Cavaco não é nenhum Sócrates

Sócrates foi alvo de investigações pela Judiciária, inquéritos pelo Ministério Público, averiguações pela Câmara da Guarda, escutas pelo DIAP de Aveiro e deliberações do Supremo Tribunal, a que se soma a perseguição implacável da imprensa e da oposição. Nada se provou contra ele, sequer alguma vez foi considerado suspeito fosse do que fosse aos olhos da Lei ou meramente constituído arguido. Sócrates, portanto, oferece boas razões para o considerarmos um dos cidadãos mais honestos que moram e trabalham em Portugal, posto que a sua vida tem sido virada do avesso e devassada publicamente, nada se encontrando de ilícito.

Já Cavaco, como dizem convictos e informados os seus apoiantes, é diferente de Sócrates em tudo e mais alguma coisa.

34 thoughts on “Cavaco não é nenhum Sócrates”

  1. A descoberta das similaridades fica para mais tarde, quando sardas e sherlocks inteligentes começarem a dar à costa de lupa no olho, muito inquisitivos, talvez na preia-mar do solstício deste Verão.

  2. Caro Valupi,
    O que, verdeiramente, gostei foi do seu magnifico final: (…) “é difrente de Sócrates em tudo e mais alguma coisa.”
    Touché.
    Depois, bem, depois há aquele dito popular: “A verdade é como o azeite…vem sempre ao de cima.”

  3. Porque a memória é uma condição indispensável à nossa vida e também à própria vida política, pedia-vos, se possível, para recordarem aqui no Aspirina B a todos nós, em formato de notícias ou (desejavelmente) de imagens, várias passagens normalmente esquecidas pela nossa “suave” Comunicação Social da trajectória política de Cavaco Silva. Começamos pelo BPN, mas, para que não se diga que está tudo centrado nessa questão, há mais 12 recuerdos de Cavaco e sus muchachos, um por dia da campanha eleitoral que hoje se inicia (desculpem o testamento, mas aqui vai…):

    – as notícias e imagens dos seus (não) esclarecimentos e/ou mesmo declarações incoerentes sobre o processo BPN, dizendo que não tinha dinheiro no BPN (afinal era na SLN), não explicando o contexto das mais valias de mais de 140% em dois anos (um economista que se vangloria da sua seriedade, experiência e conhecimento dos mercados entranhou e não estranhou esta… pseudo-lotaria?) e defendendo Dias Loureiro a todo o transe até ao limite do insustentável. Curiosamente e certamente apenas por mera coincidência, nos dias seguintes à demissão de Dias Loureiro do Conselho de Estado, a primeira página do Expresso abria com a notícia dos notáveis lucros das transacções das acções não cotadas de Cavaco na SLN… Enfim, todos nós precisaríamos certamente de nascer duas vezes para ter níveis de lucro assim; agora, pelo contrário, todos nós teremos certamente que trabalhar por dois para… pagar mais valias como estas de Cavaco e sus muchachos;

    – as imagens da tristemente célebre declaração de Cavaco em Março de 2002 na Faculdade de Economia do Porto a propósito dos funcionários públicos “Como é que nos vemos livres deles? Reformá-los não resolve o problema, porque deixam de descontar para a Caixa Geral de Aposentações e, portanto, diminui também a receita do IRS. Só resta esperar que acabem por morrer”. Enfim, precisamos de ter em Belém alguém que, além de refinado humor e bom gosto, constitua um paladino do Estado Social…;

    – as imagens da célebre declaração com que Cavaco deixou cair Fernando Nogueira nos dias finais da campanha do PSD em 1995, ou as notícias sobre as suas recusas em aparecer nos cartazes de campanha ao lado de ex-lideres do PSD em 2005 e em pagar parte das despesas de campanha de Freitas do Amaral após a derrota na segunda volta das Presidenciais de 1986. Enfim, necessitamos de alguém em Belém dotado de elevados princípios de solidariedade institucional com quem possamos contar nos momentos de dificuldade;

