Apesar dos 85%, Medvedev está disposto a rebentar com os 100%

Dmitri Medvedev é uma das pessoas mais importantes na Rússia dos últimos 20 anos. Antigo professor universitário com relevante obra académica, já foi vice-primeiro-ministro, primeiro-ministro e presidente da Federação Russa. Actualmente, ocupa o cargo de vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia. Donde, o que ele pense e diga sobre a invasão da Ucrânia é da maior importância.

E foi isto que se lembrou de publicar:

«[…]

O que mais há a dizer? Só uma coisa: os sábios antecessores dos políticos ocidentais desmiolados de hoje disseram o seguinte: Deus quos vult perdere dementat prius – A quem o Senhor deseja arruinar, ele primeiro priva da razão. Foi essa histeria insana, o desejo obsessivo de destruir o nosso país, que obrigou a uma operação militar especial.

A história também demonstra outra coisa: qualquer império desmoronado enterra metade do mundo sob as suas ruínas, ou até mais. Parece que aqueles que primeiro destruíram a URSS e agora estão tentando destruir a Federação Russa não querem compreender isso.

Eles alimentam as ilusões delirantes de que, tendo levado a União Soviética ao desaparecimento sem disparar um único tiro, poderão enterrar a Rússia atual sem problemas significativos para si mesmos, mandando a vida de milhares de pessoas envolvidas no conflito para a fornalha.

Esses são equívocos extremamente perigosos. Eles não vão funcionar. Se a questão da própria existência da Rússia surgir, ela não será decidida na frente ucraniana, mas junto com a questão da futura existência de toda a civilização humana. Não deve haver ambiguidade aqui: não precisamos de um mundo sem a Rússia.

Claro, eles poderiam continuar a enviar armas para o regime neofascista de Kiev e bloquear qualquer oportunidade de retomar as negociações. Nossos inimigos estão fazendo exatamente isso, não querendo entender que os seus objetivos obviamente levam a um fiasco total. Uma perda para todos. Ao choque. O apocalipse. Onde o passado terá que ser esquecido por séculos, até que os escombros fumegantes deixem de emitir radiação.

A Rússia não permitirá isso. E não estamos sozinhos nesse esforço. Os países ocidentais com satélites representam apenas 15% da população mundial. Há muitos mais de nós e somos muito mais fortes. O poder calmo de nosso grande país e a autoridade de nossos parceiros são a chave para preservar o futuro de todo o mundo.»

Fonte

A peça insere-se na campanha de chantagem e terror que foi lançada pela Rússia logo no começo da invasão do ano passado. O objectivo é o de tentar influenciar as opiniões públicas dos países que apoiam a Ucrânia, recorrendo à ameaça de uma guerra nuclear caso não se deixe matar, destruir e anexar quanto Putin quiser nos territórios invadidos. Embora haja maluquinhos e broncos que se tornaram propagandistas desta retórica (à mistura com os usuais fanáticos e ainda gente que parecia ter mais juízo), a chantagem falhou. Cresceu a evidência de que é mais perigoso deixar o invasor ganhar do que obrigá-lo a negociar. Daí a subida do tom em Medvedev, as favolas de fora, a redução ao puro instinto criminoso.

Mas o texto oferece-se como manifestação canhestra de uma técnica de manipulação, no caso a irracionalização. Com ironia, o autor chega a citar um provérbio latino que se pode aplicar na perfeição à sua demente argumentação. Porque nos garante, marcando a itálico, que os impérios ao se desmoronarem arrastam “metade do mundo, ou até mais” com eles. Logo depois dá o exemplo da URSS, um império bem maior do que o da Federação Russa, que ruiu sem sequer ter sido preciso disparar um tiro e não causando mal a ninguém ao desaparecer, exactamente ao contrário. Faz isto algum sentido? Não faz, obviamente, e é por isso que está a ser dito.

A lógica é a de que é preciso ser ilógico quando não se tem razão. E não se tem razão quando se coloca como pressuposto que há quem ande a tentar destruir a Rússia. Onde é que tal aconteceu? Quem é que invadiu a Rússia depois da Alemanha de Hitler? Ninguém. Quem é que ameaçou invadir a Rússia nos últimos 80 anos, sequer meio metro? Ninguém. E com isso o “argumento” passa a ser este: é Putin quem define o que é “tentar destruir a Rússia”. A partir daqui, vale tudo. O bater de asas de uma borboleta algures no Arizona pode ser considerado o início da invasão americana, basta que Putin se sinta em vias de ser atacado pelo lepidóptero.

Entusiasmado, Medvedev agitou a “solução final”: o passado da civilização calcinado e séculos de tijolos e metais radioativos como paisagem nos quatro cantos do mundo. E pouco lhe importa, chega a detalhar, que os inimigos da Rússia correspondam só a 15% da população mundial. Este amigo está disposto a sacrificar os restantes 85% de pessoal muita fixe em ordem a mostrar aos “paises ocidentais” que eles são demasiado antipáticos. O que aumenta a nossa perplexidade acerca dos poderes mentais do craque, visto ser o próprio a declarar que os 85% são “muito mais fortes” do que os malandros dos 15%. A ser assim como afiança, tendo o putinismo mais do quíntuplo da força dos “ocidentais”, como é que a Rússia alguma vez poderá ter a sua existência ameaçada?

