Apenas se percebe

O juiz de instrução criminal de Aveiro enviou uma carta à comissão onde diz – segundo revela um requerimento do PSD – que a tentativa de compra da TVI pela PT “apenas se percebe” com a análise de escutas entre Armando Vara e Penedos. Recorde-se que os magistrados informaram a comissão que enviariam as escutas apenas sob fortes garantias de confidencialidade. O presidente da CPI já os questionou sobre que tipo de garantias são necessárias para os deputados terem acesso aos documentos.

DN

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PSD e BE querem explorar até à última gota a espionagem política feita em Aveiro. Porém, o que Vara e Penedos tenham dito – e seja lá o que for – não pode substituir a realidade. Na realidade, a intenção da PT entrar na TVI era um facto público há anos, em nada se relacionando com a linha editorial da mesma, como o Jornal de Sexta, com a tentativa de afastar o casal Moniz, com planos de Sócrates, Governo ou PS. Os absurdos que a mera hipótese de existência de tal plano levanta são tão flagrantes, dado o número de intervenientes que requer e as inúmeras ocasiões de falhanço em tragédia da operação, que a oposição devia era lamentar não passar de uma fantasia. Os decisores de todas as partes envolvidas têm confirmado o quadro de uma negociação normal, legítima e apenas abortada pela pressão política do PSD, CDS e Presidente da República. E os que não o confirmam, como Moniz e Moura Guedes, ou soltam grotescas e delirantes patranhas ou são desmentidos e ficam-se.

Num tempo em que a Justiça portuguesa finalmente começa a ser obrigada a descer do pedestal para se regenerar, contar com a interpretação desautorizada de diálogos ao telefone por parte de uns magistrados em Aveiro, para assim levar a cabo a enésima tentativa de assassinato de carácter contra Sócrates, é capaz de fazer com que o tiro saia pela culatra.

10 thoughts on “Apenas se percebe”

  1. Espanta Espíritos

    Nem o juiz de Aveiro, nem José Eduardo Moniz e esposa, nem a Manela, nem o Zé Manel, nem o outro Zé Manel, nem o Manuel, nem sequer o Pacheco espantam nesta invenção da tramoia da TVI/PT. O que espanta (e se calhar deveria mover-nos a comprar um ou vários espanta espíritos) é tanta gente dita culta, que abdicou, sem se aperceber, de recorrer à Razão, espírito de cidadania e sentido activo do ridículo, ir atrás deste “nonada”, neologismo genial de Guimarães Rosa. Por entre Comissões e Comissões de Inquérito (levados, levados sim, pela voz do som tremendo, das tubas clangor sem fim,…, lá vamos, que o sonho é lindo, tôrres e tôrres erguendo,…) que realmente e sem exagero lembram a Inquisição (o relator até disse que já sabia o que ia escrever no fim).

    Um Espanta Espíritos, um Espanta Espíritos, o meu Reino (que não é deste mundo, mais semelhante a um Carnaval dos Animais, tanta é a irracionalidade à solta) por um Espanta Espíritos. Eis as palavras que se esperam de algum iluminado, descendente de Ricardo III, que apareça um dia destes a cruzar a Rua da Betesga. Além disso, não nos esqueçamos, o Rei vai realmente nú. E cada vez mais constipado.

  2. A ser verdade, é incrível e vergonhosa a desfaçatez dum juiz, mandar uma carta com tal teor.
    Se toma uma atitude destas publicamente, imagina-se o que não será capaz de fazer(ou o que já fez) pela porta do cavalo…., ao que isto chegou. Pior, é, quem ache isto normal e queira a tudo o custo tirar dividendos de tamanhas ilegalidades.

  3. Expliquem-me uma coisinha, por obséquio:
    A ser verdade tudo o que Valupi escreve e que eu não me atrevo a desmentir, não seria óptimo que tudo ficasse devidamente esclarecido – e de uma vez por todas! – na CPI?
    Seria uma excelente oportunidade para “enterrar de vez” todos aqueles que teimam em ver José Sócrates como a reincarnação de todos os males, a começar por este caso (outros existem, bem sei…) da comprovada tentativa de compra – há anos! – da TVI e da qual o PM teria, eventualmente, desconhecimento.
    Imaginem só que como ficariam o “casal Moniz”, o PSD, o BE ou o Presidente da República quando “todo o mundo” ficasse a saber o quanto era absurda “a mera existência de tal plano”!
    …e o tiro sairia pela culatra aos que fizeram a “(…) interpretação desautorizada de diálogos ao telefone por parte de uns magistrados em Aveiro, para assim levar a cabo a enésima tentativa de assassinato de carácter contra Sócrates (…)”!
    Só uma dúvida assola o meu espírito: Antes eras as escutas que não estavam autorizadas mas agora escreve-se que desautorizadas são as interpretações.
    Decerto que terá sido devido a um lapso do autor, uma vez que não o imagino a desmentir o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça…

