Não faltam causas, problemas, projectos, escândalos, louvores, denúncias. O facto de já estar tudo dito, e redito, não impede que esteja sempre, e ainda, tudo por dizer. Aproxima-se o dia em que cada indivíduo terá 10 blogues — com um deles em estado de comatosa actividade, um outro, colectivo, aonde irá muito de vez em quando, e os sobrantes como orgulhoso currículo dos serviços prestados. Este será padrão obrigatório, as coisas vão chegar aí. Mas o que importa é que em cada um dos 10 blogues, se detivermos o tempo para ler com atenção, iremos encontrar grandes verdades expostas por esse indivíduo. E essa é que é a verdade, desse grande indivíduo.
No meu caso, o que me inquieta, o que posso erigir como verdade a ser publicitada, e que até poderá ser decisivo para a providência do mundo (como convém), diz respeito ao jornal Público. Acontece eles não terem um corrector ortográfico nos seus computadores, situação que me aflige e põe em risco a integridade da língua portuguesa. A prova foi entregue pelo articulista David Mariano, no suplemento MIL FOLHAS, o tal que é dedicado aos livros e aos escritores. Pois bem, o Sr. Mariano, recenseando uma biografia de Mengele, não foi de modas: no primeiro parágrafo grafa concerteza. O paginador, para que não ficassem dúvidas, compaginou a palavra na transição da quinta para a sexta linha, obtendo con-certeza. E o revisor, se os tiverem, terá abençoado o revisionismo gramatical. Ah!, calhou o episódio no dia 10 de Junho. Acaso? Não seja ingénuo.
É óbvio que a Redacção do Público não tem posses para adquirir o software em causa, tendo recorrido a este estratagema para fintar a Administração e revelar a ignomínia. Solidários, lançamos uma campanha para a oferta de um corrector ortográfico (actualizado) ao jornal do Sr. Belmiro, com licenças em número suficiente para, pelo menos, cobrir os articulistas do suplemento MIL FOLHAS; de todos os cadernos, o mais epistemologicamente carente de cuidados ortográficos. Vamos chamar-lhe Operação Dou Concerteza, e podem enviar os vossos donativos aqui para o Aspirina (que nós tratamos do resto).
Rasgada chapelada a Valupi!
Perante casos perdidos, uma boa ironia é o único elixir!
subscrevo
Embora tenha nada a ver…lembrei-me, assim de repente, desta letra, com certeza uma das melhores da nossa MPP.
Sérgio Godinho, concerteza.
“Tu precisas tanto de amor e de sossego
– Eu preciso dum emprego
Se mo arranjares eu dou-te o que é preciso
– Por exemplo o Paraíso
Ando ao Deus-dará, perdido nestas ruas
Vou ser mais sincero, sinto que ando às arrecuas
Preciso de galgar as escadas do sucesso
E por isso é que eu te peço
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Se meto os pés para dentro, a partir de agora
Eu meto-os para fora
Se dizia o que penso, eu posso estar atento
E pensar para dentro
Se queres que seja duro, muito bem eu serei duro
Se queres que seja doce, serei doce, ai isso juro
Eu quero é ser o tal
E como o tal reconhecido
Assim, digo-te ao ouvido
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Sabendo que as minhas intenções são das mais sérias
Partamos para férias
Mas para ter férias é preciso ter emprego
– Espera aí que eu já lá chego
Agora pensa numa casa com o mar ali ao pé
E nós os dois a brindarmos com rosé
Esqueço-me de tudo com um por-do-sol assim
– Chega aqui ao pé de mim
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Se eu mandasse neles, os teus trabalhadores
Seriam uns amores
Greves era só das seis e meia às sete
Em frente ao cacetete
Primeiro de Maio só de quinze em quinze anos
Feriado em Abril só no dia dos enganos
Reivindicações quanto baste mas non tropo
– Anda beber mais um copo
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego”
E se fosse só isso, valupi?! E se fosse só isso?! Mas essa, até o «pobre» do revisor ortográfico do Word – presume-se que os articulistas de O Público não escrevam à mão – resolvia…
Com o que as redacções pagam aos revisores, com a precariedade do seu trabalho e com o desprezo com que (alguns) paginadores vêm esse trabalho não me admira que no próximo 10 de Junho seja a palavra: Por-tugal
Pois é, Cristina, tb concordo… Mas só espero é que não seja revisora… ;-)
Politikos
O episódio pode não ter importância nenhuma, mas é interessante pelo facto do Word, ou acrescentos, não poder validar “concerteza”, o que levanta a interrogação: escreve-se para jornais com a notoriedade do Público, órgão de referência, e não se faz uma revisão ortográfica por computador?… Enfim, é uma curiosidade. Por outro lado, trata-se de um erro muito comum, sinal de desleixo do autor em causa.
Cristina
Bom exemplo, esse do Portugal partido…
Tentei ser – fui – e ce(n)do, desisti ;)
Numa das mais conhecidas publicações nacionais, sem computador, tinha de pedir, à moça que fazia a programação, licença para consultar o Priberam no seu PC. E era chato porque podia interromper os chats…
Pois é, Valupi, tem toda razão. Admitem-se erros sintácticos e até alguns ortográficos mas esse não, simplesmente porque até o Word «trata» com toda a limpeza do assunto. Já para não falar do Flip e dos próprios revisores, se os houver…
Órgãos de referência?! Ó meu caro, isso, hoje, só se diz do coração… É tudo o mesmo, até o JL, que, sendo – ou dizendo-se – de Letras, está pejado de erros… Quanto mais O Público, O Expresso & etc.
Não desista, Cristina, que os revisores fazem falta… Só me meti consigo por causa do «vêm» que devia ser «vêem» ;-) E, digo-lhe, apesar de tudo com algum conhecimento de causa, que os bons copidesques se fazem pagar bem…
FEDEU ESTOU FRITA