2295

Medina teve menos 2294 votos do que Moedas em 242 751 votantes e com 476 750 inscritos. Não chega a um ponto percentual a diferença para o resultado da poderosa coligação de 5 partidos da nossa magnífica direita. Simbolicamente, é como se a derrota do incumbente tivesse sido por um voto. Significa que se tratou de um fenómeno nascido do acaso, não sendo por isso possível destacar uma causa singular, apenas se pode mapear a distribuição dos votos perdidos na comparação com os resultados de 2017. É uma situação análoga à da surpresa perante a vitória de Donald Trump contra Hillary Clinton, onde 5 anos passados não se encontra uma singular explicação convincente para o sucedido. Precisamente por ser o efeito de dezenas de milhões de decisões demasiado complexas, em cima da complexidade do sistema eleitoral americano, para os modelos de análise política e sociológica.

Medina apareceu para as declarações da praxe trazendo um homérico olhar de espanto e incredulidade. Sabia o que lhe estava a acontecer mas não acreditava, esperou a cada segundo da tortura que alguém se aproximasse vindo dos bastidores ou da plateia para o acordar do pesadelo. Merecia que um pintor captasse o seu rosto, o rosto de quem contempla a catástrofe de ver a realidade no seu esplendor de coisa outra. Súbito, descobria com horror que o Universo não estava assim tão interessado no que lhe pudesse acontecer e qual viesse a ser o seu destino político. A última imagem captada do destroçado Fernando, já na rua de mão dada à esposa, confundia-se com a de um gaseado da Guerra de 14-18 que estivesse a regressar da linha da frente. Oh, the humanity!

Medina pediu para o deixarem em paz nos próximos dias, escusando-se a fazer previsões sobre o seu futuro. Precisava de descansar, alegou. Mas tal não é verdade, ele precisa de tudo menos de descanso. Porque a experiência por que está a passar é maravilhosa, literalmente. À sua frente está uma encruzilhada, a hora é crucial. Pode afundar-se na depressão, ou querer fugir da Câmara para o Governo, ou até fazer uma sabática da política. Se for por aí, estará a declarar que, de facto, foi derrotado pelo inane Moedas e que se sente derrotado por si próprio. Ou pode decidir aceitar o empurrão que levou para ganhar velocidade e superar a surpresa que o deixou em choque: assumir o mandato de vereador para ajudar a Cidade numa conjuntura politicamente tão difícil para a gestão de curto, médio e longo alcance da edilidade. Afinal, se a sua derrota é “pessoal e intransmissível”, então o resultado eleitoral é da sua inteira responsabilidade. Afinal, se queria ser presidente por acreditar assim ir ajudar os lisboetas, por maioria de razão quererá continuar a ajudar os lisboetas num quadro em que eles ainda precisam mais da sua ajuda, tanto os que votaram nele como os que votaram nas outras candidaturas.

A coerência é um potente sinal de integridade. E a integridade é a substância mesma da coragem. Medina pode ter passado pelas dores de um parto, um segundo nascimento, na noite de 26 de Setembro de 2021. Está nas suas mãos cortar o cordão umbilical e de imediato começar a dar os primeiros passos do que poderá ser uma segunda metade da sua carreira política infinitamente mais valiosa do que a primeira. Haja vontade para reconquistar 2294+1 votos alfacinhas em 2025.

 

24 thoughts on “2295”

  1. Não vou repetir o meu comentário do dia 27, sobre as razões da derrota de Medina. Ele mereceu o castigo que lhe caiu em cima e se for honesto consigo próprio, concordará que o mereceu. Lisboa é que não merecia o sobressalto e as possíveis consequências dele. Agora, tenho muitas dúvidas que Medina venha a assumir o lugar de vereador., o que, a acontecer, seria muito de aplaudir.

  2. Há muita similitude com a derrota de João Soares perante Santana Lopes. Face à insignificância política de Soares após o desastre, pode-se dizer que foi a sua morte política. Prevejo para Medina o mesmo destino.

