Cagada à pressa, diria Otelo

A pergunta chave que se põe, logicamente, é: porquê a invasão? Mediu Putin, lógica, consciente e prudentemente as consequências de uma invasão de um país daquela dimensão com quarenta milhões de habitantes? Se a Ucrânia já estava política e ideologicamente pendendo para o ocidente e, especial e naturalmente, para os USA, força e chefe de fila do dito mundo ocidental, esperava Putin que bastava a grande ousadia e demonstração de força do acto de invasão para meter medo a todo o mundo ocidental? Se, neste tempo, quando a humanidade no seu conjunto está sujeita aos dois perigos que ameaçam destruir o planeta - como são as alterações climáticas e, precisamente, o eventual uso de armas nucleares - Putin se decide por um golpe duplo que acrescenta ameaça à vida humana quer por via do clima, quer por via de real possibilidade do uso de armas nucleares?

Putin talvez tenha sido enganado pelos seus conselheiros e militares superiores, mas seguramente foi, sobretudo, enganado por si próprio, pelo seu orgulho de ditador que faz o que quer dentro de portas de sua livre vontade. E de tão habituado a facilmente pôr e dispor a seu bel-prazer, pensou que o mesmo poderia fazer com o vizinho, o vizinho do vizinho e assim sem parar como é timbre do ditador vencedor; imaginou-se, sobremaneira, o tal czar que, citou recentemente, invadira a Finlândia para conquistar terras que, afinal, eram russas; o seu expediente de chamar “operação militar especial” não faz mais que desocultar a profunda opinião de Putin de que a Ucrânia é parte da Rússia e, por conseguinte, trata-se de uma operação de reocupação de território russo.

Este ponto de vista czarista de Putin faz levantar fantasmas no todo dos países europeus; se a Ucrânia é considerada território russo porque não os outros países seguidos uns dos outros? Como não pensar que Putin pensa, igualmente, que toda a Europa não é mais que a cabeça, o rosto e a tromba do gigante elefante russo que se estende do atlântico ao pacífico?

Talvez levado pela adulação serventuária dos oportunistas incompetentes que zelam religiosamente pelo culto de personalidade de Putin, este, que anda há anos a militarizar-se hipersonicamente para obter vantagens militares, pensou finalmente ter chegado o tempo de dar o golpe de misericórdia na Europa, diga-se UE, acomodada no fofo sofá tremendo de medo de perder a tranquilidade, o bem-estar e fartança e, portanto, facilmente dispostos a submeter-se e não lutar.

Assim, pensando neste comprimento de onda, decidiu invadir o vizinho sem mais, acusando-o de nazi, precisamente quando tomava uma actitude de carácter nazista ao invadir um país pela conquista de território e ganhar espaço para ser a grande mãe russa poderosa. Para tal, engendrou uma operação militar, à qual o Capitão Otelo chamaria uma cagada à pressa, que, pensada para ocupar a Ucrânia em quinze dias, já vai em mais de 15×15. E agora está metido num sarilho que tem dificuldade em gerir, como se nota pela ameaça, dia sim dia não, com disparos nucleares, levando-o ao disparate de dizer que, se necessário, defenderá sem pestanejar o povo russo com armas nucleares; desgraçada maneira de defender o povo russo.

Outra pergunta chave que se põe logicamente é: afinal o que defendem os putinistas? Qual a ideologia do regime putinista que tantos, por aqui, defendem tão zelosamente como se fora o paraíso? São saudades do “socialismo” de Staline, ou Brejnev, que levou a um regime que, depois de matanças em goulags, apodreceu por dentro por miséria e inconformidade de mãos caídas e inacção do povo russo? Pensam como o chefe Jerónimo que, referindo-se a Gorbathov, disse que fora um traidor por fazer cair o dito “socialismo” quando devia “aperfeiçoá-lo”? Aperfeiçoá-lo como? Levá-lo ao ponto limite do terror e uniformismo obsceno sobre o pensamento e a vida do povo como o boneco UN da Coreia do Norte? Ou como o “comunismo” chinês do Xi Ping onde as votações são tão unânimes, certinhas e igualzinhas, tal qual a marcha dos militares em parada, e a produção é cumprida, obrigatoriamente, à custa de trabalho infantil sem horário, sem férias, sem segurança social e sujeitos a represálias à mais pequena contestação? Por conta da ideia de “colonizadores” saqueadores que apontam à Europa querem - que por tal passado de há séculos quando o pensamento e ordem moral de tal época era outra e completamente diferente - querem, dizia eu, impor à Europa um sentimento de culpa e um retorno ao primtivismo das ideias que defendem.