Seria interessante conhecer a opinião dos chineses e dos indianos a respeito deste plano apocalíptico, embora supinamente interessante seja a opinião dos próprios russos, especialmente dos militares. É que despachar um artigo encharcado em vodka não é a mesma coisa que tentar destruir a Rússia a partir do Kremlin.

31 thoughts on “Apesar dos 85%, Medvedev está disposto a rebentar com os 100%”

  1. é que quando eu comecei a ler, parecia que o tolinho estava a querer atrofiar Putin e putinistas, fiquei incrédula, !viva!, pensei, pode ser que este consiga tirar a tosse ao maldito. mas depois, é mesmo assim, o treteiro inverteu tudo: pegou no bonito para fazer feio, trocas e baldrocas, pimba, toca a inflamar os tolinhos menos inflamados.

    depois dos depois, eis que chega o teu brilhantismo e a tal borboleta do Arizona já cá estava na minha barriguinha e voou para o texto. adorei. quem me dera que um texto destes, este, pudesse acabar com a invasão.

  2. parece que os chineses se querem encostar aos russos.

    Se assim for, mudemos de passeio quando passarmos por uma loja do chines.

    Boicote à loja do chinês.

  3. Agora deste em não saber ler. Um Valupi analfabeto, imagine-se. Foi o Neves que te pegou? Ou será esta bosta um outsourcing parido pela transburra?

    “A lógica é a de que é preciso ser ilógico quando não se tem razão. E não se tem razão quando se coloca como pressuposto que há quem ande a tentar destruir a Rússia. Onde é que tal aconteceu? Quem é que invadiu a Rússia depois da Alemanha de Hitler? Ninguém.”

    Esta é de cabo de esquadra, carago! Esqueceste o Napoleão? Péra aí, tá bão, isso foi antes, não conta. E o Napoleão só lá foi ver o Spartak de Moscovo-Paris Saint-Germain. Não foi uma invasão, foi uma “Operação (Não) Militar Especial”. Como os da Moscóvia disseram que não vendiam bilhetes a hooligans, o gajo ficou piurso e decidiu dar cabo daquela merda toda, com os resultados conhecidos.

    Quanto ao “pressuposto [de] que há quem ande a tentar destruir a Rússia. Onde é que tal aconteceu?”. Pois… já aqui falei na “Operation Dropshot”, desenhada pelo Pentágono em 1949 com muito amor e carinho, mas continuas a tapar olhinhos e ouvidos e a chutar para canto, acabando irremediavelmente por atirar a bola pela janela e acertar na mona de um transeunte qualquer. Aquela ideia do império do bem, em 1949, de despejar 300-TREZENTAS-300 bombas nucleares “preventivas” sobre uma URSS que em 1949 não tinha nenhuma, para destruir, em dois ou três dias, 85% da capacidade industrial soviética, mais outras 100-CEM-100 bombitas igualmente nucleares para dar cabo dos bombardeiros de longo alcance soviéticos e impedi-los de retaliar (o que obviamente só poderiam fazer com bombas convencionais), mais 29000 bombas convencionais de alto explosivo para terraplenar o resto, tudo isso deve ser para ti, apesar de o plano ter sido desclassificado em 1977 e ser do conhecimento público, uma louca invenção putinista… ou medvedévica, vá lá. 400-QUATROCENTAS-400 bombas nucleares num ataque “preventivo” (sobre um país que quatro anos antes era um aliado) obviamente que não visa destruir nada. Nem vai matar milhões de pessoas de uma assentada! Era apenas um “reset” avant la lettre. Está aqui o essencial, no putinisto-medvedévico “The Sun”:

    https://www.thesun.co.uk/living/2268796/a-declassified-military-plan-reveals-how-the-usa-was-prepared-to-annihilate-the-ussr-with-terrifying-nuclear-force/

    E tens aqui o plano propriamente dito, apenas sem os anexos:

    https://www.allworldwars.com/Dropshot%20-%20American%20Plan%20for%20War%20with%20the%20Soviet%20Union%201957.html

    E o que dizes da “Operation Unthinkable”, encomendada pelo Winston Churchill? Vamos chamar-lhe “Operação Humanitária Especial”, tá bão?

    https://www.thesun.co.uk/living/2223563/churchills-secret-plans-for-how-britain-would-fare-in-an-all-out-war-with-russia/

    E tudo isto foi “depois da Alemanha de Hitler”, vê lá tu! E achas que o Putin, o Medvedev, o Lavrov e o resto da Moscóvia não sabem disto tudo e de muito mais? Mais uma vez informo: é desprovida de rigor científico a crença de que, quando as galinhas têm dentes, saem os pintos carecas. Quando muito, cai-lhes o cabelo um pouco mais precocemente do que os filhos de galinhas desdentadas. Oremos!

