A singularização do bem fazer

O conceito “banality of evil” foi criado por Hannah Arendt para analisar e reflectir a sua experiência pessoal ao ser a correspondente da revista The New Yorker no julgamento de Adolfo Eichmann, responsável militar nazi condenado à morte em Jerusalém no ano de 1961. É escusado dar informações acerca de um dos mais famosos julgamentos do século XX, fama surgida precisamente devido à produção intelectual de Arendt a respeito. Mas colhe marcar que estamos perante uma dilacerante questão que nasce do nazismo, remete para o Holocausto e está intimamente relacionada com a condição judia.

Miguel Pinto Luz, por sua vez, talvez venha a ficar na Wikipédia como alguém bem mais importante do que Hannah Arendt para estas matérias atinentes à civilização. Tudo graças ao que lhe passou no bestunto quando resolveu dar o seguinte título a uma cagada publicada na TSF: A banalização do mal fazer. Repare-se no brilhantismo da troca de “banalidade” por “banalização” e do acrescento do verbo, engenharia semiótica para não pagar direitos de autor e adormecer em paz com a sua pulhice. Quem perder o rico tempo a ler o esguicho de ódio, disfarçado de comentário sobre a TAP, chega ao fim e tropeça nesta síntese do seu superior pensamento:

«A grande pergunta que se coloca neste caso é que chefias retirar, que ministros remodelar? E a resposta é óbvia, com esta banalização do mal fazer, com esta transversalidade de uma cultura nefasta, é fácil de concluir que o responsável é só um: aquele que continua calado, o mestre das cortinas de fumo, o nosso primeiro-ministro António Costa.»

Ora, desde que há registos escritos que se podem ler acusações aqui e ali contra esta e aquela “cultura nefasta”. E a etimologia não podia ser mais apropriada ao terreno que o probo Pinto Luz escolheu para atacar os adversários políticos, dado que nefasto significa originalmente “o que está proibido pela lei divina”. Deus, qualquer deus que se preze, não pode curtir essa gente que teima em não respeitar quem manda, vai sem discussão. Daí, na História, o carimbo de “cultura nefasta” ter usualmente precedido a geração de ideias e entusiasmos relativos ao roubo, prisão, tortura, expulsão e assassinato desses em quem a “cultura nefasta” jaz entranhada de forma indelével.

Estará o singular Miguel, portanto, a sugerir que os socialistas são como os nazis, e que, como nazis que são, deviam ser apanhados e condenados à morte dado que neles o “mal fazer” é agora um antro de “banalização”? Não, claro que não, ai jasus. Isso é só o que ele pretende que o povo votante conclua da leitura do seu texto. Mas não tem nada a ver com o que ele pensa. Nada de nadinha de nada. Ele pensa outras coisas, coisas fixes. Com sabor a laranja. Ele nem sequer sabe quem é Hannah Arendt, coitado. Tem bem mais que “bem fazer”.

37 thoughts on “A singularização do bem fazer”

  1. ah, nem sabia quem era esse messias invertido de cascais mortinho por deserdar a ericeira. de facto ele está mesmo a sugerir uma comparação badalhoca e maldosa. eu acho que estas pessoas assim hão-de passar meticulosamente horas a arrecadar bandidagens para criarem uma vantagem competitiva no reino da miséria de holofotes.

    no caso do Joaquim Camacho, por exemplo, gasta uns minutos do seu tempo a focar-se em agás mudos e em sinónimos. uns é com laranja e outros é com amoníaco. ao que chegamos, !ai! que força de vontade de aniquilar os melhores, cristo, insisto, sai da sauna e anda cá abaixo ver isto.

  2. bem ele que mude para a banalização da idiotia e prontos. e temos de pagar por usar a palavra banalização ? não me admirava nada que chegassem ao ponto de registar palavras como sua propriedade intelectual , à laia do que pretendem com as sementes de todos nós. condição lixada , a de apropriadores.

  3. não percebi porque é que o valupi está a tomar as dores dos socialistas, já que o ataque do gajo até foi feito ao partido socialheiro

  4. Já agora: assassinato está muito divulgado, tanto escrito como falado, mas é um galicismo. É preferível assassínio, mas também é verdade que ninguém morre, excepto talvez a língua, paulatina e progressivamente assassinada por um ou outro galicismo e, cada vez mais, por bandos, manadas e cardumes de “pervasivos” anglicismos. E está dito, “prontos”, que, não sendo anglicismo nem galicismo, com eles partilha a qualidade de bojarda. Saravá!

