A manifestação que falta fazer

Desde o 25 de Abril que as manifestações de rua têm sido provas de vitalidade política e comunitária. O PCP e os sindicatos acabaram por ficar com o monopólio desses espectáculos assim que a democracia ficou consolidada. O BE, um híbrido de ex-comunistas e ex-socialistas com radicais variados à mistura, nunca teve massa crítica para mais do que umas arruadas e umas barulheiras grupais para televisão filmar. Mas não perderam nenhuma oportunidade de parasitarem tudo o que fosse movimentação social anti-Governo, como fizeram com especial sucesso nas manifestações dos professores. O extremo deste folclore resulta no culto juvenil e maníaco de usar a rua como palco de uma imolação cívica em directo, onde alguns imbecis reclamam a passividade absoluta: ocupam um dado espaço público dia e noite com o fito de interromperem permanentemente a sua utilização pelos outros cidadãos e assim conquistarem o protagonismo na comunicação social.

Numa situação em que um Governo de direita acéfala é particularmente inábil na aplicação de políticas particularmente violentas, os apelos à centralização da oposição na rua vêm de toda a esquerda, não só do seu extremo. Trata-se de uma resposta natural, onde as indignações e repulsas, medos e perplexidades encontram na reunião e exposição colectiva um alívio imediato. Quem participa sente-se bem, muito bem. É até fácil ficar embriagado, tantas as substâncias químicas produzidas nesses cérebros que por umas horas imergem num super-consciente colectivo. Todavia, as consequências de tal experiência podem não ter qualquer repercussão política, como o evento de 12 de Março comprova. Desse enorme manifestação, apesar de não ter atingido os números míticos que logo se propagandearam, não veio nenhuma alteração perceptível nas agendas dos partidos, na tipologia dos discursos dos políticos ou nas modalidades da participação cívica. Foi apenas uma catarse, uma rave opositora com o alto patrocínio dos mandantes da imprensa – e do Presidente da República – interessados em mandar abaixo Sócrates nessa mesma janela temporal.

Que se façam as manifestações que apeteça fazer. De preferência, ao estilo da Soeiro Pereira Gomes, com essa disciplina soviética que não destrói propriedade privada nem bens públicos, exibindo uma organização que deixa cheios de inveja as agências de viagens e os serviços municipais. Mas que se tenha a perfeita noção da sua irrelevância, do seu artifício para benefício da elite que as organiza. O que falta à democracia não são mais ruas e avenidas ocupadas por revoltados em part-time. Se fosse assim tão simples, há muito que teríamos experimentado um Governo liderado pela CGTP com o Nogueira a primeiro-ministro. O que falta à democracia é outra coisa: a ocupação das casas onde habitamos, ou trabalhamos, ou estudamos, ou calhamos visitar, pela manifestação permanente da inteligência e da coragem. Não é possível conceber revolução mais radical.

33 thoughts on “A manifestação que falta fazer”

  1. deves preferir a politica deste governo então.Mas isso ao fim ao cabo não é surpresa nenhuma pois não Valupetas?

  2. 3 breves mas interessantes instantes ontem à noite nas TV’s. Primeiro, Sousa Tavares, na Sic, pondo finalmente o nome nos bois: o sr. das Finanças segue as teses dos “Chicago Boys”, que já fizeram muita treta por esse mundo fora.
    Segundo, António Costa ( Director de um jornal económico, não fixei qual) dizendo, na TVI 24, que o mesmo sr. das Finanças, quer parecer um técnico, que só se preocupa com questões técnicas, mas lhe parece ter um projecto politico eventualmente perigoso ( Costa disse mais ou menos isto, não é literal )
    Terceiro, no Prós e Contras, Carlos Carvalhas, ex-Secretário-Geral do PCP e membro do CC daquele Partido, afirmando que era preciso fazer justiça, ou ser justo, (também não é literal) ao eng. Sócrates, pelos resultados obtidos na diminuição do déficite, antes da golpada PPD/CDS e outros.
    Três instantes, curtos é certo, mas.. haja Deus..!

  3. “Que se façam as manifestações que apeteça fazer. Mas que se tenha a perfeita noção da sua irrelevância”.