  4. A simples sugestão de que a URSS teria sido “destruida” pelos EUA (ou por qualquer império) diz tudo sobre o que vai na cabeça desses tristes e perigosos paranoicos. Podem ver aqui em baixo como é possivel ser de esquerda, ser anti-imperialista, e mesmo anti-imperialista US, e no entanto dizer coisa com coisa, e não cair na logorreia perfeitamente indigesta e idiota que alguns comentadores deste blogue insistem em exibir :

    https://www.youtube.com/watch?v=BzXP6oa1blo

    (para francofonos apenas, desculpem)

    Boas

  5. fora com os americanos e sobretudo fora com quem os comanda e manda neles , que os coitados não têm culpa de terem caído nas garras duns monstros históricos que só param quando tudo isto , o mundo, for só deles. viva a rússia que já os topou. e a china. e a índia.

  6. ó João , ainda hoje os filmes da agência publicitária dos interesses dos monstros , hollywood, têm montes mauzões russos.

  7. era o que faltava boicotar as lojas chinesas, adoro-as, é lá que compro fitas de cetim e rendas e vernizes com brilhantes para acabamentos e palmilhas de gel e chapéus para a chuva e ganchos e flores artificiais para desmontar. ademais, fartam-se de dar emprego a portugueses e as casas de banho são muito limpinhas e perfumadas.

  8. Estes malvados não querem admitir que a Cortina de Ferro foi construída pelos comunas para que eles próprios não caíssem na tentação de vir por aí abaixo arrebanhar o resto da Europa !!!
    Agora é que se topa a marosca !

  9. Yo e outros que, se calhar, não nasceram ontem nem nasceram com os olhos tapados,

    Podemos arranjar milhares de argumentos para criticar os EUA, hoje, ontem, antes de ontem. A até para criticar a sua politica anti-URSS, que nunca foi segredo para ninguém. Agora, vão-me desculpar mas, historicamente falando, os EUA não tiveram nada a ver com o desmoronamento da URSS, que não foi provocado por eles, nem de perto nem de longe.

    A realidade conta…

    So isso.

    Boas

  10. Pacifistas de esquerda com capacidade de raciocínio…

    “O movimento mundial pela paz tem, no seu conjunto, uma história admirável de oposição às guerras que causaram, ao longo dos anos, tanto sofrimento. Estes militantes defenderam a paz e a justiça social do Vietname à América Central, passando pelo Iraque, contribuindo para sensibilizar o mundo para a ideia de que em vez de morte e destruição, xenofobia e intolerância, podemos trabalhar para a resolução pacífica de conflitos, consagrando os nossos esforços a fornecer uma resposta efetiva às necessidades humanas reais.
    O movimento pacifista sublinha, desde há muito, o desperdício monumental que representam os gastos com a guerra. Se todo o dinheiro gasto em armas que infligem morte tivesse sido direcionado para as necessidades humana, há muito que pobreza e fome poderiam ter sido erradicadas.
    Desta forma, tendo em conta a nossa admiração e o nosso reconhecimento para com o movimento pacifista, ficámos desiludidos e um pouco surpreendidos de nos encontrar em desacordo sobre a questão da Ucrânia com pessoas ao lado das quais tantas vezes desfilámos pela paz no passado.
    Eis os pontos nos quais estamos de acordo com o movimento pela paz. Em primeiro lugar, opomo-nos todos à invasão e à ocupação de regiões da Ucrânia por Vladimir Putin. Estamos de acordo em dizer que a Ucrânia é um país independente e que a Rússia é o agressor. Em segundo lugar, temos empatia para com os soldados e civis que morrem, são deslocados ou obrigados ao exílio com esta guerra. Em terceiro lugar, opomo-nos ao militarismo e à guerra e entendemos que a Nato – ainda que não seja diretamente responsável por esta guerra – representa igualmente um problema porque se trata de uma aliança militar. No início dos anos 1990, com a queda da União Soviética, novas estruturas de segurança mútua deveriam ter sido implementadas em vez de alargar-se a aliança forjada por Washington no quadro da Guerra Fria.
    Tendo tantos elementos em comum, deveríamos ser capazes de ter uma discussão frutuosa e talvez encontrar meios de nos empenharmos em algumas ações conjuntas. A nossa capacidade de discutir estas questões não se estende sempre a quem desculpou ou mesmo apoiou a Rússia ou a quem, ignorando a responsabilidade primeira da Rússia na agressão, quer transformar os Estados Unidos, a Nato ou a União Europeia como responsáveis diretos da guerra. O seu apoio à Rússia exclui-os ao mesmo tempo do movimento pela paz e do apelo à solidariedade internacional com as vítimas da agressão.
    Parece-nos que o movimento pela paz avança com três argumentos para as suas reivindicações de tipo diplomático de paz neste momento. Em primeiro lugar, o apoio norte-americano com armamento à Ucrânia prolonga a guerra. Em segundo lugar, o fornecimento de armas priva o orçamento dos EUA de recursos que seriam de outra forma alocadas a importantes programas sociais nos domínios da habitação, educação, proteção social e ambiente. Em terceiro lugar, a guerra na Ucrânia ameaça perturbar a produção e distribuição de cereais, reduzindo a oferta e provocando uma subida dos preços que levará a uma fome massiva no Médio Oriente, no Norte de África e noutras regiões do Sul. Examinemos cada um destes argumentos.

