Blogosfera – Posologia

Os blogues comuns, individuais ou colectivos, são espaços privados de expressão pessoal. O facto de serem também públicos, permitindo leitura e comentários, não anula o seu estatuto pessoal e, antes e acima de tudo, privado. Repetindo pela terceira vez: os blogues são privados e pessoais. Para possuir um blogue basta ter ligação à Internet, email e 5 minutos para gastar. Não é preciso pagar nem apresentar documentos. Pode ter-se tantos blogues quantos à loucura apetecer. É, tão-só, como estar à varanda a discursar para quem passa. Ninguém é obrigado a parar, muito menos a ficar. E qualquer um pode mandar bocas ao orador. Ou é como estar na tasca ou no grémio, falando com quem calhar.

A blogosfera não tem carência de oferta, nem nós temos pachorra para 99,99999% do que existe. Há de tudo para todos e ainda sobra. Mas ela não pode dar o que não existe fora dela. Talvez por isso haja tanta volatilidade, numa intensificação dos processos de ilusão e desilusão inerentes à vida social. Os gostos mudam, os conflitos nascem, as relações alteram-se, as ligações quebram-se. As pessoas cansam-se das outras, cansam-se de si próprias. E deixam de escrever, abandonam blogues colectivos, enterram blogues pessoais. Aliás, um dos grandes prazeres da blogosfera é a despedida, o funeral em vida. Ah, esse alívio de poder concluir alguma coisa, de poder acabar, desaparecer, e essa perda ser um ganho. É que os blogues não custam nada a criar, não custam nada a manter e podem deixar-se ao abandono, ou serem apagados, com a indiferença de quem larga o jornal de ontem na mesa do café.

Contudo, sem o acrescento de inteligência que resulta de ler, dialogar, debater, discutir, brincar e escrever na blogosfera, sem o convívio com a inteligência dos outros, da tua tão maior e melhor inteligência do que a minha por ser tua, ficaria privado de nutrientes essenciais para a liberdade que me rege.

Não temos de concordar uns com os outros. Basta que discordemos com inteligência.

31 thoughts on “Blogosfera – Posologia”

  1. tudo isso tem um nome: liberdade (agora parecia o eluard). assim tão simples. pena q os q enchem o discurso com essa palavra não sejam capazes de a reconhecer nem quando lhes pespega uma estalada bem dada na cara.

  2. … e nós ficaríamos privados de uma prosa que, ora se espraia em múltiplos raciocínios sempre em crescendo e sem limites, ora nos interroga num jogo de síntese admirável. Valupi não é politicamente correcto. Nao há grilhões que o inibam. Visitando-o, vamos dando conta dos seus humores, amores e desamores. Concordando ou não com os conteúdos há que reconhecer o seu brilhantismo. O título “O nosso Zé de laranja Lima” ou a classificação, lá mais para trás, de 2 jornalistas como “ a guarda avançada do general Inverno” são de antologia.
    E se o uso do pseudónimo é a chave que torna possível o prazer da sua leitura, prefiro que continue “a cantar o fado embuçado”.

  3. para discordar com inteligencia é preciso duas pessoas com inteligencia e eu a ti só te reconheço eloquencia.

  4. Como estreante do universo da blogosfera (antes tarde que nunca)…tem sido um privilégio e uma lufada de ar fresco ler o Valupi! (sem esquecer os restantes taumaturgos)

    Muito grata pela possibilidade de participação verdadeira e LIVRE! :)

  5. No entretanto, sem desprimor para o inspirado autor, fico a espera que alguem (nao, nao tem de ser ele, nao senhora, que o homem nao tem maos a medir) tenha inteligencia para aproveitar os nutrientes que escorrem em cachao pelas paredes abaixo deste blogue e depois o instinto comercial para comprimi-los em pastilha e vender a gajos doentes como eu. E que ando aqui com uma dor de lado…

    Como parte da materia prima, exigo direito a desconto.

  6. Uf…a meio do post pensei que te preparavas para anunciar que ias fechar as portadas da varanda e mandar-nos procurar outro anfitrião. Mas depois, no parágrafo que começa em “Contudo…” e termina em “…liberdade que me rege”, voltou o sorriso. Este é que é o Valupi – Valupão – Valupinho.

    Viva o Aspirina Bbbbbbbbbbbb!

  7. Val,

    Tive um sentimento semelhante ao da Edie. Já passou !

