12 Years a Slave_Steve McQueen
Há 12 razões – ou 12 emoções? – para ver este filme. Não sei quais serão as tuas, mas uma das minhas materializa-se em luz quando a personagem Edwin Epps chicoteia quase até à morte uma jovem escrava, que também violava regularmente, e se ouve este diálogo:
Solomon Northup: Thou devil! Sooner or later, somewhere in the course of eternal justice thou shalt answer for this sin!
Edwin Epps: No sin! There is no sin! A man does how he pleases with his property. At the moment, Platt, I am of great pleasure. You be goddamn careful I don’t come to wantin’ to lightenin’ my mood no further.
Um homem faz o que quiser com a sua propriedade. Certo. E a propriedade é um dos principais meios que a Natureza oferece para esse homem atingir a satisfação, a felicidade. Certíssimo. Eis o credo do liberalismo, ou parte dele. A mesma lógica que levará a concepções como a de ver no Estado o inimigo principal da propriedade, portanto do indivíduo, logo da felicidade. E assim por diante. Até se chegar à ideia de que o Estado deve ser gerido como uma empresa; isto é, como uma entidade privada, uma propriedade de alguns. Nó cego no que começou por ser um ideal contra todos os despotismos.
Vamos imaginar que um político qualquer ascendia ao cargo máximo do poder executivo num qualquer Estado. E que esse político era um confesso liberal, apostado em tratar o Estado como tinha tratado as empresas por onde passou e criou fama. No seu afã de pavonear o novo estilo da governação, até chegava a meter a martelo pedaços de estrangeiro nas conversas, tanto no léxico como na sintaxe, criando uma algaraviada que, podendo ser ininteligível, pelo menos não deixava ninguém na dúvida quanto às suas intenções. Qual a vantagem para esse político de tal manigância? Calhando esse político estar muito interessado em diminuir a propriedade dos seus concidadãos, operação que também responde ao nome “empobrecimento”, então tudo lhe seria mais fácil se ele deixasse de ver pessoas à sua volta e começasse a ver funcionários da sua empresa. Obviamente, um trabalhador sabe que só trabalha porque o patrão criou esse mesmo posto de trabalho. Então, quem cria pode destruir com a mesma autoridade, e facilidade, com que criou. Porquê? Porque o trabalho criado é uma extensão da sua propriedade. Calhando despedir o trabalhador, o patrão está a ser tão justo como quando lhe deu trabalho. É assim nas empresas, por que raio não haveria de ser assim no Estado, pergunta o nosso liberal com irritada impaciência.
Este filme não foi feito para dar lições acerca do liberalismo ou falta dele, de antanho ou de agora, genuíno ou de fancaria. Também por isso, especialmente por isso, a cena que cito é uma chicotada, mais uma, nos nossos costados.
Certíssimo, amigo Valupi (se permites). O problema é que a filosofia que expões é demasiado subtil para quem “alimenta o seu Intelecto” (?) com “Fátima, Futebol e Fado” , este último nas suas variantes da pimbalhada, das manhãs e tardes das “queridas júlias” e das mil e uma novelas que esgotam todo o “espaço nobre” das televisões. Por esse mundo fora, o panorama é semelhante. É este exacto povo que escolhe os seus deputados e governantes, com a mesma ligeireza com que vivem a reforma ou os “intervalos” do trabalho. Quero dizer, e não é novidade para ninguém, que a classe política donde saem os governantes, reflecte a alienação generalizada. As excepções são trituradas até serem derrotadas, ou desistirem de lutar contra tudo e todos. A quase única esperança para sair deste pantanal gigantesco é o avanço irreprimível das ciências. Felizmente. A tua e a minha “pregação”, ou do Papa ou de de todos os Cristos dos céus e da terra , pouco mais serão que investidas quixotescas contra moinhos de vento…
o bom carácter será sempre propriedade privada, cada pessoa cada carácter no trabalho e na vida, sempre do individual para o colectivo. se calhar esta é a melhor definição de estado: carácter colectivo de e para carácteres individuais. e quem pertence quer à máquina da governação quer à produção nos governados tem de ter bom carácter para desempenhar um bom trabalho – na AR ou na empresa. e isso é o que eu exijo tanto de um patrão como de quem gere a nação.
já o more, que provoca confusões thomasianas ao possóilo, falava nisso e vai continuar a ser conversa nos próximos séculos. a ida do eusébio para o pantaleão parece mais consenxual, mas aguardemos o paper matinal da investigadora eubimba.
phóóóóónix! só não acerto no eurobimbalhões.
ignatz, olha que são sempre as mulheres inteligentes que escolhem os homens, os melhores – o contrário só acontece com os básicos. isto para te dizer que hás-de sempre sofrer de ejaculaçãozinha precoce, e meramente simbólica, nessas fantasias selvagens que tens comigo. :-)
o cds entende que a escolaridade obrigatória deve regredir 3 anos. são os Epps do nosso tempo, não precisamos de nenhum filme. temos bem mais do que 12 razões para subir as escadarias do parlamento.
ena pai! já tou a ver a fenprof a carregar na bófia de choque ou será que é assumpto dos putos e vão recrutar crianças para vestirem bibes armadilhados.
“e quem pertence quer à máquina da governação quer à produção nos governados tem de ter bom carácter …”
que merda é esta? deve ser a 5ª emenda ao mein kampf. já tou a ver a bimba como relatora da comissão de avaliação de carácter ou mesmo autora do novo código moral a editar pela fundação pingo doce. oh bimba, fantasias selvagens só se for pendurar-te por uma corda num aquário com 120 tubarões.
Olinda, faço votos que esse palminho de cara seja de foto recente, porque se tiver mais de 20 anos vou recorrer à playboy.
Não enganes a gente, parece que pela conversa sabes muito para a idade.
com a verdade te enganas, Reaça. há mulheres cuja inteligência e beleza, por andarem sempre na dianteira, parecem não acompanhar a idade. são as que não precisam da, nem de um, playboy. vê lá tu.
(mas não me surpreende que a mera referência a ejaculação precoce te desperte dúvidas sobre a minha idade. ejaculação precoce tem sentido descendente) :-)
Somos escravos de dívidas. Citando o protagonista do filme:
“Eu não quero sobreviver, quero viver!”
“No comboio descendente, ia tudo à gargalhada.
Uns,por verem rir os outros.Os Outros,sem ser por nada.”
Quanta Saudade,José Afonso!
Que confusão que para aqui vai!
Então o credo do liberalismo consiste na ideia de que um homem pode fazer o que quiser com a sua propriedade? Isto não está nada certo segundo um tipo que escreve neste blogue, e que disse, há uns meses, que o liberalismo é, por definição, a ideologia que defende o princípio de um homem, um voto. Afirmar agora que o fundamental do liberalismo está na defesa do direito de propriedade é reconhecer, ainda que de forma envergonhada, que aquele discurso não passava de um delírio, próprio de quem se limita a repetir a propaganda do sistema. Para esse tipo delirante e ignorante a escravatura era incompatível com o liberalismo, pois esta doutrina político-ideológica “começou por ser um ideal contra todos os despotismos” (e pelos vistos o delírio continua como a palavra “todos” revela). Quem negasse este dogma, ou esta cassete, estava a precisar de estudar História, assim como a Revolução Americana, dizia o mesmo tipo. Mas, afinal, não é preciso ler nenhum calhamaço de História para se deixar de ser burro. Basta tirar as palas e a seguir ver um filme (com os olhos bem abertos) sobre a escravatura, para se ficar consciente dos acontecimentos históricos que marcaram a evolução do capitalismo e do liberalismo. Claro que quem insiste em identificar o liberalismo (o “genuíno”, o “genuino”!) com a democracia continua a fazer papel de burro, e nessa medida a visualização da cena em questão é obviamente sentida como uma chicotada. Mas os burros são mesmo assim: só com muita chicotada ou paulada é que aprendem qualquer coisa.