    – da participação da Presidência da República de Cavaco Silva no famigerado processo das escutas, que, num País normal, exigiria pelo menos um inquérito sobre se foram ou não cometidos quaisquer tipos de crimes de responsabilidade de titulares de cargos político (esta lei prevê várias hipóteses – atentado contra Estado de Direito, coacção contra orgãos constitucionais, prevaricação, abuso de poderes, violação de segredo) e, a confirmar-se a intervenção do Presidente, a sua própria demissão. Sobre isto vale a pena ouvir um depoimento efectuado por Sarsfield de Cabral na altura na SIC Notícias – que, além de apoiante de muitos anos, já trabalhou directamente com Cavaco – onde afirmou que, na sua opinião, conhecendo bem Fernando Lima, este nunca faria nada sem orientações do Presidente. Enfim, precisamos de alguém em Belém rodeado por pessoas também elas eivadas de inatacável sentido de Estado e que nunca tenham recorrido a conspirações (em pastelarias da Avenida de Roma, ou noutro sítio qualquer) para pôr em causa a acção de outros órgãos constitucionais…;

    – da forma lamentável como foi lançada e gerida, nos Governos de Cavaco Silva, a primeira Parceria Público Privado da Ponte Vasco da Gama (se alguém tem dúvidas sobre se isto é uma PPP leiam o livro ou ouçam as declarações do Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas Carlos Moreno), processo que esteve na origem, aliás, do famoso bloqueio da Ponte 25 de Abril (os novos preços impostos na Ponte 25 de Abril resultavam do acordo de concessão; como os preços na Ponte 25 de Abril foram depois revistos em baixa, a Lusoponte teve que ser largamente compensada – a decisão foi anunciada pelo Ministro Ferreira do Amaral que, uns tempos mais tarde, passou a presidir à… Lusoponte). Enfim, precisamos de alguém em Belém que, de facto, conheça como poucos os enormes buracos das PPP…;

    – o brutal buraco financeiro e a forma absolutamente inqualificável como foi conduzido pelos Governos de Cavaco Silva o processo de modernização da linha de caminho de ferro do Norte (várias centenas de milhões de contos – repito centenas de milhões de contos – com deslizamentos orçamentais e temporais impensáveis, para ganhos nulos nos tempos de percurso), originando um brutal desperdício de recursos públicos. Ou ainda, os vultuosos prémios contratuais atribuídos pelos Governos de Cavaco Silva a empreiteiros adjudicatários de diversas obras públicas para que as mesmas fossem concluídas em timings compatíveis, claro, com as eleições legislativas. Enfim, precisamos de alguém em Belém que, de facto, tenha experiência no combate contra os desperdícios das grandes obras públicas…;

    – a forma como os Governos de Cavaco Silva não cumpriram por diversas vezes a Lei das Finanças Locais e abriram um buraco na Segurança Social ao não transferir as verbas estipuladas em termos legais. Enfim, necessitamos de alguém em Belém com apurado sentido institucional e que defenda como ninguém o Estado de Direito em Portugal;

    – a entrevista ao Expresso de Miguel Cadilhe, Ministro das Finanças do primeiro Governo de Cavaco Silva, onde ele afirmava peremptoriamente que Cavaco foi o pai do “monstro” pelas implicações que teve o regime remuneratório da função pública (e sobretudo as múltiplas excepções criadas – fazendo praticamente com que, de facto, a excepção seja o regime… normal) aprovado pouco antes das legislativas de 1991… Recordo, também, o processo de negociação com os parceiros sociais dos aumentos salariais em 1991 (ano de eleições, pois claro) em que, tanto quanto me recordo, o Governo de Cavaco Silva propôs aumentos superiores aos propostos pela delegação da própria … CGTP… Enfim, é essencial termos alguém em Belém que, em nome de eleitoralismos fáceis, não tenha contribuído para onerar significativamente as próximas gerações, actuando sempre, pelo contrário, com a preocupação central da sustentabilidade futura do Estado Português;

    – a forma caótica como foram geridos os fundos estruturais – em particular o FSE e o FEOGA – nos Governos de Cavaco Silva. Sobre o FSE há notícias várias e processos diversos no Tribunal. No Feoga, há certamente noticias e imagens, por exemplo, da visita com pompa e circunstância, de Cavaco à Odefruta, bem como aos seus elogios estusiásticos ao projecto protótipo de sucesso do milionário francês Thierry Roussel – projecto que permitiu a este último deitar a mão a um milhão de contos – 5 milhões de euros! – em fundos comunitários e ajudas do Estado português e “dar às de Vila Diogo” cerca de um ano depois…. Enfim, é fundamental elegermos alguém para Belém que a União Europeia reconheça como bom exemplo do rigor e qualidade na utilização dos recursos comunitários…;