    Em relação ao que está dito no texto, gostaria de acrescentar o seguinte

    É um fenomeno interessante observar como se desenrolam as várias atitudes perante os “motes” que vais lançando,a forma como os comentadores se organizam, à medida que se vão conhecendo, para comentar assuntos estruturadamente.

    Muito interessante!…

  8. A Blogosfera:
    Há coisas que por vezes não damos o real valor, com o tempo apercebemo-nos o quanto nos é útil. Isto vem a propósito de há um ano, faz dia 28 do corrente, o meu filho como prenda de anos, me ofereceu a colocação e pagamento mensal, da operadora Meo, juntamente com a internet em banda larga.
    Disse-lhe que não devia de gastar dinheiro, a vida está difícil, mas com isso, não olhou para o que lhe disse e fez-me essa oferta. Hoje bem-digo o investimento que fez.
    Em primeiro lugar, encontro-me melhor informado embora não percorra toda a informação escrita. Também tive a felicidade de encontrar o Aspirina B, pela maneira como li o seu cabeçalho, “Aspirina B. Não mata mas alivia” foi um dos motivos para tal curiosidade. Em boa hora o fiz, é um dos meus passatempos preferidos e vai-me ajudando a matar o tempo, isto de estar aposentado tem que se diga.
    “Basta que discordemos com inteligência”. É o mais recomendável. Se todos viéssemos para aqui dialogar, dar a conhecer os nossos pontos fortes, o que me de bom tem as nossas terras, criticando com crítica construtiva, em lugar de dizermos mal de tudo e de uns e de outros a blogosfera é recomendável. Em vez disso à mínima crítica vem um vendaval de insultos. O discordar com inteligência deve ser sempre usado com educação e delicadeza.
    Como disse entrei neste blogue abusivamente, nessa altura era e ainda sou um leigo na matéria, mas com isto aprendi bastante com vários comentadores que aqui comentam. Não sou um lambe botas e nem de dar graxa, como já aqui opinaram, não preciso disso. Aufiro uma boa reforma, embora lute com dificuldades como uma maioria de portugueses e como já aqui referi não nasci num berço de ouro.
    Mas escritores como Valupi, conselhos como fazia o Z, não sei por anda, João Viegas, Edie e outros mais, merecem serem lidos. É evidente que muitos não comungam do meu ponto de vista, respeito-os, discordando deles, porque a vida é assim, não somos obrigados a só gostar, do azul,”é a minha cor preferida”. Se não fosse a Internet quantos comentadores que por aqui passam tinham oportunidade de desenvolver o seu português, a sua escrita e passar umas horas entretidos em lugar de andar por cafés, centros comerciais e outras coisas mais. É como diz o provérbio: o saber não ocupa lugar, bendito e bem certo o ditado, veja que depois de se saber, o que se beneficia com o resultado.
    Leio outros blogues e nesses não se vêem os insultos que aqui são escritos – não os admitem. No Aspirina B por uma questão de democracia se admite, mas tudo tem um termo e para quem o pratica não dizer que está a ser censurado.
    Termino com uns versos do meu amigo Rodela. “Viagem da vida”. E como diz a Edie “Uf… a meio do post pensei que te preparavas para anunciar que ias fechar as portadas da varanda e mandar-nos procurar outro anfitrião”.

    Vou partir como cheguei,
    Antes não chegasse a vir.
    Vi almas fora da lei
    Sem alma p’ra repartir.

    Vi, nas curvas do destino,
    Raízes de pensamentos
    E as chagas do clandestino,
    Pisadas ao som dos ventos.

    Vi chapéus e chapeladas
    Chicotes atrás de enxadas,
    Porque passei eu por aqui?

    Estou no fim da viagem,
    Vou mudar de carruagem
    E fingir que nada vi.

  9. São textos como este, do Valupi, que me fazem acreditar que: “… a Liberdade está a passar por aqui… maré alta, maré alta….” (Sérgio Godinho), nesta torrente de escrita e de vagas num constante vai e vem. É o caso da escrita de “Manuel Pacheco” que nos enche a alma de bom senso e nos incentiva a ser cada vez mais atentos aos sinais da vida.
    Vamos continuar, por certo, a aprender. Uns com os outros, embora com a consciência, pessoal, que aprendo muito mais do que, vagamente, possa “ensinar”.

  10. Manuel Pacheco,

    obrigada.

