Basta um para sermos todos

A economia parou mas não está parada. O capitalismo também é viral. Há zonas onde reina o caos e surgem despedimentos e falências. E há sectores que fazem exactamente o mesmo que antes faziam para um mercado igual em tamanho e ritmo de consumo – há até outras fileiras que devem ao coronavírus um aumento colossal nos preços, ou no tamanho da clientela, ou ambos. Que recrutam. Qualquer investidor, accionista, administrador, gestor que não tenha perdido a ligação entre os neurónios está já agarrado ao calendário e a tomar decisões para os próximos dois meses, seis meses, um ano, dois anos. É que as assustadoras e desvairadas dúvidas causadas pela pandemia, mais a tragédia de saúde pública que está a ocorrer e irá aumentar ao ritmo da progressão da infecção pela vastíssima maioria da população planetária, tudo isto mergulhado no espectro de uma depressão económica à moda de 29, ainda assim permitem o consolo maior que se pode oferecer a um decisor: a inevitabilidade do fim do ciclo de destruição; naquele que será sempre um curtíssimo, imediato, prazo na escala histórica.

Não é crível que no pós-covid os Estados e seus eleitorados queiram fazer o que os cientistas pedem há décadas para acudir à emergência climática – vai ser preciso um susto igual, um sofrimento parecido ou maior – mas podemos já antecipar uma certeza absoluta: a digitalização das sociedades acaba de dar um salto gigante como nenhum outro conhecido neste domínio. Literalmente de um dia para o outro, de uma semana para a outra no máximo, incontáveis milhões descobriram as vantagens de fazer compras pela Internet e pagarem com o telemóvel em loja. A necessidade aguça o empenho, pun intended, e estão criadas as condições para desenvolver estruturas de distribuição de bens com ganhos para os particulares e para as empresas. A ideia de pegar no carro para se levar uma ou duas pessoas até uma superfície comercial poderá ficar obsoleta, ou folclórica, ou escandalosa, ou excêntrica também de um dia para o outro. O dinheiro poupado em combustível, a diminuição da pegada ecológica, o aumento de tempo disponível para os cidadãos e a capacidade de aumentar a eficiência dos agentes económicos, eis alguns dos elementos a incluir na equação dos benefícios.

A obsessão alarmista, sensacionalista, catastrofista mesmo quando começa bem intencionada acaba por ficar tóxica. Contagia em primeiro lugar a comunicação social e depois aumenta a nossa confusão, o nosso medo. Há outras notícias para dar. Por exemplo, esta: nunca teríamos chegado a nascer se aqueles cujos genes transportamos em fatal aleatoriedade tivessem desistido de continuar a procurar soluções nessas outras infindas crises em que ao seu lado os restantes soçobravam face às ameaças. Somos a mais improvável das manifestações da vida, o animal onde a realidade se espanta consigo própria.

Basta um vírus para começar uma pandemia. Basta a inteligência em cada um para acabar com ela.

8 thoughts on “Basta um para sermos todos”

  1. compreendo , as pessoas encomendam via Internet , entrega a domicilio e ospois as pessoas voltam a ir à missa ao domingo como passeata? e os jovens , em vez de ao centro comercial , vão todos prós escuteiros ?
    e as ruas das cidades pequenas , já meio vazias hoje , vão ficar maravilhosamente silenciosas e calmas , tipo cidade fantasma do faroeste ?
    vives numa bolha?

  2. A ideia de pegar no carro para se levar uma ou duas pessoas até uma superfície comercial poderá ficar obsoleta, ou folclórica, ou escandalosa, ou excêntrica também de um dia para o outro. O dinheiro poupado em combustível, a diminuição da pegada ecológica

    E o pacote é anexado em resposta ao email do pedido? Ou os funcionários vão fazer entrega de riquexó?

    Fico sempre apreensivo com sonhos, com os amanhãs que cantam, com as pretensões de um mundo novo. Geralmente só vem tragédia. O que é preciso é saber como vamos conseguir abrir tudo conseguindo conciliar com os cuidados médicos. E como é que o Governo vai conseguir equilibrar as contas. É que os países do norte, por intermédio do porta-voz (Holanda) já deu a entender que não estão para aí virados. E, como é óbvio, ainda não vi a coragem política para dizer o inevitável: os cortes na despesa, passando obrigatoriamente pelos salários da função pública.

  3. Pinto,
    a tua conversa bafienta está desfasada mais de oito anos, rapaz.
    Se não estás bem aqui, muda-te para onde não haja função pública. Recomendo-te a Somália, ou a puta que te pariu!
    E leva o passos coelho, o relvas, O CAVACO E O GASPAR contigo…

  4. “passando obrigatoriamente pelos salários da função pública”

    O que é que queres dizer com isso, ignorante?
    Voltavas a votar no passos coelho, é?
    Força, caralho!
    Mas não penses que convences um puto de um vírus que seja, palermóide burro.

  5. Este parvalhão do Pinto não aprendeu nada com a realidade dos últimos dez anos em Portugal.
    Arre, BURRO!
    Estás a precisar é de uma foice nessa pichota, ou de um martelo nessa cona.

  6. O calibre médio dos funcionários públicos pode ser avaliado nestes três últimos comentários em resposta ao meu. É que para além de egoístas, são ignorantes e arrogantes (umas características levam invariavelmente às outras).
    Mas em que mundinho vivem os funcionários públicos? Vêem um País parado, vêem tudo fechado, vêem a receita de 15% do PIB eclipsada de um dia para o outro, vêem milhares e milhares de pessoas sem qualquer rendimento. Mas aqui d’el rei se o Governo tiver a intenção de lhes cortar 5% do seu sagrado vencimento. Antes que os outros morram de fome. E se alguém sugerir essa ideia é insultos para cima.
    Insultos desta gente para mim são elogios. Quando vejo um jihadista dizer que sou fanático por permitir que a minha mulher conduz ou use calças, sinto-me satisfeito porque ainda não resvalei para o campo dele. De igual modo, quando vejo esta gente a insultar-me sinto-me satisfeito: ainda tenho sanidade mental.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *