Ângela Silva, placa de Petri

Sou fã da Ângela Silva. Porque ela é como uma placa de Petri da decadência da imprensa portuguesa. Tendo a função de ligar o Grupo Impresa à Presidência da República Portuguesa, assistimos semanalmente ao reverso: a Presidência a ligar à Ângela para ela espalhar os recados trapaceiros e ressabiados dos homens do Presidente. O cúmulo desta farsa, onde a suposta jornalista se comporta como assessora, ocorreu na chantagem via Expresso que podia ter causado uma gravíssima crise política, em Maio, quando Marcelo mergulhou de cabeça no irregular funcionamento das instituições.

Claro, ela não poderia ser isto sem a aprovação de Ricardo Costa. E o mano Costa não o poderia aprovar sem a autorização última ou primeira de Balsemão. Daí a senhora ser uma placa, não o ecossistema. Ela está apenas a fazer pela vida, ganhando do bom, num ambiente que lhe pede o que a assalariada tenta dar da melhor maneira que consegue.

O que nos leva para esta coisa: 2007: Tinha sido tão “Porreiro, Pá!”. Conceptualmente, é uma rubrica que promete resenhas sobre a história portuguesa recente. Na prática, este episódio não passa de mais um linchamento de Sócrates, o bilionésimo. Em 2007 a licenciatura de Sócrates ainda não tinha sido considerada irregular, pelo que a polémica se restringia ao confronto de diferentes versões sobre as muitas facetas do caso. Daí, ao tempo, esse episódio não ter tido qualquer impacto significativo no eleitorado, muito menos em 2009, ano de eleições legislativas. Pois Ângela Silva centra-se nessa história, de relevância relativa, para apontar ao carácter de Sócrates. Ao mesmo tempo, diminui e enxovalha o Tratado de Lisboa, de relevância absoluta, um dos grandes sucessos da governação socialista e de Portugal como país organizador. É isto jornalismo? Não, pá, é sectarismo e diabolização.

Sendo esta cultura tóxica o alimento do editorialismo do Expresso e da SIC, nada mais previsível do que esta outra coisa: Ângela Silva analisa o estado da relação Costa-Marcelo: “A montanha não pariu um rato, pariu um elefante”. Quem é cúmplice de Marcelo fingindo fazer jornalismo político trata a disfuncionalidade do actual ocupante de Belém como um conflito institucional onde há dois protagonistas voluntários e igualmente responsáveis pelas peripécias. Este falso nivelamento tem como objectivo envolver Costa na sua causalidade, para logo depois o carimbar como culpado pelo confronto, por actos e/ou omissões. A Ângela, com a nulidade Baldaia a servir de ponto, continua aqui a explorar o uso do Conselho de Estado como arma de arremesso, chafurdando risonha e gaiata na violação do sigilo do órgão e na restante boataria desonrosa. O cristalino propósito é o de pintar Costa como o mau da fita, Marcelo como o sofrido herói que tenta salvar a gente boa (leia-se: a direita oligárquica).

Num momento delicioso de involuntária hilaridade, saiu-se com uma pérola: “O Presidente está numa altura em que tem de pesar muito bem a palavra, tem que reflectir muito bem como é que vai gerir os lances do outro lado.” Isto foi publicado a 7 de Setembro. Nos dias seguintes, o tal Presidente fez-lhe a vontade. Cadeiras, decotes, Selecção, fado, bacalhau, Cristiano Ronaldo. A palavra do Presidente não poderia ter sido mais eloquente a gerir os lances do outro lado.

36 thoughts on “Ângela Silva, placa de Petri”

  1. estéril, placa de petri estéril – não sou fã. mas sou fã da tua fina ironia no combate à decadência, adoro, adoro, adoro

  2. O tratado de Lisboa tratou de blindar a ortodoxia neoliberal reinante contra veleidades democráticas nacionais. Extinguiu a noção de cooperação europeia, substituindo-a pela subordinação a instituições pós democráticas, onde a vontade do povo fica à porta!
    Apresentá-lo como sucesso de governação socialista, ilustra bem o desnorte (ou dissonância cognitiva, como diria um Valupi antigo) que se apoderou dos partidos ditos “socialistas” desta e doutras periferias europeias.
    E ainda dizes devemos estar preocupados com Galinhas e com comunicações sociais alinhadas com os interesses da direita…Pois!

