Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão. Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.
Existiu (e ainda existe) uma categoria de cultura arcaica distintamente humana que mediou a transição dos macacos para o homem. Esta camada de mediação da cultura hominídea chama-se mimética.
-De facto, ainda existe uma cultura mimética vestigial inserida na nossa cultura atual, e uma mente mimética inserida na arquitetura geral da mente humana-
-Os “costumes” miméticos serviram como definição coletiva da sociedade-
-A linguagem não é necessária para o desenvolvimento de papéis e regras sociais complexas mas a mimese é essencial-
-Quando a mimese toma a forma de uma ação coletiva ou de grupo, uma forma final comum é o ritual-
-Mesmo na sociedade moderna, o poder das formas miméticas no controle das grandes multidões é muito maior que a linguagem. A orquestração cuidadosa da ação de uma grande multidão torna-se um ato mimético por si próprio, representando, por exemplo, o consenso, a fúria ou o poder do grupo. Portanto, as raízes do ritual público são miméticas-
-O comportamento mimético do grupo, mesmo entre os humanos modernos, tende para a conformidade rígida e para o conservadorismo-
Ainda.
—————
E esta, hein!
A distinção que Frankfurt estabeleceu entre o mentiroso e o bullshitter é um bocado exagerada. O bullshitter e o mentiroso desprezam ambos a verdade. Não acho que o mentiroso tenha mais consideração pela verdade do que o bullshitter. Em português, bullshit é treta, tanga, intrujice, etc. A diferença entre um tretas e um mentiroso é talvez só de estilo.
Sapador, a distinção que ele faz justifica-se. Por exemplo, no livro ele dá como exemplo um arquitecto a tentar vender o seu projecto, onde o fulano alude a uma referência da arquitectura romana para credibilizar a sua opção. Esse discurso, tecnicamente na teoria de Frankfurt, não é nem verdadeiro nem mentiroso, pois o facto de existir uma arco romano assim ou assado em nada remete para o projecto que o arquitecto está a tentar vender.
Uma mentira, nesse contexto – e não vem no livro, sou eu agora a elaborar – seria o arquitecto ter inventado uma referência que apresentaria como histórica (portanto, supostamente verdadeira quanto à sua existência no passado) quando ela apenas tinha nascido da sua imaginação.
Cuidado, O hoje 28 de Maio ( !!!!) aterra o Zelrensky Não tarda “Vêm aí os russos”
Não digo que não se justifique uma distinção, mas sim que Frankfurt a exagera. Também não há uma definição padrão, universalmente aceite, de bullshit, um termo de calão de fronteiras pouco precisas.
A tese de que o bullshit é um maior inimigo da verdade do que a mentira é a parte mais fraca da argumentação de Frankfurt.
Sapador, pois, ele não está a propor um teorema. Porém, o seu argumento ganhou popularidade porque trouxe uma novidade: realmente, o mentiroso depende da verdade, enquanto o tangas pode dispensar esse conceito (portanto, essa preocupação e respectiva valorização) porque opera num espaço dialógico onde nem sequer é possível aferir da verdade do que quer que seja. Donde, o tangas nunca é apanhado a mentir enquanto tangas, ele apenas manda para o ar a sua opinião.
O problema, repare-se, não está no facto de o tangas ter uma opinião, coisa a que tem direito e se recomenda. O problema, do ponto de vista da reflexão de Frankfurt, é que o sucesso e domínio social das tangas conduz à indiferença, primeiro, e ao desprezo, depois, face à noção de verdade. Aí chegados, segue-se o ataque à democracia e a criação da “pós-verdade” e dos “factos alternativos”.
Ou seja, Frankfurt antecipou em 30 anos o triunfo de Trump e da actual vaga de populismo de direita.
por exemplo , benzion mileikowsky , oriundo da polónia , fazer-se chamar benjamin netanyahu para dar ideia que é da palestina é claramente uma vigarice , nem mentira nem merda de touro.
https://www.optimallyirrational.com/p/the-truth-about-self-deception?utm_source=profile&utm_medium=reader2
(A propósito deste post e do último Dominguice)
Existiu (e ainda existe) uma categoria de cultura arcaica distintamente humana que mediou a transição dos macacos para o homem. Esta camada de mediação da cultura hominídea chama-se mimética.