    Quanto ao Z, anda por aí disfarçado de &. Diz que é ele sentado a fumar um cigarro mas com o pé, ou qualquer coisa assim :)

  11. Só descobri o pouco que sei da globoesfera à mais ou menos 1 ano. Nunca liguei muito aos computadores, mesmo tendo em casa durante anos dois dos meus filhos, um com um curso e uma profissão de engenheiro informático e o outro com uma vocação feroz e fanática á fotografia e ao cinema e uma profissão de operador de câmara e de grua de cinema como free lancer, e tambem uma habilidade excepcional para viajar na net. A minha preferencia sempre foi para a leitura, e desde muito miúdo li ávidamente tudo o que me aparecia á frente. Mas parece que agora, a pouco e pouco, estou a virar para outros interesses,e curiosidades, a globoesfera ( e não só a blogoesfera ), estão a levar a minha atenção, de tal maneira que a minha mulher já brinca com o meu vício, quando conversa com as amigas; devo confessar, aos 68 anos, mudar assim, parece-me um bocado excessivo , já não devoro livros com a fúria de antigamente e tive que arranjar uma cadeira confortável para passar umas horas sentado. A próxima despeza, se houver saúde, e a pensão chegar irá ser um portátil , para poder estar no jardim , aqui no Carvalhal , em Torres Vedras a bater umas teclasitas e blogar ou (globar), na Aspirina , se tiver saúde e vocês continuarem por cá, por muitos e bons , a cascar em quem precisa e a lutar por todos nós

  12. Há dois anos escrevi um post sobre o Salam Pax e a minha descoberta da blogosfera. Não sei, nunca soube e não quero saber quem era o Salam Pax, se existia, se era pago pela CIA ou tinha olhos azuis numa Bagdad de gente morena, mas o Salam Pax e o Where is Raed (http://dear_raed.blogspot.com/), o blog dele, ficarão para sempre como a minha referência neste novo mundo. Foi há exactamente sete anos, os americanos ainda não estavam no Iraque mas sabia-se que não iria tardar, e o Salam dava-nos as notícias dessa cidade longinqua que acordava todos os dias à espera da primeira bomba. E é por isso, só por isso, que fico com borbulhas cada vez que agora me tentam impor regras neste sítio que valeu e vale exactamente por isso, por não as ter.
    Nunca fiz isto antes mas hoje vou transcrever para aqui um post meu. O post do Salam Pax.

    “Where is Raed?

    Acredito que o Dear Raed diga tanto à blogosfera de hoje como o Henrique Mendes diz a estas duas que aqui ao lado papam Canal Panda, mas comigo foi por onde tudo começou. Os americanos estavam no vai não vai atiramo-nos a eles lá na terra do Grão Vizir que queria ser Califa no lugar do Califa, nas Lajes serviam-se pastelinhos de bacalhau aos senhores da guerra e o Salam, na Bagdad de todas as notícias, procurava o Raed e dava-nos, ao vivo e a cores, as estórias que a CNN não tinha nem podia nunca ter. Lia o blog do Salam como quem lê a carta de um amigo que não se chamava Anne Frank, mas que trazia também colado à pele o cheiro fétido da maldade dos homens e, todos os dias, torcia os dedos antes de abrir a página, pedindo aos deuses que a bomba não tivesse caido naquela casa e que os danos colaterais não se chamassem Salam Pax.
    Não me recordo quando deixou o Salam de postar, mas guardo na coluna dos favoritos aquela coisa chamada “blog” que me trouxe, pela primeira vez, uns olhos sem lentes e uma voz sem dono para me darem, lá de longe, notícias dos que também são meus. Mas que, pela primeira vez também, me fez tentar espreitar para além das pessoas feitas de letras, porque no mundo virtual tudo pode acontecer e até o Salam, que procurava o Raed em Bagdad, podia ter pouco de Pax.”

  13. Desta feita tenho que atribuir nota 17 para o Volupi, que só não ganha o 20 porque se esqueceu da questão do anonimato, e do respeito pelos outros que por vezes se perde debaixo desse nevoeiro defensivo, que ajuda a descarar opiniões insultuosas sem que exista coragem na sua defesa.

    E como alguém acima, e muito bem escreveu, e eu subscrevo na integra:

    Valupi, às vezes mostras-nos que és inteligente, que és muito mais que um “alienado socrático”.
    porreiro pá.

  14. Gostei muito de ler.:-)

    (mas um dia destes não te espantes se te chamar cabrão só para alguma croma vir, a seguir, chamar igual. só por isso.).:-D

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