Ana Gomes, um desastre anunciado

«Por exemplo, uma outra área onde eu tenho uma demarcação do Sr. Professor é a área da Justiça, da transparência, da corrupção. [...] Por exemplo, eu sei que o Sr. Professor, até pela sua relação de amizade com o Dr. Ricardo Salgado, é certamente das pessoas com mais interesse em que o caso BES já tivesse sido esclarecido, que já se tivessem apurado as responsabilidades desse senhor e de muitas outras pessoas em julgamento. E o caso BES está ligado, por exemplo, ao caso Sócrates, está ligado ao caso do "apagão fiscal", a questão das transferências para "offshore"...»


Ana Gomes para Marcelo Rebelo de Sousa – 26:50

?️

Portanto, Sr. Professor, cheira-me que o Sr. Professor, para além do conúbio com os queques da Comporta, também andou embrulhado com o diabólico Sócrates e ainda tem algo a dizer a respeito de uma curiosíssima “singularidade estatística” ocorrida debaixo dos olhinhos do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais do Governo Passos Coelho, Paulo Núncio, durante a qual desapareceram 10 mil milhões de euros do radar do Estado com origem no BES. Ana Gomes vinha de 10 minutos sob constante e demolidor contra-ataque de Marcelo, que não só tinha rebatido com estrondo as suas últimas críticas como acabou a inverter os papéis e parecia ele o candidato que disputava o lugar à incumbente. Talvez sem esse sofrimento, visível no seu rosto, ela tivesse resistido a lançar aquilo que não carece lhe expliquem ficar como um acto canalha de difamação e chicana: colar Marcelo a casos de Justiça onde não é tido nem achado. É que, foda-se senhores ouvintes, se a Sr.ª Diplomata não consegue medir o peso de certas palavras com um grau de prudência já observável em crianças de 12 anos teremos de reescrever a História da diplomacia mundial.

Ana Gomes quis ripostar e usou o chiqueiro das calúnias. Isto, em si mesmo, é o que é. Cada qual define-se na avaliação que fizer da sua escolha. Chamo antes a atenção para outro aspecto, o qual é infinitamente mais importante do que o carácter da candidata presidencial. Refiro-me à matéria mesma dos tais casos, a que se acrescentam as declarações que continuou a fazer nos dias seguintes sobre os megaprocessos. Assim, para ela, os megaprocessos (a “Operação Marquês” é o mais importante deles no campo político e o mais mediaticamente explorado pela indústria da calúnia) são estratagemas organizados pela Justiça sob a influência ou pressão “dos ricos” com o objectivo de impedir os julgamentos e as respectivas condenações (que dá como certas, não precisa do paleio dos advogados e juízes), levando a que os acusados se safem através da prescrição dos crimes. Ainda nesta segunda-feira, no debate das rádios, repetiu a sórdida cassete e declarou que a corrupção precisa de “penas exemplares”. Horas depois, num espaço da candidatura, tomou o partido do Ministério Público para voltar a martelar a relação de Sócrates com o BES, utilizando politicamente o que neste momento não passa de uma acusação – e acusação embrulhada em abusos inauditos de magistrados, de politização de altas figuras do Estado e de crimes com origem na Justiça contra quem, mais de 6 anos passados sobre a sua detenção intencionalmente espectacular, permanece cidadão inocente. Sim, e não é notícia: o Estado de direito democrático e seus princípios não entram no conjunto de valores que moldam a identidade da cidadã Ana Gomes.

Mas pensemos. Imaginemos. O que se passará na cabeça da ilustre diplomata? Ela anda a ouvir, desde 2008, figuras gradas da direita a berrarem que o PS controlou politicamente o Ministério Público e o Supremo Tribunal de Justiça, utilizando Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento para evitar que um colossal corrupto a ocupar o cargo de primeiro-ministro fosse sequer investigado de tanta ilegalidade ao dispor na indústria da calúnia. O PS conseguiu isto, atente-se, sem que o Presidente da República Cavaco Silva, o PSD e o CDS, o Conselho Superior do Ministério Público, o Conselho Superior da Magistratura, e demais órgãos sindicais e corporativos das duas magistraturas, tivessem conseguido impedir, detectar, denunciar e castigar aquilo que terá de ficar como o crime do milénio pela sua gravidade para o regime. Este discurso é tão voluntariamente alucinado como o de Trump ao dizer que ganhou as eleições contra Biden. E tem permanente eco na “imprensa de referência”, tomada pelo editorialismo e comentariado aliados. Pois face a este cenário, já com 12 anos contínuos de ataque à confiança nos pilares soberanos da República, vemos uma candidata presidencial – que reclama representar os eleitores do PS – a aproveitar o embalo e juntar-lhe um nó cego onde a própria “Operação Marquês” teria sido pensada para que os supostos crimes prescrevessem antes de vermos o Engenheiro de novo na choldra, agora para uma estadia mais completa. Que desvairo é este? O que pretende alcançar? Para quem fala?

O que é trágico não é vermos a decadência desta figura, de uma irresponsabilidade política e cívica que ofende a moral das pedras da calçada. Trágico é vermos tantos, e tão meritórios, que arrasta para a irracionalidade onde se fantasia justiceira. Que ninguém se espante, então, com os 74 milhões de votos em Trump. O populismo tem razões que a razão tão bem conhece e tão mal rejeita.

8 thoughts on “Ana Gomes, um desastre anunciado”

  1. Mas que esperavam ? Sempre foi a tática do partido do Grande Educador do qual, com ou sem cartão , ela fez parte. Ela e não só…. Há ainda muita gente no ativo.

  2. De uma Sra. Maria para outra. Então não sabia que a Sra. Ana Gomes na juventude militava no MRPP? Vem daí o desvairado discurso.

  3. não percebo porque é que o paulo pedroso aceitou ser mandatário desta reles peixeira e gostava de ver a lista dos principais donativos eleitorais. esta merda só pode ter sido subsidiada pela direita para baralhar o eleitorado ps.

  4. Claro que, um verdadeiro Socialista jamais votará na senhora Gomes cuja,
    insustentável leveza de conhecimentos e, formação ética deixa muito a de-
    sejar por isso, as sondagens valem o que valem … será a desilusão final !!!

  5. Maria, “Grande Educador da Classe Operária” era o que o MRPP, sem se rir, chamava ao então chefinho da agremiação, o agora defunto Arnaldo Matos.

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