    Militarismo e guerra

    Se considerarmos o argumento segundo o qual a ajuda militar à Ucrânia favorece o militarismo e a guerra, o ponto de partida deve ser o seguinte: “creem que um país injustamente atacado tem o direito de se defender?” Se sim, e se o país não dispõe de meios para se defender, tem o direito de receber armas do exterior? Ainda que o movimento pacifista deseje um mundo no qual nenhum diferendo seja sanado pela guerra, um mundo assim não existe, pelo que não pode recusar aos outros povos, como aos ucranianos, o direito à auto-defesa.
    Claro que há alguns membros do movimento pacifista que são pacifistas incondicionais e que pensam que a guerra é sempre má e contra-produtiva, mesmo numa situação de auto-defesa. Uma grande parte do que os pacifistas dizem sobre a guerra é extremamente precioso: sublinham os custos a longo prazo que frequentemente as análises custo-benefício da decisão de empunhar armas deixam de lado, nomeadamente a arregimentação que acontece nas sociedades num contexto de guerra, as mortes civis inevitáveis e os afetos brutais que afligem até os combatentes mais virtuosos. A maior parte de entre nós, no movimento pela paz, não somos pacifistas incondicionais. Pensamos geralmente, ainda que reconheçamos os seus custos, existem sempre momentos em que a resistência militar contra um agressor é justificada. Os pacifistas incondicionais não estão de acordo mas seria extremamente improvável que até um pacifista que acredita na justiça denuncie alguém por ter fornecido armas a uma vítima de agressão. Não há assim nenhuma razão para a qual o movimento pacifista deva atacar o fornecimento de armas à Ucrânia.
    Alguns pacifistas apelam às vítimas de uma agressão para recorrer à desobediência civil não violenta ou a outros meios para resistir. É certo que a resistência civil e outras formas de resistência não violenta podem ser muito mais eficazes do que geralmente se crê. E é justo que o movimento pacifista o sublinhe e faça campanha a favor de tais orientações. Mas parece inapropriado que “estrangeiros” [no sentido de pessoas que não pertencem à entidade ucraniana] digam aos ucranianos, enquanto estes estão a ser bombardeados, que devem utilizar unicamente a não violência ou içar a bandeira branca e render-se.
    O movimento pela paz crê na paz mas, claro, não considera que a paz seja o único valor. É por isso que numerosas organizações pacifistas citam tanto a paz quanto a justiça entre os seus objetivos comuns. Historicamente, a grande maioria das forças da paz concluiu que ainda que não resistir aos exércitos de Hitler tivesse podido conduzir à paz, isto não nos teria levado a um mundo melhor. Do mesmo modo, na época da guerra civil nos EUA, a aceitação da secessão da Confederação teria permitido assegurar a paz mas pagar-se-ia o preço da continuação dos horrores da escravatura. No caso da Ucrânia, a guerra provoca um grande prejuízo à paz social em muitos domínios. Mas a capitulação – porque é esse o preço da paz a qualquer preço – causa igualmente um terrível atentado à justiça social. Putin declarou que eliminaria a Ucrânia enquanto nação e os ucranianos enquanto povo, defendendo que fazem parte da Rússia. Pretende conquistar a Ucrânia e submetê-la ao seu regime autoritário, numa sociedade sem democracia nem liberdades civis. Colocamos assim a questão: guerra ou capitulação? O que provoca mais estragos? Os “estrangeiros” poderão verdadeiramente fazer um julgamento disto no lugar dos ucranianos?
    Em nome da paz, o movimento pacifista não pediu à União Soviética ou à China para pararem de enviar armas ao Vietname do Norte, nem aos países “comunistas” da Europa de Leste para pararem de enviar armas aos sandinistas da Nicarágua nos anos 1980 para se defenderem do exército dos “Contra” armados pelos EUA. Os militantes de esquerda e os progressistas não consideraram a recusa ocidental em fornecer armas à República espanhola nos anos 1930 como uma expressão de vontade de paz mas como uma falta de vontade política por parte dos países ditos democráticos ou até uma simpatia disfarçada para com Franco.
    No passado, claro, opusemo-nos a exportações de armas porque eles iriam apoiar regimes que violavam os direitos humanos. Mas no caso da Ucrânia, as armas são uma tentativa de ajudar um povo injustamente atacado a defender-se, tal era o objetivo do programa Lend-Lease de fornecimento de material de guerra à Grã-Bretanha e à URSS sem entrar diretamente no conflito, antes dos EUA entrarem na 2ª Guerra Mundial no final de 1941.
    Alguns podem argumentar que o Vietname e a Espanha republicana eram governos progressistas, enquanto a Ucrânia é corrupta ou até mesmo fascista. Acreditamos que o caráter do governo não é a questão-chave, mas sim se ele está envolvido numa luta anti-imperialista justificada pela autodeterminação nacional. Quando, entre 1935 e 1937, a Itália fez guerra à Etiópia, a maior parte da esquerda apoiou esta ainda que o governo do imperador Hailé Sélassié fosse autoritário e reacionário. A esquerda agiu assim porque era importante apoiar um país soberano contra o imperialismo fascista italiano, um regime que, em 1936, estava aliado com a Alemanha nazi. O fundo desta posição remete para o anti-imperialismo e para a defesa da auto-determinação.
    O caso da Ucrânia, contudo, é muito mais fácil de decidir. A Ucrânia, ue tem conhecido problemas de ingerência estrangeira de todas as partes e de corrupção bem enraizada, é fundamentalmente um país democrático, no qual os dirigentes foram substituídos aquando das eleições. Existem liberdades civis, ainda que estejam indubitavelmente ameaçadas, sobretudo em condições de guerra. Como noutras nações do mundo, o país conta com uma extrema-direita e com organizações neonazis, entre as quais a tristemente célebre brigada Azov. Estas forças, porém, obtiveram maus resultados nas eleições e não controlam o governo neoliberal do presintes Volodymyr Zelensky. Na Ucrânia existe uma esquerda socialista legal e democrática que alguns de entre nós, no seio da esquerda dos Estados Unidos, apoiam.
    Apesar de pensarmos que a Ucrânia tem o direito a procurar armas para se defender onde possa, reconhecemos que a implicação direta dos Estados Unidos ou da Nato poderia conduzir a uma guerra europeia mais ampla ou à utilização de armas nucleares. Devemos estar vigilantes e opor-nos a qualquer evolução deste tipo. E se as coisas chegarem ao ponto em que o governo Zelensky procure continuar a guerra ao contrário da vontade da população ucraniana, então passaria a ser justo que os “estrangeiros” se oponham à expedição de mais armas. Mas as sondagens – apesar de serem limitadas em tempo de guerra – sugerem que tal não é o caso atualmente.
    São numerosos aqueles que, à esquerda, sugeriram que Washington está a empreender uma “guerra por procuração” contra a Rússia e que empurra os ucranianos a “bater-se até ao último ucraniano”. Claro, os Estados Unidos amariam ver uma Rússia enfraquecida mas é pouco provável que os ucranianos continuassem unicamente devido à pressão do Estados Unidos. Os ucranianos batem-se por sua iniciativa e os Estados Unidos não podem obrigá-los a bater-se, ainda que possam forçá-los a render-se, recusando-lhes armas. De facto, é claro que a administração Biden e outros dirigentes ocidentais estão bastante inquietos com as consequências económicas de uma guerra prolongada e os riscos que isso comporta para os seus outros interesses geopolíticos.

