Como sabemos? Explica lá isso

Nos primeiros meses de 2011 - ou mais precisamente, desde o resgate irlandês em dezembro de 2010 - que José Sócrates esperou desesperado pela criação de algum mecanismo que afastasse Portugal de um resgate clássico. Fê-lo tarde e a más horas, como sabemos, e tendo gasto de mais e sem olhar à dívida, como sabemos ainda melhor. Fê-lo, em poucas palavras, numa posição de enorme fraqueza.

Ricardo Costa

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O Ricardo não é bronco como o Monteiro, mas igualmente se passeia pelo jornalismo de opinião sofrendo de bronquite crónica. Daí ter sucedido ao outro, para se manter um padrão do agrado do Balsemão, o militante nº 1 do PSD.

O Ricardo tem como um dos maiores prazeres da sua vida profissional, pelo menos dessa, poder tratar Sócrates como a fraude que ele diz que é. Embora não seja propriamente uma originalidade entre publicistas direitolas, essa pulsão até poderia ser útil. Porque sempre que se consegue demonstrar uma ideia que aumente o nosso conhecimento há um ganho evidente. E porque Sócrates não tem interesse apenas enquanto figura política com as suas idiossincrasias, ele exerceu cargos de liderança partidária e de governação. Logo, exibir as suas eventuais fraquezas intelectuais, os seus eventuais erros políticos e até as suas eventuais falhas de carácter corresponderia, em simultâneo, a fazer um juízo sobre os grupos, entidades e terceiros que o acompanharam e lhe deram o acesso ao poder. É muita gente junta que está em causa; várias dimensões e processos fulcrais na política nacional, portanto.

Peguemos no exemplo acima citado, típico do seu modus faciendi. O parágrafo termina com o inevitável tiro ao boneco: Sócrates é tão mau que se deixou arrastar até às últimas sem ter feito o que deveria ser feito. Mas em que consistia isso que não foi feito? Pelos vistos, tratar-se-ia de conseguir arranjar um “mecanismo” que “afastasse Portugal do resgate”, o qual, pelos vistos, até chegou mesmo a existir, pelos vistos, mas que, pelos vistos, não chegou a ser utilizado, pelos vistos.

Estamos perante um raciocínio muito denso, prenhe de interrogações, e ainda nem sequer saímos da última frase. Calhando ter o autor à nossa frente, e tendo ele uns 5 ou 10 minutos para gastar connosco, poderíamos descascar esta cebola. Começaríamos e acabaríamos pela pergunta mais óbvia: “Ricardo, para ti existiu mesmo um mecanismo que nos teria livrado do resgate? É que se existiu tal bicho, como se depreende das tuas palavras caso tenhas escrito em português, a quem é que não dava jeito que Portugal escapasse ao resgate? Conta lá, tu que sabes tanta coisa e és tão inteligente.”

Não o tendo por perto, talvez o recurso às frases que antecedem a última pudesse chegar para esclarecer as dúvidas, mas é o contrário que acontece. Lá, começamos por encontrar implícito o pressuposto de ser a Europa a ter de assumir a resolução dos problemas das dívidas soberanas, pois cada Estado afectado por si mesmo não dispõe dos recursos necessários para lidar com um problema sistémico, o que é um facto basilar. E igualmente encontramos a imagem de Sócrates à espera dessa mirífica união europeia. Logo a seguir, em modo non sequitur, o texto confere a Sócrates a capacidade para, por si próprio, sacar do tal mecanismo da cartola e resolver o problema na hora. Na ausência deste salto contraditório, está bem de ver, lá ficaria o Ricardo sem a sua chucha.

Então, parece que Sócrates andou a gastar de mais e não olhou à dívida quando poderia ter resolvido os problemas, é esta a famigerada cantilena que tem sido martelada pela direita sem descanso nos últimos 6 anos e que continuará pelos próximos 10, no mínimo. O que nunca encontrámos, em nenhum dos papagaios que repetem o estribilho, é a demonstração da sua honestidade intelectual. Quando e onde é que o Governo socialista devia ter gastado menos? Devia ter gastado menos em 2009, ao arrepio do que foi a resposta Europeia à crise de 2008? Mesmo admitindo que sim para efeitos de exercício, esses cortes a serem feitos obedeceriam a que critérios e seriam em que volume? Recordemos que Ferreira Leite, profeta da desgraça que nos avisou para as catástrofes que aí vinham a caminho por causa do inerente aumento da dívida no contexto do “abalozinho”, nunca colocou as suas consequências para o futuro próximo ou sequer de médio prazo. Os malefícios iriam atingir as gerações futuras, dizia ela. Dizia ela o que podia dizer, coitada da santa senhora, e ela não podia falar do que nem sequer imaginava que iria acontecer poucos meses depois das eleições de 2009: a hecatombe grega em 2010 que inicia o ciclo apenas europeu da crise mundial.