  3. Idem. E com a agravante de que perder para Santana Lopes (um demagogo experiente) ainda se percebe (mesmo com a agravante que Soares concorreu coligado com o PCP), já perder com (“inane”, cito) Moedas…

  4. O cúmulo da parvoíce é meter o derrotado da câmara no governo.
    Se o Costa não tira as devidas ilações da derrota do Medina, e continua a governar através de sondagens maradas, e a ignorar os descontentes da sua base de apoio, pode ter a certeza que nas legislativas leva o mesmo tratamento

  5. Se Medina tivesse metido as luvas de boxe em vez das de renda e posto a nu quem é de facto Moedas, ministro do governo da troika, mas não deixou-os espalhar um discurso fofinho. Porque diabo ninguém lhe disse olhe que o Moedas está a vestir a pele de cordeiro temos de lha tirar. Quando se olha o trabalho feito durante 7 anos por Medina nesta cidade fica-se espantado com a sua não recondução no cargo, também Churchill a seguir a II Guerra foi a votos e perdeu. Não , não estou a pôr Medina no mesmo patamar de Churchill, estou só a comparar as duas situações, o inesperado de alguém que faz um bom trabalho não ser o mais votado para o cargo. Depois há o trabalho do BE e do PCP que para se manterem a tona não se absteem de utilizar o slogan “maioria absoluta não”. Ambos os partidos jogam no “depois teremos peso no grupo das decisões e entretanto mostramos aos nossos eleitores que não somos trampolim para eles”. Já deviam ter aprendido com a triste experiência de 2011 que às vezes a coisa dá para o torto. Que a direita jogue com a democracia não me espanta a esquerda deixa-me muito mais apreensiva.

  6. Continuamos a olhar para a árvore e a ignorar a floresta.
    O que é que a vitória do Moedas tem a ver com a derrota do Medina?
    O Medina perdeu mais de 25000 votos, o Moedas ganhou mais 2500, um décimo portanto.
    Ou estar lá o Moedas ou estar o Zé das iscas era o mesmo.
    Estas eleições destinatam-se única e simplesmente a condenar o Medina por fazer uma gestão só para os amigalhaços, e o Costa por tabela por permitir.
    Tudo o que se possa dizer além disto é apenas pura especulação.

  7. O que está a acontecer em Lisboa é um tudo semelhante ao que aconteceu nas legislativas de 2011.
    Passos ganhou. Mas não ganhou.
    Na prática é que veremos quem ganhou.

  8. Medina foi bastante combativo nos debates e ficaram evidente as incoerências e falta de profundidade do programa de Carlos Moedas. Todavia não se pode ignorar o desgaste causado por uma gestão que para muitos lisboetas esteve longe de ser consensual (a novela das ciclovias e muitas obras que pareceram mais focadas nos visitantes / turistas do que nos habitantes de Lisboa, a arrogância da EMEL), foi incapaz de mostrar resultados significativos no acesso à habitação, deixou muitas vezes os munícipes à mercê da burocracia camarária (a novela da partilha de dados com as Embaixadas é só um exemplo), foi condescendente com comportamentos política e eticamente inaceitáveis (caso da Presidente da Junta de Freguesia de Arroios). Para completar o cenário a percepção alimentada pelas sondagens de que “estava ganho” levou a uma abstenção massiva de pessoas que num cenário mais dramático teriam provavelmente votado Medina.

  9. Oavlag, parece-me que esse cenário não se pode pôr. Inexplicável e inaceitavelmente. Se o regime para a governabilidade que está estabelecido para o país funciona e é bem aceite pela generalidade dos cidadãos, se esse regime é aplicado com sucesso no menor dos territórios (freguesias), porque não o é na circunscrição intermédia dos concelhos? Um mistério para mim. Se o fosse, o PS, como mais votado, avançava para uma solução, que podia ser a de governar sozinho ou com o apoio de quem quisesse desde que formasse uma maioria, o que seria fácil.

