Crespoterapia

Crespo convidou Maria João Avillez para explicar aos portugueses com quantos pastéis de Belém se faz uma conspiração. Ela disse que bastavam dois ou três. Para além do Lima, havia seguramente outra fonte. E falou dela com tocante intimidade. Citou-a. Esse repuxo presidencial teria apenas feito um comentário en passant a um jornalista do Público. Algo tão natural e inócuo como isto: Mas já viram esses 4 mecos do PS a dizerem que andamos a fazer o Programa do PSD?… Sinto-me… sinto-me… nua!


Avillez não revelou quem era a fonte, mas garantiu que ela não falou em escutas, apenas tinha desabafado com o jornalista ser muito aborrecido ter cidadãos pertencentes ao PS a quererem fazer política por meios lícitos. Daí até à mais conspirativa manchete da imprensa portuguesa foi uma questão de horas. Porém, frisou a Avillez, vamos lá deixar o sr. Silva de fora porque ele é um santo. O sr. Silva de Boliqueime nunca declarou estar a ser escutado ou vigiado, até porque é um santo. E, já agora, aproveito para dizer que é um santo. Foi nessa altura que o Crespo lhe lembrou uma ou duas coisas sem qualquer importância, como esses pequenos nadas de não ter reunido o Conselho de Estado em ordem a proteger Dias Loureiro ou não ter esclarecido como é que as suas poupanças foram parar à SLN. Avillez tremeu mais um bocado, mas não desmaiou, e isso tem de ser dito em seu abono. Depois a conversa acabou por chegar ao Zé Manel. Avillez aproveitou para enaltecer a distinta referência do jornalismo nacional, partilhando a sua crença de que quando uma figura tão séria e digna como o Zé Manel diz que o SIS isto e aquilo, então temos de ficar muito preocupados e tal. Crespo puxou da seringa e foi picada de enfermeiro: contou-lhe da pulhice ocorrida dentro do Público, onde as contas de email do Provedor e outros jornalistas foram vasculhadas pela Direcção sem autorização dos seus detentores ou aviso aos mesmos. E esse foi o grande momento da carreira da Avillez, uma epifania em directo, porque ela confessou não ter lido a crónica do Joaquim Vieira do passado domingo. Vamos recapitular: Maria João Avillez, consagrada jornalista, nascida ainda a Segunda Guerra não tinha acabado, vai para o Crespo comentar o caso mais grave da democracia portuguesa desde o 25 de Novembro sem ter conhecimento da peça mais importante que alguma vez algum Provedor do Leitor produziu na história da imprensa nacional. Foda-se, mas esta malta chegou a concluir a 4ª classe?

Logo de seguida, para o frente-a-frente com Vítor Ramalho, veio a mana, Maria José Nogueira Pinto. A senhora teve o condão de sintetizar a posição da direita ranhosa neste abissal momento. E reza assim: Sócrates é um bandido, Sócrates espia Cavaco, Cavaco sabe, Cavaco demitiu o Lima por falha executiva e não por erro moral, Cavaco já avisou que vai falar de segurança, Cavaco vai denunciar Sócrates depois das eleições, Sócrates espia Cavaco, Sócrates é um bandido. Não contente, disse que Cavaco era um santo, mas que Sócrates era suspeito nos casos da licenciatura, Freeport, casas, isto e aquilo. A hostilidade na pose, a violência mal contida no tom, o facies iracundo, exibiam uma luta titânica no seu circuito neuronal. Aos poucos fui derretendo o meu coração antropólogo. Aquele ser estava numa decisiva batalha interior, e resistia galhardamente perante as evidências. Afinal, se ela via o Sol mover-se no céu com os dois que a terra há-de comer, que raio de loucura era essa de ser a Terra que anda pelo céu à roda do Sol?!…

Cavaco, com a sua exemplar postura de não interferência na campanha em curso, já alcançou dois feitos homéricos: substituiu a gripe dos porcos pelas porcarias gripadas disseminadas a partir de Belém, e conseguiu fazer renascer a esperança de ainda virmos a recuperar o Crespo para o mundo dos vivos. Creio que o bom trabalho deve continuar, propondo, agora, que o Zé Manel avance para o lugar vago na Presidência e o Lima ocupe a vaga assim criada no Público. A ética e a transparência, valores cardinais para o actual Presidente da República, assim o exigem.