    Ou seja, podes comer os melôes que quizeres mas nunca matarás a fome. Das duas uma, ou lá sabes as linhas com que te coses, ou tens uma ideia bastante péssima acerca da inteligência dos manifestantes. Como se alguém precise dum curso de engenheiro para distinguir entre o preto e o branco. Outro ponto interessante é a declaração de que o PCP e os sindicatos têm o monopólio das manifs. Ora que bolas, senhor Violas: só vem prà rua quem precisa de vir prà rua.

    Se a Direita polifónica e multifacetada (a definir numa futura mesa redonda no Jardim de Inverno) nunca usou desse direito é certamente porque o milho lhe ia correndo para o bolso e o vento esteve sempre de popa.

    Há que haver honestidade quando se fala nestas coisas. Disparatar contra manifestações num altura em que mais de novecentas cidades do mundo inteiro vieram à rua manifestar-se contra os lobos da finança e muitas hienas da política, é, no mínimo, dum atrevimento de alto coturno. Chiça, vizinha, vale lutar pela paz e sossego, mas não tanto.

  4. Desculpa lá, ó Valupi: mas como é que é isso da ocupação das casas onde habitamos, trabalhamos ou visitamos? Confesson que não entendi, e me pareceu ver aí como que um convite à resignação. Explica lá isso muuito bem, assim como se eu fosse estúpido.

  5. “Mas que se tenha a perfeita noção da sua irrelevância, do seu artifício para benefício da elite que as organiza.”

    Que elite? Mas de que elite fala?
    Da dos princípes, das coroas reais, que se divertem em festas que eu habitualmente frequento?
    É que eu nunca vou às manifestações, e se as fazem, é porque devem ver algum sentido naquilo… não sei, digo eu…
    Ou acaso acha que o holocausto, os cortes nos subsídios e o seu post, surgiram por acaso – sem motivo algum?!…

  6. Inteligencia e coragem bastariam… O pior é que muitas vezes quando existe uma falta a outra. E depois, Val, há demasiados séculos que a coragem não é o nosso forte. Dir-se-ia que fomos sendo castrados. Vê com que facilidade fomos submissos durante 48 anos. A nossa coragem foi…emigrar. Quanto à inteligencia, olha-me para este povão e suas elites embebecidas perante a veia poetica de um PR a falar no sorriso das vacas que pastam.
    E vê a infantilidade com que entregaram o poder todo a quem lhes dá o pau e a cenoura.
    Vamos levantar a voz? Nem penses. Vamos emigrar, enquanto houver para onde.
    Há muitos a dizer e eu concordo: as grandes manifestações de rua acabaram no dia em que a direita tomou o poder todo. Porque era a direita que fornecia o transporte aos manifestantes. E o PCP e BE sabiam bem disso.
    Só arrastados. Só arrastados. Coragem não mora cá. O Eça achava que também a inteligencia.
    Quem ouviu o telejornal de hoje na RTP 2 o comentador de direita (são asfixiantemente todos.. . estás a ver que ninguém se queixa de asfixia) Jaime Nogueira Pinto afirmou que era urgente exportar, exportar…mercadorias e …pessoas! Ouviste, Val? Pessoas!
    Como vês, pessoas ou vacas, para quem nos governa é a mesma coisa. Possivelmente foi a pensar nisso que o presidente da manada viu o sorriso dos animais a pastar.
    Manada…sangue fresco…chupar. É isso. O Zeca cantava acerca da manada. Por um momento também ele percebeu que isto não era povo. Se era, deixava-se ordenhar feito manada de vacas. Não mudou nada. É o fado.

  7. er, larga a vinhaça.
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    joão coelho, bem anotados esses momentos.
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    V. KALIMATANOS, meu maluquinho, andas mesmo à nora, né?
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    José, onde é que viste o convite à resignação? Resignação vejo eu naqueles que reduzem a actividade política aos espectáculos para a televisão e jornais.
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    NAS, larga o tintol.
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    António P., grande abraço.
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    Mário, independentemente da História e das circunstâncias que afectam uns e outros de incontáveis e desvairadas formas, cada um de nós tem uma missão, ou um dever, ou uma oportunidade para dar o melhor de si. E, no fundo, é isso o que mais importa.