    As armas para a Ucrânia e os gastos sociais

    Ainda antes da Rússia ter invadido a Ucrânia, a administração Biden tinha constatado que o apoio do Congresso era demasiado fraco para conseguir fazer passar o seu programa social. Detendo apenas uma maioria fraca no Senado, os democratas não conseguiram ultrapassar o anti-democrático filibuster [a obstrução parlamentar que pode resultar na necessidade de ter 60 votos para aprovar uma lei no Senado] e as deserções de um ou dois democratas de direita [Joe Manchin e Kyrsten Sinema]. O programa de Biden sofreu igualmente com as reduções de impostos impostas pelo anterior presidente Donald Trump e com a incapacidade dos democratas em reestabelecer taxas de impostos mais altas às empresas e aos ricos.
    Uma política fiscal progressiva poderia facilmente ao mesmo tempo financiar o programa Build Back Better e as armas para a Ucrânia. A ajuda à Ucrânia não teria tirado um único voto no Congresso ao Build Back Better.
    Alguns militantes do movimento pacifista norte-americano criticaram os progressistas do Congresso por terem votado a favor da ajuda militar e económica à Ucrânia apesar do seu programa social (o Green New Deal ou o Medicare for All) não ser votado. Mas o apoio à Ucrânia dos progressistas do Congresso não os levou a abandonar o seu programa social. Não se pode afirmar também que, sem a ajuda à Ucrânia, o Green New Deal e outras leis progressistas teriam sido adotadas. Os gastos dos EUA em armamento para a Ucrânia não têm absolutamente nenhum impacto no orçamento social do país, ainda que tal possa vir a acontecer na medida em que a guerra se prolongue ou se estenda.

    A fome nos países do Sul

    De forma justa, o movimento pacifista inquieta-se igualmente com o impacto da guerra na Ucrânia no abastecimento de alimentação em África e noutras regiões do Sul. A Ucrânia, que um dos mais importantes produtores de cereais do mundo, viu as suas exportações serem bloqueadas pelos combates em zonas agrícolas. As forças russas queimaram campos e atacaram silos de cereais, bem como portos ucranianos. É verdade que se os ucranianos se rendem-se amanhã, as exportações de cereais – ainda que reduzidas devidos aos estragos causados pela guerra – poderiam ser retomadas. Mas, obviamente, se a Rússia parasse com a ofensiva militar e retirasse as suas forças invasoras as exportações de cereais poderiam igualmente ser retomadas.
    Para prevenir as consequências terríveis da agressão russa sobre as populações do terceiro mundo, o movimento pacifista deveria exigir à Ucrânia que ela peça a paz e perca provavelmente a sua soberania? Não, deve exigir à Rússia o fim da guerra e a retirada da Ucrânia. Se não o fizer, devemos procurar outros meios de encaminhar alimentos para quem deles precise. Por exemplo, poderíamos exigir à Assembleia Geral das Nações Unidas que utilize o poder que lhe confere a resolução “União para a manutenção da paz” [1] para escoltar os navios de cereais a partir dos portos ucranianos.
    Não devemos exigir uma ação unilateral dos EUA para proteger as cargas de cereais o que poderia ser considerado como uma provocação. Mas uma escolta humanitária autorizada pela ONU seria completamente diferente. Se as companhias seguradoras ficassem reticentes em cobrir os riscos corridos pelos navios que navegassem no Mar Negro, a União Europeia poderia certamente oferecer tal seguro. O princípio chave é o seguinte: o movimento pacifista não deve exigir que a Ucrânia renuncie à sua liberdade porque a Rússia tomou como refém o aprovisionamento alimentar do Sul, enquanto outras soluções menos esmagadores estão disponíveis. [2]

