Daniel Oliveira e Rui Rio fazem uma mui improvável parelha, mas a política junta estranhos parceiros de cama, como (não) disse o bardo inglês. No caso, falamos de beliches em camaratas militares. Falamos de Tancos, esse outro incêndio de 2017.
Saímos do texto Quem tem medo da verdade de Tancos? sem ter acrescentado qualquer inteligência, sequer qualquer informação, ao que calhe cada um saber do caso do armamento desaparecido, devolvido e supostamente ainda em falta no depósito de Tancos. É um texto nascido da obrigação contratual do Daniel, imagino, o qual cumpre a função principal de encher a página. Todavia, para os apaixonados pela política, o exercício tem algo digno de registo. O modo como, do princípio ao fim, o autor alega existir uma qualquer responsabilidade do Ministro da Defesa, portanto do Governo, pela situação nunca aparece fundamentado. Aliás, não é possível saber a que se refere apenas lendo o artigo e desconfio que não conseguiria responder se lhe perguntassem ao vivo. Num publicista, esta superficialidade demagoga e a raiar o calunioso é totalmente irrelevante. Estamos no reino da política-espectáculo e o povo não se importa com a palhaçada ou até a prefere. E num político?
Nestas declarações – Tancos: Rui Rio não exclui eventual comissão parlamentar de inquérito – aparece-nos o líder da oposição a apontar para o Ministro da Defesa na véspera da sua audição no Parlamento. O presidente do PSD não diz nada de nadinha de nada que permita acrescentar inteligência, sequer qualquer informação, ao que calhe cada um saber sobre o caso. Em vez disso, arma-se em fanfarrão, recorre à baixa política e continua a atirar areia para os olhos do patego. O dia passou, Azeredo Lopes foi repetir pela quinta vez aos deputados que não trabalha no Ministério Público e estes agitaram uma folha do Expresso como se o Ministro da Defesa fosse um assalariado de Balsemão e tivesse responsabilidades na estratégia de desgaste e ataque políticos contra o Governo e o PS seguida pelo mano Costa a mielas com o poeta-Guerreiro. E prontos, assim se gastaram mais umas horas na Assembleia da República.
A profunda e táctica relação de Tancos com os incêndios de 2017 é fácil de estabelecer. Após a gafe de Marcelo em Pedrógão e o estado de ebulição da direita decadente, o caso do armamento desaparecido permitiu apontar todas as baterias partidárias e mediáticas contra Azeredo Lopes, assim aliviando a tensão na direita oferecendo-lhe uma vítima sacrificial que, em simultâneo, permitia usar os mortos de Pedrógão para a chicana e para a violência sectária através da figura da “falência do Estado”. Tancos aumentava a fúria dos comentadores e representantes partidários do PSD e CDS, juntamente com vários imbecis que entraram nesse comboio, os quais através da algazarra persecutória conseguiram esconder que o caso do armamento roubado era, desde o início, uma pasta directamente ligada a Marcelo Rebelo de Sousa e a Joana Marques Vidal. Tudo o que se tem vindo a saber do episódio, com especial enfoque na disfunção e desconfiança institucional entre a Judiciária civil e militar, só reforça a primeira responsabilidade desses dois protagonistas; um porque é o Comandante Supremo das Forças Armadas, a outra porque lidera a Procuradoria-Geral da República. Este contexto tem especial importância quando nos recordamos que a direita decadente dispõe de impérios mediáticos que cometem sistemáticos crimes através de cúmplices no Ministério Público, e ainda por esta mesma indústria da calúnia estar em campanha alegre pela anómala recondução da santa Joana.
Rui Rio e Daniel Oliveira têm em comum uma imagem de integridade. Não duvido dela, no sentido em que acredito que nenhum é hipócrita. Ambos pretendem dar o seu melhor nos diferentes papéis que assumem, vai sem discussão para mim. Mas, então, foda-se, caralho, como é que se permitem alinhar com uma deturpação tão cavilosa como esta de se estar a exigir ao Ministro da Defesa aquilo que nenhum órgão de investigação, militar ou civil, conseguiu ainda apurar? É só por estupidez? Quem me dera que fosse, porque as alternativas são muito mais sinistras.
Valupi, já imaginaste a gravidade do caso se houvesse um atentado numa cidade europeia levado a cabo com as armas de Tancos?
Eduardo, qual a relação dessa eventualidade com as responsabilidades do Ministro da Defesa no apuramento judicial do caso?
aspirina e oinsurgente, a mesma tropa fandanga