  5. Joaquim Camacho, a língua é viva e não morre a não ser que a oralidade emudeça. vá-pastar, seu invejoso no masculino. invejeleiro. !ai! que riso

  6. Joaquim Camacho, já dei para esse peditório numa caixa de comentários qualquer, faz tempo. Se assassinato vem do francês, assassínio vem do italiano. Constando que ambas, o francês e o italiano, vêm do latim.

  7. a banal banalização da banalidade, por um triste bolsado a querer criar espaço onde cair morto já que os dele não-lho cedem qual cabeça de melão bêbado a meio da noite nas ruas escuras de uma qualquer aldeia europeia à procura de um urinol onde se esgueirar tal qual uma ratazana de wc público.

  8. Repito: “É preferível assassínio, mas também é verdade que ninguém morre, excepto talvez a língua, paulatina e progressivamente assassinada por um ou outro galicismo e, cada vez mais, por bandos, manadas e cardumes de “pervasivos” anglicismos.”

    O que fica por saber (nem tu saberás, provavelmente) é aonde foste buscar esta peregrina ideia: “Constando que ambas, o francês e o italiano, vêm do latim.” Não vêm, não senhor, nenhuma delas vem do latim e não há nada no latim minimamente parecido ou suspeito de tão duvidosa paternidade. Donde se conclui que, se isso consta em algum lado, consta mal.

    De acordo com o “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, assassino vem de uma palavra árabe cuja transliteração dá “haxxīxīn” (consumidor de haxixe). E o árabe, por sua vez, virá do persa (transliteração “bassassin”), da designação de uma tribo do Norte do actual Irão que, na época das Cruzadas, para ganhar “coragem”, consumia haxixe antes de lutar contra os líderes cristãos ou muçulmanos sunitas.

    Reconhecendo as minhas limitações, nesta como em muitas outras matérias, prefiro confiar no critério de quem a elas dedicou a vida e nelas fritou as sinapses, como é o caso de Rebelo Gonçalves no seu “Vocabulário da Língua Portuguesa”, de que te enviarei duas fotos para o email do Aspirina. E ao que parece não está sozinho, como podes ver aqui:

    https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/assassinio-e-nao-assassinato/174

    e aqui:

    https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/homicidio-e-assassinio/10928

    Já este, por exemplo, navega nas tuas águas, mas, ao distinguir o uso brasileiro do português, acaba por desaguar nas minhas. Porque onde ele, por exemplo, escreve ““Assassinato”, que fomos buscar NO francês assassinat”, qualquer português que não queira habilitar-se a uma sessão de reguadas escreverá ““Assassinato”, que fomos buscar AO francês assassinat”:

    https://veja.abril.com.br/coluna/sobre-palavras/qual-e-a-palavra-preferivel-assassinato-ou-assassinio/

  9. Acrescento que tanto a formulação brasileira (“que fomos buscar NO francês”) como a portuguesa (“que fomos buscar AO francês”) têm a mesma legitimidade, uma cá, a outra lá, diferentes mas iguais, não há aqui donos da língua e quem disser o contrário é parvo.

  10. Joaquim Camacho, agradeço a correcção.

    O que vem do latim são as línguas francesa e italiana. Quanto ao que é uma língua, trata-se de um sistema plástico, orgânico e pragmático. Não é a Constituição nem uma escultura. É um instrumento, daí ir incorporando funcionalidades de acordo com a geografia, a história e as culturas.

  11. A língua é um instrumento que faz tudo o que dizes, mas de acordo com critérios e não segundo a vontade de qualquer analfabeto. E hoje, com a Internet, o Faecesbook, o ToEatYou (+ ToCheatYou & ToShitYou) e quejandos, o que dantes era pensado, analisado e estudado por gente que a isso dedicava a vida é apropriado por qualquer analfabeto, que, do alto da sua ignorância, pode “decretar” para todo o universo qualquer burricância que lhe passe pela mona e transformá-la em verdade bíblica ou inquestionável teorema de física quântica. Que a língua é um sistema plástico, com uma valiosa costela de esponja que a enriquece, sei eu e nada tenho contra. Vê o caso da palavra quezília, com as variantes quizília, quezila, quizila e quejila. Vem do quimbundo angolano e, juntamente com milhares de parentes com a mesma origem ou equivalentes, foi naturalmente absorvida e faz parte, de pleno direito, da língua portuguesa. Mas uma coisa é adoptar e absorver a riqueza de outras línguas e povos e outra é deitar para o lixo a nossa própria riqueza para estrangeirar desnecessariamente o que não precisa de estrangeiração.

