Afinal, aquilo da asfixia democrática… não é que os cabrões tinham razão?!


in Os políticos invadiram os media portugueses

Estamos perante o mais interessante artigo publicado num jornal desde o começo do milénio. Aleluia, alguém se deu ao trabalho de esboçar um retrato do sectarismo que estrutura a comunicação social portuguesa há décadas, o qual continua a aumentar. Como tem a chancela do Expresso, à surpresa junta-se a certeza de ser um exemplo daquilo que está a retratar.

Rosa Pedroso Lima fez as contas e compôs o quadro que se pode ver acima. Trata-se do mínimo garantido no que respeita ao começo da contabilidade partidária, a qual, contendo erros e não disponibilizando os critérios, oferece o seguinte resultado: Esquerda – 47,4%; Direita – 52,6%. Retrato do País? De um certo país, o dos accionistas e directores dos órgãos onde vamos buscar as notícias e o entretenimento. É o país onde o PSD lidera com mais de 35%, onde o CDS aparece à frente da perigosa esquerdalha com 12%, onde até o Aliança e o Chega, sem terem ainda recebido um singelo voto, já dominam 3% do espaço mediático ocupado por políticos profissionais. Apesar disso, se perguntarmos ao Henrique Raposo, à Helena Matos e ao João Miguel Tavares se serve assim ou ainda estão asfixiados, sabemos bem qual é a resposta. Um fanático não se rende por menos de 99%. Pois já lá chegaremos.

O artigo oferece um esboço de análise qualitativa sobre os números, dando a ver uma segunda perspectiva onde as assimetrias face à realidade eleitoral e sociológica se radicalizam de forma absoluta. Como admite a autora, só dois políticos conseguem ocupar os palcos dos canais televisivos generalistas: Marques Mendes e Paulo Portas. Consequências? O que eles dizem, e tanto que eles dizem, chega a muito mais gente. Justiça seja feita à sua honestidade intelectual, ainda conseguiu referir o ubíquo protagonismo de Paulo Rangel, Pacheco Pereira e Francisco Louçã (grandes inteligências que, fui investigar no Google, têm em comum uma incurável alergia ao PS). Ou seja, se compuséssemos um novo gráfico da ocupação partidária do espaço mediático tendo também em conta o alcance respectivo, a vantagem da direita passaria para algo como 70-30% (sei lá nem se pode saber ao certo, mas aposto os 10 euros no bolso como é à volta disso). Altura de avançarmos, ou descermos, para a parte submersa na peça de RPL.

Portugal é o tal território europeu que tem em comum com os EUA ter um Presidente que foi eleito depois (e por causa) de passar anos em campanha na TV como celebridade do espectáculo. Esse legado também faz parte integrante destes cálculos, da nossa História. Mas o cálculo, e a História feita quotidianamente sob a influência dos órgãos de comunicação profissionais, só se deixa ver na sua completude quando somamos a influência de todos aqueles que não se podem etiquetar como políticos – embora seja política o que fazem adentro dos seus papéis mediáticos. Nesta mole de gente entram os comentadores, os jornalistas, os editores, os directores e os convidados avulsos, todos a opinarem frenética e caudalosamente no espaço mediático. Talvez baste dar o exemplo da RTP para se contemplar o essencial do que está em causa. Judite de Sousa, José Rodrigues dos Santos, Adelino Faria e Vítor Gonçalves são quatro nomes associados a uma prática ideológica e partidariamente marcada naquilo que deveria ser um exercício de pura isenção e idoneidade jornalística. O facto de trabalharem na RTP, estação pública, nunca os inibiu de tomarem posição – mais ou menos sonsa, mais ou menos indecente – nas conjunturas e disputas políticas do tempo. Como quantificar a influência de que dispunham, uns, e ainda dispõem, outros? Ora, se isto é assim na RTP, escusado será listar exemplos do Grupo Impresa, da TVI, até da Global Media et tutti quanti. Contudo, há que referir o exemplo incontornável do Governo Sombra, cujos méritos comunicacionais dos participantes seguramente que justificam a popularidade atingida mas onde o sectarismo dos perfis e da praxis produz um espaço de notável influência antiPS. Não errarei por muito se actualizar o nosso gráfico imaginário para uma relação 90-10 a favor da direita.

