Ricardo Araújo Pereira e Herman José têm percursos similares nisso de terem aparecido no momento certo, cada um conseguindo na sua estreia a unanimidade do gosto por aliarem as naturais e extraordinárias capacidades histriónicas com o renovo da caricaturização sociológica ao tempo.
Herman gozou com o Portugal provinciano, parolo e folclórico, tão próximo e ubíquo nos finais de 70 e início de 80. Mas igualmente inovou conceptualmente no seu melhor programa de sempre, “O Tal Canal”, oferecendo aos tele-espectadores um genial hífen onde se podiam apoiar para ganhar distância face ao meio televisivo através desse riso que se abatia sobre as próprias convenções e mecânicas da TV. Depois desta glória, foi sempre a descer. E não foi nada bonito de se ver.
O Sr. Araújo surge em 2003 aos olhos do público e atinge o zénite logo no ano seguinte. A sociedade estava em longuíssima carência de uma representação humorística capaz de nos dar a ver aquilo em que nos tínhamos transformado 20 anos depois do Herman ter conseguido igual feito. A geração nascida após o 25 de Abril ainda não tinha celebrado a sua pertença à comunidade. O riso colectivo cumpre esse papel, institucionaliza e dissolve a inevitável estranheza de vivermos uns com os outros. E embora o Ricardo seja muito pior actor do que o Herman tanto na amplitude dramática como na técnica, é um muito melhor escritor (ou director criativo), com a mesma atenção às idiossincrasias e ritmos da fala de um Miguel Esteves Cardoso. Daqui nasceu o fenómeno dos Gato Fedorento, os quais eram convencionais no formato mas inovadores na linguagem. Em 2006, porém, já estavam sem inspiração. Sobravam uns fogachos aleatórios, uma carreira como personalidade mediática para o líder do bando e uma supermarca colectiva, a qual foi rapidamente explorada até à náusea pela indústria publicitária.
Back to 2014. O Sr. Araújo está de volta às lides humorísticas fora da chancela Gato Fedorento. Fora mas no mesmíssimo território, primeiro sinal de mal-estar. Depois, lembrou-se de chamar o Miguel Guilherme para criar uma parelha multi-usos. 1º problema: o Miguel é tão cerebral como o Ricardo, não havendo dinâmica de tipologias contrárias. 2º problema: ainda agora o programa começou e já estamos cansados de vê-los juntos. Mas o principal berbicacho no “Melhor do que Falecer” está no anacronismo. Aparentemente, a firma Pereira acha que o País continua a precisar de umas injecções de piadolas infantilóides e narcisistas à mistura com uma crítica política superficial e aparvalhada. Aparentemente, ninguém com poder de decisão no programa se apercebeu do que acontece à sua volta nas tais casas onde esperam provocar gargalhadas. Ou será que o objectivo já não é fazer rir, mas apenas despachar programas diários porque isto está muito difícil e quem puder que se safe? É que, no caso de terem alguma intenção de pôr Portugal a desopilar, vão ter de arranjar coragem para expor o que nos faz sofrer. E, estimado Ricardo, ver-te a desperdiçar minutos de TV com um humor que nem sequer nos consegue fazer rir da tonteira do Passos Coelho não tem graça absolutamente nenhuma.
mesmo. é que não há pinga de sangue que se note nem ponta de piada por onde se lhe pegue. há textos aqui que podiam bem ser colocados em acção e aí sim, havia risota pegada. :-)
o tal canal é que era de ficar coladinha no sofá, ai que saudades! :-)
o problema está na neutralidade fácil: não há quem tenha talento de coragem, a coragem é um talento, para dizer a brincar com o sério sem medo da retaliação. e a medo não há riso, o riso é solto e leve. mas também difícil.
se tivesses comparado o gajo com o badaró, ainda se entendia, agora comparar esperteza saloia com inteligência não faz sentido, mesmo cascando no presuntoso.
subscrevo quase na integra este poste,.com uma ressalva: herman josé voltou a fazer-me rir .é inteligente a entrevistar e faz uma grande dupla com o manuel marques. quanto ao ricardo e aos gatos fedorentos, confesso que agora só o ricardo me diz alguma e nem sempre.
Depois do dia 26 de Abril, não achei mais graça a porra nenhuma.
Eramos tão humorados, ríamos por tudo e por nada, agora nadica-di-nada.
Vou rir de quê, se não me falta nada?
O Ricardo Pereira é como o BE: rir e parodiar, só da gente do PS. A direita dá-lhe o palco e a voz. Vai reverenciá-la sempre. Alguém tem dúvidas? Aguardem os próximos capítulos. Aliás, alguém viu a direita extremista (esta que agora é toda poderosa) disponibilizar o “microfone” a outrem que não os seus ou os que lhe lambam as mãos? Ou o cu…O Ricardo faz-lhe o jeitinho na perfeição. Por isso o “comando é MEO”, quer dizer, os microfones estão à sua disposição.
Bom, concordo e não concordo. Concordo que no que diz respeito ao humor politico, em que os sketchs são básicos e de uma pobreza franciscana. Aliás, as pobres tentativas (esmiúça os sufrágios, etc…) de tentar sequer aproximar-se ao padrão-ouro (aka Jon Stewart) foram um falhanço. O RAP, definitivamente, não é bom a fazer humor político.
