De acordo com o Código Penal português, uma calúnia é um tipo de difamação ou injúria onde não se prova a acusação ofensiva que se lança e, ao mesmo tempo, se pretende espalhar na sociedade essa mentira para assim prejudicar gravemente o alvo ou alvos da calúnia.
Quão maior a influência social do meio ou meios usados, quão maior o opróbrio da calunia lançada, quão maior o valor da reputação moral para o estatuto do alvo ou alvos, maior o dano que se pretende obter.
As calúnias são pervasivas ao todo das interacções humanas. Podem ocorrer na esfera das relações pessoais privadas, ou das relações pessoais profissionais, ou da competição comercial, ou da disputa política, ou noutra eventual situação onde há intenção de prejudicar alguém, ou alguma entidade, na sua honorabilidade e prestígio.
Qualquer um pode ser caluniador, independentemente da sua idade, género, educação, personalidade, poder financeiro, ideologia. Há caluniadores desde que há linguagem humana. O tribalismo alimenta a calúnia por automatismo antropológico que tende a desumanizar o estranho, o diferente, o outro, criando bodes expiatórios e diabolizando quem ostenta a sua alteridade. A cobiça e o medo são pasto para caluniadores e suas audiências. A soberba e a vaidade, a megalomania, idem aspas.
Em Portugal, os dois mais importantes caluniadores são o Pacheco Pereira e o João Miguel Tavares. Neste sábado, o primeiro imitou o texto de quinta-feira do segundo, fazendo ambos o enésimo auto-de-fé no julgamento popular de Sócrates. Unidos na exploração desse filão, eles têm literalmente milhões de palavras debitadas sobre a pessoa e respectivas peripécias políticas e judiciais. O que pretendem não é só continuarem a encher o bolso à conta do tema, igualmente ambicionam influenciar a Justiça nas pessoas dos procuradores e juízes que deliberem sobre o caso. Agitam-se como coro que ameaça castigar quem não castigue exemplarmente Sócrates, haja ou não provas para tal.
E é de provas que se deve falar, pois a Justiça é uma instituição que evoluiu historicamente para servir a comunidade nessa dificílima e crucial investigação: aferir da existência de provas de ilícitos. Sem tal recurso político, sem uma instância em que se confie para arbitrar suspeitas de crimes e conflitos entre cidadãos, a única alternativa é o permanente estado de guerra civil e a imposição da lei do mais forte. Este Pacheco e este Tavares é para essa perversão do Estado de direito que trabalham, justificando a escolha com a sua alegada convicção de culpabilidade. Eles assumem-no às claras, basta-lhes o achismo do que lhes passa pelos cornos para usarem alguns dos principais órgãos de comunicação em Portugal numa permanente campanha de apelo ao linchamento de Sócrates. Simetricamente, com obscena cumplicidade, os meios de imprensa profissional usados como veículos das calúnias pagam-lhes balúrdios para isso mesmo, pois há uma vasta audiência que consome essa violência com gula.
É escusado procurar por provas de corrupção relativas à Operação Marquês na caudalosa verborreia destes dois caluniadores profissionais porque eles não as têm sequer para sugerir – isto é, eles não arriscam elaborar uma descrição dos actos corruptos porque tal implicaria terem de envolver outros responsáveis governativos, políticos e empresariais que a investigação não acusou, sequer constituiu como arguidos. Em vez disso, usam a estratégia individualmente assassina do Ministério Público e amplificam-na, instigam a populaça com a devassa da intimidade de Sócrates e terceiros próximos. Quando se agarram às escutas vertidas criminosamente no espaço público, não só se mostram cúmplices de crimes como validam o crime como instrumento político e comercial. E que revelam essas escutas? Nada de nada no que concerne à corrupção. Mais: mesmo que apresentassem algum registo que parecesse obviamente relativo a um acto de corrupção (e tal não existe em nenhuma escuta), o simples facto de ser uma parcela de um documento mais extenso não permitiria concluir validamente pela culpa fosse de quem fosse — carecia de contexto e defesa antes do julgamento pela Lei. Imaginemos uma situação em que apareciam registos do Pacheco ou do Tavares, captados estando eles alcoolizados ou mentalmente perturbados por fármacos, ou traumas, seria que os próprios aprovariam a publicitação desse material e o seu uso para campanhas negras contra si? Se não, por que razão tratam Sócrates — um cidadão actualmente inocente — como dois verdugos? Porque podem, à-vontadinha, e gozam à brava com isso, é a resposta.