  8. São manifestações institucionais, institucionalizadas, inócuas, castradas, de carneiros enquadrados por “pastores” parasitas com almas de palha. Servem apenas para que as cliques de burocratas que hoje se arrumam no PCP, no Bloco e na maior parte dos sindicatos possam parasitar algum “combustível” que os mantenha em velocidade de cruzeiro e os afaste por mais algum tempo da irrelevância. Estão prenhas da promessa/ameaça implícita de que o gado se manterá controlado e não invadirá os “jardins” dos eleitos, desde que lhes sejam atiradas de vez em quando umas migalhas de que os “pastores” possam reivindicar o mérito, exibindo-as como grandes conquistas. Não servem absolutamente para nada, excepto para canalizar, de forma inofensiva e inócua, revoltas e frustrações legítimas, que assim se esfumam ingloriamente, morrendo na praia sem chatear ninguém. Como bónus, permitem ainda aos patrões poupar uns tostões e, aos burocratas de merda, arrotar nas televisões umas postas de pescada de eunucos armados em garanhões.
    Que saudades do Francisco Louçã estudante do liceu que levantava assembleias de universitários, em Económicas, contra os cabrões que nos fodiam antes do 25 de Abril! Que nojo do Louçã de agora, burocrata oportunista, salta-pocinhas e malabarista que perdeu completamente a vergonha e ainda não percebeu que vai nu e está tudo a rir-se dos seus lamentáveis entrefolhos! Bardamerda para o coitadinho do bailarino simplório que hoje dá a cara pelo PCP, acolitado por gente do calibre de um Bernardino Il-Sung, que consegue voar mais rasteiro do que o crocodilo da anedota do KGB! Imagino os saltos que o Cunhal deve dar na campa!
    Tens toda a razão, Valupi!

  9. Valupi,

    Para os que te “conhecem” há vários anos como eu – turíbulo revolteante na mão a derramares incenso sobre os teus apaniguados, ridículo na outra a fazeres frente a opiniões com bafos de vinho – nada do que avanças como resposta a críticas constitui surpresa. És o paposseco fresco das farinhas importadas de cada dia. Esta coisa em si, digo, este teu hábito de quereres morrer de pé apoiado à gramática das flores, tanto faz teres ou não teres razão, é a própria negação do progresso tecnológico tipo Jobs Ipod Domini que às vezes sentas na mesma bicicleta de dois selins da Democracia da Platónia.

    Eu já nem perco tempo contigo sem usar o condimento cinismo. Convidar-te a espreitares para dentro dum alcatruz em ascenção também é tempo que eu poderia empregar melhor porque sei que partes do princípio que é água idêntica à que utilizas para lavares a cara. Mas o problema é que o Agostinho, um dos teus favoritos quando não falas do treinador do Sporting ou da Fernanda Câncio, esqueceu-se te te ensinar que essa união de dois átomos é das substâncias mais complexas da natureza. E é o Povo, no Vinho. A maioria, vamos lá.

    Entre os batedores de palmas do costume, temos fulanos que se contradizem por amor ao floreado estóico que lhes injectaste. Desta vez um diz que a cobardia levou gente a emigrar no tempo da outra senhora e linhas depois sugere que o melhor será emigrar. O outro fala de manifestantes como se tivesse a falar das vacas do avô e apresenta-nos o novo vocábulo “prenha”, que suponho ser uma contracção de prenhe com pranha. Mas se calhar, coitados, nunca andaram a estudar como eu. Portanto ficam perdoados.

    Andas bem acompanhado.

  10. entretanto as amélias do regime batem com os cornos no muro das aspirinas para ver se passa a dor de cabeça.

  11. oh metanos! 1500 caracteres para dizeres nada, palha com valor calórico zero. não há espelho que resista, deves ser o maior da cantareira e o cheiro a merda não engana.

  12. Este Artigo mistura duas coisas complementares. Saúdo e aplaudo a defesa da tomada de consciência de quão importantes nós somos, individualmente, para a resolução dos problemas globais.

    Mas tenho algumas reservas quanto à inutilidade das tomadas de consciência colectivas e da sua expressão veemente, em momentos decisivos.

    Relembro apenas as históricas manifestações da Alameda e do Terreiro do Povo”, em 75, já para não falar da excepcionalíssima primeiro 1º de Maio, em 74.

