Portugal precisa de uma inspiração mobilizadora e não de exercícios de cálculo. Cabe ao Presidente da República indicar o caminho e não os atalhos. A defesa da estabilidade não é um jogo de sombras, é uma prática de clarificação.
*
Há argumentos fortes para o PS escolher este homem como seu candidato presidencial, e todos antecipam que assim aconteça. Mas há argumentos valiosos para só aceitar votar nele numa hipotética segunda volta. Porque é óbvio faltarem-lhe condições para ser um Presidente da República à altura das responsabilidades intelectuais da função, por um lado, e de acordo com as necessidades políticas do País, pelo outro.
Alegre vem de ser oposição velhaca ao PS, tendo utilizado o seu lugar de deputado num exercício revanchista que contribuiu para a perda de votos e reforço do BE. Chegou a fazer comícios com aqueles cuja única paixão é a desagregação do PS, e teve a supina egolatria de ameaçar sair para fundar um partido. As suas declarações, desde que lhe caiu em cima o milhão de votos, são invariáveis hinos a si próprio. Os sinais de estar a viver uma fantasia sebastianista onde faz a festa e apanha as canas multiplicam-se em crescendo. Leia-se a citação supra, repare-se na concepção profética subjacente, atente-se no acordo que está a ser proposto onde o Rei-Poeta deixa de recorrer ao cálculo para se entregar à inspiração. A política reduzida àquele que aponta o caminho. Medo…
Alegre é um fenómeno criado pelo BE. Sem a manipulação de Louçã, o sr. Fiquei à Frente de Soares passaria o resto do tempo em almoços comemorativos do feito heróico de 2006 e não seria o berbicacho para o PS, e para a qualidade da democracia, em que se tornou. Louçã sabe que a irracionalidade de Alegre suscita conflitos dentro do PS, tendo levado muitos a viraram-se contra o partido, subitamente visto como parte do problema e não da solução.
A máquina calculadora que se esconde dentro da lira quer dividir para reinar.
Belo texto, mas só não entendo quais as boas razões para votar Alegre seja em que volta seja. Contra Cavaco? Poderia ser, mas teria que pensar muito bem qual dos males seria o menor. Cavaco caiu muito na minha consideração, mas daí a entregar a presidência ao BE vai um grande passo. Porque Alegre é, para todos os efeitos, do Bloco de Esquerda, e já o é há muitos anos. Ter-se mantido como militante do PS é apenas estratégia.
Esta nem parece do Valupi. Como diz o Vega, Manuel Alegre só não rasgou o cartão PS porque lhe convem ou porque lhe faltou, na acção, o alarde de coragem na palavra. O PS tem permitido a Manuel Alegre aquilo que o País tem aturado ao Alberto João, desde a incontinência verbal à ameaça separatista.
Se a aposta do PS for neste candidato inchado, bacoco e egocentrico, o meu voto fica com Fernando Nobre, ainda que eu perca por dez a zero.
pois eu ainda tenho esperança que no meio do imbróglio dos candidatos pudesse aparecer a Maria de Belém. Mas será que era boa escolha e candidata ganhadora? Eu acho graça a ela, mas já me enganei noutros casos.
Mas, Val, a ideia subjacente de só votar Alegre numa segunda volta tem um problema. Essa ideia pressupõe, o que qualquer pessoa decente aceitará, que Alegre é preferível a Cavaco. Mas se é assim, então, e para não alimentares a hipótese de contribuir com a abstenção (igual, neste caso, a voto branco ou nulo) para a eleição de cavaco à primeira volta, tens de participar na votação da primeira volta com um voto juridicamente válido, ou seja, em algum dos candidatos. Logo, na primeira volta, pressupondo que rejeitas ajudar o Cavaco, tens de votar ou Alegre ou fernando Nobre (se este for até ao fim, o que é duvidoso). Então, a opção que está subjacente à tua proposta é ter de fazer uma escolha na primeira volta entre Alegre e Nobre e optar por este último. Mas Nobre é preferível a Alegre ou é mais votável, por uma pessoa decente, que Alegre?
