Alguém sabe se o Djokovic ainda está na Austrália?

Se for possível identificar a pior semana na história da Justiça portuguesa, desde o 25 de Abril, só há uma escolha: é a que começou a 3 e terminou a 7 de Janeiro de 2022. Eis o que ficámos a saber nesses cinco dias úteis:

Maioria dos juízes do Ticão impugnam decisão que retirou caso EDP a Carlos Alexandre
Ivo Rosa apresenta queixa de Carlos Alexandre por atrasos no processo BES
Carlos Alexandre acusa Ivo Rosa de colocar em perigo a vida de agentes da PJ
Ex-ministro Azeredo Lopes absolvido no caso Tancos
Conselho Superior da Magistratura reconhece erros na escolha de Carlos Alexandre
Carta aberta ao Conselho Superior da Magistratura

Há um nome que atravessa todas estas notícias. No primeiro episódio, tomamos conhecimento de que pretendeu violar o princípio do juiz natural com vista a ficar com processos que lhe dariam muito dinheiro em remunerações. No segundo episódio, é alvo de uma acusação por parte de um outro juiz, este conhecido pelo zelo com que aplica os princípios do Estado de direito. No terceiro episódio, acusa Ivo Rosa de gravíssima conduta – a qual, a ser validada, é potencial motivo para expulsão da magistratura do visado; e a qual, a ser invalidada, é potencial crime de calúnia para quem fez a acusação. No quarto episódio, um arguido que deu como absolutamente culpado na fase de instrução, ao ponto de o ter achincalhado e ofendido no despacho de pronúncia, não só foi absolvido como o próprio Ministério Público, em julgamento, o considerou inocente de qualquer crime. No quinto episódio, prova-se através do CSM que a sua escolha para a Operação Marquês resultou de um cambalacho, constituindo factual violação do princípio do juiz natural. Esse nome é Carlos Alexandre.

Só isto, se mais nada soubéssemos da figura, já chegava para fazer da primeira semana de Janeiro do corrente ano um período de escândalos de proporções bíblicas. Acontece que sabemos mais e muito mais. Este é o juiz que – enquanto tinha nas mãos aquele que continua a ser o mais importante processo da Justiça de portuguesa, por envolver a suspeita do crime de corrupção por um primeiro-ministro – deu uma entrevista para falar da sua vida e das suas opiniões. Uma dessas opiniões remetia para um cidadão inocente que estava à sua guarda constitucional enquanto esperava que o Ministério Público investigasse as suspeitas que sobre si recaíam. E essa opinião veio com o selo da culpabilidade, mais de um ano antes de sair a acusação. Uma outra das suas opiniões registadas pela SIC consistia numa ameaça preventiva, lembrando que tinha excelente memória acerca dos seus colegas juízes. O mesmo juiz, numa outra entrevista à RTP, lançou uma suspeita de fraude genérica sobre todo o sistema de Justiça só porque não foi escolhido em sorteio electrónico para continuar a ter a faca na garganta do tal cidadão que já tinha condenado popularmente anos antes. Por fim, este juiz é uma vedeta mediática usada como arma política por órgãos de comunicação social, partidos e políticos de direita. Não se conhece outro juiz com este poder de influência nem com este desaforo para com as instituições da República e para com a Constituição, características que surgem associadas à sua cumplicidade com os abusos do Ministério Público em detrimento dos direitos e garantias dos arguidos.