Mas esta dupla igualmente se revela inane no que ao tema geral da corrupção em Portugal, para lá da obsessão Sócrates, diz respeito. Nunca usam números das organizações que a estudam, nacionais e internacionais, nunca tratam factual e objectivamente a matéria. Nada têm a dizer sobre o que aconteceu no laranjal durante os anos do poder máximo de Ricardo Salgado, um senhor que não constava encher as suas empresas e a sua Comporta com a xuxaria; Marcelo Rebelo de Sousa aí está para o confirmar. Em especial, o Pacheco parece não ter opinião acerca da temática da corrupção durante o poder máximo de Cavaco Silva, num País ainda não digitalizado e onde os instrumentos e poderes legais do Ministério Público eram rudimentares face aos que existem desde 2005. Um País onde a cultura da corrupção era exibida nas conversas de café. Todos queriam untar as mãos do polícia, do fiscal, do médico, deste e daquele. Curiosamente, nesse tempo o Pacheco trabalhava para o Cavaquistão, foi um dos seus mais importantes operacionais. Como é que o seu olhar aquilino não topou nem com a sombra da pequena corrupção nos corredores do poder que frequentava? Como é que a sua supina inteligência e exímia probidade deixou fugir a história do nascimento e crescimento do BPN? Fenómenos do Emporcalhamento.
No Julgar Sócrates e depressa encontramos regurgitada a lengalenga que despacha copiosamente desde 2008, altura em que fantasiou derrotar o então primeiro-ministro em tandem com Manuel Ferreira Leite e tendo Cavaco a organizar inventonas e outras crises institucionais patarecas. Talvez esta seja a citação mais representativa do que está em causa na sua perseguição:
«Por tudo isto, eu, que não sou jurista, posso dizer que, se Sócrates não for condenado, seja por que motivo for, a nossa democracia sofre um abalo real. Não se trata de não aceitar a presunção de inocência — em tribunal ela é sagrada, mas na minha cabeça não é, sabendo eu o que sei, sem precisar de fugas, nem de nada, pelo que vi e ouvi do próprio, ele mesmo, José Sócrates.»
Donde, podemos inferir:
– Não é preciso ser jurista para ser decente.
– Sócrates será condenado, pelo menos por crimes fiscais.
– A nossa democracia não depende de Sócrates, o contrário é que é a realidade.
– Abdicar da presunção de inocência na cabeça é eticamente distinto de andar há anos e anos (tendo começado bem antes de sequer existir uma Operação Marquês ainda secreta) a alimentar a presunção de culpa e a fazer pressão social para influenciar os agentes da Justiça.
– As “fugas” são crimes, e os caluniadores profissionais usam esse material dando eficácia à intenção dos criminosos.
– A expressão “sabendo eu o que sei” é uma variação do famoso axioma Octávio Machado, duvida-se é que fundamente uma qualquer concepção de verdade e/ou de justiça sob que se queira viver.
– No fundo, tudo se explica graças a esse “eu”, grafado duas vezes, que se confessa fascinado pelo que viu e ouviu de um certo homem.
Fatalidades. Fado.
Cuidado Val estás a dizer que eles são cornudos, Tens factos? Consegues provar?
Ainda te metem um processo em cima. Se o palhaço já ganhou um…
“As “fugas” são crimes, e os caluniadores profissionais usam esse material dando eficácia à intenção dos criminosos”
aproveitando a referência ao octávio machado pergunto, isto é sobre as escutas ao pinto da costa no apito dourado? é que quase que posso jurar que já li aqui o ilustre articulista a afirmar que o pinto da costa era um corrupto baseado em escutas que também “fugiram”. e assim, não só se mostrou cúmplice de crimes como validou o crime como instrumento político e comercial. qual a diferença, em termos judiciais, para o caso Socrates?
este texto não é um simples texto: este texto é um documento com o histórico da alarvidade, da injustiça, da injúria, da inveja, da aleivosia, da calúnia, do pedantismo, da chulice, da maldade. este texto é uma ode ao que não podemos tolerar. então vou fazê-lo circular até que o braço me doa. estou contigo, Valupi, na saúde do teu texto e na doença que ele abate.
bem , nem tudo está perdido , a dissidência já chegou ao “delito de opinião” covil de zelinkista. tão bom ler a voz da razão razão.
