8 thoughts on “Como insultar Vasco Pulido Valente na hora da sua morte”

  1. O Vasquinho (isto é que seria um insulto para ele, ó Val!) acabou a tecer loas ao Mário Soares e até ao António Costa. À maneira dele, é claro, com muitas caneladas e insultos pelo meio. Leiam-se as entrevistas que deu em 2018 e 2019. Ficou deslumbrado com os resultados económicos e financeiros do governo de Costa e Centeno. Claro que nunca o disse assim, porque a sua natureza não lhe permitia articular elogios. Fez uma vez um elogio ao Rui Ramos, mas era um elogio venenoso. Disse que ele escrevia muito bem, mas nunca disse (nem pensou) que ele era um bom historiador.

    Quanto à geringonça, o Vasquinho acabou também por a entender e validar. Ultimamente dizia que “Costa não precisa de maioria absoluta nenhuma, precisa apenas de ter mais votos que o PSD e o CDS e mais votos que o BE e o PCP.” Ora, pela mesma lógica, teria de reconhecer que a tal geringonça, a que ele não augurava nenhum futuro, se justificava plenamente em 2015, quando o PSD e o CDS juntos ainda tinham mais votos do que o PS. E depois chegou a reconhecer que a solução adoptada por Costa significou segurança e estabilidade para o país. Está escrito. Lamento desagradar aos aduladores (sobretudo póstumos) direitistas, mas o VPV foi um grande apoiante da geringonça, embora às vezes lhe chamasse nomes e a tratasse mal. Estava-lhe no sangue. “O desmancha-prazeres” foi a sua primeira coluna de comentador político, no DN dos anos 1970.

    Apesar do seu azedume militante e de ter dito e escrito muita besteira vizinha do delírio, nunca consegui deixar de sentir simpatia pelo Vasquinho. Quem sabe se não terei saudades dele?

  2. Quase sempre, na morte de um estafermo, aparece quem escreva elogios fúnebres hipócritas que pouco ou nada condizem com a integridade moral do personagem.

    Para dar alguns exemplos, recordo que aconteceu o mesmo com fartura na morte do killer Augusto Pinochet e da bitch Margaret Thatcher.

    Quando aparecer a notícia da morte do peruano Vargas Llosa, muito provavelmente acontecerá o mesmo, exaltando o facto de ter ganho um prémio Nobel de Literatura, mas ninguém — aposto! — se referirá aos seus elogios ao fascista generalíssimo Franco de Espanha, tendo até adquirido depois a nacionalidade espanhola.

    Agora, com a morte de Vasco Pulido Valente (pseudónimo de Vasco Valente Correia Guedes), é ver o caudal de elogios ao mesmo. Se eu escrevesse algo sobre o seu obituário, escreveria apenas uma única linha:

    “Finalmente morreu um estupor de direita que sempre esteve contra a Geringonça”.

    Só isto. Que as labaredas do fogo o devastem por toda eternidade.

  3. acontece que só pelos ” os cadernos de don Rigoberto” , Vargas Llosa merece todos e mais alguns elogios…é um escritor fabuloso , grande falta faria se não tivesse nascido.
    tanta amargura Jesus , nunca conseguiu os seus 15 minutos de fama , foi?

  4. Júlio, o Vasquinho (batamos na personagem, então, para respeitar o seu exemplo) era um intelectual castiço. Ou, quiçá, apenas um publicista e polemista castiço. Deve ter tido uma vida cómoda e saborosa.

  5. Para Yo:
    Completamente de acordo no que ao génio literário diz respeito, mesmo achando Vargas Llosa um indivíduo pouco recomendável. Recordo as palavras de Miguel Urbano Rodrigues, há talvez 20 anos (bem antes do Nobel), numa iniciativa qualquer da JCP do Porto, dizendo, não exactamente nestas palavras mas com este exacto sentido, que MVL era o exemplo acabado do sujeito execrável e divino escritor. Nunca o tinha lido antes, nunca mais parei de o fazer depois.

  6. “A Tia Júlia e o Escrevedor” – subscrevo a 500%, e também não podia estar mais de acordo com o Miguel Urbano Rodrigues, que não sabia que tinha dito isso.

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