A perspectiva de se votar Alegre na segunda volta, num cenário em que o candidato do PS teria ficado atrás de Alegre e Cavaco, não tem outro interesse senão reconhecer o óbvio: nessa situação, jamais o PS deixaria de votar Alegre. Seria inevitável.
Outra conversa é a do voto individual. Eu não sirvo de exemplo, pois nem PS votei, mas jamais votarei Alegre, seja contra quem for. Pura e simplesmente, não lhe reconheço capacidades para a função.
Uma das questões neste momento é que o PS não parece ter um candidato forte para apresentar nestas presidenciais.
Não deslumbro, actualmente, ninguém no interior do PS com perfil capaz para ter mais votos que Cavaco.
Mas não ficaria nada surpreendido se o PS apoiasse Alegre… Cavaco ganha… e Alegre desaparece politicamente…
Mas esse apoio poderá revelar-se uma faca de dois gumes caso Alegre consiga ocupar o lugar de PR… Sentir-se-ia, Alegre, mandatado para prosseguir a sua luta interna no PS.
Um extraordinário teórico político escreveu em tempos «os homens que no início de um principado haviam sido inimigos, sendo de condição que para manter-se precisam de apoio, o príncipe poderá sempre com grande facilidade vir a conquistá-los; e eles tanto mais são forçados a servi-lo com lealdade, quanto reconheçam ser-lhes necessário cancelar com obras aquela má opinião que, a seu respeito, se fazia»
Votar em Manuel Alegre?
Nunca!
Esse vendido, que critica o partido que lhe deu nome.
Esse velhaco que se serviu do seu milhão de votos para exigir o seu espaço dentro do PS.
Manuel Alegre, a figura de proa do BE que não aceita o PEC de ânimo leve.
O Poeta que se acha no direito de ter opinião.
O Homem que escreveu que “Mesmo na noite mais triste, em dias de solidão/Há sempre alguém que resiste/Há sempre alguém que diz não”? Decerto que já se referia ao PS de Sócrates e por isso só merece o nosso ostracismo.
Abaixo Manuel Alegre!
Vivam as ideias socráticas, por mais abjectas que sejam!
Se o PS já deixou “o” Cavaco ganhar uma vez, porque não repetir a dose?
Afinal de contas, Manuel Alegre até era capaz de pôr o PM no seu devido lugar e isso poderia ser muito complicado.
Lembre-se “do” Valupi, se pensa em votar em Manuel Alegre…
PMatos, não há ninguém no PS com votos suficientes contra Cavaco, e muito menos porque qualquer candidatura do PS sem ser Alegre seria vista como “contra” Alegre, e abria uma guerra interna com consequências muito para além das eleições. Louçã não é parvo, e pôs Sócrates em cheque-mate.
A alternativa, como Soares bem percebeu, é uma candidatura independente, que possa captar os votos de todos aqueles Socialistas que se recusarão a votar em Alegre sem o hostilizar abertamente, e criar uma vaga de fundo que possa, no máximo, levar a uma segunda volta sem Alegre ou, no mínimo, impedir Alegre e o BE de chegar à presidência.
Terei que esperar para ouvir mais, mas até agora Fernando Nobre não me entusiasma particularmente. Ninguém convence Marinho Pinto a avançar? Isso é que seria interessante!
Garcia Pereira, se concorrer, vai ter o melhor resultado de sempre. E no milagre de ir à segunda volta com Cavaco, seria um festival!
Marinho Pinto, claro, é uma candidatura ainda mais forte do que a de Garcia Pereira.
ahahah. Concordo, mas nunca! Agora, se me falares em Marinho Pinto como Presidente e Garcia Pereira como Ministro da Justiça…
Hum, publicaste primeiro. O meu “concordo, mas nunca” refere-se a Garcia Pereira.
Marinho Pinto e Garcia Pereira juntos é uma associação brilhante. Seja para o que for que lhes dê na gana, até podia ser apenas para irem almoçar juntos. E é sintomático que os patrões da comunicação social prefiram a promoção mediática das borboletas do BE do que a destes dois dinossauros carnívoros.