6 thoughts on “Crespoterapia”

  1. O desplante da senhora a arrastar o PM para a “discussão” , é nesta alturas que se vê a falta de chá.

  2. A argumentação das manas Avilez não colhe. A sua tentativa de tentar explicar o inexplicável é pífia. E mais que pífia não é lá muito séria. O Senhor Presidente da República tem mais casos enublados como, a seu tempo, o próprio Crespo alertou. A direita está em pânico porque o seu aparente mentor afinal tem pés de barro.(1)
    A D. Maria João ao tentar inculcar no bestunto dos indígenas que a questão do encontro numa anónima pastelaria de bairro se deve APENAS ao excesso de zelo do Senhor Lima, assessorando o Senhor Presidente há mais de vinte anos, está com toda a certeza a tentar fazer humor. A Sra. D. Maria José na tentativa de fazer passar a ideia que o Senhor Presidente preocupado com questões de segurança só falará delas depois do acto eleitoral, com o objectivo de não destabilizar o mesmo, está a atentar contra a nossa inteligência. Está a lançar a ideia de que realmente existe qualquer coisa.
    Quanto ao Crespo, caro Val, temos uma discordância de fundo. Ele não é recuperável, quanto muito será reciclável. A sua atitude e a de outros, quanto a mim, é indicativa que algo lhes começa a correr mal.
    O Senhor Presidente ignorou o seu próprio sonso apelo de só discutir os verdadeiros problemas do país. É a vida.

    (1) Digo aparente mentor porque a direita elitista e trauliteira, desprezará sempre um homem vindo de Boliqueime. Suporta-o, enquanto este lhe fornecer a ideia ser capaz de manter a piolheira à rédea curta.

  3. VAL, muito bem, deve rever “Maria João Avillez, consagrada jornalista, nascida ainda a Segunda Guerra não tinha acabado”,.

    Deve ser, ainda a Segunda Guerra não tinha começado.

    Tenho apreciado o seu acerto dos últimos dias PARABENS.

  4. Sobre Mário Crespo, embora não seja um jornalista que eu aprecie porque acho que é mais um comentador, sem deontologia profissional, a soldo da “voz do dono”, i.e., da direita, deixou-me espantada o artigo dele publicado ontem no JN, título “CRIME PÚBLICO”! É que é uma das mais destrutivas críticas dos últimos dias à actuação de Cavaco Silva – podem também ler resumo no blogue “Câmara Corporativa”, secção “leituras”. Será mais um indício da vitória do PS à vista?

    E já agora, quanto às suspeitas lançadas por Belém sobre os comentários de alguns socialistas de que assessores do Presidente da República estavam a colaborar no programa da campanha da Manela, deve ler-se a nota breve mas elucidativa, de há já uns dias – título “DESABAFOS DE VERÃO” – da jornalista Helena Garrido, no seu blogue “Visto da Economia”, para se perceber que a equipa de Belém, com Cavaco treinador dorme em serviço…só que…azar dos azares…o Abençoado jornal “Diário de Noticias” desmontou-lhes a barraca!

  5. ana ferreira, é mesmo. Bateram no fundo, e ele está sujo.
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    jafonso, também concordo que o Crespo não é recuperável. Daí me ter espraiado nessa fantasia. E boa análise e bom texto das manas, sim senhor.
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    ARMANDO, se calhar o mais certo é escrever: ainda a Guerra dos 100 anos estava longe de começar…

    Folgo com o teu agrado, toma lá um abraço.

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    Maria da Guia, boas sugestões de leitura, obrigado.

  6. Acho o Crespo o melhor jornalista da actualidade em Portugal, opinião pessoal claro. Desmonta com a mesma classe e eficácia Pedro Silva Pereira, Maria João Avilez ou Valentin Loureiro. É um Mestre

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