    A questão da diplomacia

    O movimento pela paz tem uma posição clássica a favor da diplomacia. Mas pensemos na guerra do Vietname. Enquanto que muitos oponentes progressistas à guerra tinham como palavra de ordem “negociações agora”, a reivindicação do movimento anti-guerra radical – composto de milhões de pessoas que desfilavam nas ruas dos Estados Unidos – era a seguinte: “fora agora”. O seu argumento era que os Estados Unidos não tinham nenhum direto moral sobre o estatuto do Vietname e que não tinham portanto nada que negociar sobre este assunto. Deveriam simplesmente retirar as suas tropas. A esquerda sabia, é claro, que apesar das exigências justas, era pouco provável que os Estados Unidos se contentassem em partir e que existiriam negociações. Sabíamos igualmente que o Vietname iria negociar e não os criticaríamos por isso – era escolha sua – mas compreendíamos igualmente que o que se passava no campo de batalha afetaria o resultado de qualquer negociação. Assim, apesar de desejarmos a paz, apoiámos a luta de independência do Vietname contra os Estados Unidos.
    O mesmo se pode dizer quanto à Ucrânia de hoje. Em termos de justiça, a exigência que se impõe é a de uma retirada imediata e incondicional da Rússia de toda a Ucrânia. Os militantes anti-guerra russos adotaram igualmente esta posição. Dizemos à Rússia o que tínhamos ditos aos Estados Unidos: “fora agora”.
    De facto, como em quase todas as guerras, esta terminará certamente por uma espécie de acordo negociado. Mas a natureza deste acordo – a saber se o povo ucraniano poderá continuar a existir como nação independente e soberana – dependerá da situação militar no terreno. Esta dependerá por sua vez da situação política e do grau de solidariedade à escala internacional com a Ucrânia. Sem armas estrangeiras, a Ucrânia seria obrigada a aceitar um acordo desastroso que poderia desmembrar o país, ou mesmo acabar com a sua existência independente e o seu governo democrático. Com armas poderá ganhar a guerra, recuperar o conjunto do seu território e defender o seu governo democrático ou, em caso contrário, chegar a um acordo que julgue aceitável. As mortes e destruições que daí decorreram valerão a pena? Como é que uma decisão destas pode ser tomada por outros que não o povo ucraniano?
    Partilhamos o desejo do movimento pela paz de acabar com o militarismo e com a guerra, de desmantelar as alianças militares e acabar com a ameaça de aniquilação nuclear. A Nato deveria ser desmantelada e substituída por tratados que garantissem o respeito pela soberania nacional e reduzissem as bases militares e os armamentos. As nações ricas como os Estados Unidos, a China, o Japão e a União Europeia têm a responsabilidade de velar para que o Sul seja liberto da fome. Temos tudo isso em comum, nesta base abrimos um verdadeiro diálogo sobre a questão do direito da Ucrânia à autodeterminação e à auto-defesa no contexto do estabelecimento de um mundo mais democrático, mais igualitário e mais seguro para todos.

    Stephen R. Shalom e Dan La Botz são membros do comité de redação do New Politics e da corrente Internationalism from Below.

    Artigo publicado originalmente na página Foreign Policy in Focus (do Institute for Policy Studies), a 19 de julho de 2022. Traduzido para francês pelo A l’Encontre(link is external) e traduzido a partir dessa versão para português por Carlos Carujo para o Esquerda.net.

  11. Digo o seguinte: concordo com todo o texto acima citado. Tudo o que está lá escrito faz sentido.
    Não fui capaz de ler ou ouvir um líder ocidental a falar com tanta razão e seriedade

  12. Muito bom o artigo de Slavoj Zizek. Destaco:
    – Não há mais necessidade de ler nas entrelinhas quando Putin compara a si mesmo com Pedro o Grande: “Diante disso, [Pedro] estava em guerra com a Suécia para tirar algo dela… Mas não estava lhe tirando qualquer coisa, estava trazendo de volta… estava trazendo de volta e reforçando, é isto o que ele estava fazendo. Claramente, coube a nós [Rússia atual e Putin] trazer algo de volta e reforçar também”. –

  13. alguma pena que o ex-professor universitário, com obra académica relevante, não saiba ler português nem visite aqui a chafarica. porque senão poderíamos assistir a mais um arraso como aquele que o maradona deu ao valupe quando este decidiu emitir opinião “literata” acerca do presidente do sportain da altura.
    e por falar em propaganda e sportain, dizer que nunca mais o valupe falou do tema atrás referido, sendo que recentemente até houve algumas revelações relevantes acerca da “campanha de propaganda” que o valupe papou todinha e arrotou de satisfação. mas os “ocidentais” são assim: gritam muito quando acham que são fortes e depois quando a realidade lhes mostra que afinal não são, tentam fazer com que todos se esqueçam do que diziam.
    este texto, que resumidamente se questiona sobre se os “outros” acreditaram numa óbvia “campanha de propaganda” quando é também óbvio que campanhas de propaganda há pelo menos duas, vai pelo mesmo caminho. é dar-lhe 3 meses.