Acumulações de pensões no Estado
Seria, da parte de Sócrates, uma vingança perfeita. E que teria a (grande) vantagem de começar a desatar o nó cego da Justiça, que é neste momento o principal entrave ao desenvolvimento. É perguntar a qualquer empresário. Qualquer um.
Teríamos, naturalmente, de selar as janelas dos tribunais…
Vega9000:
«PMatos, não há ninguém no PS com votos suficientes contra Cavaco, e muito menos porque qualquer candidatura do PS sem ser Alegre seria vista como “contra” Alegre, e abria uma guerra interna com consequências muito para além das eleições.».
Tem toda a razão. Mas não esqueçamos que o PS apresentar outro candidato quando Alegre está disponível para tal não seria inédito… é preciso é que outro “peso-pesado” do PS se preste a isso… coisa que não há!
Por isso talvez vejamos o PS a apoiar o candidato independente Manuel Alegre… nesta fase, e já com as primeiras sondagens na praça, parece ser a melhor forma de eliminar uma voz da oposição interna…
Pereira e Pinto… o eterno candidato estará seguramente na corrida… terá um adversário directo: Fernando Nobre!
O Marinho “bujardas” Pinto a candidato contaria com alguns votos… e tenho duvidas que fosse “censurado” pela Comunicação Social… afinal o que vende é sangue, e Marinho Pinto está sempre pronto para fazer sangue!
Isso é que era bonito de se ver!!
LOL
Que fique claro: considero Manuel Alegre um dos maiores poetas da sua geração. Li-o e continuo a lê-lo. Não votarei nunca nele para presidente de uma Junta de Freguesia em Águeda ou Fosse Lá Onde Fosse. Muito menos para Presidente da República… Nem na 2ª nem em qualquer volta. POLITICAMENTE Manuel alegre é quem? Haja paciência…
Faz sentido essa da dupla Marinho Pinto/Gracia Pereira. De uma coisa tenho a certeza. Punham muito boa gente em sentido. Principalmente aqueles que mais se têm servido do banquete centrão que pagamos todos.
Agora uma pergunta. É seguro que o “novo” PSD vai apoiar Cavaco?
Jacome:
«É seguro que o “novo” PSD vai apoiar Cavaco?»
Passos Coelho já disse que sim… mesmo antes de ser eleito para presidente do PSD.
http://www.tvi24.iol.pt/politica/passos-coelho-congresso-psd-tvi24-candidato-cavaco/1147086-4072.html
Esperemos então que a verdade de ontem não seja ultrapassada pelos acontecimentos de amanhã quando PPC começar a exigir a demissão antecipada de JS, e não passe a mentira depois de amanhã.
Obrigado pelo lembrete. Tinha-me escapado tão categórica afirmação!
Deveria ser uma mulher ou então um estrangeiro naturalizado como na selecçón. De preferência que use um sistema de jogo mais virado para o ataque.
No caso de José Sócrates por altura das presidenciais ainda ser 1º Ministro, acredito que o PS não fará qualquer indicação de voto para a presidência da Republica, nem designará um candidato.
Argumentando que no terreno já estarão dois candidatos que o PS respeita. Fernando Nobre e Manuel Alegre, e arranjando um aumento de qualquer imposto como nas ultimas eleições presidenciais, afim de garantir a vitória do seu candidato, Cavaco Silva.
Os donos da nação mandam e os funcionários obedecem.
A borregada vota.
este mario pinto é uma tristeza; é tão fanático o seu anti-esquerdismo, que até não se importa que o cavaco seja eleito; manuel alegre é que nunca. claro, é isto que pensa a direita maisreacionária.
Não li os 34 comentários mas li os primeiros quatro, vão todos no mesmo sentido, chegando um dos comentários ao ponto de acusar Manuel Alegre de ser do BE, eu vou aqui citar uma pessoa, militante do PS desde o primeiro dia, um social democrata assumido, foi ministro da saúde, deu uma entrevista ao DN estava na altura Guterres no governo e disse, mais coisa menos coisa, isto:
“Sinto-me na extrema esquerda do partido, isto é se ainda lá tiver lugar.”