Uma semana fantástica para quem se interessa por estas questões, especialmente para quem ganha dinheiro e fama com elas: políticos, jornalistas, comentadores, investigadores. A quantidade de temas e subtemas cruciais por razões judiciais, políticas e até sociológicas (quiçá ainda psicológicas) por onde se pode pegar, relevância maximizada por estarmos nas vésperas de eleições legislativas, desafia a imaginação. A meio da tarde de sexta-feira, dia 7, parecia inevitável que os editoriais e espaços de opinião da imprensa durante o fim-de-semana e semana seguinte caíssem sobre estas matérias como o asteroide de Chicxulub, causando a extinção dos biltres que pervertem o poder soberano que lhes foi concedido em nosso nome e para a defesa do nosso nome. Porque, caralho, até as pedras da calçada estão banzas a contemplar a impunidade com que se utiliza a Justiça para atacar adversários políticos e encher o bolso e o vício. Alguém deu por isso? Quem disse, e o que disse, nos dez dias seguintes sobre o que veio a público entre 3 e 7 de Janeiro? Não vou fazer essa listagem mas começo por constatar que acerca da admissão pelo Conselho Superior da Magistratura de ser a Operação Marquês uma conspiração que violou o Estado de direito não ouvi nem li ninguém. Acerca das palavras de Sócrates, a principal vítima do embuste levado a cabo no seio da Justiça portuguesa, não ouvi nem li ninguém. Ninguém de ninguém. Ninguém, ninguém, ninguém.

A Operação Marquês nasceu de encomenda e com a protecção de uma certa maioria parlamentar, um certo Governo, um certo Presidente da República e uma certa comissária política à frente da Procuradoria-Geral da República. A forma como os procuradores do processo se permitiram abusar do seu poder e gerir politicamente a informação obtida na devassa da privacidade dos alvos, inclusive tendo tentado impedir que António Costa vencesse Seguro em 2014, teve um primeiro grande ensaio no Face Oculta; aqui culminando num inicial estrondoso sucesso pois conseguiram prender um troféu valiosíssimo, Armando Vara, sem precisarem de provas diretas (isto é, Vara foi condenado por fezada dos juízes – ou, como disse Ricardo Costa ao lado de Manuela Moura Guedes, “para dar um exemplo”) e constituindo o primeiro e único caso de prisão efectiva para tráfico de influência na história penal portuguesa. Incrivelmente, salazarísticamente, a sociedade, o regime e a comunidade alinharam com o linchamento e o auto-de-fé. Daí o actual silêncio. Mais do que silêncio, o tabu. Sócrates não tem direito a qualquer defesa, pouco importando que vejamos o bandido a disparar na sua direcção. É este o estado de cobardia a que chegámos por termos deixado que a própria Justiça fosse um esgoto a céu aberto onde vinga a lei do mais forte.

Não resisto a dar um singular exemplo da sórdida anomia reinante. Neste Sem Moderação, um programa que tresanda a balneário e recentemente ficou sob a alçada do Balsemão, contam-se 53 minutos e 49 segundos. A emissão foi a 11 de Janeiro, assim permitindo aos participantes (onde está uma excelente promessa do PS) terem adquirido módica informação sobre as peripécias na Justiça ocorridas na semana anterior. Pois os primeiros 33 minutos e 40 segundos foram passados a palrar sobre os debates, provavelmente por considerarem que havia carência desse tipo de conteúdo no éter nacional. E os seguintes 20 minutos e 9 segundos foram integralmente dedicados ao caso de um fulano sérvio que joga ténis e estava na Austrália. Daniel Oliveira, no final, exclama risonho: “E muito bem, com ténis acabamos o nosso programa. Tudo é possível acontecer aqui.

Ao que se deve acrescentar: “Sem dúvida, pá. Felizmente ainda há quem tenha a vossa coragem senão este País seria um viveiro de pulhas.”

31 thoughts on “Alguém sabe se o Djokovic ainda está na Austrália?”

  1. Enquanto em Constantinopla se discutia o sexo dos anjos, os seus inimigos iam cercando a cidade…
    Como vai isso, no Tênis ?

  2. essa do rir para não chorar cai mesmo bem – cai bem nesta exposição magnífica que é de uma lucidez exuberante naquilo que se vai passando na feira das vaidades e dos balneários onde os ajeitadinhos não dão borlas. pois, ninguém fala do Sócrates nem da mancha de gordura que lhe entornaram na vida pública e privada – nem depois das provas provadas. os delírios maus e castradores são os que perduram. e depois, nos balneários, onde cheirará a chulé e a frutas mal lavadas e a malhas encardidas, a malta diverte-se à superfície. será uma espécie de sal nas bolachinhas que os bêbedos vão trincando para enganar os papos ardidos e fedidos, hálitos podres. que nojo.

