2017_Pedro Bidarra_1ª temporada
A série A Criação dá que falar. Dá para dizer que não gerou conversas públicas. Que se tornou um alvo do Correio da Manhã, continuando um ataque anterior ao autor que também pretende atingir a actual direcção da estação pública e a sua reputação. Que mostra um mundo de difícil descodificação para quem não for do meio publicitário ou do marketing. Que apresenta alguns episódios iniciais com muito boa qualidade de produção. Que tem uma realização brilhante quando tem espaço para isso. Que está mal escrita, pois é raro ter graça ou pertinência, e porque não tem interesse dramático. E que fica como um notável insucesso que, apesar disso, permite aplaudir a política de investimento na ficção televisiva nacional que a RTP tem promovido.
É fácil dizer bem do conceito e mal da intenção. Retratar os tipos das agências e dos “clientes”, com os seus traços característicos, maneirismos e anedotas associadas, pode dar uma série televisiva com popularidade. Optar pela farsa e pela sátira, usando a caricatura animal como abstracção e subtexto, continua a ser viável mas obriga então a uma profundidade narrativa de elevada complexidade se a ideia ainda for a de servir públicos eclécticos. Mas apenas ter como alimento no enredo um incurável ressentimento contra a classe onde se foi rei não é suficiente para puxar a carroça. Esta série é intencionalmente ordinária e ressabiada, primária e infantilóide, uma catarse que se esgota na tortuosa persona profissional do Pedro. O seu maior pecado, porém, consiste na pobreza criativa que exibe enquanto história.
A classe dos publicitários portugueses é conservadora, discreta e está praticamente destruída pela crise económica e pelas alterações tecnológicas. Acontece nesta indústria o mesmo que vemos nos jornais, o fim de um paradigma por causa das alterações sistémicas no consumo da informação e nos modelos e processos das trocas sociais. O Pedro saiu de cena quando as regras do jogo mudaram, o dinheiro já não corria nos canos por onde passara durante décadas de boa vida para esses artesãos das micro e nanonarrativas. Enquanto pôde impor a sua visão, ele destacou-se por combater furiosamente a ignorância e a banalidade a que produtores, gestores e decisores dos reclames se agarram inevitavelmente por medo do que é novo, forte, arriscado. Se voltar a ser autor de ficção televisiva, ou cinematográfica, ou teatral, tem no seu passado a bússola que faltou neste projecto. Ou seja, já tem em si o essencial. O resto é só a criação.
__
Os 10 episódios prontos a servir aqui
RESSALVA
Trabalhei com o Bidarra durante quase dois anos numa agência de publicidade, embora em departamentos diferentes. A relação entre essa experiência e as opiniões acima vertidas não é mera coincidência.
estou curiosa, tenho de ver para depois opinar.
vi o pudim com sexo e gostei.
a minha leitura: em um mundo onde é suposto o Homem ser herói capcioso da abstracção, fica-se pela suposição. e são os outros, em oposição ao Homem, os que são tidos como meros receptores de estímulos que o fazem. ora nada melhor do que a imagem – do todo – de pudim e sexo para ilustrar esta narrativa que, passando pelo ponto de tangência, é perpendicular à tangente.
Nos meus longínquos tempos de estudante, fui bom a geometria descritiva, e apreciava a prática de perpendiculares aos pontos de tangência. :-)
:-)
em termos de sexo prefiro turgência e convergência no circulo , atravessando todo o cilindro até chegar ao zénite , passando pelo ponto g . mas pronto , cada um na sua.
:-D