    – ainda a propósito do seu mítico rigor e competência recordo aqui também o famigerado “coeficiente de erro de Braga” (assim baptizado por Paulo Portas, sim, esse mesmo, então Director do Independente devido ao nome do Ministro das Finanças, Braga de Macedo, sim, esse mesmo), quando no fim de 1993 o Governo de Cavaco Silva atingiu um défice público elevadíssimo, cerca de três vezes superior ao que tinha estimado no inicio do ano (uma das principais razões desse catastrófico lapso de previsão terá sido provocado pela decisão da então Senhora Secretária de Estado do Orçamento – essa mesma, a também muito competente e rigorosa Manuela Ferreira Leite – de despedir contratados da DGCI, o que, associado a alterações legais, teve como brilhante resultado que nesse ano e a partir desse momento o Estado praticamente deixou de arrecadar o IVA). Enfim, é crucial ter alguém em Belém que tenha grande capacidade de previsão e rigor inatacável na gestão das contas públicas…;

    – recordo também notícias da proposta de demissão de Cavaco Silva da Universidade, efectuada pelo Conselho de Reitores em 1985, por ter-se ausentado do serviço docente que lhe fora atribuído. Esta proposta não terá ido para a frente porque Deus Pinheiro, na altura ministro da Educação do Bloco Central, segundo essas notícias, lhe teria concedido licença sem vencimento sem que para isso tivesse qualquer competência. Enfim, precisamos de alguém em Belém que constitua um exemplo irrepreensível de profissionalismo para todos os portugueses…;

    – lembro também as notícias sobre a falta de transparência e casuísmo que terão marcado os processos de privatizações e negociações de aquisições de bancos e seguradoras (recordam-se, da Tranquilidade ou do Totta / Banesto?), ou sobre a forma atabalhoada e pouco rigorosa como foi lançada e realizada nos Governos de Cavaco Silva a criação das universidades privadas (regra geral, sem a mínima garantia ou exigência de qualidade do ensino). Enfim, necessitamos de alguém em Belém que seja um exemplo de rigor, exigência e transparência nos processos de negociação e/ou interacção entre o Estado e os privados…;

    – a propósito do controlo da comunicação social recordo também o Ministro do Governo de Cavaco que, segundo notícias da altura, combinava com o Director de Programas o alinhamento dos telejornais da RTP – pois, esses mesmos que agora rasgam as vestes pela asfixia democrática – o Marques Mendes e o José Eduardo Moniz. Recordo também as notícias sobre o processo de atribuição de licenças de rádios e televisões nos Governos de Cavaco Silva – e que fez com que parte relevante da comunicação social privada tenha, então (alguns desde então), ficado sob a dependência de grupos económicos mais ou menos sintonizados com os Governos de Cavaco Silva e sus muchachos (por exemplo, alguém já se esqueceu do afastamento da “incómoda” TSF das licenças nacionais?). Enfim, precisamos de alguém em Belém que tenha no seu curriculum um respeito exemplar pelo papel e pela isenção da comunicação social…;

    Há mais, muito mais, para recordar e para acabar de vez com o mito construído pela Comunicação Social do homem providencial, um poço de virtudes, que raramente tem dúvidas e nunca se engana… Enfim, só a “suave” imprensa nacional não vê ou não quer ver que… Cavaco rima com… buraco… Recorrendo àquela máxima famosa da política brasileira – com o actual Governo Sócrates, chegamos à beira do abismo; com Cavaco (e sus muchachos) daremos certamente o passo em frente…