Não é Manuel Alegre que “saiu” pela esquerda do PS foi o PS que se encostou em demasia à direita, eu só aguentei estes últimos anos no PS porque Manuel Alegre lá estava, porque senão à muito tinha saído.
O PPC tem o discurso do coração e o discurso oficial: o primeiro levou-o a tecer críticas impiedosas (acho que é a primeira vez que uso esta palavra) em relação a Cavaco. A situação, entretanto, exigia o discurso mais politicamente correcto do ponto de vista do PSD.
Mas não estou a vê-lo a fazer o papel de moço de fretes que a manelinha fez em relação a cavaco.
Entretanto, como esta varreu das listas todos os coelhistas, como irá o pedrocas resolver o problema da liderança parlamentar?
Por falar nisso, agora é o momento certo para o pacheco das doutrinas deixar o assento parlamentar, não é?
Deixo aqui uma sugestão, singela e desinteressada:
E se o PS apoiasse o Macaco Adriano?
Cambalhota por cambalhota, seria apenas mais uma e porque no PS ninguém parece ter estômago, as piruetas não teriam efeitos secundários.
E depois, com um macaco na Presidência, a Selva ficaria apenas a cargo de “Josélius Socráticus”, o seu verdadeiro Rei.
Mário Pinto, o ódio e a frustração tiram-te o tino :))
António, o Louçã espera-o de braços abertos. Diga que vai da parte do Manuel.
Fernando Nobre é fixe! Não o estou a ver montar tartarugas em locais paradisiacos para turistas, de países desgraçados para as suas gentes. Nem o estou a ver usar até ao despudor completo a Presidência para atacar o PM, como tem sido feito em inventonas e outras “onas” pelo actual inquilino de Belém. Nem pode ser ingénuo quem acudiu a tanto sofrimento ditado pela pulhide ou indiferença dos governantes das nações. Se eu soubesse rezar, pedia a todos os santos que inspirassem Sócrates a escolher um homem em quem se pode confiar- Fernando Nobre. Imaginem o que não seria Portugal com um homem determinado e incorruptivel como Sócrates, acompanhado por um homem que sente o pulsar de cada português que sofre, trabalha e sonha. Ai se eu soubesse rezar e acreditasse que seria atendido! Sócrates só precisa de um PR leal, porque já provou que sabe lidar com os problemas do País.
Mário,
acabaste de rezar e eu junto-me a ti.
Mário Pinto, venho aqui só por si.
Eu teria vinte e muito poucos anos, ou menos, muito menos, quando um tal de Soares Carneiro foi candidato do PPD às presidênciais. Na altura eu vivia rodeada de amigos ppdês e aquela do Soares Carneiro não me caía lá muito bem, não percebia, por isso, como sempre que não percebo, perguntei a razão de tanto afã. Explicaram-me que era porque “o Sá Carneiro dizia que sim portanto era sim”.
Mais tarde, poucos anos mais tarde, foi a vez do Soares/ Freitas. Marquei essas eleições como as primeiras não políticas – o Freitas distribuía chapéus e a malta gostava e ia atrás. Tudo muito americano, tudo muito giro. Mais uma vez vivi as eleições rodeada de freitistas e quando o Soares passou à segunda volta fui, pela primeira vez, festejar para a rua. Eu e a minha irmã, o resto estava ainda a tentar perceber o povinho que usava os chapéus mas só porque eram de graça e davam jeito para tapar o Sol. Quando o Soares ganhou montei um arraial, atirei foguetes e deitei a lingua de fora a todos os que me tinham andado a chatear (sou muito infantil nestas coisas).
Estava no último ano da faculdade quando o Zenha se candidatou. Na altura, o meu pai, depois de umas autárquicas em que tinha sido candidato à Camara de Coimbra pelo PRD, estava numa unidade de cuidados intensivos com mais um enfarte. Eu gostava tanto do Zenha como agora gosto do Alegre mas, em nome do meu pai, fiz parte da comissão de honra e andei em tudo o que era campanha. No fim, e como todos sabiam desde o princípio que eu iria fazer, votei Soares.