Finalmente, o factor Cofina. Trata-se de um grupo de comunicação cujo sucesso é incomparável e cuja agenda política implica o recurso a crimes e a perseguições fulanizadas. Na Cofina utilizam-se as mais apuradas técnicas de sensacionalismo para gerar um clima de constante ataque ao PS e à esquerda em geral, e ainda de degradação das instituições da República. Também aqui é desconhecida a real influência da manipulação constante, bastando referir o caso da promoção mediática de André Ventura para se poder observar o processo onde a meta é o crescimento de um eleitorado disponível para as propostas da extrema-direita. Como não existe nada de nada em Portugal comparável à Cofina que tenha o mais ténue vestígio de ligação a uma agenda de esquerda, qualquer tipo de esquerda, é já cheio de confiança que faço a última alteração no gráfico da influência política na comunicação social portuguesa: Direita – 99%; Esquerda – 1%.

13 thoughts on “Afinal, aquilo da asfixia democrática… não é que os cabrões tinham razão?!”

  1. Lembram-se do nobre cabeçudo Pacheco Pereira, exactamente naquele tempo da “asfixia democrática”, andar a tomar nota no seu blog “abrupto” dos tempos de antena do Sócrates para demonstrar que o homem monopolizava os meios de comunicação em desfavor do seu querido PSD dos amigos Cavaco e Duarte Lima?
    Claro que passado pouco tempo desistiu daquela sua queda para a censura ideológica pois tal contabilidade revelava-se contra a sua intenção de demonstrar o que a nobre massa cabeçuda ao alto da testa pensava ser a prova real da tal “asfixia democrática” que proclamava ao mundo.
    A vida política deste “pensador” afamado na classe média pacóvia não passa de um total falhanço político quando se dedica a fazer fretes como “pensionista” dos donos dos media.

  2. O que se estranha é que só agora seja feita esta análise que é mais contabilística que qualitativa. Seria bom saber as ventilações por canal/media ou grupo de media e as duplicações de comentadores pelos canais e shares audiências.
    Claro que o mito da claustrofobia era para rir.Claro que um governo que gozava de um total domínio na opinião iria meter-se na compra ou controle da TVI, ainda por cima. A teoria é tão estupida que só pode ter origem na direita.
    Para alem das questões partidárias e por causa delas o que se nota é que os media encolhem e mediocratizam o país. São antros de propaganda alheios à cidadania.

    Também seria interessante cruzar o nome dos jornalistas com os de políticos e ver como estas duas atividades são dominadas pelo mérito.

  3. È mais que evidente, que há muitos, muitos anos a direita domina a comunicação social em Portugal.
    Mas o que me intriga, é o facto de a esquerda, nunca ter conseguido ter um meio de comunicação social.
    Os que foram aparecendo, nunca se conseguiram impor. Estranho que em democracia tal aconteça. Nos tempos da ditadura ainda tínhamos o República e mais alguns de menor importância.
    Será que a comunicação social de esquerda não tem qualidade? Será por ser muito ideológica afasta os portugueses?

  4. a esquerda gosta de parasitar o que já está feito. nada impedia que tivessem um jornal ou tv. mas porem lá carcanhol seu ? está quieto ! só se for do contribuinte.. não tinham reparado ? duhhh

  5. a comunicação social dá prejuízo, vive de subsídios estatais e da publicidade que são contrapartidas dos broches que faz aos poderes político e económico, que obviamente não dá tiros nos pés.

  6. “só se for do contribuinte.. não tinham reparado ?”

    claro que já reparámos, estão todos falidos e quem vai entrando é o estado. vai ver quantos perdões fiscais a cofina já teve, porque é que a prisa quer vender, os motivos da reestruturação da sic, quanto é que o bcp meteu ao sol, porque é que ninguém mexe na rtp?

  7. ai sim, poste aí que subsídios estatais recebem o Público, o Dn , o crime da manhã , a sic ou a tvi, se faz favor, e debite as fontes. a sua palavrinha não me chega. liste também todas as empresas e pessoas com perdões fiscais…( por exemplo, digo um : a galp) , para sabermos que é só mais um negócio privilegiado no meio de muitos.
    o bcp é público?

