«O que temos de fazer não é guerrear entre nós, é cada um dirigir-se ao eleitorado e aos cidadãos que pode mobilizar, aumentar a participação porque é a participação que dá vitalidade e a vitalidade que dá movimento. Esse movimento permitirá construir a alternativa.»
«A direita facilmente se junta, a esquerda facilmente se divide. Aquilo que temos de encontrar é o ponto de equilíbrio em que, respeitando as diferenças que existem entre nós, que vêm muito de trás e seguirão muito para diante, encontrar a capacidade de fazer algo em comum.»
António Costa, Congresso LIVRE
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Costa fez bem em ir falar de esquerda para as esquerdas, e esteve melhor ao nada dizer de substantivo que ultrapasse a propedêutica para qualquer eventual acordo seja com quem for: ide a votos e logo se vê.
Costa não teoriza para além da utilidade que esse exercício tenha para o processo da tomada de decisões. É uma característica típica dos gestores e dá a ver donde vem a sua autoridade política. Não de um carisma de líder visionário, que ele não tem e nunca terá, mas de uma solidez pragmática que inspira confiança também por se anunciar prudente, conservadora e conciliatória. A receita ideal para segundas figuras, braços direitos de príncipes, ou para regentes em períodos especiais de decadência das elites. O nosso tempo, pois.
Que farão as esquerdas com um PS disposto a partilhar o eventual poder com elas? PCP e BE, para já e quiçá para sempre, nada de nadinha de nada. Os racistas ideológicos não se podem deixar contaminar, dependem do sectarismo fanático para conservarem a sua identidade. Restam fragmentos irrelevantes, os grupúsculos que se originaram na ressaca da embriaguez inspirada pelo jovem Louçã. O jovem Louçã conseguiu um feito que muitos pensavam impossível depois de uma ascensão romântica e heróica, isso de ultrapassar o PCP numas eleições legislativas. Mas só o conseguiu por causa do PS. Foi a circunstância de se ter um Governo socialista apostado em reformas tão difíceis como a da avaliação de professores, juntamente com um clima de ódio furioso alimentado tanto pela direita como pela esquerda contra Sócrates, que levou ao transvase de votos do PS para o BE em 2009. Votos esses que se iriam evaporar dois anos depois.
O problema dos restos dessa esquerda é o de continuarem a pensar como essa esquerda pensa, adaptando o lema de Costa. Uma esquerda que vê no PS o seu principal inimigo precisamente porque vê no PS a sua única fonte de crescimento. É uma lógica que resiste imune à evidência de o eleitorado do PS ser do centro, o que o levará instintivamente a recusar qualquer proposta da extrema-esquerda. Só em condições extraordinárias de voto de protesto haverá um número significativo de eleitores a castigarem o PS pela esquerda – situação que aconteceu em 2009 apenas para se revelar completamente inútil, ao princípio, e depois trágica, quando a esquerda pura e verdadeira, engordada pelo voto dos enganados, preferiu dar o poder a esta direita.
O combate do Rui Tavares – o qual fez um discurso fraco porque ambíguo e manhoso no Congresso do LIVRE – ou o da Ana Drago e Daniel Oliveira, antigas estrelas fulgurantes dos sonhos megalómanos de Louçã, pode seguir por dois caminhos. O primeiro, onde parece que querem ficar, é o de continuarem à espera que venha do PS o capital eleitoral que lhes dê existência parlamentar. Por exemplo, o LIVRE ficou orgulhoso com a votação nas europeias e começou logo a extrapolar os números para um cenário legislativo, sem parar um segundo para reconhecer que esses votos tinham vindo quase todos do eleitorado socialista e que poderiam com a mesma facilidade desaparecer numas eleições a sério. O segundo caminho será o de finalmente se enfrentar a partir da esquerda o sectarismo da esquerda. Indo por aqui, os alvos passariam a ser o BE e o PCP. Seria nesse eleitorado que o LIVRE tentaria encontrar votos, o que implicaria uma revolução cognitiva e estratégica para esse tipo de campanha. Caso tivessem sucesso, não só ganhariam peso eleitoral próprio como estariam a diminuir a representatividade do PCP e do BE; factor essencial para o desbloqueio da governação à esquerda, permitindo eventuais alianças com o PS que o puxem para o lado esquerdo do centro.
Coragem, façam algo de esquerda.
Excelente análise, que sub-escrevo!
Coragem, Valupi? A esquerda radical só tem coragem para o protesto. Quando é para “levar a vida a sério”, caga-se toda, por ter consciência de que andou a vender vento aos crédulos. Os padres fazem melhor que eles.
Gostei muito da Isabel Moreira, ontem, na RTP. http://lishbuna.blogspot.pt/2014/10/numa-noite-prestando-um-pouco-mais-do.html
Ó João Lisporco, vai lá p’ró teu curral, pá!
Do Brasil vem mais um exemplo da normalidade das esquerdas radicais: a Marina prefere apoiar o candidato da direita. Os esquerdalhos são iguais em toda a parte.
O que os portugueses querem é menos teorias e,
mais práticas! Na realidade, o capitalismo cada vez
está mais selvagem (chamem-lhe globalização ou
outra coisa qualquer) enquanto, o Trabalho cada
vez está mais depreciado no rápido caminho para
a escravatura! Logo, pede-se aos políticos que se
deixem de tretas, do serrar presunto, partir pedra,
enfim da tal masturbação intelectual sem qualquer
aplicação prática … sejam pragmáticos, definam me-
tas, acabem com os castelinhos e seus “alcaides”!!!
val, estou de acordo com o texto.dando seguimento ao teu pensamento,à saida da tasquinha onde almoçei,troquei umas breves palavras com um militante do bloco e dirigente sindical dos profs. diss-me mais ao menos isto: ” tem calma,por que algo vai mudar no partido. não insisti, por que ele ainda estava a almoçar com outros camaradas. sendo um tipo moderado do bloco, nunca em conversas me disse nada semelhante! ele sabe qual é a minha praia embora nunca lá tivesse tomado banho!
j madeira,podes ser mais concreto?
“… tem calma,por que algo vai mudar no partido…”
pois vai e tem a ver com a cotação do bloco nas próximas sondagens, que neste momento devem estar suspensas, para não criar pânico nos mercados e permitir um ou dois encaixes com a venda dos salvados.
Maria Abril, passa pelo Maranhão e vê a paisagem.
O trânsito em Portugal devia ser como na Inglaterra e mudar o volante aos automóveis.
Primeiro o N-a-c-i-o-n-a-l-i-s-m-o, o resto é blá~blá-blá.
A Europa desde a Normandia até Lampedusa está em extinção e esquerda e direita são sentimentos pré-históricos.
Belo comentário/análise !!! Refrescante de objetividade e saboroso, porque vem ao encontro do que a gente sente. Muito bom !!!!