Agora conte-me lá outra vez a história do macaco adriano que não a percebi bem. O PS o quê?
ja aqui escrevi isto há muito tempo, mas repito-o..
Sempre votei PS. Nas autarquicas, nas legislativas e nas presidenciais. Sempre.
Quando era puto fartei-me de colar cartazes para os (agora..) dinossauros.
Nunca votarei Alegre. E espero que tenha uma derrota tão humilhante que nunca mais tire o cú de Coimbra.
Na primeira volta, votarei em qualquer outro candidato de esquerda. Pode ser o Fernando Nobre ou o Garcia Pereira.
Se houver segunda volta, voto no Cavaco.
Miguel
Por favor, minhas senhoras e meus senhores:
Há alguem, entre os comentadores precedentes, que se sinta representado na Presidência da República por Aníbal Cavaco Silva?
Eu não.
Eu também não.
Trova do vento que passa
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio — é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre
Variações sobre
O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
de Alexandre O’Neill
Os ratos invadiram a cidade
povoaram as casas os ratos roeram
o coração das gentes.
Cada homem traz um rato na alma.
Na rua os ratos roeram a vida.
É proibido não ser rato.
Canto na toca. E sou um homem.
Os ratos não tiveram tempo de roer-me
os ratos não podem roer um homem
que grita não aos ratos.
Encho a toca de sol.
(Cá fora os ratos roeram o sol).
Encho a toca de luar.
(Cá fora os ratos roeram a lua).
Encho a toca de amor.
(Cá fora os ratos roeram o amor).
Na toca que já foi dos ratos cantam
os homens que não chiam. E cantando
a toca enche-se de sol.
(O pouco sol que os ratos não roeram).
Manuel Alegre
Ó renzo
Triste é você, que não sabe ler.
Triste é você que não sabe ver a ironia que o meu comentário contém. Olhe que todos os outros comentadores perceberam!!!
Também lhe digo que sou mais de Esquerda do que você pensa.
E tem mais. Leia os restantes comentários e compare-os.
Decerto que verá que falhou completamente o alvo.
Tereza
Fiquei muito sensibilizado com o seu gesto!
Essa de vir aqui só por minha causa caiu bem fundo no meu íntimo.
Parece, até, que me conhece tão bem que adivinhou que eu ia escrever qualquer coisa.
Por vezes não temos a verdadeira noção do nosso (elevado?) valor e só a existência de alguém como a Tereza permite que ocupemos o nosso devido lugar.
Muito bem aja por isso!
A Tereza conta-me uma história muito bonita que termina mais ou menos assim:
“Eu gosto muito, mas muito, do Manel, mas como todos sabem (menos o Manel, claro) eu prefiro casar com o Tobias porque assim e assado, frito e cosido.”
É muito enternecedora, confesso (limpando uma lágrima que teima em assomar).
Quanto à história do macaco, não faça caso. Já que não quer ler os sinais que ressaltam dos comentários anteriores, espere pelos próximos episódios.
Mário, o seu problema é que me toma a mim e ao Manel por parvos. O Manel nunca seria o último a saber porque tenho pouca queda para cornos mansos e Maneis na minha vida se não lhes dizem descobrem que têm cabecinha para isso. Quanto à lágrima eu percebo porque ela teima em assomar- imagino a tristeza que não deve ir por aí. Até eu, que sou alma empedernida, deixaria cair uma lágrima ou duas.
Peço só desculpa por não esperar por próximos episódios – o Mário pode gostar de novelas mas eu nunca tive pachorra para ficar à espera do que quer que seja.
(caramba, Mário, tem andado a comer alguma coisa que lhe faça mal? é que lhe noto alguma acidez nas digestões mas, por outro lado, gosta mais disto que do que o tal macaco de bananas)
Cego, em febre a cabeça, a mão nervosa e fria,
Trabalha. A alma lhe sai da pena, alucinada,
E enche-lhe, a palpitar, a estrofe iluminada
De gritos de triunfo e gritos de agonia.
