Un amour de jeunesse_Mia Hansen-Løve
Conheciamo-nos há muito pouco tempo e ela ofereceu-me o Siddhartha, de Hermann Hesse, avisando que só oferecia esse livro a pessoas especiais e que o voltava a ler sempre que o voltava a dar. O livro é, ou era nos anos 80, um clássico das preferências adolescentes naqueles um bocadinho mais dados à leitura. E a obra, depois de um périplo existencialista, termina em apoteose mística com um êxtase fluvio-contemplativo. Nunca mais nos voltámos a ver, rios transbordados fugazmente num abraço de margens e separados pelos acidentes da paisagem.
A releitura, suscitada a cada nova atracção, era para ela a finalidade secreta das paixonetas, o contexto e o pretexto para o mergulho no subtexto onírico que fluía daquelas palavras sempre as mesmas e outras. Tal como nos efémeros namoricos, sempre diferentes mas cada vez mais iguais, o encanto imorredouro estava guardado alhures, nesse espaço sem tempo e nesse tempo sem espaço da imaginação. Um mundo imobilizado na correnteza das páginas.
Logo ao começo de Un amour de jeunesse, o rapaz diz à rapariga que o seu corpo é lindo, perfeito. Ele olha para ela, ela observa-se no espelho. É quanto baste para o destino. O que se segue são as variações deste acontecimento fundante, contadas pelos olhos cinematográficos de uma mulher de 30 anos que vai ajudar a rapariga de 15, embevecida frente ao seu narcisismo, a compreender qual é o sentido e a densidade dessa fonte de enamoramento caudaloso.
Este é um filme onde se ensina, delicada e pacientemente, a reconhecer que o amor ao corpo é um amor do corpo. Este é um filme que mostra a profundidade sem fundura das superfícies, o brilho da especulativa juventude. Este é um filme de alguém que aprendeu que o amor pode ser pesadamente vazio e algo que deva ser trocado pelo Sol. Este filme é um rio.
All that I have is a river
The river is always my home
Lord, take me away
For I just cannot stay
Or I’ll sink in my skin and my bones
The water sustains me without even trying
The water can’t drown me, I’m done
With my dying
Please help me build a small boat
One that’ll ride on the flow
Where the river runs deep
And the larger fish creep
I’m glad of what keeps me afloat
The water sustains me without even trying
The water can’t drown me, I’m done
With my dying
Now deeper the water I sail
And faster the current I’m in
That each night brings the stars
And the song in my heart
Is a tune for the Journeyman’s tale
The water sustains me without even trying
The water can’t drown me, I’m done
With my dying
Now the land that I knew is a dream
And the line on the distance grows faint
So wide is my river
The horizon a sliver
The artist has run out of paint
Where the blue of the sea meets the sky
And the big yellow sun leads me home
I’m everywhere now
The way is a vow
To the wind of each breath by and by
The water sustains me without even trying
The water can’t drown me, I’m done
With my dying.
ver pelos teus olhos é uma maravilha. que delícia a descrição que fazes do que, para mim, são águas paradas, fracas, em movimento – do que é, bem visto, o ser amante passageiro: dois corpos que se masturbam em espelho. mas há quem nunca tenha tido quinze anos; há quem carregue o sol e sinta que as águas só podem ser fortes, corrente que desagua no mar, e aí, sim, nunca mais parar.
escreve mais coisas, deixa-me ver mais pelos teus olhos. :-)
fogo, águas paradas, fracas, em movimento, ou seja, não mexem, praticamente inexistem e mexem-se, fogo, ora explica aí pelos teus olhos, como é que se dá este fenómeno da OLINDA! nem o woody allen, leia-se udi éléne, consegue explicar esta coisa tipo entroncamento, um pouco como os pastéis de nata da paltrow