  3. na justiça e comunicação social vivem todos à custa uns dos outros, quem quebrar a cadeia fica sem emprego.
    “personalidades de esquerda” como daniéis oliveiras e anas gomes têm emprego enquanto contribuirem para destruir a esquerda, depois passam a catequistas da direita. bom exemplo disso é o henrique neto que começou como simpatizante comunista, passou a militante socialista acumulando como convidado especial do zé gomas ferreira e colunista do diabo e agora é mandatário daquele careca muito inteligente candidato do psd por leiria. mas estes ninguém entrevista para lhes perguntarem donde vem a moral que apregoam.

  4. bem lembrado, o henrique neto. até porque senão teríamos de falar do sérgio sousa pinto ou assim. por falar nisso, ainda está no ps? grande partido, tem lá mesmo de tudo de esquerda cheio de moral

  5. ” pois, ninguém fala do Sócrates nem da mancha de gordura que lhe entornaram na vida pública e privada – nem depois das provas provadas. ”

    pareces o camafacho em registo clementina com abstracções metafóricas.

  6. Bom dia, Valupi…! E como esta é a minha 1ª vez este ano, BOM ANO de 2022!… Veremos se sim, porque este seu texto só confirma que a “sordidez informativa” dos MEDIA vai continuar.
    Mais uma vez demonstra a “engrenagem ” que a Direita mantém em todos os canais de informação em Portugal….
    Como sempre, concordo com a sua análise! ….E sublinho esta sua frase – que nunca será demais repetir aos ouvidos dos hesitantes…! É QUE A PRISÃO DE SÓCRATES (como foi a prisão no Parlamento, no caso “Casa Pia”) foi a opereção mais escandalosa e injusta E ILEGAL da nossa Democracia!!!
    Só com o quadro politico desses anos , de 1 GOV, 1 P.R., e sobretudo a “equipa familiar” da Procuradoria da República, puderam desenvolver o esquema montado com toda a desfaçatez!
    Por isso, nunca será demais sublinhar que – ” A OPERAÇÃO MARQUÊS NASCEU PELA MÃO DE UMA CERTA DIREITA PARLAMENTAR, UM CERTO GOVERNO, UM CERTO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E UMA CERTA COMISÁRIA POLÍTICA À FRENTE DA PROCURADORIA -GERAL DA REPÚBLICA.”.

  7. o meu herói está no Dubai. os muçulmanos são mais tolerantes que os cristãos. e não fazem questão de picas com água da Pfizer , não gostam dos fabricantes.

  8. Chega a ser comovente a paixão platónica que a matrafona yo sente pelo Djokovic.
    Não restam dúvidas: a nossa yo tem mesmo falta de homem. E nos seus sonhos de menina, suspira por quem lhe meta as bolas no fundo do court…

  9. sr. teorias da constipação , acertou em parte , sinto falta de Homens , sim senhor , aliás , é uma das minhas interrogações sociológicas , perceber o que aconteceu ao sexo masculino , à medida que se verificou o empoderamento da mulher foram ficando fracos , fracos , o que é uma pena , posto que as características masculinas de origem fazem grande falta.
    várias hipóteses a considerar para este enfraquecimento : muito tempo em casa com as mães? até aos 40 e mais alguns ; falta de um ritual da passagem para a vida adulta ? a tropa foi-se ..; filhos únicos? estigmatização da masculinidade pelo lobbie dos veados? falta de modelo masculino constante devido à elevada taxa de divorcialidade? penso que até já há literatura sobre o assunto.

  10. poizé, oh mula! aqui não te safas, tirando o camacho lusitano, o grunho bísaro vieira e o gringo trogolodita é tudo malta muito fraca que não consegue pôr uma gaja na cozinha ou a esfregar o soalho.

