Não sei que título hei-de dar a isto

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Uma mulher com este rosto adorável, de sua graça Margaret Heffernan, tem de dizer coisas e loisas muito certas. Em especial para um português a trabalhar em Portugal. Porque nós, os portugueses a trabalhar em Portugal, temos em 157% a probabilidade de estarmos sob a alçada de um palhaço qualquer que mergulha de cabeça no perfil de incompetências aqui caracterizado. Trabalhei com um patrão que exibia as 10 pechas apontadas, mais umas 20 não referidas. Ou seja, trabalhei a mando de um típico, normal, mediano, banal, comum gestor português. Esta alimária (Inertissimus Administratoris Lusitanus) não percebe a ponta de um neurónio de relações humanas e dinâmica de grupos. No fundo, desconhece por completo o que é uma pessoa — e não tem ninguém à sua volta com o discernimento e coragem moral (às vezes, também coragem física) para lhe dizer que ele, ou ela, é uma autêntica besta. A baixa produtividade nacional tem a sua primeira causa na alta imbecilidade de quem dirige, como os nossos emigrantes confirmam em todo o cu do Mundo.

Chamo a atenção para o último ponto, o qual é o mais importante de todos (para mim; e talvez para a autora, por encerrar a diatribe). Voltarei a ele em breve, pois relaciona-se com uma nova concepção do trabalho que remete para este salto civilizacional que estamos a dar, e onde seremos todos intelectuais, cientistas e artistas, no próximo paradigma económico — quer te dês conta disso ou continues a olhar para o palhaço.

18 thoughts on “Não sei que título hei-de dar a isto”

  1. Ca estarei eu para te chamar meco quando perderes o discernimento, meu querido meco. Mas se mostrares o texto a patroes portugas, estranjeirados tambem, 99% vao concordar com ele, quase apostava. Falar e’ facil mas depois na pratica e’ que e’ foda.
    Ouve la, e os patroes que emigram la para fora e que se safam, como o Joe madeirence? Pelos vistos os patroes tambem sao bons, o problema sera outro: o clima, os comeres, ou o caralho. Acho que ainda ninguem descobriu muito bem o problema, parece que ainda nao ha receita pa nos curar desta maldita ma onda. Se calhar, com a inveja, alguem nos deitou mau-olhado ha alguns 500 anos, algum bruxedo, sei la. O Cavaco bem podia ir por nos a bruxa, podia ser que isto melhorasse, ha uma boa ali ja depois da raia espanhola.

  2. Valupi
    Da que eu gosto mais é esta: “you must always hire people smarter than yourself”.
    Sempre pensei que é este o princípio por que regra geral os nossos primeiros-ministros escolhem os ministros. Só que às vezes enganam-se. Mas há sempre uma qualquer Câmara de Lisboa para resolver o problema.

  3. Claro que o problema não é só esse, Valupi. E o luís tem mais razão do que pensa, quando se põe a congeminar bruxedos de há 500 anos.
    Mas quando falas assim… apetece ouvir-te falar a noite inteira.

  4. A senhora é feia como as casas, mas, pela amostra, deve ser muito inteligente. Será que a inteligência é uma compensação para a falta de beleza? ou vice-versa?

  5. Pois, podemos puxar o elástico até à pré-nacionalidade, dizendo que sempre fomos mais Norte de África do que Europa, mais Magrebe do que Ocidente. E depois continuar a lamentar o abafamento dos judeus, os primeiros a conceber a globalização. E concluir que a desgraça foi a realeza não se ter libertado do seu provincianismo, desbaratando os desvairados recursos da colonização. Mas a minha ignorância fica-se pelo salazarismo, 40 anos de fuga para trás, a que se juntam 30 anos de corrupção democrática. Em consequência, leva tempo até se formar uma geração que consiga criar riqueza para a comunidade. Só não sei quanto tempo.

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    Ó meco, não te armes em menina. Falar é que é difícil. Por isso, é raro ouvir alguma coisa inteligente. Já quanto ao fazer, é para ir fazendo. Lê Aristóteles, sabe mais do que se passa agora do que todos os jornalistas juntos.

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    Daniel, também gosto muito desse remoque. Até porque é um oxímoro. Já quanto ao Sócrates, temos ali inteligência.

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    Jorge, claro que o problema não é só esse. Claro. E como vês tu o problema?