  3. José, além de meter o PE como legislador, o tratado de Lisboa reitera os valores da dignidade humana, da liberdade, da democracia, do Estado de Direito e do respeito pelos direitos humanos – assim como da igualdade e dos direitos das minorias; institui o respeito por estes valores como uma condição prévia para a adesão de qualquer novo Estado-Membro à UE e respectivas sanções à sua violação. que mais quer para exaltar o sucesso de um governo?

  4. “institui o respeito por estes valores como uma condição prévia para a adesão de qualquer novo Estado-Membro à UE”

    bem, então a ucrânia não vai poder entrar, certo?
    CERTO?

  5. as intrigas não funcionam, os portugueses estão fartos das ameaças de bomba atómica e o eleitorado de direita chateado pelas ameaças não se concretizarem. marcelo perde popularidade e autoridade pela incontinência verbal, entra em pânico, baralha e dá de novo o mesmo jogo. a sic cada vez mais o balão de ensaio da intriga, os afectos escalam a hard core e o discurso oficial continua no registo “é proibido, mas pode-se fazer”.

  6. Quem falta faz uma Assembleia da República quando se tem um PE, né?
    Quanto ao resto: não interessa ” reiterar”, importa é respeitar…os valor€s.

  7. no dia em que uma sondagem diz que 2/3 da malta culpa o PS pela situação nas escolas, este gajo vem-nos dizer que o presidente perdeu popularidade!
    ohohohohohoho

  8. olinda,

    se não percebe a piada na frase “eu meter o pe” e na sua relação com um cartão vermelho no futebol, o seu cérebro está morto e o seu sentido de humor é inexistente

  9. “no dia em que uma sondagem diz que 2/3 da malta culpa o PS pela situação nas escolas, este gajo vem-nos dizer que o presidente perdeu popularidade!”

    gostava de ver a sondagem que diz que o presidente mantém ou sobe em popularidade por causa da “situação nas escolas”.

    enquanto espero por essa sondagem aproveito para enviar o link duma sondagem manhosa do correio de hoje de manhã e divulgada pelo observador, tudo malta de esquerda, onde entre outras coisas o presidente perde popularidade.
    https://observador.pt/2023/09/21/sondagem-mostra-que-ps-e-psd-sobem-nas-intencoes-de-voto-mas-mantem-proximidade-popularidade-de-marcelo-e-costa-desce-ligeiramente/

  10. Mais importante que “fazer pontes” é perceber a hierarquia das coisas. Sabia que os regulamentos europeus tem precedência sobre as leis da AR? E que as leis da AR têm que se conformar às directivas EU? Não há pior “outsourcing”.

  11. “gostava de ver a sondagem que diz que o presidente mantém ou sobe em popularidade por causa da “situação nas escolas”.”

    nem sabia que o pr estava a pensar na reeleição. ou será que foi o ps que já desistiu de ganhar as próximas eleições?

  12. “enquanto espero por essa sondagem aproveito para enviar o link duma sondagem manhosa do correio de hoje de manhã e divulgada pelo observador, tudo malta de esquerda, onde entre outras coisas o presidente perde popularidade.”

    tb vi os resultados desta sondagem no DN, pelo que a cancio deve ser de direita, lá está!
    mas olha, cliquei no link dos teus amigos do observador, aos quais fazes publicidade aqui, e sabes o que lá encontrei? atenta:

    “Numa escala de 0 a 5, Marcelo Rebelo de Sousa caiu 0,2 pontos percentuais face aos resultados anteriores, mas permanece ainda a figura mais popular”

    que azar, meu! as escolas ainda não o deitaram abaixo! mas mais um anito de greves e podes confiar, joca. juro!

  13. “nem sabia que o pr estava a pensar na reeleição. ou será que foi o ps que já desistiu de ganhar as próximas eleições?”

    podemos discutir isso, mas depois de pores aí o link da tal sondagem que referes neste comentário:

    “no dia em que uma sondagem diz que 2/3 da malta culpa o PS pela situação nas escolas, este gajo vem-nos dizer que o presidente perdeu popularidade!”

  14. José: se estiver a dizer que o direito primário protege os direitos fundamentais está, afinal, tudo certo e terá de reformular – apanhando o norte – o que disse no seu primeiro comentário. de outra forma, fica com o cartão vermelho.

  15. não vi nada lá acima, deve ser como os ovos d’ouro do galinha, que aparecem em formato sondagem & furos hertzianos tsf.

  16. eisch,

    pensei mesmo que tinha posto. deve ter sido o algoritmo que bloqueou o link (também sei fazer, valupi)
    mas pronto, já aí está para poderes informar-te à vontade no putinista e de extrema-direita *verifica notas* Diário de Noticias.