Quer ideologicamente, quer na prática da vida corrente, é vê-los totalmente americanizados e europeizados de comportamentos, usos e costumes; fartos de liberdade e bem-estar, têm saudades do chicote?

Não acredito; só saliva e baba.


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Oferta do nosso amigo jose neves

19 thoughts on “Cagada à pressa, diria Otelo”

  1. “Se a Ucrânia já estava política e ideologicamente pendendo para o ocidente e, especial e naturalmente, para os USA, força e chefe de fila do dito mundo ocidental,”

    sim, após um golpe de estado que removeu um governante legitimamente eleito e em que os partidos que não estavam alinhados ou pendendo para o ocidente foram ilegalizados. depois, durante uns anos foram se tomando medidas cada vez mais provocatórias para as populações UCRANIANAS que não se reviam nesse governo e nas suas pretensões ocidentais: bombardeamentos, milicias neo nazis integradas no aarelho de estado e violencia nas ruas, proibição da utilização da lingua, etc.
    claro que se considerarmos que a soberania está acima de quaisquer outros valores, algo que o ocidente não faz, a russia nada teria a ver com o que acontecia ali mesmo nas suas fronteiras.
    mas o putin, influenciado talvez pelos lideres ocidentais, também não considera a soberania como valor acima de todos e decidiu que o melhor para a “sua russia” era mesmo acabar com aquela brincadeira em kiev.
    quando o neves incluir estas informações no seu raciocinio talvez modifique as conclusões.

  2. “Outra pergunta chave que se põe logicamente é: afinal o que defendem os putinistas? ”

    aqui o neves está a falar do lula, do papa francisco, ou do kissinger? é importante saber porque “estes putinistas” podem defender coisas ou regimes diferentes e serem ao mesmo tempo todos contra 1. esta guerra, 2. as provocações da NATO, 3. o regime nazi de kiev

  3. aula de historia no brasil em 2042

    professor: então os bolsonaristas não aceitaram a derrota e boquearam a principais estradas do país.

    aluno: e o que desbloqueou a situação, professor? a policia, o exercito?

    professor: não, zezinho. tinha rodada do brasileirão nesse fim de semana e as torcidas organizadas furaram os bloqueios na paulada, retornando o país à normalidade

  4. Excertos da minha muito aguardada e magnífica obra em 666 andamentos “Aritmética para Totós”, brevemente numa tasca perto de si:

    1° andamento — A Europa, de acordo com declarações recentes da porteira Ursula von der Lies, tem 447 milhões de habitantes (não sei se ela incluiu os 67 milhões de britânicos). Os EUA têm 330 milhões e o Canadá 37 milhões (não vale a pena sequer falar em Austrália, Israel, etc.). A Rússia tem 145 milhões. Mas o irremediável homenzinho das neves acha que:

    “o ponto de vista czarista de Putin faz levantar fantasmas no todo dos países europeus; se a Ucrânia é considerada território russo porque não os outros países seguidos uns dos outros? Como não pensar que Putin pensa, igualmente, que toda a Europa não é mais que a cabeça, o rosto e a tromba do gigante elefante russo que se estende do atlântico ao pacífico?”

    Ou seja, de acordo com o irrecuperável totó das neves, 145 milhões de russos preparam-se para vir por aí abaixo, papando pelo caminho 447 milhões de indefesos europeus e chegando ao cabo da Roca antes que 330 milhões de americanos e 37 milhões de canadianos tenham sequer tempo para encher os depósitos das barcaças e aviõezinhos para vir dar uma ajudinha. Fauda-se que é obra!