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    Sapkaj, lamento que não gostes do que vês. Para mim, tem a cara de uma matriarca poderosa e realizada. Linda.

  6. Mas pessoal, nós somos uma das potências do mundo, quer queiramos quer não, não por razões económicas ou militares mas por razões poéticas que têm poder político. Aqui do cantinho espraiamo-nos em fortes de basalto e outras, com saudades à mistura e muito tiro de canhão tuga. Ficou tudo miscigenado. É verdade que para continuar o espraianço pelo mundo o pai Portugal trata-nos mal, muitas vezes, e já é tempo disso mudar. Oh dragão pá, para levares com maiúscula tens de me dar uma lambida com jeitinho, não é como dantes que me ardeste a copa toda!

    É uma boa chamada de atenção esta tua, Valupi.

  7. Valupi

    Nesta questão concreta, começo no mesmo ponto, e vejo o problema exactamente como tu. A sociedade portuguesa não tem elites dirigentes à altura, mormente políticas e económicas. O que sempre lhe sobejou, num campo e noutro, foram oportunistas parasitas, e corruptos.
    No que o meu pensamento vai além do teu, é nisto: não tem elites, nem as terá, porque não tem capacidade para as gerar. A dimensão exígua e o peso da história (a nossa história é um eclipse da razão!) impedem-lhe esse conseguimento.
    Sempre, ao longo da história, os detentores do poder, mesmo precário, trucidaram os mais capazes, por mecanismos vários. Ontem e hoje. Uma opinião pública ignara, alienada ou inexistente, nunca se opôs, nem pôde evitar esse fenómeno persistente. O resultado é a reprodução sistemática do já visto, em moldes novos. A situação actual é, nisso, exemplar. Portugal é, desde há trinta anos, em condições ímpares, dirigido por oportunistas, ou incapazes corruptos, ou traidores. Tal e qual como ontem.
    Tornar Portugal um país produtivo, que cria riqueza para a comunidade, é um processo de cultura e de gerações múltiplas. Não se improvisa à pressa. E tu és um felizardo, quando tens ao menos a esperança de que essa geração há-de surgir.
    Mas não, Valupi. Nem Portugal a quer, nem tem capacidade para a gerar, nem o mundo presente lhe concede, sequer, tempo para o fazer. Resta alijar os excedentes através da emigração (como sempre), ou a perda da liberdade, ou as quimeras do 5º império. Ou todas juntas, hoje como ontem.

  8. O problema não está só aqui, em Portugal, como bem evidência Margaret Heffernan. É um mal geral.
    “If you treat employees like children, they will behave that way” Parece que o problema começa cedo, na primeira infância.

    Não sei onde foste buscar essa percentagem, mas não concordo. Eu diria que 158,5%(os vírgula cinco é para os maus patrões, dia sim, dia não).
    Também não sei o que tens contra os palhaços. Tão engraçados que são!

    Ousa lá ser patrão! Vá lá!

  9. Jorge, agradeço o teu comentário. Porque me obriga a pensar. E não há obrigação melhor do que a de pensar.

    Contudo, se é para pensar, então a sua natureza impõe-se. Por exemplo, o rigor. E, em rigor, não há nenhuma razão para supor que a geração salvadora não irá surgir. Bem ao contrário, o que parece inevitável é que surja – porque sempre surgiu. Isto é, antes de nós muitos outros viveram e construiram. O que somos é o resultado das realizações anteriores. Logo, o que parece improvável, absurdo mesmo, é que não se repita a matriz do humano, a qual é criativa, bondosa e evolutiva (como tudo o resto, de resto). Haja humildade, se estamos mesmo a pensar.

    Outra característica é a da profundidade. O pensamento aprofunda, e chega à simplicidade através da complexidade; nunca aceitando a simplicidade simples. Por exemplo, que legitima a conclusão de Portugal não querer viver melhor? Nada. Ou melhor, apenas a imaginação. Uma imaginação que substancia uma abstracção geográfica. Mas, acaso, um português é diferente de um espanhol, de um francês ou alemão? Nem de um chinês, banto ou esquimó, no que à sobrevivência, segurança e conforto diz respeito. Por aí, pela antropologia, queremos todos o mesmo. Sempre e para sempre.