  14. Um americano a falar dos líderes americanos, mas bem podia estar a falar do Valupi:

    https://swentr.site/news/572464-washington-stupid-ukraine-democrat/ (RT, 4-3-23, “American leaders are ‘fundamentally stupid’ – US Democrat”)

    Motivated by a desire to sever Germany’s economic ties to Russia, the US’ “intellectually bankrupt” politicians have made nuclear war a realistic possibility, Kentucky gubernatorial candidate Geoffrey Young told RT on Saturday.
    Young said that the electorate he has spoken to in Kentucky are “sick of” seeing their tax dollars go to Ukraine, and think that the US should cut off the supply of arms to Kiev.
    In Washington, however, politicians are “separated from reality,” he said. “I think most of them are severely deluded about reality by decades of anti-Russian propaganda in our mainstream media,” he claimed, pointing to the fact that Congress is currently holding hearings on climate change, which he called “totally irrelevant..at this moment when humanity is threatened by a possible nuclear war.”
    Aside from using Ukraine to fight a proxy war against Russia, Young claimed that the Biden administration’s overarching goal has been to “strengthen Washington’s hold over our European so-called allies.”

  15. Pobre Slavoj Zizek, lembro-me de muitas entrevistas e artigos dele, principalmente na RT, em que defendia posições totalmente incompatíveis com a maior parte do que escreve no artigo acima linkado. Imagino que lhe devem ter apertado os tomatinhos com alguma ameaça de acusações de pedofilia ou coisa que o valha! E prontes, aí está ele confortavelmente domiciliado no redil dos borreguinhos bem-comportadinhos! Eureka!

  16. camacho, não sei a que artigo se refer o fernando mas se é a um que o zizek escreveu logo no inicio do conflito, o truque está em não colocar o link para todos podermos verificar que zizek não critica a intervenção russa sem apontar o dedo às decadas em que o “ocidente” fez o mesmo ou pior sem dar cavaco a ninguém.

  17. um exemplo:

    “A estratégia dos Estados Unidos em reagir através da Europa é mais do que evidente: não apenas a Ucrânia, a Europa ela mesma está se tornando o lugar em que se trava a guerra por procuração entre Estados Unidos e Rússia”

    – Slavoj Žižek

  18. https://nuso.org/articulo/Zizek-Ucrania-Rusia/

    “Me ha sorprendido la cantidad de izquierdistas, especialmente en Alemania, en el partido Die Linke [La Izquierda], que se basan en un pragmatismo burdo e ignorante. Este puede formularse del siguiente modo: «Nuestros trabajadores perderán parte de sus salarios debido al aumento de los precios (por el conflicto). ¿Por qué deberíamos involucrarnos en una guerra que está teniendo lugar en algún lugar de Oriente?». Pero si hay margen para la negociación en algún lugar del horizonte, este ha sido creado (precisamente) por el apoyo occidental a Ucrania: sin él, las Fuerzas Armadas ucranianas ya habrían perdido y solo les quedaría (obedecer) las condiciones rusas. La resistencia ucraniana y el apoyo occidental crearon las condiciones para una paz justa (en el futuro).
    Y estos «izquierdistas» que siguen llamándome «lobo vestido de payaso» o «bufón de la corte del capitalismo» son increíblemente estúpidos. Sí, las autoridades ucranianas han cometido errores. Pero los ucranianos han sido atacados, están defendiendo su país. Es un verdadero milagro: creen en su libertad y luchan por ella. Caray, si te consideras a ti mismo de izquierdas, tienes que simpatizar con ellos. Es más, hay que dar un paso al frente y decir que los ucranianos, al resistirse a Putin, están ayudando a Rusia a democratizarse a largo plazo. ¡Es obvio!
    Otra cuestión es que la gente como Chomsky tiene el viejo prejuicio izquierdista: si la UE, Estados Unidos y la OTAN están implicados en algo, automáticamente hay que estar en contra. Desgraciadamente, esto no es cierto.
    La ideología de Putin y de la gente que le rodea es bastante fácil de leer: es neofascismo. Esto incluye reivindicaciones imperiales sobre la devolución de territorios, una política exterior agresiva y una dependencia de los oligarcas. A pesar de ello, la vieja izquierda sigue pensando que los principales imperialistas son Estados Unidos y Europa Occidental. En consecuencia, «su enemigo es mi amigo». Siguen aferrándose a la creencia de que Rusia lucha contra el imperialismo mundial.”