  11. Continua a fingir que és de esquerda, pide infiltrado porcalhatz, que o défice cognitivo da tiazinha negacionista dá-lhe a gloriosa exclusividade de ser a única que aqui acredita nisso. Mais uma prova de que a direita tuga é das mais burras do planeta, incluindo tu, claro, convencido de que, além da tiazinha neurodeficitária, consegues enganar mais alguém. Olha que não, ratazana, olha que não. A (des)propósito, porcalhatz, como vai a retrete pública onde publicamente te privatizam a peida? Continuas a engolir cobras vivas com o sim-senhor?

  12. São conhecidos os arrufos másculos da nossa mula russa. Quantas vezes impressiona ela o pagode quando elogia a braguilha e aposta temerariamente os colhões !
    Mas não nos iludamos com esta aparência: na verdade, a mula russa é uma alma feminina. Uma alma apaixonadamente submissa dos encantos viris de quem lhe apareça como macho dominante e carismático. O objeto do seu amor platónico foi, no passado, o barbudo Fidel, hoje, é, sem discussão possível, o autocrata Putin. Com uma paixão ? total e avassaladora.

  13. Como se esperava, da braguilha aberta da mula russa jorrou finalmente a efusão molhada dos seus afetos. É com estes êxtases de pederasta intelectualmente prostituído que vai afogando a consciência íntima do seu fracasso. Feliz no doce esquecimento que lhe vem do orgasmo.

  14. Ressalvado o seu anonimato medíocre, a mula russa pode legitimamente reclamar o estatuto de discípula de Serge Thion, personagem do meio intelectual do ultra-esquerdismo conivente com a extrema-direita. À semelhança de Thion, a mula russa é, na sua integridade de imbecil, um bom exemplo de como o enviesamento ideológico conduz à degenerescência moral. Na prática, um cabrão cheio de lábia.

  15. “Na prática, um cabrão cheio de lábia.”

    não diria tanto, panasca folclórico com paleio e sotaque paneleiro ainda vá.
    esse gajo nem para cabrão presta.
    quanto mais se fala nisso, mais publicidade tem. que meta anúncio nas centrais do manhólas.

  16. Faltou a referência à vitória do saídos Emídio Rangel no TEDH.
    Leitura indigesta prós pulhas que por aqui defecam.

  17. Parvalhov, cobarde castrado. Depois de me identificares aqui inúmeras vezes com profissão e local de trabalho (“doxxing”, para além do “stalking”, no patuá dos teus heróis do lado de lá), não ganhas nada em fingir (15:56) que me tens como “anónimo” e sobre essa aldrabice tentar inventar álibis (“Ai, senhor doutor, eu nem sabia quem ele era. Pensava que Joaquim Camacho era nick.”). Se e quando necessário, com a pegada digital que deixas, será fácil provar que sabes e sempre soubeste perfeitamente a quem te diriges e quem difamas. Quem não sabe quem tu és, porque como cobarde te escondes, sou eu. Enquanto te mantiveres no registo habitual de cobardola anónimo, pródigo em insultos castrados, que é o lado para onde durmo melhor, poderás não ter problemas. Fazes um figuraço perante um ou dois idiotas que por aqui andam e já ganhas. Mas não ultrapasses os limites sobre os quais foste já esclarecido por duas vezes. Estás (mais uma vez) avisado.

  18. Já agora, não se esqueça daquele acórdão de uniformização de jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça que, na leitura que dele faço, nos impede, A TODOS, de reclamar da publicidade enganosa, a menos que consigamos demonstrar que, se soubéssemos que a característica anunciada do produto não estava lá, não teríamos decidido comprar.
    Alguém entende isto? Como é que, alguma vez, uma prova impossível alguém conseguirá apresentar?
    Aflorei o tema em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2022/01/ja-nao-posso-trocar-varinha-magica.html e https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2021/12/in-claris-non-admittitur-voluntatis.html, que convido a visitar.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *