De cada vez que o actual Presidente da República discursa, segue-se o desporto do tiro à citação. Os melros que botam faladura largam os seus palpites quanto aos destinatários de certas passagens, frases, palavras e vírgulas. O endereço que desperta maiores certezas e entusiasmos é o do Governo. Tudo o que pareça ser mensagem de Belém para S. Bento é exaustivamente analisado e repetido. Este frenesim prova que os discursos presidenciais são opacos e equívocos, caso contrário ninguém perderia tempo com hermenêuticas de café feitas em cima do joelho. Passaríamos para as consequências das intervenções. Ora, nunca há consequências, diga lá o Presidente o que disser, nem mesmo quando chega ao ponto de profetizar uma situação explosiva. Não admira que a Casa Civil aposte antes no poder de um outro tipo de verbo Público para levar a água ao seu moinho.
Existe um certeiro índice de avaliação dos discursos presidenciais chamado CHACHA (Converseta Habitual e Aparvalhada para Cavaco Hipnotizar as Audiências). Existe porque o acabo de inventar, o que muito me facilita a sua aplicação. Resulta da soma de três indicadores: a taxa de inanidade, a taxa de aborrecimento e a taxa de sonsice. O índice varia de 0 a 10, sendo 10 o valor correspondente à chachada máxima.
Vejamos citações retiradas do discurso proferido hoje, em Faro, por Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa – pedindo antecipadas desculpas pela reduzida quantidade exibida face à quantidade de exemplos ao dispor no texto:
É nosso o dia, pois é nosso o tempo presente. Aos olhos da História seremos responsáveis perante a memória daqueles que nos precederam e, acima de tudo, pela herança que iremos deixar aos Portugueses de amanhã.
Com que então, estamos no presente. E no futuro falarão de nós. Quem diria.
Índice de CHACHA: 10
Levámos a Europa por esse mundo fora. No entanto, mesmo quando estivemos longe, nunca nos esquecemos do lugar de onde partimos. Não por acaso, temos as fronteiras mais antigas da Europa.
Temos as fronteiras mais antigas porque aqueles que levaram a Europa não sei para onde ficaram cheios de saudades. Certo.
Índice de CHACHA: 11
A forma admirável como os Portugueses se ergueram para ajudar a Madeira, na sequência da trágica intempérie de 20 de Fevereiro passado, é a prova mais forte de que somos, como sempre fomos, uma nação solidária. Quando uma das parcelas do território é atingida pelo infortúnio, todas as outras acorrem em seu auxílio. O apoio que demos à Madeira foi uma comovente lição de portugalidade.
O infortúnio é causado por chuvas em encostas densamente urbanizadas e sem as devidas condições de escoamento das águas. Nessas situações, os portugueses mostram o que valem. Mas Cavaco poderia, igualmente, ter falado nos infortúnios ocorridos em bancos que conhece bem como iluminado economista que é. E tão bem os conhece que até encheu o bolso à conta deles e foi cobrindo de poder e glória alguns dos seus responsáveis. Também aí recolhemos comoventes lições de portugalidade.
Índice de CHACHA: 12
Um país é feito de pessoas. Por isso, é nos Portugueses, em todos eles, que têm de se concentrar as prioridades de uma agenda social e política verdadeiramente orientada pelos valores da justiça e da coesão.
É uma ideia vanguardista, esta de os países serem feitos de pessoas. A maior parte dessas mesmas pessoas sempre acreditou que os países eram feitos de plasticina. Mas, ’tá bem, iremos reflectir no assunto.
Índice de CHACHA: 20
É tempo de nas empresas todos juntarem esforços, capacidades e competências, norteados pelo sentido de justiça e de realismo que a situação exige. A melhoria da competitividade é decisiva para a criação de emprego.
É tempo? Mas quando é que não foi tempo de se juntarem esforços nas empresas e melhorar a competitividade? Antes da Revolução Industrial?
Índice de CHACHA: 25
Os Portugueses anseiam por limpar Portugal, aspiram a um País mais são, mais limpo, não querem viver numa atmosfera carregada e irrespirável, numa paisagem cercada de lixo e desperdício.
Uma paisagem cercada de lixo e desperdício deve ser uma paisagem onde ninguém anda ao cartão e há abundante consumismo, muito longe dos cenários de desgraça pintados pela retórica cavaquista e dos cavaquistas. Entretanto, quem viaja por Portugal vê localidades cada vez melhor ordenadas, mais limpas, exemplarmente cuidadas. Há verdadeiros paraísos urbanos e paisagísticos no interior do País, já para não falar na consistente redução dos bairros de lata nas grandes cidades.
Índice de CHACHA: 29
Aquilo que se pede aos Portugueses da actualidade não é menos do que aquilo que se exigiu àqueles que no século XIII reconquistaram o Algarve.
