Para que serve o pseudo-jornalismo? Sabemos para que serve o jornalismo: para cumprir este ideal. Quando tal acontece, quando a imprensa assume princípios éticos, a democracia fica reforçada porque aumenta o conhecimento sobre a comunidade, melhora a inteligência colectiva, cresce a liberdade de cada um. Quando não acontece, os órgãos de comunicação social dedicam-se à procura do lucro através do sensacionalismo e/ou pelo serviço às agendas políticas e sociais dos accionistas ou tutela. O modelo de negócio continua a depender da deontologia mas agora para a perverter e explorar. A ética passa a ser usada como capa manipuladora e covil inexpugnável. A liberdade da imprensa transforma-se na carta branca para violentar o contrato de confiança entre quem ostenta a carteira de jornalista e quem consome os produtos do jornalismo. Há ganhos para alguns nesta deturpação que expulsa a isenção, só que passam a ser proveitos sectários numa lógica de terra queimada. Quanto pior o dano à comunidade, melhor para o pseudo-jornalismo.
Imaginemos a seguinte experiência mental. Um instituto universitário, ou um milionário patusco, mandava uma equipa para as ruas de Portugal a propor um desafio aos incautos que apanhassem pela frente: se conseguissem responder espontaneamente – fundamentando a resposta – à pergunta “Quem é o melhor jornalista em Portugal, na actualidade?” habilitavam-se a ganhar 1 milhão de euros após avaliação das respostas por um júri de autoridades na matéria. Mesmo que esta experiência nunca venha a ser feita, e não vai, é fácil calcular o grau de dificuldade, primeiro, e o nível de ignorância, depois, nas respostas recolhidas. Pura e simplesmente, ninguém perde uma caloria com essa questão, não saberíamos sequer que critérios usar para começo da avaliação. Ora, tal indiferença é não só significativa como está prenhe de consequências. Significa que a crise do jornalismo é económica, pela redução drástica das receitas, por um lado, e diminuição das audiências pela fragmentação mediática, pelo outro, mas que é igualmente uma crise política. O papel de “quarto poder”, pese toda a fragilidade conceptual desta fórmula, não passa agora de um ópio para os egos hipertrofiados dos que ainda continuam a flanar no topo da pirâmide editorial com os bolsos cheios. Quanto às consequências, é um caso onde elas são tantas quantas aquelas que a vista alcançar. Pelo que os interessados no assunto devem começar por abrir a pestana.
A problemática adquire a sua desvairada ambiguidade logo a partir do nº 1 do código deontológico do jornalista, onde se escreve “O jornalista deve relatar os factos com rigor e exatidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público.“. Os sublinhados são meus, precisamente para se focar a atenção no que é fonte inesgotável de polémica. Quem afere da “honestidade” do trabalho jornalístico? Ou de acordo com que metodologia? Como distinguir entre o que é “notícia” e o que é “opinião” se até o mais objectivo retrato por palavras, ou em captação mecânica da luz, corresponde sempre a um inevitável e incontornável ponto de vista, um entre ilimitados? Por exemplo, numa entrevista só se fazem as perguntas que se querem fazer, e como se querem fazer – acaso tais opções estão imunes à “opinião” do jornalista? O mesmo para qualquer decisão editorial que dê destaque a certas notícias levando outras a não o ter ou ter menos – acaso tais opções estão imunes à “opinião” do editor? Idem para a construção dos títulos e chamadas, para o perfil político dos profissionais na redacção e para a tipologia política dos colaboradores na secção de opinião, para tudo e mais alguma coisa que crie a paisagem ideológica e programática do meio de comunicação social em causa. Pelo que o mais avisado será recorrer à sabedoria de Potter Stewart, o tal juiz americano que em 1964 definiu assim a pornografia: “I know it when I see it“
É exactamente o que se passa nesta coisa – Expresso repudia a acusação de “descontextualização”. Oiça aqui o áudio da entrevista à ministra Ana Mendes Godinho – onde a desonestidade intelectual deste “jornal de referência” (ahahaha, minha nossa senhora do Caravaggio) é tanta que nos permite abdicar do esforço para chegar a uma sua definição. Basta começar a ler e de imediato damos por nós num tugúrio do mais antigo militante do PSD a assistir a uma rábula de pornojornalismo que, reconheço e agradeço, tem o involuntário mérito de chegar a ser hilariante tamanha a confiança que exibem de só estarem a lidar com cidadãos acéfalos.
Há muito que deixamos ter imprensa de referência. Diria que deixamos de ter imprensa. Os jornais que por aí vão sobrevivendo, estão encostados ao poder económico, que os vai gerindo consoante os seus interesses, económicos e políticos.
