Adenda à entrevista de Pinto Monteiro

Usar a Justiça para fazer ataques políticos é a mais velha perversão da democracia. Quem assim age está a expor a sua impotência intelectual, pois foge do confronto de ideias e da procura de acordos, entregando-se à violência de uma pulsão totalitária. Com estas pessoas não há qualquer possibilidade de diálogo posto que elas só aceitam a sua gula de poder como critério de sucesso. Merecem ser tratadas com tolerância zero pois são terroristas, desprezando a racionalidade e o bem comum.

Se o que acontece com Sócrates, Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento acontecesse com um político do PSD ou CDS e outros magistrados quaisquer, a obrigação de denunciar a degradação da comunidade, da sociedade e do regime que a judicialização da política provoca seria exactissimamente a mesma. E, nessa alternativa, provavelmente veríamos o que vemos agora: aqueles que utilizam a Justiça como arma política igualmente a atacarem seja quem for que se apresente independente, neutro e livre na crítica ao que estão a fazer. Para os fanáticos, a moderação e a objectividade são inimigos ainda piores do que aqueles que perseguem, não suportam a coragem de quem lhes mostra quão destrutiva é a sua influência na cidade.

Nesta entrevista, Pinto Monteiro volta a contar a mesma história que conta há anos e anos. É um relato onde os factos nunca são contestados. Os caluniadores têm de saltar por cima de todas as evidências para continuarem a envenenar o espaço público. As evidências dizem respeito à impossibilidade de Pinto Monteiro ter influenciado fosse no que fosse as investigações feitas a Sócrates durante o seu mandato, a começar pelo estatuto de independência de cada magistrado e a terminar no poder do sindicato e do CSMP. As evidências continuam com o extenso rol de decisões que provam como o ex-procurador-geral da República decidiu que se investigasse o que havia para investigar à luz da Lei. E as evidências culminam naquilo que Noronha do Nascimento resumiu desta maneira, cito de memória: “Se as escutas onde Sócrates foi apanhado – as quais foram consideradas pela Justiça como inúteis para qualquer investigação, e por isso destinadas a serem destruídas – tinham algum indício de crime, por que razão não aparecem publicadas?”. Ou seja, numa situação onde o segredo de justiça foi violado sempre que se quis e como se quis sempre que aparecia algo que pudesse ser ligado a Sócrates nem que fosse pelo cheiro, então ele seria preservado logo naquele naco onde o gatuno tinha sido apanhado com a galinha na mão? Se Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento tivessem feito essa golpada, acaso os sindicatos dos procuradores e dos juízes, mais os respectivos Conselhos Superiores, mais os partidos da oposição e, finalmente, o saudoso e heróico Presidente Cavaco, ficariam impávidos e serenos a ver passar a procissão? A referência ao Tribunal de Aveiro e sua deliberação sobre essas mesmas escutas pode até ficar sem comentário.

Houve e há dirigentes e deputados no PSD de Ferreira Leite e de Passos, Pacheco Pereira incluído e talibãs do CDS por arrasto, a que se junta o coro dos profissionais da calúnia no extenso laranjal mediático, que irão morrer a repetir que Pinto Monteiro foi um dia almoçar com Sócrates, e já depois de ter abandonado as suas funções na PGR, porque foram parceiros de corrupção. Qual a relação desse almoço seja com o que for que tenha influência na situação judicial de Sócrates eles não sabem explicar. Nem eles nem ninguém que tenha sido gerado no ventre de uma mulher. Obviamente, não seria com esse monte de calhaus com olhos que Rio poderia contar. Ou serão postos borda fora ou irão afundar o PSD.

15 thoughts on “Adenda à entrevista de Pinto Monteiro”

  1. Vejam bem a desmoralização da justiça brasileira: Enquanto na Grécia uma Ministra é demitida por receber subsídio de residencia tendo residencia própria na cidade em que trabalha
    https://tech2.org/lebanon/greek-minister-dismissed-for-1000-euros/
    no Brasil, os juízes fazem greve para continuar a receber esse subsídio nas mesmas condições
    https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/03/juizes-federais-anunciam-paralisacao-para-15-de-marco-por-auxilio-moradia.shtml
    quando recebem já mais de 30 vezes o salário mínimo.

  2. Fizz, Orlando Figueira, Daniel Proença de Carvalho e os tipos d’Angola.
    Tens de fazer rapidamente um refresh, tudo isso que referes (Pinto, o quê?) e de quem obsessivamente falas amiúde faz parte de um passado bastante sinuoso.

    Corres o sério risco de acabares catatónico permanente, Valupi.