    Estão a faltar-nos ambas as coisas, quer aquilo de que tão bem se fala nos últimos dois períodos deste texto, quer igualmente (e muito urgentemente…) um discurso claro e são, decantado de enviesamentos e emotividades, sobre a nossa realidade presente, que ponha cobro à incapacidade de articular um pensamento colectivo comum e de o saber manifestar de forma convincente, seja de que forma for.

    Antes que esse nó que nos entope a garganta e essa raiva que nos cresce nos dentes se torne incontrolável e se volte, como tantas vezes acontece nestes casos, estúpida e descontroladamente contra nós próprios e os nossos semelhantes (que são apenas uma variante desse “nós próprios” colectivo), destruindo-nos.

    Portugal tem a consciência colectiva embargada pela confusão e pelo desgaste. O tempo urge e a pressão aumenta. Que não tarde esse discurso claro e límpido, nem o(s) seu(s) próximo(s) intérprete(s) em Portugal.

    Antes que seja tarde demais…

  13. Peidolas,

    Duvido que alguma mulher nos cinco continentes tenha coragem para submeter o buraco das delícias ao órgão que usas para provar, degustar e lamber. És, de facto, rei. Pareces a Brigada Bigorna do socialismo.

  14. Calculo que o “nome” te venha sobrado das “kalinadas” e “kaneladas” que davas na ortografia quando andaste “a estudar”. Honra te seja, temos de reconhecer que manténs e refinaste o mérito “kaneleiro”.
    Encalhei há dias no conselho que davas a duas visitas do Valupi, mais uma vez mérito dos avançados “estudos” que te fritaram a moleirinha. “RELACHEM”, neologizavas tu castiçamente, para alguns traques abaixo me dares o privilégio da tua atenção. Como é já a segunda ou terceira vez que te metes comigo (sorte a minha), vou repetir a resposta que te dei então: «VÊ SE RELAXAS, ANALFABETO BILIOSO “RELACHADO”, OU AINDA TE AFOGAS NA MISTURA DE FEL E MERDA QUE TE (PRE)ENCHE A ALMA.»
    Confirmo agora que, além de analfabeto “relachado” e bilioso, és também vaidoso e pretensioso, qualidades que acrescem à de obviamente merdoso.
    Para enriqueceres os “estudos”, aconselho-te vivamente um curso de pós-graduação em que com paciência te expliquem que aquilo a que chamas “paposseco” se escreve em português “papo-seco”, que “ascenção” é “ascensão” e que, quando no Burkina Faso se diz “como se tivesse a falar das vacas do avô”, em português se deve traduzir o “tivesse” para “estivesse” (o resto é igual), sem esquecer, claro, que “relachem” equivale, em português, a “relaxem”.
    Já agora, quando avançares para a pós-graduação, aconselho-te a fritura de mais alguns neuroniozitos na consulta do “Vocabulário da Língua Portuguesa”, de Rebelo Gonçalves, página 822: «PRENHE (é, port.; ê, bras.), adj. 2 gén. Var fem. (no sentido de “grávida”): prenha (â(i) e ê, port.; ê, bras.).»
    Como saberá qualquer utilizador da língua portuguesa familiarizado com as variantes do vocábulo e situações em que são utilizadas, “prenhe” é palavra mais usada no sentido de “cheia” ou “cheio” e não exclusivamente de “grávida”, que foi o que eu quis dizer. Tu, por exemplo, estás “prenhe” de bílis e rancores gasosos, mas deus vosso senhor nos livre de que possas um dia ficar “prenho” a sério, biologicamente, milagrosamente! A galáxia não suportaria a genialidade somada de dois kalineiros e entraria em colapso!
    Pois é, analfa “relachado”, a “gramática das flores” do Valupi não chega aos calcanhares da “gramática da diarreia” que te enforma o discurso. Mas outra coisa não seria de esperar de uma criatura que incensa como heróis e salvadores da pátria analfabetos como o Álvaro tonto (vem de Vancôver ou de Toronto?), que esforçada e diariamente perora sobre “competividade”. Mais o analfa de Boliqueime, que, década após década, continua libidinosamente a encher a boca com a bojarda “credebilidade”, o que nos tira quaisquer dúvidas sobre quão “credével” ele é. E agora, aleluia, glória a deus nas alturas, temos a suprema felicidade da adopção do maravilhoso vocábulo pelo Lá-Lá-Lá de Massamá, ginasta de gabarito, campeão olímpico nas modalidades de golpe de rins, cambalhota sem obstáculos e aldrabice sem vergonha!
    Que o Mafarrico nos valha, pois Nossa Senhora da “Credebilidade” só nos está a foder… e em duplicado!