    2° andamento — A América do Norte (EUA e Canadá) possui 2803 aviões de combate. A Europa sozinha tem 2113. Rússia e CIS (ex-URSS ou aliados) têm 1859. Ou seja: a Europa sozinha tem mais aviões de combate do que Rússia e Aliados. América e Europa juntas somam 4916, contra 1859 da Moscóvia e arredores. Traduzindo: 2,6 passarões ocidentais para cada passaroco moscovita.

    3° andamento — A América do Norte (EUA e Canadá) possui 5581 helicópteros de combate. A Europa sozinha tem 3323. Rússia e CIS totalizam 1927. Ou seja: a Europa sozinha tem mais helicópteros de combate do que Rússia e Aliados (quase o dobro). América e Europa juntas somam 8904, contra 1927 da Moscóvia e arredores. Resumindo: 4,6 contra um.

    4° andamento — Os EUA têm 10 porta-aviões ao serviço, com mais três em construção e outros sete planeados. Dispõem ainda de nove porta-helicópteros. O Reino Unido tem dois porta-aviões e a França um. A Rússia tem um único porta-aviões velho e podre, que passa a maior parte do tempo no estaleiro, a tentar, debalde, recuperar das maleitas da velhice.

    Mas o lamentável xexé das neves prepara-se para cavar trincheiras no cabo da Roca, Xabregas e Poço do Bispo, assessorado pelo genial general Xalupi von Aspirinovski, que, inspirado em Tucídides (e suspeita-se que também Clausewitz, Sun Tzu, Giap e Marighella), já em 3 de Março corrente informara as massas ignaras de que “A Rússia invadiu um país cujo exército é cem vezes inferior ao seu”! Pobre Aritmética, os porradões que levas nesses cornos!
    Aqui: https://aspirinab.com/valupi/putin-nao-le-tucidides/

    Para os números atrás referidos de passarocos bélicos, ver aqui:
    https://www.flightglobal.com/reports/world-air-forces-directory-2022/146695.article
    Descarregar o PDF e conferir páginas 8 e 9. Trata-se da revista britânica de aeronáutica ‘Flight International’, a mais prestigiada e bem informada do ramo, com informação pormenorizada e actualizada sobre TODOS os brinquedos voadores de todas as forças aéreas de todo o mundo, dos EUA à Rússia, passando por Portugal e Burkina Faso. Em Dezembro próximo sai novo exemplar, com números actualizados, que incluirão certamente a redução dos efectivos russos e ucranianos em resultado da guerra.

    Post scriptum — Para os restantes 662 andamentos da minha magnífica criação tereis de adquirir a obra completa, que sairá brevemente (talvez no próximo século), em papel cuxexé (a pensar no neves) e aroma a alfazema. Comprai, meninas e meninos, comprai!

  5. esse preciosismo bélico, Joaquim camacho, é a prova provada do seu putinismo e da sua inveja incontrolável de não ter visibilidade enquanto Aspirina no Aspirina. trago-lhe uma caixa de xanax, para partilhar com o teste, e também uma de analgésicos para a dor de coto. !ai! que riso

  6. olinda,

    como é que tinha xanax assim à mão? não é preciso receita? a menina precisa de tomar isso? olhe, sabe onde pode enfiar a caixa? isso.
    toda de uma vez, como o seu deus manda, vá.

  7. bastou estalar os meus dedos, teste, foi magia. sim: toda de uma vez só nas vossas goelas. !ai! que riso

  8. sim: agarrada à liberdade. por falar, nisso, vou confirmar se já saiu a minha rica Aspirina hoje. !ai! que sorriso

  9. nada disso, teste, tente outra vez: a minha liberdade é acrescentada com mais liberdade pelo Aspirina e estou a aguardar a toma, ainda não saiu. !ai! que riso

