Biomecânica da pulhice

Carlos Enes afirmou numa comissão de inquérito parlamentar que o Governo queria afastar Manuela Moura Guedes em 2005. 2005. Sim, 2005. Contaram-lhe. Pessoas amigas, do PS, num jantar. E que fez este bravo com a informação? Poucochinho. Contou à Moura Guedes, mas sem se ter chibado com os nomes dos amigos, que também não quis revelar aos deputados.

Noutro passo das declarações, partilhou a sua opinião relativa à existência de documentos na TVI com que se poderia fazer uma notícia sobre o Freeport. Porém, recusou informar os deputados acerca do conteúdo dos mesmos. Pelo que poderá ser qualquer coisa. Talvez um cálculo probabilístico quanto à marca dos tais envelopes dados a Sócrates em cafés foleiros e tascos manhosos. A pista é a cor, castanho. A partir daqui, é possível fazer um levantamento dos fabricantes que distribuem envelopes castanhos na Margem Sul. Pode ser pouco, mas dá uma notícia segundo os critérios do saudoso J6. Ou talvez tenham entrevistado pessoas que sonharam com Sócrates. Pessoas que garantem tê-lo visto, nesses sonhos, a entregar dinheiro a um mafioso, com a cara do Diogo Infante, para lhe comprar uma casa de luxo algures em Lisboa. Isto também daria uma notícia para a equipa da Moura Guedes.

Um dos elementos característicos da pulhice é a sua incapacidade em fornecer prova. Esta osteoporose ética provoca rachas e fracturas na dignidade dos materiais sujeitos à torção das evidências: a calúnia é um vórtice que arrasta os mais frágeis para uma irremediável perdição cognitiva. Aqueles que assim envenenam as relações comunitárias são o atrito da liberdade.

8 thoughts on “Biomecânica da pulhice”

  1. Fico à espera que algum jornalista seja capaz de escrever num jornal um comentário sobre este depoimento que me provocou vómitos.

  2. Realmente, é preciso ter o estômago forte, para não vomitar, ao ouvir-se algumas das testemunhas que têm ido às Comissões de Ética e de Inquérito da A.R.. Mas estas inquirições têm tido a sua utilidade, tem- -nos permitido ir separando o trigo do joio, embora algum joio já fosse demais conhecido. Mas se dúvidas houvesse…

  3. É impressionante o que se pode fazer e dizer ao abrigo do segredo profissional, especialmente para aqueles que de profissional não têm verdadeiramente nada e disto se servem para que só à custa da intriga vaiam conseguindo sobreviver.

  4. Conheci, e conheço, alguns Jornalistas (a maiúcula é propositada) por quem tenho um respeito enorme.
    Sei a raiva que sentem ao ouvir badamecos como este, fazer tabua raza dos códigos de honra de uma profissão que já foi respeitada.
    Isto não é um jornalista, é um pulha com uma cédula profissional que ele confunde com uma licença para espalhar merda.
    SE eu tivesse uma cédula profissional de jornalista, que não tenho, e se tivesse devolvia-a, PODERIA dizer agora que em 2005 jantei com um director de um jornal e dois chefes de redacção que me contaram o que o sr. carlos enes fazia em certas noites em que se passeava no parque eduardo VII vestido com uns calções e um bibe e etc etc. E ele que me desminta, eu não digo nada, os tais senhores é que me contaram. E os nomes, pois tenho pena, segredo profissional, e as provas até estão num cofre no banco mas eu não as mostro e pronto.
    Mas como NÃO sou jornalista NÃO posso dizer nada disso, NEM DIGO.

  5. Pois … as testemunhas só interessam ou são crediveis quando são a vavor do vosso “dono” … certissimo.

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