-De facto, ainda existe uma cultura mimética vestigial inserida na nossa cultura atual, e uma mente mimética inserida na arquitetura geral da mente humana-
-Os “costumes” miméticos serviram como definição coletiva da sociedade-
-A linguagem não é necessária para o desenvolvimento de papéis e regras sociais complexas mas a mimese é essencial-
-Quando a mimese toma a forma de uma ação coletiva ou de grupo, uma forma final comum é o ritual-
-Mesmo na sociedade moderna, o poder das formas miméticas no controle das grandes multidões é muito maior que a linguagem. A orquestração cuidadosa da ação de uma grande multidão torna-se um ato mimético por si próprio, representando, por exemplo, o consenso, a fúria ou o poder do grupo. Portanto, as raízes do ritual público são miméticas-
-O comportamento mimético do grupo, mesmo entre os humanos modernos, tende para a conformidade rígida e para o conservadorismo-
Ainda.
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E esta, hein!
A distinção que Frankfurt estabeleceu entre o mentiroso e o bullshitter é um bocado exagerada. O bullshitter e o mentiroso desprezam ambos a verdade. Não acho que o mentiroso tenha mais consideração pela verdade do que o bullshitter. Em português, bullshit é treta, tanga, intrujice, etc. A diferença entre um tretas e um mentiroso é talvez só de estilo.
Sapador, a distinção que ele faz justifica-se. Por exemplo, no livro ele dá como exemplo um arquitecto a tentar vender o seu projecto, onde o fulano alude a uma referência da arquitectura romana para credibilizar a sua opção. Esse discurso, tecnicamente na teoria de Frankfurt, não é nem verdadeiro nem mentiroso, pois o facto de existir uma arco romano assim ou assado em nada remete para o projecto que o arquitecto está a tentar vender.
Uma mentira, nesse contexto – e não vem no livro, sou eu agora a elaborar – seria o arquitecto ter inventado uma referência que apresentaria como histórica (portanto, supostamente verdadeira quanto à sua existência no passado) quando ela apenas tinha nascido da sua imaginação.
Cuidado, O hoje 28 de Maio ( !!!!) aterra o Zelrensky Não tarda “Vêm aí os russos”
Não digo que não se justifique uma distinção, mas sim que Frankfurt a exagera. Também não há uma definição padrão, universalmente aceite, de bullshit, um termo de calão de fronteiras pouco precisas.
A tese de que o bullshit é um maior inimigo da verdade do que a mentira é a parte mais fraca da argumentação de Frankfurt.
Sapador, pois, ele não está a propor um teorema. Porém, o seu argumento ganhou popularidade porque trouxe uma novidade: realmente, o mentiroso depende da verdade, enquanto o tangas pode dispensar esse conceito (portanto, essa preocupação e respectiva valorização) porque opera num espaço dialógico onde nem sequer é possível aferir da verdade do que quer que seja. Donde, o tangas nunca é apanhado a mentir enquanto tangas, ele apenas manda para o ar a sua opinião.
O problema, repare-se, não está no facto de o tangas ter uma opinião, coisa a que tem direito e se recomenda. O problema, do ponto de vista da reflexão de Frankfurt, é que o sucesso e domínio social das tangas conduz à indiferença, primeiro, e ao desprezo, depois, face à noção de verdade. Aí chegados, segue-se o ataque à democracia e a criação da “pós-verdade” e dos “factos alternativos”.
Ou seja, Frankfurt antecipou em 30 anos o triunfo de Trump e da actual vaga de populismo de direita.
por exemplo , benzion mileikowsky , oriundo da polónia , fazer-se chamar benjamin netanyahu para dar ideia que é da palestina é claramente uma vigarice , nem mentira nem merda de touro.
Um bom estudo de bullshitologia: https://journals.uic.edu/ojs/index.php/dad/article/download/12690/11035/82743
Sapador, muito fixe esse estudo. Thanks