    – Slavoj Žižek

  19. Teste, é esse mesmo, aqui linkado pelo chalado dos zzz às 17:09 de ontem. O problema com Zizek nesse artigo é o velho malabarismo contorcionista de uma no cravo e outra na ferradura. Eu também classifico a invasão da Ucrânia pela Rússia como uma filha-de-putice, além de “inacreditável estupidez”, como escrevi logo em 24 de Fevereiro de 2022 às 20:35, primeiro dia da invasão (ver aqui: https://aspirinab.com/valupi/ou-nao/ ), mas, ao contrário de Slavoj Zizek, não esqueço os perto de quatro milhões de russos do Donbass e os dois milhões da Crimeia. E o “programa” para esses é simples: limpeza étnica para os que se pirarem a tempo (para uma Rússia onde não nasceram) e vala comum para os que não tiverem pernas para isso. Foi o que aconteceu aos 200 mil sérvios da Krajina jugoslava, como deves lembrar-te. Como disse o palhaço corrupto e cobarde Herr Zelensky von Pandora Papers, “se há ucranianos que se sentem russos, eles que vão para a Rússia”. Isto foi o que o vigarista e aldrabão (à la Passos Coelho), eleito por 73% dos ucranianos com um programa de paz que mantinha os russos do Donbass na Ucrânia, disse depois de os nazis fofinhos lá do sítio o ameaçarem com um tiro nos cornos se teimasse na conciliação. Uma deputada ucraniana chegou a ESCREVÊ-LO no Twitter. Aconteceu-lhe alguma coisa? Népias!

    Já aqui o repetimos à exaustão (tu, eu e outros): o cumprimento dos Acordos de Minsk teria permitido a manutenção do Donbass na Ucrânia e evitado a desgraça a que agora assistimos. E, queiram ou não queiram os borregos belicistas que por aqui vão pastando, e não esquecendo a merda que em 24-2-22 os russos deram em fazer, foram eles (com o Putin à cabeça) os únicos que se empenharam nisso.

    Quanto ao Slavoj Zizek, assim como assim, é no “ocidente” que tem a vida feita e faz pela vidinha. Ele sabe que, em menos de um fósforo, passa de velho comuna “excêntrico”, frequentemente convidado para palestras e conferências por organizadores que querem armar ao pluralismo da “ocidental” tolerância, a execrável “putinista”, irremediavelmente ostracizado, que ninguém mais convida para sessões de martinis, salgadinhos, selfies e palmadinhas nas costas. Em suma, o buraco negro do arquivo morto, de onde nunca mais sairá… a não ser que emigre para a Moscóvia.

  20. “Those who advocate less support for Ukraine and more pressure on it to negotiate, inclusive of accepting painful territorial renunciations, like to repeat that Ukraine simply cannot win the war against Russia. TRUE(!!!!!!!), but I see exactly in this the greatness of Ukrainian resistance: they risked the impossible, defying pragmatic calculations, and the least we owe them is full support, and to do this, we need a stronger Nato – BUT NOT as a prolongation of the US politics.”

    que bonitinho! os unicórnios resolviam a situação. fiquei sem perceber se devemos esperar por eles ou não

  21. obrigado, camacho. entretanto percebi qual era. é que os comentários do Zorro normalmente passo logo à frente. o artigo realmente é interessante, tenta navegar as contradições deste conflito à luz da ciência política tradicional (algo em que falha, na minha honesta opinião), mas talvez as centenas de milhares de mortos que ocorreram desde então o possam ter feito mudar ligeiramente de ideias. é que o raio dos unicórnios teimam em não aparecer!

  22. Quanto ao post, não deixa de ser ridículo e patético ver um Valupi todo arrepiadinho e de cabelos em pé com um Dmitry Medvedev que se limitou a dizer, preto no branco, o que estava claramente implícito no que John Kennedy disse em 1962, na crise dos mísseis.

    Tal como o Zizek (eu sinceramente, ele talvez oportunisticamente), porém, tenho um enorme respeito e admiração pela resistência dos ucranianos, arrastados para esta desgraça pela cobardia do seu presidente, pela estupidez da liderança russa, pela cupidez cleptocrática da América e pela falta de espinha e vergonha na cara da criadagem europeia. Fosse eu ucraniano de Lviv ou Kiev, por exemplo, e era o que faria. Fosse russo-ucraniano do Donbass e, independentemente dos erros cometidos, era com a bandeira do Z que lutaria.

    Quanto às “centenas de milhares de mortos” que referes às 10:49, olha que não. Os números da ONU de há três ou quatro dias falam em 8100 mortos civis, que perdem na comparação com, esses sim, “centenas de milhares de mortos” pelo império do bem no Afeganistão ou no Iraque, por exemplo. Como provavelmente diria a Rainha Santa, “são castanhos, não prestam” (ou, em franciú: “puta que os pariu”). Quanto aos mortos militares, devem andar pelos 100 a 150 mil de cada lado, mas por enquanto é muito difícil saber, só daqui a alguns será possível.

  23. certo, camacho.

    referia-me às mortes civis e militares, e de ambos os lados. diz que bakmut foi uma trituradora humana, com baixas na ordem dos 6 digitos, só neste ultimo mês.

    quem nestas condições é que consegue ficar feliz com a possibilidade de uma contraofensiva, havendo qualquer possibilidade de um acordo?

  24. “só daqui a alguns anos será possível” e não “só daqui a alguns será possível”, como é óbvio.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *