A indústria da calúnia depende da cultura da calúnia

Como não existe imprensa em Portugal, nenhum jornalista irá perguntar a Cavaco a que órgãos se referia com estas palavras: “subserviência de parte da comunicação social à lógica do Governo“. Estará a pensar em rádios locais, blogues ou nalgum jornal de escola secundária? Mistério. Onde não há mistério é na reacção que o seu artigo causou. Louçã fez um exacto resumo do fenómeno:

"Ei-lo agora regressado à liça para exigir nada menos do que uma nova liderança para o seu partido (e para o país, pois só a direita merece conduzir Portugal, como nos recorda), cansado de uma “oposição política débil e sem rumo”. O problema é que ninguém gostou disto: os riistas preferem ignorar a bofetada, os rangelistas querem tudo menos evocar esse passado cavaquista que já não dá votos, no Largo do Caldas não há vagar para estas coisas, a extrema-direita tem mais que fazer com a re-re-re-reentronização do chefe, no centro ouve-se o insulto, na esquerda não é prosa popular."

Ouçam o grito amordaçado de Cavaco Silva

Resumo exacto mas incompleto. O que lhe está a faltar de essencial é o que igualmente não se vislumbra em nenhuma outra opinião que tenha encontrado a respeito, um módico sentimento de nojo ou de alarme. Refiro-me à passagem em que Cavaco lança aquilo que só pode ser lido como calúnia tal como o Código Penal a define: “São muitos os portugueses que têm medo de criticar o Governo. Receiam ser prejudicados na sua vida pessoal, profissional ou empresarial, incluindo de familiares, medo de perderem o emprego ou de serem injustamente excluídos de oportunidades de realização pessoal ou de negócios.

Na minha ingenuidade, fico banzo com a ausência de qualquer resposta a este ataque, seja por parte dos visados ou de qualquer outra entidade ou cidadão com acesso aos meios de comunicação social que igualmente se sintam patrioticamente atingidos, dado o estatuto do acusador e a gravidade da acusação. É, literalmente, o vale tudo como norma de intervenção política. Eis-nos perante um exercício de diabolização não só do Governo mas igualmente de todos os restantes órgãos de soberania. Crimes escabrosos, próprios de uma tirania, são cometidos amiúde, às claras, e só Cavaco teve coragem para os denunciar numa folha de jornal. E ficamos calados após se lançar, com foguetes, a barbaridade na “imprensa de referência”?

Há método no delírio, contudo. A diabolização dos socialistas por Cavaco, como lembra Ascenso Simões (que espantosamente foge de afrontar a calúnia), começou no Verão de 2008 a respeito dos Açores, no que ficou como uma das mais bizarras comunicações presidenciais de que há memória; e, acrescento eu, tal estratégia de terra queimada foi sempre em crescendo, passando pelo Face Oculta (espionagem a um primeiro-ministro em funções, sem autorização legal para as escutas), pela Inventona de Belém, pelo afundanço do País na Troika, e culminando na Operação Marquês pela mão de Joana Marques Vidal. Desde há 13 anos, sem interrupção, que Cavaco e a direita, salvo raras e individuais excepções, decidiram fazer o que pudessem para criminalizar socialistas e o PS. Em Outubro de 2021, o plano cavaquista continua o mesmo, vindo de um rancor fétido que já não irá desaparecer enquanto viver, só irá piorar.

Não se poder encontrar uma singular voz com relevância política, social, cívica ou meramente mediática que afronte em nome da Cidade quem tanto lhe quer mal é uma, mais uma, siderante prova de sermos cúmplices da pulharia.

8 thoughts on “A indústria da calúnia depende da cultura da calúnia”

  1. Cavaco não fez nada mais do que aumentar os decibéis da gritaria contra o governo. Só quem não houve o Telejornal, a Quadratura (são os mais moderados), o Eixo, os outros quatro do Governo Sombra, aquele comentador “economista” que debita na SIC, as gracinhas ou gracolas do amado RAP (quem te viu e quem te vê?), não lê a Sábado, o Expresso, o Observador, uma coisa agora designada Pôr do Sol se admira . Inventam, deturpam , acusam. Eles sim estão minando a segurança da democracia.

  2. Ó mjp se a malta não houve o Telejornal é porque não tem houvidos. Porque se a malta tivesse houvidos houvia o que tu escreves aqui e seguravam a democracia.

  3. A única voz verdadeiramente amordaçada é a voz do Portugal profundo, a voz da maioria silenciosa que sofre o jugo do regime de demoditadura partidocrática e cleptocrática jacobino-maçónica. É dessa voz que não fala Cavaco Silva, não fala o governo, não fala a comunicação social afeta ao regime, nem sequer os supostos espaços de liberdade como este blogue, denunciando conivências.
    Duma vez por todas, abram os olhos!

  4. Lá bem do fundo do Portugal profundo, com profunda superficialidade, o analfabeto continua a bolçar profundidades amordaçadas.

  5. Continua por aqui o tal protozoário, reminiscência de uma mente salazarista , que bolsa populismo do mais rasca. O tal que se afirma como »Nós somos o povo. Quem são vocês?« Esta é a grandeza paranoica de quem julga que pertence a uma elite em que só eles representam o povo.

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