  10. “…bem aceite pela generalidade dos cidadãos,”
    Se continuares a ignorar metade da abstenção és capaz de ter razão, por isso é que quando é a hora de votar alguns dos possíveis eleitos estão com o cuzinho bem apertado.
    Continuem a seguir os conselhos do gajo das compotas, não desçam à terra, continuem a governar só para alguns e vão ver nas legislativas.

  11. Considerando que os resultados da coligação do coins não foram muito diferentes da soma dos resultados da assunção com os do psd da altura, parece que isto foi mais o Medina a perder as eleições do que o coins a ganha-las!!
    Os motivos podem ser muitos, mas é evidente que pelo menos duas coisas aconteceram: 1. houve eleitores que quiseram retirar o seu voto a Medina por estarem descontentes; e 2. Medina não conseguiu mobilizar parte do eleitorado, no sentido de ir votar, havendo um sentimento de “favas contadas”, ou de simplesmente, este ou outro é igual.
    Resta aos Lisboetas verem a cidade governada pelo coins, que tem aqui a sua oportunidade de se apresentar como próximo líder do psd e eventual primeiro ministro. Assim o determine a esquerda radical.
    Uma palavra para a abstenção, espanta-me que haja gente que se dedica a passar horas no café a berrar contra tudo e contra todos, mas que não consegue levantar o rabo para ir fazer umas cruzinhas num papel, desprezando o direito mais importante que a democracia lhes dá!!

  12. O Merdina não foi “derrotado pelo inane Moedas”, o equivalente troikista do Rato Mickey. O Merdina foi derrotado por si próprio e quem pagará as favas seremos nós, lisboetas. Uma coisa boa poderia resultar da derrota do Merdina, que seria tirar ele da cabeça a ideia de um dia suceder a António Costa, mas é demasiado vaidoso para isso. Um PS com Pedro Nuno Santos ou Ana Catarina Mendes ao leme poderá ir a algum lado. Um PS com Merdina à frente será o seguro de vida de Moerdas, Rangel e restante quadrilha de Massamá, com o chefe Passos à cabeça. O Merdina vai perceber isso e dedicar-se ao sector privado ou ao ensino? Aposto o tomate esquerdo que não e o resultado não será diferente do provocado nos EUA pela teimosia vaidosa da psicopata Killary Klingon, manobrando mafiosamente para afastar da corrida os puro-sangues da sua equipa para correr sozinha, como pileca sarnosa e pulguenta, contra o percheron da equipa adversária.

  13. O Valupi que tome uma pastilha para a azia. O comentário mais imbecil que já li sobre o resultado em Lisboa. Medina perdeu 25168 votos face a 2017 onde já tinha perdido 10388 votos face ao resultado de Costa em 2013 ou seja em duas eleições consecutivas perdeu 35556 votos ou seja mais de 30% dos votos obtidos por Costa. Quando os eleitores não votam de acordo com a narrativa são burros, é isso não é?

  14. sócrates regressou a portugal para interrogatório e foi preso preventivamente por perigo de fuga e o mesmo tribunal nunca viu perigo de fuga do dótor rendeiro.

    “… o ex-banqueiro irá justificar a decisão de não voltar a Portugal com a alegada perseguição política de que foi alvo pelo Governo de José Sócrates.”

    https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/tvi-rendeiro-saiu-da-europa-para-escapar-ao-mandato-de-captura-790188

  15. Joaquim Camacho gosto mais daquele teu lado que deixas passar nas escolhas musicais que fazes. Gosto mais de ouvi-la quando canta desgarrada mente a tentar que todos a oiçam. Ainda agora tenho um bocado desse lado e espadeirar a torto e a direito sobre as torpezas que encontro. Claro que não levo longe a indignação mas desabafa-se. Como o Valupi escreve hoje o PR vir dizer que se iniciou um novo ciclo não se percebe onde vê ele isso. Só se for no partido dele em que ficaram a ganhar, um bocadinho e por enquanto , os últimos sociais democratas lá do sitio. Quanto ao novo ciclo a nível do país a que provavelmente se quer referir , não vejo como pois o PS não teve nenhum descalabro eleitoral. Perdeu Lisboa mas com a composição dos órgãos que a compõem estão todos obrigados a entenderem-se. O Moedas vai ter que aprender a ser não expert em finanças mas em gerir uma autarquia com cerca de 30 freguesias, se não me engano, e as freguesias estão cheias de gente com cara e que todos os dias se levantam e mexem, não são bancos e departamentos de estado onde o rosto são os Directores escondidos atrás de secretárias e gabinetes e onde jogam xadrez com as peças que cá foram se agitam e trabalham e se “esgadanham” (isto é alentejano). Todos os que votaram em Medina sabem que as batalhas em democracia são mesmo assim. Já agora, não sei se leste, mas aconselho-te a ler uma peça do DN que fala da forma como a população de Mora aceitou a passagem do testemunho para o PS após 45 anos de governação do PCP. Há ali mais conhecimento de como funciona a democracia do que nós analistas , opinadores , jornalistas e agitadores já disseram e escreveram sobre estas eleições. Conselho aos amargurados : take it easy babies.

  16. A surpreendente, mas irremediável, derrota de Medina deve-se exclusivamente a ter-se deixado embalar na conversa dos intelectuais, académicos, ingénuos e acéfalos que fatalmente o fizeram acreditar que as ideias idílicas sobre o Clima daqui por cinquenta anos valiam mais votos do que as realidades concretas de quem vive, trabalha, circula, estaciona e tem filhos HOJE a estudar em Lisboa.

    Foi aliás o mesmo erro do Bloco, que pagou cara esta imbecilidade, sobretudo nos Concelhos da classe operária – Loures, Odivelas, Vila Franca -, que deve ter ficado horrorizada quando ouviu a bem-intencionada Irmã Beatriz a dizer que “é preciso restringir a entrada de automóveis em Lisboa”! E como é que quem mora em Corroios, ou na Apelação, e entra ao trabalho a horas em Lisboa, depois de ter deixado os putos na Creche, consegue resolver a vidinha? Sem Transportes fiáveis, nem dinheiro para um Tesla, nem opção de habitação perto do seu emprego citadino, hã?

    Como aos costumes, esta narrativa disse NADA!

    Lisboa está muito bonita, sim, e modernizou-se rapidamente. Mas demasiado depressa: quem sabe que tem de perder trinta quilos em dois meses começa por fazer exercício e seguir uma dieta, não corre a comprar roupa de tamanho S. Foi o que fez Lisboa com a conversa da descarbonização e da sustentabilidade.

    Ou seja: tirou o carro, mas pôs a bicicleta à frente dos bois.

    A derrota do Medina e de toda esta narrativa falhada é como o desaire daquela Cantora que deu um recital brilhante, mas que na nota aguda desafinou. Todas as críticas irão bater nisso. Ninguém vai falar do brilhantismo do resto…

  17. Moedas: o problema é bicudo.

    Precisa dos votos da CDU, mas também dos negócios já apalavrados com o PS.

    E de, ao mesmo tempo, manter em sentido a sua tropa fandanga. É muita areia…

    Mas o que mais interessa agora descortinar é quem serão as verdadeiras Notas destas moedas.

  18. 1o passo: chamar uma troika de que ele seja o grilo falante, para governar;
    2o passo: tornar rentáveis os transportes públicos urbanos ;
    3o passo: privatizar algumas estruturas municipais apelativas e colocar lá a mulher como administradora.

  19. A miúda é um bocado desigual. Tem coisas que batem fundo, fundamente, como quem grita por ti, outras como quem chora por ti, ou por si própria, mas uma vez por outra sai tiro de pólvora seca. Fico-lhe grato pelos lampejos de génio, que os tem por vezes.

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