Querido Harold,
Acabei de te inventar esta imagem. FIcaste com cara de bebé. Tal como eu ficaria se estivesse a ser abraçado pela Helen (e ainda a ser pago). Quantas vezes repetiram a cena? Espero que tenha corrido mal, que o James fosse um picuinhas. E logo nesse filme, tão lindo. Cabrão.
Estou a escrever-te para explicar porque não tenho lágrimas com que chore a tua morte. As lágrimas são demasiado valiosas para as gastar por nada. A morte é o nada, certo? E o nada é coisa nenhuma, correcto? Agora que sabes, podias confirmar. Pois coisa nenhuma justifica que ande para aí a esbanjar o sal da minha vida.
Mas há uma outra razão. Esta vais aceitar sem discussão. É que as pessoas que nos fazem chorar através do seu talento não devem ser choradas por motivos alheios à sua arte. Morrer não fazia parte das tuas capacidades. Por isso foste bulir para o cinema. O cinema imobiliza a luz, ergo ilumina a eternidade. E se tu percebes de eternidade, olá.
Foste quem conservou para a eternidade imediata a Andie a despedir-se dos frescos anos. Gloriosamente bela ao lado de um camafeu glorioso. Grande cabrão. Que enorme pequeno filme. O triunfo da chachada. É o que são as comédias românticas. Chachadas. Mas esta, que liga na mesma ternura a humanidade de todos os dias sem amanhã, é um tratado sobre a condição de não existir. Não existir dá muita vontade de chorar. De chorar a rir.
Harold, se me queres ver chorar, faz mais um filme.
que texto gelado de arrepiar! – parece escrito por um cabrão morto. :-)
Adoro esses filmes: Groundhog Day & As Good as It Gets! :D
‘O Amor é mais forte do que a morte’