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/um-conflito-entre-bons-e-maus-15435179
«…mas na minha cabeça não é, sabendo eu o que sei,…»
Pois é, na sua infalível cabeça e no gigantesco EU de Pacheco, sabendo ele pelo grupo dos 4 mentirosos 4 dos Açores de que haviam bombas nucleares espalhadas por todo o território do Iraque, fez uma campanha total sobre os portugueses defendendo e apoiando a guerra e invasão do Iraque, até contra Mário Soares insinuando a sua “velhice” para o denegrir quando este desfilou pela Av. da Liberdade contra a guerra decretada pelos quatro, entre eles, o seu amigo Durão que o tinha proposto para embaixador na OCDE em Paris.
Mentiu descarada e corruptamente ao país a troco de um cadeirão dourado, neste caso.
Mas, contudo, não foi apenas corrupto neste caso, pois, foi-o em todo o seu tempo de político como eminente ideólogo do mundo corrupto do cavaquistão e o seu banco partidário BPN criado intencionalmente para uso de ir ao pote e enriquecimento pessoal dos homens do aparelho do dito mundo do cavaquistão.
Igualmente no caso Duarte Lima, homem altamente corrupto e não só de quem foi adjunto no Parlamento, onde a maioria dos portugueses toparam espantados a ascensão a pino em riqueza pessoal; homem a cerca do qual o empresariado e meia Lisboa falava acerca dos 10% cobrados para poder ganhar qualquer grande concurso público e, contudo, ainda assim o Pacheco de enorme EU e faro a grande distância, neste caso mesmo junto de si, não deu por nada, não farejou nada, nunca ouviu, nem viu ou pressentiu nada.
Qualquer falhado na sua experiência de vida privada ou pública agarra-se a um qualquer caso manhoso de opinião popular maioritária na tentativa de manter o status que já angariara de forma ambígua. Foi o caso deste Pacheco que foi marxista sem estudar o marxismo em cuja ontologia não entra o EU, pois, no marxismo todo o ser e comportamento humano deriva da existência ou experiência de vida; isto é, que o homem é integralmente a sua circunstância ou simplesmente o produto do meio onde foi criado sem qualquer Eu individual que pense para além do sensível e que existe.
Ora Pacheco, sendo o maior falhado político do Portugal contemporâneo não foge ao facto de agarrar-se a um caso manhoso, tal como foi o das bombas nucleares no Iraque, e voltar a ser desmentido pela justiça e passar outra vez, de forma evidente, a ser visto pela opinião pública como um falso oráculo ou um pensador vendido como o foi no consulado de Cavaco.
Ele, tem no caso Sócrates, a sua última oportunidade de ter razão contra a própria racionalidade dos factos e não larga o osso pois este é, agora, a sua derradeira aposta para parecer, perante a comunidade, um homem sério e não lhe acontecer o mesmo que ao Cavaco a quem ninguém, hoje em dia, liga cavaco.
O Tavares é qualquer coisa de semelhante ao Pacheco que, por interesse próprio de carreira junto do seu patronato ou do povo político do seu ideário ultra-liberal que, afinal, é a mesma gente, luta por um reconhecimento junto desse povo que lhe garante o status almejado.
o costa esteve bem
Não li.
Neste momento tou a ver o careca a atolar-se numa cena de economia, eixo do mal …
Depois de ler este texto, fico na dúvida acerca do verdadeiro autor dos arrazoados aqui vertidos, a propósito da invasão da Ucrânia, mesmo que sejam assinados pelo Sr. Valupi. Quer-me parecer que, talvez por cansaço, quando aborda essa questão recorre ao tão badalado ChatGPT, para despachar serviço. Olhe, se assim é, tenha cuidado, pois os resultados que tem obtido não são nada brilhantes. E, estranhamente, nesse campo, compara bem com os dois “artistas” que invoca.