    Todas as pessoas são iguais nisso de serem seres de aprendizagem. Havendo quem ensine, há quem aprenda. O que nos leva para a temática das elites, onde não posso concordar mais contigo. Mas desafio-te a criares um escol. É que há uma responsabilidade na consciência, sob pena de tudo ser hipócrita. Por mim, não tenho nenhuma desculpa para me demitir de ser Português. Isso implica o paradoxo de usar o aleatório das minhas raízes para me cumprir como cidadão do Mundo, e não apenas ateniense, grego ou alfacinha.

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    sininho, não tenho medo nenhum de ser patrão. Nem ilusões. Ou pretensões.

    Quanto ao que diz a senhora, é para toda a gente, pois em todo o lado há incompetentes na gestão. Mas é especialmente útil a um português, dada a fraquíssima qualificação do nosso patronato e classe dirigente. É preciso lembrar que Portugal não tem uma classe média forte desde 1580, o que nos impediu de entrar na industrialização – e até explica, por exemplo, a paupérrima qualidade arquitectónica em Portugal ao longo dos séculos recentes.

  10. Acho que devias ter a pretensão pois a tua intenção e atitude mostram que serias um exemplo positivo a seguir.

    Na origem da lista de incompetências que Margaret Heffernan apresenta, mais as vinte do teu ex-patrão, está a educação que começa em casa e continua na escola e no convívio. Se o patrão tratar os seus empregados como crianças então estes agirão como tal, parece-me uma frase infeliz.

  11. Valupi

    Dizes que a geração salvadora… “sempre surgiu”. Não é verdade, Valupi. A verdade é que nunca surgiu. Quando muito, houve ensaios autoritários, impositivos, caídos do topo. Às vezes esclarecidos e progressivos, como Pombal, que acabou como sabes. Outras vezes paroquiais e basicamente retrógrados, e depois paranóicos, e finalmente dementes, como o mestre de Sta. Comba mostrou.
    Em qualquer caso, Portugal, como povo, não tomou parte nesses ensaios. Nem nuns nem noutros. Serviram-lhe, ou impuseram-lhe, e em todo o caso infantilizaram-no, com uma história de mitos. Acreditando nela ou não, o que Portugal fez, desde a Índia, foi procurar algures, lá fora, uma salvação individual. A catástrofe da Índia (em sentido lato) destruiu Portugal como povo, porque lhe fez perder o lastro. Mesmo falhado estrondosamente o sonho imperial (logo à nascença), ele continuou a ser apresentado como o grande desígnio nacional. Para alguns ainda hoje é. (A sorte que teve o pobre infante de Alfarrobeira, que se lhe opôs tenazmente, é demonstrativa).
    O resultado é que Portugal, como colectivo social, não existe. Apenas existem portugueses. Exemplares, em muitos aspectos, mas sem cimento comum. Nenhuma sociedade resiste a 500 anos de logro e frustração.
    E quanto ao teu desafio do escol, o que cada um de nós pode fazer é procurar ser excelente naquilo que faz, e ficar à espera do milagre. Eu tento, porque não há muitas outras alternativas de escapar ao suicídio, que muitos que tu conheces não evitaram. E não me demito de ser português, porque isso não é possível, mesmo que eu o desejasse.

  12. Eu diria que esta discussão carece da opinião de um Patrão (por sinal tão luso, que não dispensa a dentada num queijo mal-cheiroso pelo menos uma vez por semana). Lia eu em crescendo contentamento os pontos que a senhora muito sumariamente descreve, contentamento perfeitamente justificado pelo rebatimento de um após outro no confronto directo com a auto-reflexão que apesar de forçada lá se fez. Até que, chegamos ao último, e cai tudo por terra, lá se vai o sorriso, o inchaço no peito, e uma eventual e já antecipada celebração. E logo aquele em que o ilustre autor do posto mais ênfase coloca.
    Pois é, eu sou mais um patrão que trabalha muitas horas, e eu diria mesmo muitas, tantas que não as conto, nem faria sentido, para que me queixar a quem? Faço-o simplesmente.
    No entanto, o post pôs-me a pensar no porquê de o fazer, o que aliás me levou quase uma hora, que não sei se deva considerar de trabalho ou não já que a temática o era. Porque trabalho estas horas todas, poderia fazer uma lista, porque encontrei inúmeros motivos, no entanto, todos me parecerem de uma enorme insignificância quando colocados a ombrear com apenas um, o prazer. É que na verdade trabalhar é para mim um prazer danado, e não sou um workaholic, nem sequer alguém com dificuldade em encontrar outras e proveitosas formas de gastar o seu tempo, apenas me dá prazer trabalhar, porque faço o que quero, quase sempre da forma que quero e ainda por cima com quem quero, salvo raras excepções (pelo lado clientela).
    De um caso pessoal pouco ou nada se retira, de uma generalização diria que tb pouco ou ainda menos se espreme. Confesso ter uma certa alergia, a estas reflexões para as quais populaça anglo-saxonica tanta apetência tem e que terminam sempre em 10 pontos para… ou em… as 6 leis de… ou os 3 mandamentos, os 8 passos, neste caso para o patrão perfeito.