Prende a idéia fugaz; doma a rima bravia,
Trabalha… E a obra, por fim, resplandece acabada:
“Mundo, que as minhas mãos arrancaram do nada!
Filha do meu trabalho! ergue-te à luz do dia!
Cheia da minha febre e da minha alma cheia,
Arranquei-te da vida ao ádito profundo,
Arranquei-te do amor à mina ampla e secreta!
Posso agora morrer, porque vives!” E o Poeta
Pensa que vai cair, exausto, ao pé de um mundo,
E cai – vaidade humana! – ao pé de um grão de areia…
Olavo Bilac
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo …
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho … E não sou nada! …
Florbela Espanca
(este blog dá-me tanto trabalho… é tão sério… tão erudito…)
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.
Camões
Haja cultura, pois então.
Os eunucos devoram-se a si mesmos
Não mudam de uniforme, são venais
E quando os mais são feitos em torresmos
Defendem os tiranos contra os pais
Em tudo são verdugos mais ou menos
No jardim dos haréns os principais
E quando os mais são feitos em torresmos
Não matam os tiranos pedem mais
Suportam toda a dor na calmaria
Da olímpica visão dos samurais
Havia um dona a mais na satrapia
Mas foi lançado à cova dos chacais
Em vénias malabares à luz do dia
Lambuzam da saliva os maiorais
E quando os mais são feitos em fatias
Não matam os tiranos pedem mais
José Afonso
Tereza
Se não gosta das minhas respostas, porque razão me faz perguntas?
Você e o Manel não são parvos, com certeza, mas eu sou, não é Tereza?
E fico-me por aqui, antes que comece de novo a falar-me em culinária…
Mário, por acaso, e neste momento, até lhe podia falar de culinária, mas prefiro fazer-lhe uma pergunta – também gosta da noite?
Tereza, gosto da noite, sim. Talvez até mais do que o macaco gosta de bananas.
E é claro que gosto disto!
Destesto locais onde todos pensem como eu, mas há quem goste. Eu sei.
cruzaste-te com o meu pai Tereza, ele era um dos vice do Zenha, não sei se o termo técnico era esse mas a idéia é,
está aqui à minha frente numa foto, o pai e a mãe, queridos pais,
Acho tão imbecil que por falta de concertação a esquerda acabe por dar a vitória a Cavaco que não tenho palavras a esse propósito. No entanto ainda vai correr água sobre a ponte e estou numa mudança que me distrai da política o que aliás é primaveril,
pois é, o Aspirina é um part-time e é porque eu meti disciplina de sair todos os dias às 14h da frente do ecrã, é o melhor espaço de interacção cognitiva que conheço, mas eu frequento poucos blogues, afinal sou um amante leal,
Porventura ao abrigo de um qualquer esquecido acordo luso-brasileiro dá para trocar o Lula pelo Cavaco. O Lula era o presidente “idiau”. É um pouco pé frio no desporto mas podíamos contar com o petroleo para contrabalançar, né?
E essa treta de encosto à esquerda ou à direita é tudo consequências da má interiorização e aplicação do código da estrada. Veja-se o caso inglês, conduzem pela esquerda e não por acaso foi lá que o Marx publicou o capital e era onde ele pensava que se daria a revolução.O que ele não conseguiu descodificar é que num país em que se conduza à esquerda é-se ultrapassado pela direita, e zás, o regime czarista já a cair de podre ofereceu o cenário ideal para tão significativa alteração. Que infelizmente foi desperdiçada pelo facto de não terem mudado as regras de trânsito e terem continuado a dirigir pela direita.
é verdade, está na altura de reanimar o caraças do lagosta e do lagostim, que nunca mais ouvi nada, como mete Hades e Posídon já agora também Zeus e nada de brigas, tá? A rir, bebam um copo por mim.
nada, sunyia, o som do silêncio,
depois da mudança a primeira coisa que vou fazer é nadar
Lendo a maior parte dos comentários atrás, fico com a impressão de que estas pessoas não se sentem muito mal com o consulado cavaquista, Depois dos tristes episódios deste ultimo verão, talvez dos mais graves da nossa débil democracia, a estas pessoas tanto lhes apraz que ele volte a ser reeleito, como não.