  15. foda-se Joaquim Camacho, não era preciso tanto, para um estudioso como o KALATI MATANOS, bastava o desprezo…

  16. Relacha, Camaxo. Não era caso para te zangares, jóia prolixa. Afinal, o que nos divide tem pouco ou nada ver com gramática, é tão só uma parede de concreto e tijolo com dois metros de espessura. Mas noto que te fez bem, desopilaste, arrotaste, botaste pela borda fora. Quem é amigo, diz lá? E se eu soubesse que o estômago viria a ser envolvido nesse processo de acabares duma vez por todas com o meu amor próprio, até era capaz de te ter dado uma dica acerca duns pós muitos bons pra isso. E fica descansado, não me vou dar ao trabalho de procurar “relachos” teus nos comentos que de vez em quando aqui deixas para impressionar os que te apreciam, mas não fiques é na ilusão mansa de que o erro que apontas não foi detectado por mim depois do crime cometido. E aqui não se usa corrector, vem tudo da alma e sujeito às nefandas influências do queijo.

    Por outro lado, não me lembro desse teu comento muito escatofílco que transcreves em letras gordas, é muito raro deixar passar opiniões trongas como essa e ainda por cima com trampa à mistura. E é pena teres recorrido, não ao prontuário, isso é sempre benvindo, e o meu por acaso não menciona “prenha”, mas a coisas sujas como “diarreia” , vaidade, biliosidades, pretensões, rancores gasosos, analfismos, casamentos de ideias com Álvaros (???), endossos e incensações de tropa que eu, digo com franquesa, não me ensaiaria muito para arrumar na mesma prateleira onde arrumo objectos curiosos como tu. Ou isso foi apenas uma maneira de mandares abaixo as proferições libidinosas de troca de iis por ees do meu excelso camarada Francisco Cavaco?

    Que o Mafarrico te valha, pois, pois, mas isso não é coisa que eu já não tivesse reparado.

    PS Nota que a palavra mais suja que usei neste comento foi “trampa”. Agradece isso, pelo menos. E imita-me se te dignares responder, mas não, evidentemente, o estilo pretensioso.
    E tens andado a ler o anonimo, não tens?

  17. Ocupação das casas que habitamos, dos locais de trabalho e dos locais de estudo. Boa ideia, Valupetas! As pessoas que viram as suas casas serem penhoradas, os seus locais de trabalho serem deslocalizados ou precarizados e os seus locais de estudo serem fechados de certeza que estão de acordo contigo, e consideram que as manifestações, por mais participantes que tenham, já não suficientes para alterar a situação. É preciso ter mais coragem, ser mais radical e mais revolucionário, como tu dizes, e adoptar acções com consequências, de facto, no rumo político e económico da sociedade.
    Esta tua proposta, aliás, recorda aquela outra feita pelo Sartre aquando da sua visita a Portugal no tempo do PREC: o existencialista francês defendeu então que as pessoas deviam promover a autogestão das fábricas, que deviam ocupar as casas abandonadas e que deviam participar nas campanhas de alfabetização e de dinamização cultural ao lado do MFA.
    Pergunto-me, portanto, se essas tuas recomendações não serão um reflexo do teu lado escondido e recalcado de «betinho revolucionário», e de que tu já nem te apercebes como afecta o teu «raciocinio». Mas depois reparo que estás a ser metafórico e que essa tua conversa de ocupações é mera verborreia reactiva. Porquê? É que enquanto o Sartre defendeu aquelas ideias partido da premissa base da sua filosofia existencialista, segundo a qual os homens são absolutamente livres e responsáveis pelas suas decisões e escolhas, já tu pareces seguir a visão contrária, a visão assente na má-fé, e que se desculpa com factores externos (neste caso a CGTP, pois os «comunistas» são a tua desculpa preferida para permaneceres imóvel no sofá e escreveres posts ridículos), para se refugiar num individualismo fechado às relações com o mundo social e económico e às suas alterações neoliberalizantes.
    Sim, porque o que a tua «proposta de vida» recomenda e sugere é que as pessoas aceitem a realidade como ela é, que neguem a sua vontade em mudar as coisas, e que procurem a «felicidade» no seu interior, ou numa «revolução» psicológica. Defendes pois uma espécie de ataraxia e de apatia, próprias de quem não consegue ver mais nada para além do seu ego, e que por isso prefere a tranquilidade do isolamento à insatisfação que acompanha e conduz à acção e aos movimentos sociais.
    Olha, tendo em conta que a mentalidade católica e jesuíta te acompanha desde a infância, penso que a melhor solução para os teus problemas psiquicos e que a consequência natural das tuas propostas é mesmo o refúgio e o isolamento num mosteiro. Maior «revolução» e tranquilidade para a tua mente que isso não deve haver! Bons sonhos, Valupetas!