Como avisei na altura devida, chegámos a uma situação insustentável. Pela frente, temos grandes trabalhos, enormes tarefas, inevitáveis sacrifícios. Mas não foi com o desalento que se construiu Portugal. Não foi o desânimo que nos levou à Índia.
Foda-se, senhores ouvintes. O que nos pede o Presidente é que desatemos a malhar na mourama antes de zarparmos para a Índia numa casca de noz. Não sei, não… Venha antes essa situação insustentável que a malta trata do assunto sem arriscarmos a carcaça.
Índice de CHACHA: 44
As horas de infortúnio são momentos de responsabilidade. Este não é o tempo para querelas partidárias ou quezílias ideológicas que nos possam distrair do essencial. O essencial são os problemas concretos dos Portugueses.
Acontece que os problemas concretos dos portugueses estão essencialmente ligados às querelas partidárias e às quezílias ideológicas, fruto de um Parlamento onde a oposição não tem projecto alternativo nem vontade de coligação com o PS. Para quem está na política desde 1980, tendo sido primeiro-ministro durante 10 anos seguidos de fartura financeira oriunda dos fundos comunitários, vir falar de distracções é não ter qualquer noção do que se passa à sua volta.
Índice de CHACHA: 1000
Chacha
de um politico assim a modos que um pouco…
cheche…
de outro modo
teria pudor de dizer muito
como o que hoje reuniu
de modo completamente obtuso e impróprio
de um presidente de todos portugueses
no seu discurso do dia de Portugal
abraço
Bem……………nesta onda…talvez fiquemos mais animados se dançarmos o CHACHACHA!:):):)
Um discurso medíocre, sem dúvida.
:-)
As palavras OCO e FALSO poderiam também fazer parte do Indice-da-Chacha.
(Mas é um bom economista, consegue juros de 150% para ele e não só, quando os portuguses que ele tanto gosta conseguem 15% no máximo, se entretanto o banco/Sociedade foi falência não é nada com ele é com o gestor de contas que contratou. E daquí lava tranquilamente as suas mãos. Gatuno)
LOL. Só tive pena de o índice de CHACHA não surgir decomposto pelas suas 3 taxas.
Este modelo está morto, é o que se deduz mais dos gestos que das palavras do coveiro. Agora é preciso enterrá-lo e não há drama nenhum, nasce outro; é o que acontece no processo biológico e a Natureza é a nossa matriz. Tenho esperança que a metamorfose, seja a Regionalização; o Algarve, Madeira e os Açores são a prova de que esse é o caminho certo.
Val,
Estou em lágrimas. Não sei o que dizer!
Li este post e chorei como uma Madalena.
Grande, enorme momento de crítica literário-político-chachiana!
Absolutamente brilhante, infelizmente oportuno e simplesmente assertivo!!!
Concordo: esta presidencia é mesmo uma chachada. Não acredito que ele ganhe. Já nem o Papa gosta dele. Será que na sua sanha contra-Socrates vai, num dia destes, dissolver a AR? Os seus discursos parecem estra milimetricamente programados para esse gesto final. Marcelo diz que seria uma tontice derrubar o governo agora, mas o Pacheco penso o contrário. E o Pacheco é que sabe o que o PR vai fazer. Atenção aos idos de Agosto! É o mês da «inventona» e também o pode ser da «intentona». Quando de uma forma terrorista diz, numa altura destas, que ´Portugal está numa situação insustentável, que havemos de esperar? E quando Portugal apresenta um dos maiores crescimentos económicos! Cinicamente, sabe que Portugal está bem encaminhado para superar a crise, como demonstram as previsões económicas. Uma dissolução da AR já não vai fazer perigar o barco. Aposto que não vai esperar por 2011, até porque não é certo que, nessa altura, PCP e BE votem ao lado da direita.
A espionagem politica não deu o resultado que se esperava e por isso há que lançar mão da bomba atómica. E ele vai usá-la. O discurso da chachada é bem mais quem uma grande chachada.
Alerta à navegação:
Em toda esta chachada, há um número enorme de distraídos, me memória curta, prontos a ouvir conversas de chacha. Julgo que o discurso foi bem montado, talvez por quem já faça parte da sua comissão eleitoral…
Eu diria menos, é de CACA.
Vacuidade e adwords.
Parabéns pela crítica certeira. Só acho que foi modesto na avaliação. O flatulento discurso valia índices mais altos!
Jasus! Quem assim escreve, sabe usar como ninguém o teclado do computador. Demolidor. Nem na Capadócia seria melhor.
É ler isto e ler o artigo do JMF no Público de hoje sobre o mesmo discurso. Hilariante.
Mas afinal quem é que lhe escreveu o discurso? Alguém sabe? Talvez o Aguiar?
iste falar com jeitinho, mansinho deste PR, surpreende coa tralha que leva no fundo, mas semelha um pouco ser o jefe da oposição que o bom pai de tudos os cidadãos. Assim espido e mostrado o público de esa forma é o justo, demolidor o post.