  3. Na vida prática os medíocres quando alcançam o poder vão ao ponto de levar à frente e destruírem tudo quanto tem valor para garantirem os lugares de poder.
    Pinto Monteiro foi apanhado pelo grupo de medíocres alapados nas Associações que usaram desse poder para aliciar outros medíocres e jogarem o jogo da tomada de poder por dentro. E aos medíocres, por simpatia de mediocrecidades, juntam-se outros medíocres instalados em altos poleiros como foi o caso notório de Cavaco que além de medíocre era mesquinho, medroso, sonso, vingativo e desconfiado o que o tornava facilmente manipulável.
    O Palma serviu-se disso para ser recebido em Belém quando queria ou entendia fazer acusações em segredo de colegas por manipulação directa do palerma Cavaco. E quem se opunha regendo-se pela Lei e por princípios democráticos era enterrado vivo na praça pública no tandém entre Associações de magistrados e “cm”.
    Até aqui têm ganho o 1º round mas nada assegura que continuem ganhando ou ganhem mesmo o 2º. Parece, vamos ver, as artimanhas (ver caso Centeno) já por si vão ficando com rabos de fora e o modus operandi é cada vez menos convincente o que faz desconfiar o pagode. E à medida que perdem credibilidade todos os medíocres vão tornar-se mais assanhados.
    Vamos certamente notar tal nos próximos capítulos da “justiça” do MP.

  4. Pinto Monteiro tem mais coragem e dignidade em metade da unha do mindinho do pé esquerdo do que as máfias enquistadas no sistema judicial da Tugalândia conseguirão alguma vez reunir em todas as suas gordas panças coligadas.

  5. O que estende o primarismo — para não dizer analfabetismo — político português à esfera da justiça — à direita, como à esquerda — é a minimização ou ignorância da importância daquilo que em inglês se designa por “due process”. E esse culto da expediência tem formas históricas interessantes de regressar à procedência, quando “the chickens come home to roost” (à direita, mais uma vez, como à esquerda)…

    Um dos dados que demonstra a incapacidade generalizada de, num país de escutadores e tribunais populares, se perceber o que os anglo-saxónicos chamam “the rule of law” é a frequência com que se pergunta «se as escutas não provavam nada porque é que Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento determinaram a sua destruição?»… e se conclui o contrário do óbvio, simples e demonstrável: porque era isso que a lei determinava!

    Recomenda-se:
    https://www.publico.pt/2018/02/05/sociedade/opiniao/um-novo-paradigma-dizem-1801953

    Já tem um mês e está escrito segundo o malfadado acordo, mas é de actualidade e está muito bem resumido. Quem queira perceber o que se passa neste país de errado em matéria de travestis de procedimentos judiciais e recurso aos novos «tribunais populares» leia com atenção. E volte sempre ao (silenciado e esquecido) processo-escândalo Casa Pia, primeiro ensaio e pedra de toque da actual podridão em que nem este colunista convidado do Público ousa tocar…

  6. Pinto Monteiro e o Socras/Socras e o Pinto Monteiro, mas os Costas & Cia nunca se metem nessas conversas.
    Porque será ?

  7. Ó Meirelles estás a perder qualidades, precisa de corda a tua sanfona?, mas obrigado por linkares para o Aspirina B os artigos que o Valupi escreve sob pseudónimo no Semi-Pasquim e no DN nessa esplendorosa Indústria da Calúnia que só ele, tu e outros bacanos de tweed vêem a brotar nesse paraíso que é o Esgoto a Céu Aberto.

    Nota. Viste ontem o documentário sobre a Ingrid Bergman?
    Pois devias, na RTP 2 e quem sabe se ainda ias a tempo de… quase tudo.

    Toma lá, embora seja uma troca desigual de pendor marxista, que está no P. online mas a prosa ainda não li:
    https://www.publico.pt/2018/02/25/culturaipsilon/noticia/os-filmes-caseiros-de-ingrid-bergman-do-escandalo-a-estrela-na-rtp2-1803910

  8. Ó praqui o rei do comentário, corrector ortográfico falante, a fugir com o cú à seringa.

  9. A JOGATANA perguntou, muito ingenuamente: «mas os Costas & Cia nunca se metem nessas conversas. Porque será ?»

    O extraordinário é que tanta gente se coloque essa pergunta, como se a resposta não fosse óbvia, e a inteligência do actual primeiro-ministro, como a ambição, falta de escrúpulos e desprezo pela lei das actuais pandilhas sindicais que dominam as corporações da Justiça e videirinhos mediáticos na sua dependência , estivessem em dúvida.

    A ambição número um da direita parola, como da esquerda ingénua, deste país seria ver o partido do Costa investir, sózinho e de peito feito, contra às ilegalidades acumuladas e contínuas dos ditos interesses corporativos e ideologias do suprematismo judicial que pretendem — como mais do que um magistrado já tornou bem explícito em escritos de cariz profissional — submeter os outros dois poderes do estado, enviando a sua proverbial separação às urtigas…

    A verdadeira reforma da Justiça vai chegar, mas só quando se conseguir uma frente unida dos partidos políticos com representação na AR sobre este tópico delicado. Sem isso, nada feito, e os abusos e ilegalidades vão continuar à tripa-forra.

  10. Acrescento que o monumental faux-pas que constituiu o recente raid ao Ministério das Finanças, com a habitual cobertura mediática e todos os complementos ilegais do costume, a propósito dos interesses futebolísticos do ministro do sector, pode ter sido, a par com a escolha de Elina Fraga por Rui Rio, a primeira indicação de que a ambiência propícia à chantagem e à impunidade no crime está a mudar.

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