  18. João Coelho,

    e aqui vai mais um momento (este do Pedro Lains*, no Negócios online) – a máscara vai caindo…
    “Afinal, Portugal não é a Grécia. É o Chile. De há 30 anos. Não vamos apenas recuar no rendimento per capita, mas também na História, na integração europeia e, seguramente, na qualidade da democracia.
    Afinal, Portugal não é a Grécia. É o Chile. De há 30 anos. Não vamos apenas recuar no rendimento per capita, mas também na História, na integração europeia e, seguramente, na qualidade da democracia. Em prol de quê? – Em prol de uma fé. E a troco de quê? – A troco de uma mão cheia de nada.

    Deixem-me personalizar porque é caso para isso. Conheço o pensamento de Vítor Gaspar, porque várias vezes me cruzei com ele, em seminários, e porque ele se interessa por história económica e várias vezes entrámos em diálogo. Sempre concordámos em discordar. Também conheço o seu pensamento porque por onde ando há outros economistas assim, também dos bons. Posso talvez dizer que em cada 100 economistas ou historiadores económicos que conheço, cinco pensam como o ministro das Finanças e um é fora de série. A presença de um deles num debate é sempre fonte de animação.

    Mas há dois grandes problemas. O primeiro é que estes economistas, no fundo, não estão muito interessados em causalidades. Estão mais preocupados com equilíbrios. Não acham importante determinar se vem primeiro o ovo ou a galinha. Há um défice, um desequilíbrio? Corrija-se. Mas as causas são… Não interessa, corrija-se para recuperar a confiança, criar um círculo virtuoso e restabelecer o crescimento. Onde foi isso visto? Aqui e ali. Mas como prova que a recuperação foi o resultado da contracção, se o mundo entretanto mudou? Porque a teoria assim o diz.

    O segundo problema, porventura maior, muito maior, é que esses economistas não chegam, nem perto nem longe, aos governos dos países avançados e europeus como Portugal. Os ministros das Finanças europeus são políticos, não teóricos e sobretudo não teóricos da fasquia dos 5%, brilhantes, é certo, de Vítor Gaspar. Quanto muito chegam a governadores de bancos centrais. Tivemos azar.

    E tivemos azar por culpa de muita gente e, em última análise, do actual primeiro-ministro. Ele ouviu à saciedade que era preciso “mudar o rumo”, que vivíamos “acima das possibilidades”, que era preciso um “corte radical com o passado”. E acreditou nisso tudo. Primeiro, acreditou nas “gorduras do Estado” – até ver que as havia, mas que eram macroeconomicamente marginais. Ficou sem eira nem beira. Até que Vítor Gaspar lhe apresentou um plano, o único plano que havia para pôr tudo em linha como recorrentemente lhe pediam.

    O plano de Vítor Gaspar já chocou muita gente, porque é chocante. E não o fez só à esquerda, pois o PSD também ficou chocado e muito. Mas não se consegue mexer. Nem o PS. A principal razão porque o plano é chocante é que ele assenta numa carta que não estava no baralho: a contracção sem limites de salários – e mais aumento de impostos. Assim qualquer um sabe governar.

    Passos Coelho não parece ter percebido o que se estava a passar, como revelam duas das suas declarações. A primeira foi quando disse que os funcionários públicos “ganham mais 10 a 15% que trabalhadores privados”. Sim, ganham, mas não todos e porque os de rendimentos mais baixos ganham mais e as mulheres ganham o mesmo que os homens.