  4. PGS:

    maravilha… obrigado…

    se de facto se conseguissem as imagens respectivas

    seria bom serviço ao pais e a democracia

    abraço

  5. Para mim Cavaco Silva deixou de merecer credibilidade e respeito quando em 1995 tomou uma atitude ignobil para com Fernando Nogueira, que foi sem sombra de duvidas o seu Ministro mais limpido e fiel, e que inclusivamente foi um dos grandes obreiros da sua chegada ao poder.
    A gratidao e algo fundamental na vida, mas a falta dela faz com que deixemos de ter o minimo respeito por quem faz da vida um mar de hipocrisia.
    Depois desse triste episodio, Cavaco repetiu inumeras lamentaveis situaçoes culminadas com uma presidencia vergonhosa a fazer lembrar o pior que Americo Tomaz tinha em termos de cortar fitas e abanar a cabeça de vitela…
    Por opçao pessoal nao votarei em absolutamente nenhum dos candidatos, e so lamento que os portugueses nao façam um autentico boicote as eleiçoes, para que essa corja de politicos perceba de uma vez por todas que os portugueses nao querem continuar a ser mera carneirada…

  6. PGS,

    Que granda manta, pá, já tavas avisado do tema deste post ou isto é pura sincronia.!

    E quem é o rei da IRONIA nesta terra? É o Cavaco quando disse isto referindo-se a funcionários publicos:

    “Como é que nos vemos livres deles? Só resta esperar que acabem por morrer”,

    ou és tu quando dizes isto com Cavaco em mente:

    “…um poço de virtudes, que raramente tem dúvidas e nunca se engana…”.

    E reparo que a tua “dúzia” ainda é melhor que a dúzia de padeiro. Vê lá não rebentes com a padaria!

    E, na minha tabuada, um milhão de contos equivale a cinco milhões de Euros e duas centenas de milhões de contos equivalem, pelo menos, a um bilhão de Euros! Isso não será carril a mais para remendar a linha? Ou então sou eu que já não sei o valor do chouriço!

    Amanhã vai aqui aparecer aqui um post sobre uma praga de gahfanhgotos em Marrocos. Prepara a papelada.

  7. Só gostava de acrescentar à brilhante análise do Val que, a perseguição mais vergonhosa suja e claramente manipuladora partiu do sindicato do MP, na altura liderado pelo famigerado Cluny e agora entregue ao abstronso do Palma.

  8. PGS, sem saber se tudo o que dizes poderá ser confirmado, gostei do teu comentário, pois pega nos erros políticos e de gestão ao invés das suspeitas de ilegalidade que dominam a preguiça dos jornalistas e comentadores.

    o mesmo seria possível com sócrates, se em vez de lhe procurarem os podres e o isentarem por ausência de prova, pegassem nas medidas concretas. um exemplo do conhecimento de todos são os magalhães: por que razão foram meter-lhe um software proprietário, que implica os inerentes pagamentos de licença? e ainda produziram a caixa mágica, que custou dinheiro e é uma merda, ao invés de traduzirem o edubunto, excelente sistema operativo educativo e devidamente testado (constantemente actualizado)? o mesmo poderia ser dito para toda a parafernália informática paga por dinheiros públicos, cujo peso seria dramaticamente reduzido com a passagem ao software livre, para mais muito menos sujeito a infecções. tenho perguntado isto, mesmo em blogues ‘de esquerda’, desde 2008 (porque foi nesta altura que ‘acordei’ para a questão, poderia ter sido antes) e nunca ninguém se deu sequer ao trabalho de assinalar a questão, respondendo-me.

    à soma destas coisas ‘pequeninas’, pode juntar-se a pobreza das análises resultantes em decisões, verificáveis no site no governo, para as quais sócrates remeteu os entrevistadores josé alberto carvalho e judite de sousa, na famosa entrevista (2008? 2009?), em que supostamente o primeiro ministro ‘arrumou’ os dois. estes não se terão dado ao trabalho de ir ver esses mesmo pareceres, nem antes da entrevista, nem depois. eu fui, curiosa, e era patético. numa das respostas, sobre um troço de autoestrada posto em causa na entrevista, o parecer concluía qualquer do género: como as estradas aumentam a mobilidade das população e as trocas comerciais, logo, a estrada é boa. em tudo uma enorme pobreza científica, própria do facilitismo em que a coisa é feita, em gabinetes ministeriais, por gajos sem capacidade e mesmo sem formação específica, tudo em cima dos joelhos.

  9. susana, achas que deviam ‘pegar’ em medidas concretas e dás como exemplo o Magalhães. O Magalhães?!
    Mas não foi essa ‘medida concreta’ que até direito teve a uma Comissão de Inquérito? Se isto não é pegar…

  10. A diferença está em que um come bolo-rei e fala com a boca cheia atirando bocados do bolo para cima do pessoal e o outro não.
    Quem é quem?