Ou será que o Ricardo está a dizer que após o início da crise das dívidas soberanas Sócrates continuou a gastar à tripa-forra? Foi isso que viu por entre todas as medidas de austeridade que foram tomadas por imposição europeia ao longo de 2010 e no princípio de 2011? Ou será que o mano Costa carimba como anos em que se gastou “de mais” aqueles que antecedem a crise mundial e os quais correspondem ao melhor período da economia nacional em muito e muito tempo, tendo-se registado uma redução do défice para menos de 3%? De que estará a falar? Talvez dos aeroportos e das linhas do TGV. Ou talvez do investimento em ciência e tecnologia, em educação e saúde, em energias renováveis e exportações, em apoios sociais a distribuir num país pobre apanhado em crises gigantescas.

À direita não interessa qualquer balanço objectivo do que foi a governação do PS até às crises nem do que foram os constrangimentos à governação adentro das crises. Não interessa porque os partidos da direita, com as actuais lideranças oportunistas e decadentes, apenas pretendem defender agendas próprias e usufruir do poder. Curiosamente, à esquerda o desinteresse é igual, não se encontrando no PCP e no BE qualquer defesa do que se fez em Portugal de 2005 a 2008. Este é o quadro cínico onde a política está reduzida ao sectarismo, assim gerando uma infindável guerra civil. Para quebrar esse ciclo infernal, teremos de encontrar um jornalismo cuja referência não seja o ego inflamado e à solta dos directores em bicos dos pés. E para encontrar esse jornalismo, os cidadãos têm de exigi-lo sob pena de nunca aparecer.

16 thoughts on “Como sabemos? Explica lá isso”

  1. O Ricardo Costa faz tudo pelo tacho que o Balsemão enche todos os meses. Se tantos outros dos seus colegas doutores em jornalismo “fazem pela vida”, por que haveria ele de armar-se em herói? Sim, porque com a comunicaçâo social, toda, capturada pelo poder económico, é preciso ser herói para continuar a ser jornalista nesta terra. E, claramente, à esquerda e à direita, não estamos em tempo de heróis. Sócrates, na política, e desde que chegou a PM, tem sido uma rara excepção. Foi um herói. E esta verdade “é que os fode”. O último atirador sobre Sócrates foi precisamente um jornalista e levou duas banhadas em directo na “opinião de Sócrates” que quis transformar na sua opinião papagueada.

  2. o manú bosta tem bués caga opiniões encomendadas, que é para isso que lhe pagam. quando não há encomendas inventa umas merdas para encher xóriços, com supostos segredos que os deuses lhe confiaram, mas o bruxo de fafe anda a roubar-lhe a matéria-prima e o brilho da careca. o grande problema é que a marca sócrates continua a vender e para controlar danos há que misturar umas aldrabices pelo meio, não vá o povo querer um jornal novo a sério.

  3. tenho mais medo deste tipo de filhos da puta,do que de um gajo de pistola apontada na minha frente! o costa é um sabujo,o segundo quer-me roubar para matar a fome que os costas deste pais fomentaram.o submarino parado porque gasta muito combustivel,não foi um custo foi proveitopara alguns.que os pariu! mais os que saudam pseudo tiros no porta aviões!

  4. muito bom. falta apenas explicar quais os erros do Ggoverno PS de Socrates para que o resto da esquerda lhe tenha virado as costas quando dela precisava (por favor, não me digam que a culpa é toda dos outros). e de certeza que alguem aqui deve saber…

  5. O submarino foi proveito para o Portas, o Durão, o CDS, o PSD, a Ferostaal que por sua vez é um dos principais financiadores do partido da Merkla. Ou seja é uma falcatrua do PP Europeu. Na Alemanha foram todos postos em liberdade apesar de se ter provado que distribuíram 80 milhões em subornos. O único sítio onde houve cadeia, foi na Grécia, esse pais ao qual claramente não somos iguais.