  17. “podemos discutir isso, mas depois de pores aí o link da tal sondagem que referes neste comentário:”

    sempre já podemos discutir o que caralho é que interessa a descida de popularidade de um presidente que mesmo assim continua o politico mais popular e nem sequer pode candidatar-se novamente ao cargo?
    é que vai ser rápido: não interessa nada, nem ao menino jesus, só mesmo para atirar areia para os olhos

  18. Gabo-lhe a verve, Sr. Valupi! Tenha a certeza de que se este seu texto de uma petição pública se tratasse, para exigir o fim da “decadência da imprensa portuguesa”, contaria com o meu imediato apoio. Assim, concordando com ele, anoto-lhe as incoerências, que são as suas:

    Está preocupado com a decadência da dita imprensa, mas há dias aconselhava-me, em registo de fina ironia, a fazer “a revolução contra essa malvada comunicação ocidental.” – cfr. “Na prática, estes conselheiros são uns pulhas” (13 SETEMBRO 2023 ÀS 9:25. (sublinhado meu )
    Ou seja, há dias em que temos uma imprensa má, arregimentada, mas noutros é boa , exemplarmente democrática, tudo conforme os humores do sr. Valupi!

    Em mais este texto sobre o Marcelismo “disfuncional” – nos termos Valupinos – critica a D. Ângela, perguntando se o que faz é jornalismo, para logo a seguir, responder que “não, pá, é sectarismo e diabolização.”.
    No entanto, o Sr. Valupi usa reiteradamente o epíteto de “putinista” para atacar todos aqueles que não têm a sua visão da guerra, como o fez comigo, no acima referido tópico, em que me acusa de ser “amigo de Putin”, bem sabendo que está a mentir.
    Há sectarismos e diabolizações maus, os da D. Ângela e aqueles que são bons, os seus, não é sr. Valupi?!

    E insiste, para que não restem dúvidas acerca da maldade da D. Ângela, que esta tem “o cristalino propósito” de “pintar Costa como o mau da fita” e “Marcelo como o sofrido herói que tenta salvar a gente boa”.
    Nem percebendo que, do mesmo modo, se está a condenar pelo fanatismo com que aborda a complexidade da guerra.

    Reincide na ideia de o que o “actual ocupante de Belém”, actualmente, sofre de grave “disfuncionalidade”.
    Mas, na sua lógica, esse estado será selectivo, pois no que tange à guerra o homem faz boas análises, as que você, no seu maniqueísmo, gosta de ouvir, não é sr. Valupi?!

    Por isso é que foge de falar da questão e o acompanha, bem como à D. Ângela e que tais.
    E, no entanto, não sou eu que o vou apelidar de marcelista, porque não uso palas, nem cultivo o insulto como método de discussão.

    Finalmente, como os seus interesses analíticos do momento se movem entre “Cadeiras, decotes, Selecção, fado, bacalhau, Cristiano Ronaldo…”, num pingue-pongue de “lances” por debaixo da mesa, não é de admirar que a sua caixa de comentários seja, cada vez mais, inundada de opiniões fantásticas, que lhe aviltarão o pensamento, na crença de que estão a elogiá-lo.
    Mas, isso, será problema seu.

  19. JA, teclando afavelmente com um bisturi, oásis de inteligência em deserto de indigência, não fica pedra por virar.

  20. JA é inadmissível essa falta de concordância que resulta em incoerência, !ai! que até me dá comichão. saque, por favor, se a tiver, da sua humildade e reescreva da seguinte maneira: Assim, concordando com ele, anoto-lhe, que são as suas, as incoerências.

    de resto, pode continuar a burilar os seus fígados gordos se isso lhe traz saúdinha. até me lembrei, doravante, de o baptizar com o seguinte cognome: JA, o burilador de carnes verdes. !ai! que riso

  21. O Jornalismo é mesmo o quarto poder. Murdoch acabou de se reformar depois de ter estuprado até ao tutano o corrécio D. Trump. E em Franca o mogul Bernard Arnault, dono do empório mundial de Moda Vuitton, anda a coleccionar jornais diários- Económicos em especial. Em conluio com o genro, Xavier Niel CEO da Free, o maior accionista do Grupo Le Monde , com o Diário , os semanários Le Nouvel Obs e Challenges e diversificadas publicacoes tecnicas e cientificas. Os accionistas do Le Monde injectaram já centenas de milhöes de Euros e teem “secretas “ligacöes com um empresário siderurgico checo que comprou a Elle e a Marianne e destroca agora para ” salvar ” o Libération da falência infeliz.

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