Pois eu não! Votarei em qualquer um, seja de esquerda, ou até de direita, desde que comprovadamente democrata, mas nunca no Cavaco que duvido que o seja.
renzo, ninguém aqui gosta de Cavaco. Mas antes o pulha com objectivos do que o louco com ideologias. Metaforicamente, claro…
“Antes um pulha com objectivos (…)”???
Então e “o” Pacheco? Ou “o” Marcelo? Não têm objectivos ou limitam-se a ser pulhas?
Já agora, o Hitler também serviria. Foi um pulha e tinha objectivos…?!
Mas que argumentação!!!
E eu que pensava já ter lido de tudo!!!
Até neste aspecto o PS é igualzinho ao PSD.
Alguém que não alinhe com a Direcção do partido é tratado como se fosse um inimigo.
Muito bem!
São Socialistas? São sim. Nota-se, à légua!
…ah! Afinal tratava-se de uma metáfora!?
Que alívio, haver esta figura de estilo. É que, desta forma, escrevemos as verdades mas estas vão cobertas com o “manto diáfano da fantasia”…
Essa é que é Eça!
(Entretanto, e enquanto se lava a “roupa suja” socialista, o défice aumentou mais uma décima. São só 250 milhões de euros a mais, nada que nos deva preocupar, com certeza. José Sócrates está atento e diz que vai reduzir gastos na compra das flores…)
Mário Pinto, lamento, mas de acordo com a lei de Goldwin acabaste de perder a discussão, e esta acaba aqui.
Vega
Mas que conveniente, a existência da lei de Goldwin!
Já não bastava a “metáfora”?
Meu caro, tivesse você algo de consistente para me responder e não haveria lei nenhuma que o impedisse. Esta é que é a questão.
Quem perdeu foi você, Vega, ao escrever que prefere “um pulha com objectivos” a Manuel Alegre.
Quem perde é o PS, por ter pessoas como você a opinar desta forma, sem respeitar o passado de pessoas como Manuel Alegre.
Quem perde é Portugal, quando o PS discute o futuro Presidente da República como se fizesse contas de merceeiro.
Pacheco Pereira? Marcelo Rebelo de Sousa? Porque não, se nem Manuel Alegre ou João Cravinho escapam?
Se alguém tinha dúvidas acerca da vossa falta de rigor e de isenção ficou esclarecido.
Que tal mudarem o nome deste blog para “ A Voz do Dono”?
Seria uma forma de mostrarem alguma honestidade.
A ser assim, não tardará o dia em que será o próprio José Sócrates a levar as bengaladas “do Aspirina”.
É a Lei (esta sim!) da Vida…
A lei é a lei, Mário Pinto. Temos pena.
Nota de correcção: é Godwin, não Goldwin. Lamentamos os lapso.
Tem razão, Vega. É Godwin, sim
Eu, que devido à minha profunda ignorância não conhecia essa lei, fui logo apresentar Hitler como um exemplo que cumpriu dois objectivos:
1 – Serviu que nem uma luva como um exemplo para a sua teoria de que antes “um pulha com objectivos”.
2 – Foi excelente para si porque lhe permitiu responder-me da forma que é sabida.
Ainda assim, para mim será antes a “lei de Vega”, se tal não ferir a sua modéstia.
Renomeio-a dessa forma porque você foi a primeira pessoa que ma apresentou à laia de argumento.
Recorda-se da questão do anonimato de Valupi e de outros comentadores?
Reconheço que têm razão para o ser.
É que, e ao contrário do exemplo que me deu – de alguém ser um mero trabalhador num qualquer supermercado – eu vou pensar que é o contrário. Ou seja, serão pessoas conhecidas e com responsabilidades e, por isso mesmo, seria extremamente aborrecido poderem vir a ser confrontadas com as opiniões que aqui exprimem.
Estou enganado? Poderei estar, mas não vejo melhor razão do que esta.