Mas no resto discordo. Sim, é verdade que a ultra-exploração da MEO foi irritante, e curiosamente aconteceu a esses anuncios o mesmo que aconteceu aos primeiros programas: começaram por ser muito bons e acabaram de maneira penosa (os de NY, se não deram em despedimento por justa causa do “criativo”, então passo a concordar com o FMI. Isto precisa de mudar).
E houve depois aquela, er, “coisa” com o Steven Seagal (porque, obviamente, o Chuck Norris mandou-os dar uma volta) que entra imediatamente na categoria de “cenas que vamos todos fingir que não aconteceram”. Logo, não aconteceu.
O resto do programa é uma transposição para TV dos sketchs de radio. O que não é necessariamente mau. Aliás, representa para mim um “back to basics”, longe da imagem corporativa da MEO, que é a melhor coisa que podia acontecer ao RAP. E nesses sketchs eu, pelo menos, acho-lhe muita, mas muita piada.
Gostava da irreverência do Herman e do seu grande sentido de humor. O grupo com que se rodeou demonstrou também que, em dado momento, sabia o que queria e para onde queria ir. Alguém se encarregou de lhe partir as pernas enquanto outros o endeusaram levando-o a capacita-se que era o maior e que o Zé Pagode tudo papava. Enganou-se! Sem textos à altura e sem acompanhamento foi decaindo tendo de vez em quando uns lampejos do antigo brilho. Deprimente.
Os Gatos, de princípio foram a novidade. Boa escrita, mordaz q.b., uma interpretação acima da média e uma cadência bem estruturada levaram a acreditar que estariam ali para durar. Engano. Em vez de continuarem juntos resolveram partir à desfilada cada um para seu lado. O delicado equilíbrio desfez-se e ei-los na sua nudez. Vulgares mortais de piada duvidosa e vulgar. O cometa convenceu-se que era uma estrela e avança sózinho com aquele sorriso trocista que não disfarça o ser superior que sente ser. O título não podia deixar de ser mais real… Dá, de facto, a ideia de que faleceu, com o passar do tempo, como acontece com os verdadeiros mortos, espera-se que não cheire muito mal.
Vega9000, fiquei sem saber a razão, ou razões, da tua discordância. Entretanto, crê-me muito longe de censurar o riso seja a quem for ao ver o trabalho do Ricardo, obviamente (espero!). O texto reflecte apenas sobre a minha percepção do seu potencial como humorista e a diferença face ao que tem feito até agora no “Melhor do que Falecer”. Piadas com mamas e árvores no cu, ou pôr o Passos na oficina a reparar o Audi, mesmo a dos mercados à escuta do Conselho de Ministros, são básicas demais, ou mesmo confrangedoras se, lá está, começarmos a comparar com o que faz Jon Stewart (entre muitos outros, atenção).
Num já passado Natal um sobrinho quis oferecer-me o 1º dvd que surgiu acerca do fedorentos. Respondi-lhe que ficasse com ele porque não gostava e que um dia ele iria perceber porquê.
Não há muito tempo veio junto de mim e perguntou-me que ideia tinha das figuras de palhaços exclusivos da MEO com que os tais fedorentos enchiam e ganhavam o seu tempo e pretendiam encher e gastar o nosso.
Ele começara a perceber que, raspada a superfície da novidade crítica, sobra e fica à mostra o papel-lixo de uma raspadinha sem prémio.
Os fedorentos são uma versão intelectual chique dos “homens da luta”.
De facto, dá essa ideia.
Em suma O Ricardo Araujo Pereira já era e o Herman do Tal Canal é que prestava.
Opiniões…..mas não andará por aqui alguma dor de corno.
no meu caso, Augusto, será mais, e literalmente, dor de morno. :-)
O riso amarelo da maralha é por causa da invasão chinoca/gold.
Os humoristas não têm culpa nenhuma de amarelecermos…e até escurecermos.
Se não gostam do Ricardo Araújo Pereira, têm sempre em alternativa as rabulas do Professor Martelo, e do Pinóquio Sócrates todos os Domingos….
De facto o Sócrates fazi- me rir muito mais. Tinha muito mais graça.
contaminatio, Augusto, diz Plauto.
o socras faz comichão a muito imbecil, comunada incluída, deve ser por isso que riem fininho para não estalar o cieiro reaça.
Eu prefiro As Nuvens do Aristofanes,
Para comichão há pomadas.
Para a desfaçatez é que não.
Ó Augusto, não me digas que és a reencarnação do Fidipedes?
viva, cupidez, a desfaçatez! :-)
Não acredito em reencarnações, mas olhe que o Sócrates e o Marcelo eram os actores ideais para representarem o Pafaglônio , nos Cavaleiros do Aristofanes.
Marcelo, Sócrates, Mendes e outros, com as suas lérias em família podem juntar-se às conversas em família do padrinho Caetano do Marcelo, que é tudo “larachas em família”.
O Toninho das botas só se ouvia uma vez por ano e fazia muito bem, tinha mais que fazer do que dar à língua.
vá lá conseguiu parir uma segunsa ideia com piada, a outra foi a rábula do aborto marcelino há uma década
http://visao.sapo.pt/golpe-nigeriano=f779705