  10. O texto abaixo é longo, mas é a minha síntese sobre a matéria, quem quiser que leia.

    1. A contrário do que se diz esta guerra não começou a 23 de fevereiro de 2022. A guerra começou em 2014, após o golpe de estado orquestrado pela CIA que correu com um regime democraticamente eleito e instaurou outro, ferozmente russófobo. Após o golpe, rapidamente a Federação Russa ocupou a Crimeia, a qual, para além de ser a base da Frota do Mar Negro Russa era e é 90 por cento russófona. Em simultâneo, o Governo de Kiev tomou medidas (ilegalização de partidos políticos, proibição do uso da língua russa, perseguição da população de origem russa, censura de medias russos, censura de autores russos, massacres de cidadãos ucranianos de origem russa, etc.)
    2. É depois de desencadeada a selvajaria das milícias neo-nazis sobre as populações que a Rússia passa a armar e a treinar militarmente milícias separatistas, na região de Donbass. Do mesmo modo, aumenta o envolvimento dos EUA, com a cumplicidade dos países do Báltico e da Polónia. Segue-se uma guerra suja, em que o regime ucraniano de Kiev é responsável pelo menos por 15 mil mortes civis.
    3. No quadro dos acordos de Minsk, patrocinados por França e Alemanha, estabelece-se um conjunto de princípios e de regras tendentes a terminar o conflito. Os acordos deixam propositadamente de fora a Crimeia, legitimando a sua adesão à Federação Russa e obrigam à concessão de autonomia por parte de Kiev às duas regiões separatistas do Donbass, respetivamente Donetsk e Lugansk, ainda que formalmente integradas na Ucrânia
    4. Os acordos são sistematicamente sabotados. Desde logo pelos EUA, que prometem apoio e fornecem armas e conselheiros militares, a Kiev. Em tal são secundados por Reino Unido e países de leste já referidos. A guerra surda prolonga-se, cai um avião civil sobre a Ucrânia, ninguém sabe quem o abateu. A União Europeia assobia para o lado, a braços com os problemas domésticos.
    5. Entra a pandemia. Por um momento, as armas parecem calar-se, não sendo assim em Donetsk ou em Lugansk, onde o fogo de artilharia não se deixa condoer pela doença universal. Porém, por algum tempo, as hostilidades amainam.
    6. Em 2022 a Pandemia está enterrada. Na Ucrânia fora eleito um palhaço populista e arruaceiro, assente numa plataforma anti-corrupção, anti-partidos, integradora de neo-nazis e profundamente russófoba. Aumentam as perseguições às populações ucranianas de origem russa. Num teatro em Odessa um grupo de neo-nazis queima vivas mais de 60 pessoas.
    7. A Rússia exige que a Ucrânia cumpra os acordos de Minsk. Kiev recusa. Nos EUA há um novo presidente. A Rússia reafirma as suas três exigências: A Ucrânia cede a Crimeia, aceita um referendo nas autoproclamadas repúblicas separatistas e compromete-se a não ingressar na NATO. Kiev hesita.
    8. Os EUA recusam liminarmente qualquer implementação dos acordos de Minsk. Prometem toneladas de dinheiro e de armamento a Kiev para recusar seja o que for do lado russo. O comediante arruaceiro desafia a Rússia a atacar, exige o apoio do resto da Europa, declara a sua intenção de dotar a Ucrânia de armas nucleares. O Reino Unido, sobre a mais ridícula liderança da sua vetusta história, aplaude e reafirma o apoio. A EU, ainda mal saída da pandemia e do Brexit, ou ignora ou bate palmas.
    9. A 24 de Fevereiro a Federação Russa lança a Operação Militar Especial em solo ucraniano. Não é uma invasão, só mentes perversas ou fanáticas poderiam considerar possível invadir um país com mais de 40 milhões de habitantes e forças armadas com mais de 300 mil homens testados no campo de guerra do Donbass, com uns míseros 120 mil soldados profissionais russos. Pelo contrário, a estratégia russa assenta em dois pilares: um tático e outro diplomático. No plano tático as chefias militares contentam-se em enviar colunas blindadas para cercar Kiev. No plano político são feitos todos os esforços para poupar propriedade e vidas ucranianas, por vários motivos, entre outros não dar azo à russofobia crescente nos media europeus e americanos. O objetivo final é obrigar Kiev a