  4. Mário Pinto, é precisamente o que se pretende, tudo esclarecer. Porém, tal não deve ser feito com o recurso a espionagem política. Será que não percebes quais os perigos de se fazer política a partir de manobras judiciais que violam a privacidade?

    E, finalmente, que importa que Sócrates tenha tido conhecimento do negócio da PT com a TVI? Ter conhecimento é ilegal? Esta questão é absurda e apenas serve os interesses da calúnia.

  5. Valupi

    Qualificar este caso de “espionagem política” é, quanto a mim, uma forma muito airosa de menosprezar a investigação feita – e devidamente autorizada por um juiz – que não tem culpa que José Sócrates tenha falado demais com Armando Vara, ou vice-versa.
    Convém não esquecer que era Armando Vara quem estava sob escuta, e não José Sócrates.
    A privacidade em si mesma é um valor que respeito, mas não é um dogma, ainda por cima quando, ao abrigo dessa privacidade, possam ser tidas conversas que extravasam o mero interesse pessoal dos intervenientes.

    Não, não importa que José Sócrates tenha tido conhecimento do negócio. Importante é, isso sim, saber se José Sócrates mentiu a esse respeito e, se tal aconteceu, porque razão o fez.

    Afinal tudo é simples, quando queremos.

  6. Mário Pinto, tu não estiveste atento às explicações do Presidente do Supremo aquando da sua entrevista à Judite (a da RTP, não a do Estado). Nela, ele recordou o básico: ninguém pode ser acusado sem provas, e uma conversa não faz prova. E deu um exemplo: se alguém disser que matou sem que tenha matado, ou sem que haja prova disso, e tal calhar ficar gravado pelas autoridades, temos um crime?

    Assim, que sabes tu do que Armando Vara disse e do contexto e intenção do que foi dito? Se não sabes, estás a tomar o partido que foi desautorizado pelo Procurador-Geral, mas também pelo Presidente do Supremo, ao declararem que não encontraram matéria criminal nas gravações que lhes chegaram. Se não há crime, resta a política. Ora, tu queres viver num país onde se faz política a partir da violação da privacidade? Se queres, queres a espionagem política que está a ser explorada nesta comissão de inquérito à compra da TVI pela PT.

    A questão da mentira de Sócrates é da mesma ordem. Até agora, não apareceu ninguém, ou qualquer documento, que implicasse ter sido transmitida informação oficial para o Governo ou Sócrates. Que resta? A privacidade do Primeiro-Ministro, a qual até pode ter recebido a informação, porém essa dimensão não faz parte da política nas democracias, só nos totalitarismos.

  7. Eu vou beber um copito de vinho, quem sabe me inspire também neste diálogo que é interessante mas….
    …tanta conversa…tanta conversa….quando vamos para o quarto? …..:(

    E conclusões?

  8. Valupi

    Colocada a questão dessa forma, tudo parece correcto e sem mácula.
    O que eu sei da conversa entre Armando Vara e José Sócrates é o que aparece na Comunicação Social. Resta saber se é verdade ou não.
    Eu prefiro que José Sócrates seja derrotado politicamente do que devido a processos judiciais. Seria uma prova de que a Oposição conseguiu desenvolver ideias políticas capazes de levar o Povo a votar nela.
    Mas também gostaria que quem prevaricou, e seja em que domínio for, não ficasse incólume, ainda para mais se tal se ficasse a dever a meras questões processuais.
    Não desconheço que aplicar a Lei não é o mesmo que fazer Justiça.
    Vamos aguardar.

  9. Mário Pinto, nesse caso, queremos o mesmo. Também espero que a Lei se aplique, sempre, seja com quem for. Mas a novidade na política nacional diz respeito a esta situação em que há violação do segredo de Justiça para fins políticos, exclusivamente – já para não falar na duvidosa qualidade do trabalho judicial em Aveiro. Tal exploração da privacidade deveria suscitar inequívoco repúdio por parte dos democratas.

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