    Mesmo assim saio vencedor, 9 a 1 é uma goleada.
    (mesmo tendo sido eu o árbitro do jogo e guarda-redes do adversário estar comprado)

  13. tem graça o comentário do mark, acima, por referir a estranheza relativamente à crítica das muitas horas de trabalho. o patrão que melhor conheço sempre trabalhou fora de horas, muitas horas, e sempre foi contratado para tirar empresas de buracos financeiros. com sucesso. sem despedimentos.
    o que se pode dizer é que não é por trabalhar muitas horas que o patrão é um bom patrão. depende da qualidade, da sua competência. se o gajo for mesmo bom, essas horas são bem empregues. e se souber viver bem pelo meio.

  14. admin:

    percebi a tua angústia, o imenso mundo interior tão bem transmitido nesse número das tuas lindas palavras.
    escreve mais poesia, mas por favor não deixes o teu outro emprego.

    pois um grande teste para ti também e adeus.

  15. São assim os nossos gestores de alto gabarito. Então quando a coisa inclui ser sobrinho de político e uma máquina de calcular onde soma 1 a 1000 para calcular um aumento de 1%, temos gestor público de alto gabarito.

  16. sininho, a frase que te parece infeliz é mesmo para parecer infeliz.

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    Jorge, tens razão. Nunca surgiu uma geração salvadora, mas só porque nunca surgiu um salvador. Na verdade, nada tem salvação – e por esta consciência começa a dita. Não irá, pois, surgir seja o que for que nos salve. Fim da História?

    Ver Portugal como o desesperado pardieiro onde uma escumalha explora outra escumalha é tão alucinado como pensar que o Quinto Império ainda cheira a pimenta, canela e açafrão. Trata-se de uma construção, a tua, que é um simétrico do mito do Regime do outro senhor. Porque – e não o podes negar – as maleitas de Portugal são comuns a outros países, os mais variados e díspares na casuística. O principal do caso Português não se explica pela geografia, mas sim pela antropologia.

    Então, sempre se deu essa mistela onde ingénuos, velhacos e iluminados se misturaram. Todos se equivalendo em legitimidade e consequências. O resultado não se deixa reduzir a um mínimo denominador comum, pois, pela lógica da decadência, há muito que a entidade Portugal teria sucumbido pelo peso dos inanes que a governaram e se deixaram governar. Ora, não. O que existe é o misterioso destino individual a conferir sentido. Eu não sei se o Pessoa foi um ser mais, ou menos, realizado do que um pastor da Guarda seu coevo ou um engenheiro com quem tivesse bebido vinho ao balcão. O que eu sei – e recomendo a todos que me imitem – é que os três se equivalem em portugalidade. Isto é, uns dependem dos outros, e todos só existem graças aos antepassados. Os tais que nunca se libertaram do mal, reza a tua lenda.

    Hoje é igual, porque é sempre igual. Hoje há corruptos, incapazes, deslumbrados, apáticos, cobardes, perdidos, broncos. E capazes, honestos, abnegados, heróicos, geniais, divinos. Cá e lá, em qualquer parte do mundão. O que significa, para mim, que não temos desculpa. Este é o tempo e o espaço. É a hora. A nossa. A única que temos para mostrar o que somos ou queremos ser.

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    mRothko, talvez tenhas deixado passar um pormenor: a autora não estava a tentar descrever o patrão perfeito, antes a identificar sinais comuns a patrões incapazes. Ora, talvez tu sejas um patrão capaz, ou até muito capaz, o que te colocaria fora da bordoada da senhora. Permite-me só um remoque: não é pelo facto de gostares muito de trabalhar que tal é diploma em patronato. Se queres descobrir o que vales como patrão, o que conta é o prazer dos que trabalham contigo. Todo um outro campeonato.

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