Como uma flor na faz a primavera, também os escassos jornalistas, dignos desse titulo que ainda vão sobrevivendo, são engolidos pela maioria dos “jornaleiros” que todos os dias nos mimoseiam com as maiores barbaridades.
É um facto maioritário e quase corriqueiro o jornalismo ideológico mal intencionado, de má fé. E este caso do Expresso é o exemplo típico e quase o regular especialmente desde que dominado pelo mano Costa, um verdadeiro manobrista da informação; não esquecer a manobra de pulha (o não aperto de mão filmado após o debate e à revelia dos candidatos depois explorada à náusea como mau carácter do candidato)) cometida contra o Carrilho a favor de Santana que levou este à presidência da CMLisboa e guindou o mano Costa aos poleiros do grupo Imprensa.
E para quê? Para que a “sic” tivesse um homem de poder afeiçoado docemente à publicidade ideológica e económica relativamente à Imprensa balsemónica em total detrimento da Cidade e dos lisboetas.
Não conheço o título do Expresso retirado das declarações (deixei de ler esse jornal desde meados dos anos’80) da ministra mas ouvido essas declarações onde estão indícios, sequer, de insensibilidade da ministra?
Mas a falsa e fingida sensibilidade do jornalista está implícita na entrevista; se as declarações da ministra denotam uma grave falta de sensibilidade e senso moral acerca das mortes no lar em causa porque razão o jornalista não reagiu no momento às declarações tão insensíveis e cristãmente imorais? Porquê ficou calado e não achou motivo de controvérsia no momento da entrevista perante tão grave falta moral e ética e só depois de ler e reler o texto olhou, viu, deu conta e valorizou sobretudo a “insensibilidade” da ministra, ainda por cima com título que, tudo indica, não corresponde ao sentido das declarações da senhora.
Valupi diz que o “jornalista” deste “jornalismo”: – tem o involuntário mérito de chegar a ser hilariante tamanha a confiança que exibem de só estarem a lidar com cidadãos acéfalos. –
Não tenho a certeza de que os cidadãos sejam todos acéfalos mas o certo é que nos tratam como se fossemos.
Não há quaisquer dúvidas que, no grupo Impresa todos acreditam nas patranhas que
procuram “vender” ao cidadão incauto ou distraído! Quando resolveram exibir o áudio
da entrevista dada pela Ministra não conseguiram confirmar a insensibilidade anun-
ciada no título … o que foi dito pela Ministra tem toda a lógica nada chocante como
pretenderam fazer passar!!!
O jornalismo está mesmo perdido. Está toda controlada pela política e seus serviçais. É muito difícil a um jornalista manter-se isento. Sendo, não tem emprego.
Por exemplo, no caso da TV, impressiona-me o comportamento dos apresentadores dos telejornais. Devem receber instruções para massacrar alguns entrevistados tal é a indisfarçável animosidade com que os tratam. Outros entrevistados são tratados com luvas de pelúcia, sendo os jornalistas incapazes de lhes colocarem questões pertinentes sobre os temas abordados.
Mais neutralidade senhores, mais neutralidade …
Não vejo nada de negativo nessa parte da entrevista da ministra Ana Mendes Godinho.
No entanto, creio que por vezes o seu discurso revela alguma falta de tarimba para evitar armadilhas. Quando ela diz “… a dimensão não é, a dimensão não é uma demasiado grande em termos de proporção” de imediato tem a percepção de que o que acabara de dizer não ia soar muito bem nos média (as pessoas não proporções) e então de imediato corrige, acrescentando que “claro isto não significa não devamos estar preocupados e mobilizados …”. Se tivesse dito “cada pessoa que adoece e morre é uma tragédia” era logo bem vista.
Também não nos podemos esquecer o contexto que determinou a fúria: a Ministra tinha assumido que não tinha lido o relatório da Ordem dos Médicos pelo que foi fortemente criticada (erro político grave, ainda que não tivesse lido não o podia ter dito). Até o Secretário de Estado da Saúde disse que tinha lido 4 relatórios, idem o Presidente, idem o zé pagode. Toda a gente tinha lido. Será que leram mesmo? A nossa ópera bufa.
Ministério difícil o da senhora.
Os jornaleiros poderiam investigar , e isso sim , era importante para nós como sociedade , onde estavam os filhos ou netos desta gente.
e já agora , os jornaleiros com formação cientifica poderiam investigar o que retiramos do aumento da esperança da vida conseguida pela ciência burra como tudo. são estas coisas que nos esperam….
https://www.lavanguardia.com/vida/20200818/482903514942/medicos-sin-fronteras-residencias-coronavirus.html