – resulta que a perversão constitucional está entranhada da cúpula à base.
O acrescento do Daniel Oliveira acaba por ser a metade da senha secreta que nos faltava para entrar nos meandros desta diversidade radicalmente assimétrica de pesos e medidas que as estrelas mediáticas, políticos e comentadores, nos servem desvairadamente. Porque é regular e começou muito antes de haver acusação, tanto no Eixo do Mal como noutros poisos onde deixa o seu dinâmico pensamento, a cena em que o Sr. Oliveira declara a sua convicção a respeito de termos um super-corrupto à espera de condenação que dá pelo nome de José Sócrates. Pedindo ajuda às citáveis palavras do Luís Pedro Nunes, eis que Sócrates mereceu e merece arder em auto-de-fé opinativo “sendo que não há uma acusação, é apenas arguido, não se sabe se vai a julgamento e, se for a julgamento, não sabe se vai ser condenado.” Podemos fantasiar que ambos, o Nunes e o Oliveira, simpatizam com o Mexia e não gramam o Sócrates? Óbvia e obviamente. Mas será por causa do reles dinheiro, que um deu e o outro não? Que nada, pá. Foda-se, pá. O que se passa é que não existem militantes do PS, ou que fossem amigos do tal super-corrupto, com jornais e estações de televisão. Não há, azarex, o que depois leva quem queira trabalhar honestamente na indústria da calúnia a ter de usar com muita parcimónia a sua decência. Pois esta, como qualquer outro recurso precioso, não dá para tudo. Há que fazer escolhas quando se têm bocas em casa para alimentar ou programas de férias para realizar. É a vida, mano, o romantismo não puxa carroça.
Mexia ou Sócrates, qual deles merece ser tratado como se ainda tivéssemos de esperar pela chatice dos julgamentos e por aquela chachada toda dos advogados e suas tangas? Daniel Oliveira e Luís Pedro Nunes, sem qualquer estranheza, já escolheram faz tempo.
o nunes sabe o que a casa gasta e começou a jogar à defesa para o caso da investigação botar o nome dele na lista pagamentos edp que o manholas deverá editar em suplemento natalício. poderia ter-nos antecipado a surpresa dizendo quantos euricos é que o mexia/edp pagou pelo bestseller, quem colaborou, quantos vendeu, quem comprou e quem pagou. é mais um passo fuga em frente do calex na anexação de processos ao marquês, só para quando encontrarem provas de corrupção do sócras ou quando tiverem investigado todo o país e prendido todos os sucateiros socialistas. o resto são danos colaterais em gajos que deixaram de ser uteis à direita e um brinde aos cheganços.
afinal foram férias pagas no brasil a troco de literatura institucional da edp e eu a imaginar numas cenas ecológicas práfrentex. tás fodido, o alex vai-te ligar ao pinho, entretanto propõem-te um acordo de delação: incriminas o sócras e não se fala mais nos trocados que recebeste sem factura, impostos, branqueamento de capitais & pecados adjacentes.
https://www.wook.pt/livro/a-energia-da-amazonia-luis-pedro-nunes/23548732
O Nunes vai sentar-se no mocho !!! E olé,olé,olé,.. e .olá !!!
A prática do contorcionismo é tipicamente desempenhado em circos, e constitui um número de espetáculo amplamente reconhecido e admirado em todo o mundo, já desde a Antiguidade .
…Ah, a propósito do Carvalho:
Acho que valia a pena questionar esta pescadinha de rabo na boca de comentadores jornaleiros, sempre os mesmos, a circular pelos orgãos de comunicação social.
Pelo menos a RTP- QUE É PÚBLICA E PAGA POR TODOS NÓS- devia puxar o autoclismo e evacuar estes “spin doctors” que vêm do privado. A função destes merdas é apenas higienizar a imagem dos direitolas, lançar intrigas e conspurcar tudo o que vem da esquerda (principalmente PS), enquanto vão denegrindo a imagem do serviço público sistematicamente (dãã!)
Pior ainda são os funcionários públicos, como por ex. o professor da Universidade do Minho Fernando Alexandre, comentador no programa “Tudo é Economia”. Este básico vive para nos vender “as virtudes das empresas privadas versus o despesismo incompetente do serviço público”.
E nós temos que pagar ordenados a estes merdas?
Porque é que o Fernando Alexandre e outros como ele não vão trabalhar pr’ó Carvalho?
…por exemplo.
Com tanta tesão, enganei-me.
Vou recolocar o comentário acima no post correspondente.
Sorry.