  11. pois, guida, nem leste, foste logo pelas ilegalidades, como indicia a tua “comissão de inquérito”. como poderás verificar, se leres o que escrevi, estou a falar de decisões mal estudadas, não de ilegalidades.

  12. É DE LAMENTAR NÃO VER CAIXAS DE COMENTÁRIOS A FALAR SOBRE VICTOR ALVES UM DOS HERÓIS DO 25 DE ABRIL.
    NO ENTANTO, ENTANTO ENTOPEM-SE CAIXAS DE COMENTÁRIOS COM TRICAS, MEXERICOS E PORCARIAS
    AS REVOLUÇÕES DEVORAM SEMPRE OS SEUS HERÓIS.

  13. Li, li, susana, mas tens razão, saltei demasiado rápido para a Comissão de Inquérito. Contudo, podia nem ter falado nela já que as críticas ao projecto foram de todos os tipos e choveram de todos os lados. A Comissão de Inquérito foi o culminar. Como tal penso que não é grande exemplo para ilustrar o que dizes. Por outras palavras, estás longe de ser a única a classificar a caixa mágica como uma merda.

  14. PGS,
    Ficou esquedida a célebre frase de verdadeira ignorante governanta doméstica sobre economia: de que na bolsa “andam a vender gato por lebre”.
    Essa tirada dum pm que é prof. de economia, fez que a bolsa no dia seguinte tivesse uma queda de cerca de 5%, talvez ainda a maior de sempre na bolsa portuguesa.
    Cavaco é o maior bluff da vida política portuguesa em democracia.
    Um cavaquista manhoso qualquer dizia há dias que com o caso BPN queriam transformar Cavaco num Sócrates. Uma impossibilidade pois uma raposa jamais pode ser leão.
    Depois de Sócrates a política em Portugal já não será mais a mesma do tempo cavaquista. Não só porque têm de ir ao parlamento quinzenalmente sujeitar-se ao inquérito dos deputados(o tal devia fazê-lo mensalmente mas fugia dessa obrigação quase por norma), mas porque o povo com muito maior escolarização fará um escrutínio mais apertado. Mas sobretudo porque comparará uma governação independente dos grupos económicos com um governo que se sumeterá a esses mesmos grupos, comparará um estilo de governação com variadas ideias inovadoras contra a aplicação das velhas ideias-receitas gastas, comparará uma governação que actua no sentido da ciência e do progresso e não pelo lado da moral piedosa e caridade por um lado e dureza bruta por outro, tipo “cenoura ou pau”.
    E o medo de assumir a governação é tanto que se pelam de fazer apelos ao FMI para servir de ama e passa culpas simultâneamente.

  15. claro que sim, actualmente é consensual, já houve experiência sobre o assunto. a questão não é se eu digo ou não digo. o que assinalo é que apesar de se terem levantado vozes no início do ‘magalhães’ contra o modo como este projecto estava (mal) pensado, os críticos preferiram sempre uma ilegalidadezinha, uma suspeita de desonestidade, à discussão da competência (que dá mais trabalho). não deveríamos precisar de pôr em causa o carácter de alguém para o criticarmos, e estas celeumas e escandalos remetem a discussão sobre a competência para secundaríssimo plano.

  16. susana, a verdade é que quando se trata de criticar Sócrates vale tudo. E o projecto Magalhães é um bom exemplo disso, por isso discordei do teu primeiro comentário. O que para muitos, nos quais me incluo, foi uma excelente ideia, para os críticos de tudo o que tenha a ver com Sócrates a cegueira foi tal que só lhe encontraram defeitos.
    Por acaso é estranho que com o tempo de utilização não tenham aumentado as críticas, se calhar não foi assim tão mal pensado. :)

  17. Se as revoluções devoram sempre os seus heróis temos aqui uma prova de que a nossa é coerente, camarada Soeiro. 25 de Abril sempre, pelo que vale e não por quem o fez. Mainada!