Deixe o dito ChatGPT e atenda aos poetas; é mais profícuo:
“A torre de Pisa tem trinta metros de altura
E o diâmetro dos meus olhos dois milímetros de espessura
Olha a torre de Pisa com trinta metros de altura. “, de António Gedeão, citado de memória.
Abra a pestana…
Trump vai a julgamento :-)
Diz que é totalmente inocente. No todo e na parte .
Na parte intima … he he he.
Vai fazer um apelo às massas, dizendo que Clinton fez o mesmo e safou-se, o que é verdade, mas como diz o poeta acima citado, o Mundo gira e avança …
Eticamente reprovavel diz “ um especialista “
Contabilisticamente, não sei, acrescenta .
Mais desqualificado, não é possível.
Então um gajo paga 130 000 USD por um acto sexual ou pelo encobrimento do mesmo, com dinheiro de donativos para a campanha, e não é crime ?
Oy vey.
Para os mais esclerecidos, como já sabem, o oy vey, é um lamento judaico.
Um advogado fez de intermediário no pagamento. Mais um ao serviço da “ ideia de injustiça “. E não afirmo isto com qualquer gosto, pelo contrário. Oy vey, oy vey, oy vey, oy vey …
Não digo terá ou teria feito, porque já foi julgado e condenado. No fim, sabe-se tudo.
Se cair a parte, como se sabe, cai o todo. E a parte, – como a qualquer homem, – faz-lhe falta …
Estás coberto de razão na questão Tavares/Pacheco versus José Sócrates. Já quanto à tua americanofilia, está francamente pior! “Pervasivas”??? Essa merda não existe em português, pá! Há termos portugueses para “pervasive”, escusas de dar pontapés na pátria do poeta e pores-te para aí a inventar. E “à-vontadinha”, no contexto em que o usas, não leva hífen, criatura! “À-vontade”, quando substantivo, sim, mas não é o caso aqui (Exemplo: “Porque podem, com obsceno à-vontade.”).
O país-anedota! Uma anedota infantilóide, ignorante e burra, armada até aos dentes, o maior perigo para a sobrevivência da humanidade que a História alguma vez pariu, mas ainda assim não mais do que uma anedota. Mas é claro que o problema é o Putin, não te esqueças! Estamos entregues aos bichos!
https://youtu.be/23_Y9mez87k
a pervasiva imbecilidade do Joaquim Camacho deixa-me à-vontadinha para concluir: palermas como ele não há muitos. !ai! que riso
Excelente texto. Mas é inevitável a perplexidade: será que Valupi não se apercebe que o que escreve sobre os caluniadores de Sócrates se aplica na integra ao quer ele próprio debita sobre Putin, “filhos de putin” e “putinistas” ? Interessante fenómeno de dissonância cognitiva.
MRocha
olha que dedução azeiteira, essa, MRocha, não há dissonância alguma porque Sócrates é a Ucrânia. de que serve elogiar o texto se carrega a podridão, que o mesmo quer dissipar, no carácter? porque ser putinista não é ser opinião – ser putinista é simplesmente não ser; é a miséria em cuecas rotas e fedidas.
https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2023/03/24/o-desenho-antiguerra-de-menina-russa-que-gerou-investigacao-policial.ghtml
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/06/17/governo-britanico-confirma-extradicao-de-julian-assange-para-os-eua.ghtml
https://www.theguardian.com/world/video/2017/sep/04/i-want-to-bring-up-a-warrior-ukraines-far-right-childrens-camp-video
Estas duas víboras um dia acabarão por morrer com o próprio veneno.
Há uns bons anos escrevi aqui neste espaço que, no contexto da calhandrice do Processo Marquês, ou José Sócrates acabaria condenado a 25 anos (em cumulo jurídico), ou o Calex e o Rotex acabariam relegados para os esconsos da Justiça, ou até mesmo castigados.
O Processo ainda não acabou e cá estamos para ver.