  6. Quanto ao mano bosta, caso o PSD consiga ganhar as eleições legislativas quem sabe se não será secretário de estado…

  7. Eu sei que é uma obrigação cívica falar dos jornaleiros Costa, Monteiro & Ca., mas às vezes penso que é como chover no molhado.
    Por muito que alguns se esforcem a combatê-los o grande capital sempre lhes fornecerá os meios para a divulgação da sua mensagem. Os alemães não seguiram o Hitler que era austríaco, tinha cabelo preto, era moreno e tinha uma deficiência física, quando ao mesmo tempo exaltava a perfeição dos brancos, loiros, olhos azuis, altos e saudáveis? Não era tarefa do jornalista Goebbels exaltar as virtudes do arianismo chegando a afirmar que a deficiência que o afastou do serviço militar e o obrigava a mancar tinha sido resultante de uma ferida em combate? Não andam agora os zelotas de serviço ao regime a argumentar que erram os que advogam pedir emprestado para crescer, quando muitos deles fazem e fizeram fortuna a especular com dinheiro dos outros, ou a propagandear as virtudes do crédito fácil, como por exemplo o crédito para compra de habitação, carro, electrodomésticos básicos, ou os pagamentos em diferido?
    E que dizer dos que agora apontam o mar como futuro, e, no passado advogaram o abate de frotas, encerraram escolas náuticas, desprezaram as pescas, criticaram os investimentos em Sines e esqueceram o transporte fluvial? Por tudo isto e muito mais, desde os investimentos em educação e ciência, às apostas na internacionalização da economia, na abertura a investimentos, na desburocratização em movimento, nas apostas no verde e nas energias alternativas é que apostam na crucificação do Sócrates. Como não podem envenená-lo com cicuta, tentam abafá-lo com páginas de jornalecos.

  8. O moço de recados em apreço,continua o pobre coitado de sempre ,com o eterno problema existencial que o atormenta (dobra-lhe a coluna,perturba-lhe o sono,alterou-lhe o palato,desencadeia-lhe disfunção comportamental e etc.)e que não consegue resolver:Um problema de Identidade!
    Em tempos,um coleguinha de turma no segundo ciclo,atormentava-o constantemente com a provocação de sempre: “Quem és tu Ricardinho?”

  9. E este imbecil é o diretor do mais conhecido semanário português! Ó sr. Balsemão eu ainda me lembro dos tempos em que o sr. era considerado um homem probo e um exemplar jornalista. Já lá vão muitos anos é certo! Mas, que diabo, aceitar um imbecil desta natureza nas suas hostes faz-me pensar no quanto os homens podem mudar!!!

  10. ” … que José Sócrates esperou desesperado …”

    Ó costa, vaidoso empoleirado, então o Gajo esperou desesperado. Estava desesperado e esperou, talvez, sentado reclinado a ler o Expresso, sempre tão cheio de ideias, na esperança de uma dica do vivaço ricardo que o ajudasse conseguir o tal mecanismo ambicionado desesperadamente mas ficando-se instalado aguardando os acontecimentos, não foi!
    Mas estando ficado, não é que senão,

    “Fê-lo, tarde e a más horas, como sabemos…”

    Sem mais e de repente, o ricardo vivaço, o senhor ventoinhas, informa que o tal Gajo que esperava desesperado afinal, como se fora como Deus na criação, pensou e… fê-lo!

    Mas o costa vivaço, mas só isso, que em sofística elaborada tem muito que aprender com o lobo xavier, depois de nos fazer crer que o tal mecanismo estava ali à mão e era só pegar nele, sem respirar, diz logo de seguida que fê-lo mas tarde e a más horas para nos vender a sua tese de que o Gajo andou a dormir em cima do assunto, à espera.

    E para concretizar a defesa da sua tese abrilhantinada remata,

    “Fê-lo, em poucas palavras, numa posição de enorme fraqueza.”

    Depois da acusação de Gajo Dorminhoco vem a sentença do Gajo Fraco. Depois de se fazer de morto a dormir deixou-se cair numa total fraqueza, talvez numa anemia política segundo o vivaço ricardo.

    Claro, para o ricardo cagão, ou cagalhão, tudo era tão só um caso de vontade do Gajo, de querer ou não do Gajo. Sabe-se hoje de ver, ouvir e fazer como tudo é fácil de tratar e conseguir na UE e, apesar disso o Gajo conseguiu com dados, com factos, com argumentos, com peso e pensamento político conseguiu junto da senhora toda-poderosa e suficiente.
    E para o ricardito, moço de fretes do ti Balsemão, a fraqueza estava no Gajo, era o próprio Gajo, que para o ricardito nunca houve, ou haverá, ventoinhas bem abastecidas como no Expresso, na sic e em todos os media, nem e sobretudo, o cavaco em Belém, fábrica de inventonas e apelos à revolta em discursos fazendo-se padrinho de todas as malfeitorias e vilezas contra o Gajo.
    Não houve, ou haverá, a grande mão atrás do arbusto e muito menos também as muitas muitas muitas manitas atrás dos arbustos de que ricardo é exemplo.
    bota-abaixo apadee acima de tudo

  11. “pois é” os erros do ps,foi ter feito obra, coisa que não convem aos” procuradores de nichos de mercado” e ter levado para a frente 80% do programa eleitoral do bloco.como isto é a verdade,veio o desastre do bloco e a derrota do ps,com a direita a ganhar vantagem na reta final das eleiçoes,por apresentar uma estabilidade governativa com uma coligaçao dos dois partidos!houvesse uma disponibilidade do bloco e o resultado seria outro para os dois partidos.o pcp só conta quando tiver tantos votos como o ps,palavras de palhaço jeronimo de sousa!

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