    Se queria corrigir essa “injustiça” teria de ter feito de outro modo. E não podia, pois tinha de ir aos salários mais baixos. A segunda foi quando disse que a medida era para dois anos, o que o ministro das Finanças prontamente desmentiu. Obviamente. Um choque destes para durar tem de durar. Não há milagres.

    Ou seja, este Orçamento equilibra as contas, segundo o memorando da troika, à custa de uma contracção permanente, feita num acto, brutal, do rendimento disponível. E a troco de quê? Já lá vamos.

    Passos Coelho ainda será dos poucos que acredita que a culpa disto tudo não é dele, que “não tem de pedir desculpa aos portugueses”. Vítor Gaspar já sabe que não, claro. A dimensão do “ajustamento”, como lhe querem chamar é de tal forma grande, é de tal forma brutal que, como é evidente, ultrapassa qualquer estrago que tenha sido feito pelo Governo anterior. Percebe-se esta lógica simples, não se percebe? Julgo que não é preciso ir mais longe.

    O actual Governo, uma vez por todas, tem de assumir as suas opções. As suas opções radicais. E profundamente anti-europeias.

    O mantra por trás destas opções é também, por seu lado, incompreensível. Trata-se de “recuperar a confiança dos mercados”. Este mantra, dito em 2011, não revela uma completa falta de percepção do que se está a passar na economia internacional? Revela.

    E, claro, ninguém com tanta fé notou que os mercados nada notaram sobre o que por cá se está a fazer. Inclusivamente, até podem responder negativamente, esses mercados, por causa da enorme contracção que aí vem, desta desgraçada economia.

    Mas insistamos nos mercados e voltemos ao Chile. Nos anos 1980, um grupo de rapazes de Chicago entrou pela ditadura chilena adentro e “cortou com o passado”, fazendo um “ajustamento profundo”. Os pormenores não cabem aqui, mas quatro questões importantes cabem: o país era então uma ditadura; não estava integrado num espaço económico e monetário alargado; havia uma enorme taxa de inflação; e os mercados internacionais não estavam de rastos. E o desemprego subiu a perto de 25%, sem subsídios, claro, que isso é para os preguiçosos.

    A estratégia de Vítor Gaspar, sufragada por Passos Coelho, é profundamente desactualizada e mesmo errada. Ela insere-se num quadro mental em que os gastos do Estado provocam inflação, quando estamos numa fase de baixíssima inflação; pressupõe o financiamento nos mercados internacionais de capitais, quando estes estão retraídos em todo o Mundo.

    Há alternativa? Claro que há. A Europa não se gere pelos 5% de ideias económicas que infelizmente foram parar ao Ministério das Finanças. Nem de perto, nem de longe. Passos Coelho tem muito que aprender. Já está é a ficar sem tempo para o fazer. Vítor Gaspar tem um bocado de razão em pensar como pensa. É isso que acontece sempre, entre economistas. Mas deitou essa razão por borda fora, ao ir tão longe, tão fora da realidade do país, do euro e da Europa. Precisamos de recentrar o País, para o que convém começar por reconhecer as causas das coisas. ”

    *Economista, Instituto de Ciências Sociais
    da Universidade de Lisboa

  19. Obrigado, edie, pela transcrição do artigo de Pedro Lains que não conhecia. E que tem como corolário uma expressão que me parece extremamente significativa: “convém começar por reconhecer as causas das coisas”.
    É isso. Fundamental, meu caro Watson…

  20. li o texto e só pensei em democracia pura, não no sentido de legitimação da alienação dos direitos do povo nos representantes políticos da democracia representativa contestada pela pura, mas na pureza efectiva da democracia no que concerne à casa de cada um e ao local por onde passamos como referência à paz, à harmonia e às realizações sociais. a pré-história e a história é disto que nos fala, dos maus exemplos como referências a evitar, de um mundo que se diz civilizado e respeitador da democracia mas que ao mesmo tempo esconde a barbárie em forma de totalitarismo do capital e do pensamento único. talvez algumas pegadas de Marx, bem actuais e interessantes, devam ser ressuscitadas para combater o homem, acrítico e conformista, unidimensional pela verdadeira manifestação: a da inteligência e da coragem. como dizes.