Aliás, só esta burrice persistente pode levar um tipo a pôr em causa a justiça de um despedimento no Estado (ou numa empresa), pois o liberalismo não defende quaisquer direitos sociais ou laborais (que mais não são do que “privilégios” injustos), mas sim o livre funcionamento do mercado (ou da mão invisivel) que por si só corrige qualquer injustiça e premeia o mérito e o trabalho individual de cada um. O trabalho é uma mercadoria como outra qualquer, e, como tal, todos somos livres de o comprar e vender aos preços definidos pelo mercado. Contestar a justiça desta ideia, assim como contestar a vontade livre do patrão criador e dono dos postos de trabalho, cheira a marxismo totalitário. A impaciência do “nosso liberal” faz por isso todo o sentido, pois andou a alimentar intelectualmente o seu burro de carga e de estimação, e de repente este começou a confundir conceitos e ideias liberais com conceitos e ideias socialistas. È caso para dizer que só mesmo com chicotadas se pode resolver o problema deste tipo.
ainda não percebeste, liberalismo democrático e esclavagista, que democracia e liberalismo estão tão ligados como a massa de um bolo em que resulta liberdade e estado de direito. pelo meio, reflexões ao bolo. e que boas.
“O trabalho é uma mercadoria como outra qualquer, e, como tal, todos somos livres de o comprar e vender aos preços definidos pelo mercado. Contestar a justiça desta ideia, assim como contestar a vontade livre do patrão criador e dono dos postos de trabalho, cheira a marxismo totalitário”
Simple and utter rubbish. Só quem beneficia de um sistema assim o pode achar justo. Da mesma forma que os pobres beneficiam de um sistema de repartição mais justo, mas os ricos o odeiam pois não são eles os beneficiados.
Nada de mal em defender os seus interesses, mas estão a tentar enganar quem? O egoismo e a defesa de interesses move o mercado, e só isso interessa ao mercado.
Outro ponto que esta gente defensora da mão invisivel gosta de ostensivamente ignorar é o de que o mercado não existe. Não é uma espécie, não é um deus, não é porra nenhuma senão uma criação de vontades e interesses humanos. E como tal submete-se ás mesmas falácias que reinam a realidade humana : ganancia, egoismo, estupidez, ignorancia, indiferencia e , acima de tudo, BATOTA, muita BATOTA.
Acreditar que os ” mercados” se regulam a si próprios ,quando se sabe que uma das caracteristicas que o ser humano mais usa para conseguir uma vantagem sobre os parceiros, é a batota, é ser-se liberalmente estupido ou querer fazer os outros de estupido.
O ser humano encontra sempre brechas no mais perfeito sistema que lhe permitam explorar e obter vantagens sobre todos os outros. O estado deveria existir precisamente para detectar e evitar ao máximo a exploração dessas brechas. Nós não temos estado a mais, temos é o estado cego, por quem a ele se alapou para perpetuar um funcionamento distorcido e completamente viciado do tal do “mercado”.
Essa é que é essa.
Claro que é rubbish, ó gato vadio. È rubbish para um “marxista totalitário”, segundo o qual o capitalismo se caracteriza pela acumulação de capital e pela apropriação da mais-valia ou exploração do trabalho. Mas não é rubbish para um liberal (falso ou “genuíno”) que “luta contra todos os despotismos” e pela “liberdade individual”, e daí que o que está em causa no meu comentário seja apenas a burrice de quem não sabe o que é o liberalismo (histórica, ideológica e filosoficamente) e que até o confunde com princípios socialistas.
A pergunta sobre quem é que se está a querer enganar com este paleio, não deve assim ser dirigida a mim, mas ao tipo que escreveu este post e para quem, repito, o liberalismo foi no seu começo “um ideal contra todos os despotismos”. E portanto a resposta até é óbvia: os gajos que andam a ser enganados são todos aqueles que costumam aplaudir e repetir o que o tipo “centrista”, “liberal”, “nem de esquerda, nem de direita”, mas simpatizante da “esquerda moderna” e do seu grande ex-líder, escreve em defesa do “demoliberalismo” (que “no seu começo” libertador e “genuíno” até conviveu com a propriedade de escravos – uma “brecha num “sistema perfeito”, claro).