  18. guida, creio que o preconceito te leva à perda de objectividade. ninguém comentou a “ideia”, mas a resolução do processo. o que está em causa é a distribuição de computadores, o custo dos mesmos, as opções certamente menos onerosas que poderiam ter sido tomadas e não foram. quando as escolas em muitos casos não têm computadores disponíveis (é o caso da escola de um dos meus filhos, pediam-lhe para levar o magalhães – antes deste pifar – para os trabalhos de turma). penso que ideias boas há aos magotes, qualquer um tem muitas, basta ver as campanhas eleitorais. a escolha entre boas ideias é que é o trabalho de um governo, saber quais as melhores e qual o processo que reúne melhores condições, incluindo a ‘relação qualidade/preço’. dei este exemplo por, precisamente, reunir consenso: toda a crítica especializada comentou, desde o princípio, que um computador tão fraquinho iria suportar mal o peso de dois sistemas operativos. e que era um disparate, dado que não se destinava a jogos (nem pode, não tem capacidade, nem placa gráfica adequada, etc.), comportar o windows, despesa maior e inútil. e a mesma opinião, especializada ou dos pais dos utentes, reina sobre a caixa mágica. entendes? o que está em causa não é saber se ‘um computador por aluno’ é uma boa ideia, é tão boa que até parece tirada de uma cartola de banalidades; do que falo é da execução, aquela competência que se requer de um executivo.

  19. Então, ao contrário do que sugeres no teu primeiro comentário, já toda a crítica especializada se tinha pronunciado. Afinal, neste caso, não foram só atrás das ilegalidades, como defendias…

    Temos coisas em comum, também tenho um utilizador do Magalhães cá em casa, mas não devemos viver no mesmo país. Que país é o teu em que há boas ideias, e logo aos magotes, nas campanhas eleitorais?

    E, já agora, fiquei curiosa, que preconceito é esse que me retira a objectividade, susana?

  20. lapso meu: queria dizer que toda a crítica especializada é consensual agora, alguns geeks ocasionais (mas especializados) assinalavam no início em blogues, etc.. perdi-me a meio da frase, que não reli.

    boas ideias? então e coisas como saúde gratuita e célere, ou ensino gratuito, para todos, não são boas ideias? mas, consta, demagógicas, porque não há dinheiro. não foi o caso do magalhães, que comento por ser um exemplo criticável sem acenar à trapaça. o tal preconceito é aquele que te invade a capacidade de interpretação quando vês alguém criticar sócrates: só pode ser mais alguém a perseguir injustamente o coitadinho, a “só lhe encontrar defeitos”. sim, o processo do magalhães tem defeitos graves e esses defeitos aumentaram o seu custo, diminuindo o seu valor na directa proporção. e tu só consegues responder-me que também tens um em casa e que estás contente com ele. isso parece ser para ti prova suficiente de ter sido dinheiro bem gasto.

    dou-te um exemplo que, parece-me, te mostrará quão grotescas as consequências. conheço várias famílias da ‘província’ que, com a iteração entre níveis de ensino das suas crianças, ficaram com mais portáteis do que cabeças em casa. mas não têm internet, porque a internet era paga. apesar de tudo conseguem-na gratuita, de um modo tão fácil: a junta de freguesia tem um plano ilimitado e colocou-o à disposição da população, com uma antena wifi. como é preciso estar nas imediações a comunidade só a usa quando precisa e sempre se vai juntando no parque. esta, por exemplo é uma boa ideia.

  21. Mas não me viste defender em lado nenhum que o Magalhães é perfeito e imune a críticas, nem tão pouco se estou ou não contente com o que tenho em casa. A minha discordância desde o início prende-se com o facto de teres escolhido um mau exemplo, já que, e volto a repetir, o projecto foi criticado de todas as formas possíveis pelos opositores do Governo. Só escapam os defensores, como eu, do ‘coitadinho’ do Sócrates. :)

  22. pois. e, em muitas dessas formas possíveis, justamente criticado. a minha crítica é relativa a opções distantes das melhores, a um projecto pouco ponderado, àquilo que as pessoas geralmente classificam como ‘amadorismo’. como reconheço ao amadorismo um estatuto variável de competência, prefiro falar de incompetência. não ponho em causa, já vês, sequer as prováveis boas intenções.