  21. Val, estás a falar de uma coisa muito mais corajosa do que fazer uma manif de cartaz em punho e depois ir para casa como se estivesse tudo resolvido? Portanto, desobediência civil. Diz que é isto, que levas um abraço e um beijo na boca.

  22. (vale a pena lembrar que Thoreau, quando criou o conceito, começou logo por praticá-lo, não pagando os impostos como forma de protesto). Claro que muita gente não vai pagar os impostos porque não tem simplesmente dinheiro para isso, portanto, a atitude não é tão romântica assim, mais quand même…

  23. Vai-te phoder, ó gabarola “estudioso”, diplomado em kalinographia, analpha bilioso, burro e ALDRABÃO (https://aspirinab.com/geral/s-o-s-libia-%e2%80%93-podes-ajudar/#more-33230).

    Perdoem-me o vernáculo, Valupi e restante tripulação, mas venho aqui porque é agradável e estimulante a decoração da casa, a mobília e a conversa de anfitriões e alguns visitantes. É claro que sempre me incomodou o ganir constante do chihuahua travestido de cavalo de cortesias, assoando-se constantemente aos cortinados e largando mijinhas em tudo quanto é tapete, perna de mesa ou cadeira e até na porta do frigorífico! Tudo isto enquanto pavoneia vaidosamente as auto-enaltecidas e deploráveis peles. Mas é assim mesmo, a casa não é minha e a tolerância dos donos dela só me merece respeito e admiração. O azar foi que o sacana do bobi já por mais de uma vez deu em confundir as minhas magras gâmbias com perna de mesa e obrigou-me a despesa extra na lavandaria! Em tempo de crise, há que racionar os tostões e a incontinência do canito está a inseminar-me o orçamento.
    Perdoem-me mais uma vez, vou tentar adaptar umas protecções de plástico às pantalonas, a ver se passo entre os pingos de mijo, pois o bicho, com uma bexiga maior do que ele, não vai parar de esguichar!

  24. Camacho,

    Vens tarde com o pedido de desculpas ao Valupi e ao resto das senhoras e cavalheiros pela “vernacularidade”, mas não para te mandar levar no olho clássico pela ousadia de me chamares ALDRABÂOZÂOCÂO, nome feio que eu, afianço-te, portanto acalma-te, nunca considerei pecado mortal ou fonte de prurido.

    Mas indo levado pela tua mão ao local do alegado “crime” não encontrei nem evidência nem rasto que me autorize a conceder-te o diploma de bom investigador ou deslindador de mistérios. Vi, e li, a tua bosta, e torno a dizer-te que não me lembro de a ter lido antes. E, na remota hipótese de a ter lido, foi talvez devido ao facto de ter concordado contigo em cerca de 12 por cento, assim por alto, daquilo que confusamente e acaldeiradamente escarrapachaste sobre a Líbia. Que eu, nota bem para uso futuro, vaidoso e o resto das coisas horríveis que me chamas, também tenho um bom coração.

    E por isso despeço-me da tua pessoa com a promessa de nunca jamais e never te chamar labrego ou coisa equivalente. Daqui fala um Senhor.

  25. Coitado do kalinógrapho, que é ceguinho. Aqui vai copy paste… em Braille:

    «(…)

    V. KALIMATANOS Out 12th, 2011 at 15:20
    Camacho,
    Crivando esses dois escritos muito bem, um bom coração como o meu aproveita meia duzia de linhas. E já não é nada mau, crê.

    NAS Out 12th, 2011 at 20:25
    Antes de ajudar a Líbia, podemos ajudar a Palestina? Vá lá: troca de prisioneiros como cauções ou autocolantes? Chegou a hora!!!

    Joaquim Camacho Out 13th, 2011 at 2:09
    Em duas linhas: vê se relaxas, analfabeto bilioso “relachado”, ou ainda te afogas na mistura de fel e merda que te (pre)enche a alma…

    (…)»

    Porque me estás a fazer um pouco de pena, dou-te uma “dica”: tiravas mais proveito da vida se corrigisses a lamentável necessidade que pareces ter sempre de armar ao pingarelho enquanto denigres os alvos da tua implicação, mesmo quando as posições deles são, ainda que pontualmente, próximas da tua. Foi o que aconteceu na questão da Líbia, mais concretamente de Sirte.
    Aceitas o conselho, se quiseres. Estou-me a kagar, se não for assim.

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