sentar-se à mesa das negociações e a ceder no já acordado nos. A estratégia é ousada e quase resulta, após poucas semanas de impasse, na Turquia chega-se a princípio de acordo; como gesto de boa vontade, Moscovo aceita fazer regressar as colunas blindadas aos seus pontos de partida. Os líderes nacionais europeus, atarantados, são incapazes de uma estratégia comum, o líder alemão é fraco e está nas mãos de ecologistas fanáticos; em Londres reina um doido que vê na crise a única possibilidade de não ser expulso por conta das orgias em tempo de pandemia; em França, Macron é o único a revelar inteligência e procura a todo o custo o diálogo com o homólogo russo. Debalde, emergem como poderes a Comissão Europeia, os media e acima de todos o complexo industrial-militar norte americano na pessoa do seu novo presidente.
    10. Na sequência do encontro na Turquia e após a retirada acordada das colunas blindadas russas, dá-se a encenação do massacre de Bucha. É hoje claro que foram serviços do SBU, a gestapo ucraniana, muito possivelmente com a colaboração de congéneres ocidentais, os responsáveis pela encenação de Bucha, um massacre onde só morreram simpatizantes e ou soldados russos. Com Bucha, dá-se a derrocada total do segundo pilar da estratégia de Moscovo: não dar azo à russofobia. A estratégia russa fora demasiado naif nesse ponto e esse era um dos principais alicerces da operação.
    11. A máquina de propaganda posta em ação no Ocidente é algo de nunca visto desde os tempos da invenção da propaganda de massas por Joseph Goebbels na Alemanha Nazi. Os conglomerados de media ocidentais estão na mão de meia dúzia de oligarcas. Estes estabelecem a agenda e a agenda tem em atenção dois tipos de interesses: o primeiro é o de demonizar a Rússia e o seu líder, o segundo de afastar a Europa de uma vez por todas da Rússia e impor-lhe vassalagem aos interesses dos EUA. Os instrumentos passam pelo emprego da força militar sob a forma de mercenários, armas, dinheiro para a Ucrânia e – qual elefante no meia da sala, pelo emprego de sanções económicas por parte dos vassalos europeus. O racional é simples: a Rússia é uma economia fraca, basta abanar os seus alicerces e em menos de 15 dias cai o regime em Moscovo e recolhem-se os imensos recursos naturais como compensação de guerra. Para manter o objetivo a máquina de propaganda não para, trabalha 24 sob 24. Multiplicam-se imagens de atrocidades russas, homílias por vídeo conferência em parlamentos nacionais do líder ucraniano. Nas redes sociais os avatares azuis e amarelos multiplicam-se como cogumelos. São suprimidos meios de informação russos, atletas, compositores, escritores, músicos. São suprimidos igualmente os Panama Pappers que demonstram que o líder ucraniano amassara uma fortuna gigantesca no exterior. São suprimidas as tenebrosas operações do SBU. Em suma, tudo o pudesse ser pernicioso para a causa dos oligarcas ocidentais e para o complexo industrial norte americano é suprimido, tudo o que pudesse ser prejudicial para a Rússia e especial para o seu líder é glosado até à exaustão.
    12. A guerra entra em modo de atrito. A Rússia tem controlo total do espaço aéreo e enorme superioridade em artilharia. A Ucrânia passa a dispor de um abundante fornecimento de armas modernas e de dinheiro. Em homens, no terreno, a superioridade ucraniana é de 3 para 1 o que não implica grandes feitos de armas, bem pelo contrário. A 20 de Maio, Mariupol, onde se acolitava o braço militar dos nazis ucranianos, acaba por se render. Junho e julho assistem a mais revesses ucranianos, embora o fornecimento de armas modernas e a superioridade em números passe a equilibrar os pratos da balança para o lado de Kiev, ainda que marginalmente.