  23. CAVACO NÃO É NENHUM SÓCRATES! Pois não é, não, senhor! E bom seria que fosse.

    Muito se disse nas anteriores comentários. Há no entanto um pequeno (ou grande?!) pormenor que me parece não ter sido referido. Sinto por isso um particular prazer em fazê-lo.

    É que este país tem um Primeiro-Ministro que, numa situação completamente imprevista para ele, é capaz de atirar com uma oportuníssima citação de Fernando Pessoa à cara de dois entrevistadores apostadíssimos em entalá-lo. “Venha o que vier nada será maior do
    que a minha alma!”. Lembram-se?!

    Ah! Mas este país tem também um Presidente da República que se extasia perante a ordenha mecânica de umas vaquinhas mas ignora o número de cantos que tem os Lusíadas e afirma, sem corar de vergonha, que nunca leu nada de Saramago, o único prémio Nobel de Portugal. Um excelente representante da direita mais boçal e mais burra (como lhe chamou o Valupi) que desde sempre tem feito e, infelizmente, vai continuar a fazer a desgraça desta terra.

    Este homem que, impante de orgulho, afirma nunca ter lido Saramago creio que, para além dos canhenhos de Economia e Finanças, pouco mais terá lido na sua vida. A não ser talvez a História da Pulhice Humana do célebre Vilhena. Com ela terá aprendido algumas coisas que também o distinguem do Sócrates. Por exemplo enquanto ele Cavaco não hesita em trair os seus próprios amigos quando isso possa servir os seus interesses – as histórias são muitas e conhecidas – , Sócrates é capaz de estender a mão aos próprios “amigos” que disso não seriam merecedores.

    Assim se distinguem os homens uns dos outros!!

  24. Guida,
    Já reparaste, certamente, que a Susana é daquelas pessoas que só iniciam um projecto novo quando tiverem a certeza absoluta de que não haverá uma mínima falha. É uma perfeccionista perfeita. Contudo, a inovação e introdução de novas técnicas, equipamentos e modos de operar, tal como a investigação, tem de ser feito precisamente no conhecimento prévio que terá de ser aperfeicoado com a experiência.
    Pessoas como a Susana jamais arrancam com qualquer projecto seja do que for e limitam-se sempre e sempre a imitar: ou seja a repetir o que já foi testado e experimentado noutro lado. Pacheco Pereira que fez críticas severas sobre a maldade que era as criancinhas estudar com magalhães, também virou o bico e faz agora as mesmas críticas da Susana.
    A susana faz lembrar o monhé do “público” quanodo era seu director. Fez um editorial a garantir que seria impossível fazer a distribuição de tamanha remessa de computadores e, que de certeza muitos contentores seriam desviados a tal ponto que esperava brevemente comprar computadores na beira da estrada.
    Todo o projecto inovador tem riscos, ao homem de acção cabe analizar os riscos, avançar e trabalhar duro para ter sucesso, ao temerato tudo atrapalha e qualquer miudeza de dúvida serve de desculpa para ficar parado à espera. Depois o tempo passa, não faz nada mas ficam os piedosos argumentos de que não havia condições. Se outros arriscam e avançam, ficam os argumentos de que se poderia ser feito melhor: são pessoas excepcionais a “conferir” o trabalho dos outros.

  25. adolfo, não se trata de perfeccionismo nem de falhas. também não se trata, no magalhães, de “inovação técnica”, nem de “investigação”. se se tratasse, eu não me queixaria (mas se me contares qual foi a inovação técnica estarei pronta para mudar de opinião). falei de opções: consegues explicar-me por que razão o magalhães traz um windows, que reduz substancialmente a sua performance? gostava mesmo de saber. é que nem o desconhecimento da existência de software livre, que também foi lá colocado, pode ser invocado para tal decisão (o que de resto seria bastante grave).

    e, não te esqueças, eu não mereço tal discussão sobre a minha pessoa, nem sou o assunto em causa. mas que seria de esperar de alguém que recorre a termos como ‘monhé’ para desconsiderar alguém? sem dúvida que, em vez de responder com argumentos, revertesse para um ataque sem sentido, como o que acabaste de exibir. estranho que sejas tão pouco exigente com aqueles a quem confias o teu dinheiro, a ponto de te ser indiferente que ele possa ser mal gasto, até desbaratado.

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