  12. No caso, do que se trata, não é da banalização do mal mas sim da dramalhatização do zero político. Como nada há de política substantiva para criticar como economia, contas certas, deficit, crescimento, etc. recorre-se à dramatização até ao nojo dos casos de tricas de gestão entre saias.
    Calcule-se que, não só este Miguel, como os trastes mentirosos, incompetentes e inúteis assaltantes do pote há décadas como o Santana Lopes e Miguel Relvas assomam, assiduamente, no écran de tv para informar o Marcelo intriguista e alcoviteiro de que o “regular funcionamento das instituições” estão em decomposição. Sem argumentos para insinuarem uma “bancarrota” à vista usam a gestão trapalhona de uma empresa que eles próprios privatizaram, no último minuto de governo legal, entregando-a a um mafioso que a pagou com o dinheiro que sacou à própria empresa.
    A tática usada é sempre a mesma; fazem a merda por atacado e deixam o novo governo enredado na limpeza e mau cheiro da dita o que, raramente, corre bem à primeira; veja-se o caso da banca que também foi fartote de acusações de desgoverno com a pedra de arremesso sempre à mão de que se trata do “nosso dinheiro” ou ” o “meu o seu, o nosso dinheirinho”.
    Já só falta o Pacheco e o seu grito de guerra interminavelmente repetido “faltam mais explicações” ou “são precisas mais explicações” que repetia acerca do caso Sócrates; afinal, agora, sabe de certeza certa que o homem é culpado mesmo com as bastas explicações de cariz prático que a experiência de politização pulha do juiz do caso cometeu e já foi denunciado por um colega de ofício.
    É preciso que o governo governe e não tenha medo dos acontecimentos nem das intrigas que os amigos da onça de Marcelo lhe atirem à cara ou lhe soprem ao ouvido.

  13. que horror: o Joaquim Camacho é um misoneísta do carago na plauralidade e diversidade da língua na língua bela e elegante e europeia que é a portuguesa e antes prefere, no alto do seu chico espertismo capelista, o putinismo na sua diversificação destruidora enquanto única linguagem primitiva em movimento. lave-se, merdoso invejoleiro, dê – não a roube – à língua.

  14. olha, pensava que este posta era sobre o que o exercito israelita fez na mesquita de al-aqsa. pelo menos mais maléfico e banal, não há no mundo actual.

  15. Ó valutretas, obrigado pelo link, putz, é muito bom e não podia concordar mais com o que o senhor que eu não conhecia escreveu; vou partilhar nas minhas redes e tu, olha, continua que entre a ucrânia e a defesa desse oportunista salarazento chamado costa vais muito bem. Força. ^_^

  16. literalmente, “homem da faca”. mas sim assassino era o principal significado do nome sicário. e judas iscariote não vem tb de sicário, yo? andava jesus acompanhado de assassinos porquê?

  17. porque o mal não se pega e somos todos filhos de Deus -:)
    tenho 2 amigas prostitutas da aldeia ,não são toxicodependentes , acho-lhes um piadão , contam-me histórias. uma é analfabeta e um dia pediu-me para ligar para um tipo e passado um bocado percebi que tinha marcado um “negócio” -:)

  18. é um comportamento desviante , em termos sociais são equivalentes. moralmente , um assassino até pode ser muito melhor pessoa que uma prostituta , depende do que o levou a matar.

  19. hahahaha, a sério, yo? você acha que matar em nome de deus é moralmente defensável? então na sua opinião um soldado do ISIS tem comportamento ético e moral? e socialmente equivalente a alguém com uma conta no OnlyFans?

  20. Ó “lula da silva”, normalmente não gosto de responder por outros, mas você abusou. Deve ter escrito o comentário na latrina e a obstipação afectou-lhe o interior do crânio, desprovido de cérebro. Em vez de lula, choco com tinta, mas a saber a arsénico.

  21. claro que não , teste , óbvio que Deus não manda matar ninguém. mas pense na tropa . os soldados são também assassinos , que matam às ordens de homens e por objectivos tão “banais” como dinheiro e poder , mas fazem-no a pensar que não têm alternativa e que lutam pela sobrevivência. só que não. têm alternativas e lutam pela sobrevivência de “senhores”.

  22. olha como ele sabe o que é que significaria efectivamente deixar de ser vassalo dos norte-americanos, olha!

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