  8. e , não percebo em que é que isso contraria o que eu disse, pelo contrãrio : dispondo o negócio dos merdia de tantos para-quedas o que impede a esquerda de investir uns milhões nesse negócio ? só o Vara tinha dois milhões parados numa off shore… dinheiro não lhes falta. façam um on line, para competir com o observador , por exemplo. ah. já sei !! os gajos de esquerda são avessos à cooperação, andam tão entretidos a discutir entre eles que não têm tempo para mais nada. só tiram um tempinho para mandar, dirigir, “educar”, enformar, massificar :) :)

  9. primeiros: já ouviste falar de subvenções estatais para serviço público, se calhar já, mas pensas que são apoios à associação dos urinóis nacionais.
    segundos: idem para publicidade do estado, na maior para dos casos cenas da treta para gastar as verbas previamente combinadas.
    terceiros: o bcp é privado para distribuição de dividendos aos accionistas e público para os prejuízos. já foi recapitalizado 3 vezes com dinheiro do piople. os accionistas não puseram um avo e já voltaram a receber dividendos.
    quartos: não percebi essa da galp, mas tanto quanto sei não é empresa de comunicação social.
    quintos: a cofina deve bué da milhões à previdência e ao fisco, contribuições dos trabalhadores e impostos. cada vez que a direita se senta na pasta das finanças sai um perdãozito.
    https://www.jn.pt/nacional/interior/como-foi-o-perdao-fiscal-a-cofina-5119384.html
    quintos: deves pensar que sou teu criado para andar a catar justificações para o que escrevo. estuda os assumptos antes debitares a diarreia habitual.
    sextos: vai pró caralho que já te dei confiança a mais.

  10. E indubitável que a direita domina a média portuguesa, tanto escrita como televisiva. Para o provar não é preciso muito: basta ver as primeiras páginas dos jornais diários, semanários e revistas, assim como assistir a um serviço noticioso de qualquer canal televisivo.
    Quanto a jornalistas televisivos vê-se, até no seu semblante, qual a sua tendência e ao serviço de quem estão, sempre muito contentinhos: os seus patrões que obviamente são de direita.
    Quanto a comentadores, convidados para dissertar sobre tudo e mais alguma coisa que de político tenha a ver, a diferença é de 80/20 a favor da direita, considerando ainda que muitos dos comentadores que aparecem como representando a esquerda, na maior parte das vezes não passam de travestis.
    Agora uma questão se me põe desde há muito: porque razão as esquerdas nunca investiram em ter um ou mais jornais / canais de televisão com corpos editoriais assumidamente de esquerda, moderada ou radical, como habitualmente acontece em muitos outros países?
    Bom, … eu até sei que se tal fosse tentado, aí, a direita desfraldava velas e a todo o vapor vinha reclamar que se estava a tentar asfixiar a “liberdade democrática”. Até que, sejamos objectivos, isso já aconteceu!

  11. a esquerda é malcriada, para além de parasita :) :) não se trate , não. e lave a boca com bicarbonato, talvez o fel se dilua e consiga ser feliz com o que tem.

  12. Houve várias artigos bons na revista, mas em relação a este deixa-me só dizer uma coisa que já penso há algum tempo. Não imagino Mário Soares, Freitas do Amaral, Cavaco Silva, Álvaro Cunhal a comentarem sobre futebol. Não entendo como os deputados (alguns) não se incomodam nem consideram que o exercício de comentar futebol, onde só rebaixam a sua idoneidade, é incompatível com os cargos que ocupam por invalidar todo o vigor do seu discurso político. E essa sensibilidade, que é uma virtude de todas as pessoas que citei atrás, é importante. Claro que o Telmo Correia pensa antes nas valente mocas que a tvi lhe paga por programa.
    Enquanto as pessoas ficarem satisfeitas com esta “droga” do futebol (e vão sempre estar saciadas, a comunicação social desempenha esse papel) os políticos não se vão importar em mudar esta mentalidade porque só coloca a insatisfação das pessoas (pelo menos a que é visível) num estado comatoso , adormecido e útil para qualquer governo.
    As estações de notícias, como diz o Pacheco Pereira, converteram-se todas em canais de desporto. Veem todos os assuntos de real interesse público como secundários dando sempre primazia ao futebol. Há um desvio enorme entre o papel que a comunicação social deveria seguir e aquele que segue.

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