    13. Desde o início do conflito levanta-se no Ocidente, em particular na Europa, uma onda de russofobia. Esta onda é traduzida não só numa propaganda ferozmente russófoba, mas também na censura de meios de informação e de cidadãos ou organizações que coloquem objeções ao curso dos acontecimentos. Em simultâneo, levantam-se sanções atrás de sanções. A tese, por incongruente que possa parecer, é não só estratégica (as sanções esmagarão a economia russa) mas também irracional, num sentido moralizante: são impostas para castigar o ogre russo pelas suas imoralidades e “crimes de guerra”. Desde logo, o tiro sai pela culatra. Após o roubo dos bens russos depositados em bancos ocidentais (um gesto que terá repercussões inauditas, nomeadamente na relação do Ocidente com os líderes da OPEP, também estes com imensos ativos em bancos ocidentais), a Federação Russa exige que todas e quaisquer remessas de gás e petróleo enviadas para Ocidente sejam pagas em rublos. A Comissão Europeia estrebucha e acusa a Rússia de chantagem, por querer ser paga por aquilo que vende. A chefe corrupta da Comissão anuncia que não mais adquire petróleo e que deixará de adquirir em breve gás à Rússia. O preço do petróleo e do gás dispara. A economia europeia entra em spin e o rublo valoriza-se para níveis jamais vistos.
    14. O Ocidente responde pela propaganda e avança com ofensivas diplomáticas que comprovem o isolamento da Rússia. Sucede, porém, que esse isolamento permanece etéreo e só é visível nos écrans das televisões dos grandes conglomerados de Média do Ocidente. Pelo menos um país NAT0 (Turquia) recusa seguir o pensamento único de Bruxelas. China, Paquistão, Índia, África Sul, Arábia Saudita, Irão, Israel e muitos outros, de forma mais ou menos discreta, mais ou menos ativa, não só não estabelecem sanções como fortalecem laços políticos e sobretudo económicos com a Rússia. No terreno, agosto e setembro trazem escassas recuperações de território na Ucrânia, rapidamente transformadas em vitórias gigantescas pela propaganda. Não o sendo de facto, os “sucessos” militares são vitais para o partido dos belicistas europeus e norte americanos. São uma das poucas justificações que podem servir aos seus eleitorados. A crise económica na Europa atinge proporções dramáticas. É preciso dar esperança na vitória final aos cidadãos europeus, ainda que governos caiam como tordos que cada vez mais o cidadão comum sinta na pele o preço de uma guerra que não quis e que não pediu.
    15. O ataque levado a cabo aos gasodutos Nordstream é a machadada final a qualquer eventual processo de negociação. O ataque sucede num momento em que decorriam conversações mais ou menos secretas entre autoridades alemãs e russas para um reforço no abastecimento de gás e um consequente desanuviamento. O ataque é levado a cabo por um ou mais países NATO contra outro país NATO, demonstrando, se ainda fosse necessário, a total submissão dos interesses da União Europeia aos interesses de Washington. Ao cortar de facto a possibilidade de fornecimento de energia, os EUA afastam decisivamente a Rússia da Europa. Assiste-se a uma escalada na retórica. A chefe da Comissão Europeia insulta diariamente a liderança russa. O presidente ucraniano avança publicamente com a possibilidade de um ataque nuclear preventivo à Rússia. O presidente americano, já depois de ter usado adjetivos indignos de um chefe de estado para qualificar um chefe de estado homólogo: “monstro”, “carniceiro”, etc., fala agora num “armagedão” nuclear. Chegados que estamos a novembro, a economia europeia está de rastos. Os laços entre a Rússia, China, Índia e o sul global nunca foram tão fortes, o crescimento das transações económicas dobra e em muitos casos triplica. No terreno, as sucessivas contra-ofensivas ucranianas esmagam-se num muro de sangue e lágrimas. O Kremlin declarara uma mobilização parcial, assim diminuindo dramaticamente a sua inferioridade em carne para canhão; anexara quatro regiões e, na preparação para uma grande ofensiva de inverno, faz chover um enxame de mísseis na Ucrânia.

  11. eu li, Lúcio, a sua síntese. permita-me fazer uma síntese à sua síntese: a Ucrânia não foi invadida e o sangue é apenas um mero pormenor, ou seja, Putin está em seu legítimo direito de meter o governo ucraniano na ordem, esse ganapo mal comportado. tantos factos, tão pouca humanidade. deixo-lhe uma sugestão: monte, por favor, legos com quinze peças e não me encha com mais vergonha.

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