O Expresso tem uma nova secção digital (ou videográfica), intitulada 2.59. Por agora, apenas Pedro Santos Guerreiro e Bernardo Ferrão lá põem os butes, mas o formato admite a participação de qualquer jornalista da casa. Consiste num vídeo onde se recorre à infografia para explicar as cenas. Algo que parece uma boa ideia. E que ainda não mostrou ser mais do que isso.
Começando pelo título, tropeçamos logo na derrota da inteligência. A entidade autoral está a admitir que o seu público não tem cabeça para formatos mais longos. Quais 60 minutos, qual quê, essas durações jurássicas que já ninguém aguenta. Nem 30, nem 15, nem 10, nem 5, nem sequer 3 minutos. Toma lá com a psicologia do preço e retiramos uma décima para fingir que reduzimos uma unidade. Se não resultar, ainda veremos a transformação do nome dos vídeos para “0.59”, “0.9”, e, final e inevitavelmente, “0.0”. Tudo em nome da incapacidade cognitiva, e falta de interesse pelos conteúdos tratados, da audiência a quem se dirigem.
Segue-se a inexperiência do PSG para a tarefa. Provavelmente, ele e os amigos acharão que vai muito bem. Fora desse círculo, a prestação está ao nível de um apresentador do serviço meteorológico numa TV regional. Muito melhor surge o Ferrão, mas este tem anos de experiência como palhaço na SIC, onde andou a fingir ser jornalista só para ir atacando Sócrates adentro da campanha que o império Balsemou desenvolveu contra o Governo PS de então. Este aspecto do talento teatral e da fotogenia liga-se directa e indirectamente com a actual transformação da imprensa escrita numa televisão com textos. Tornando-se obsoleto o jornal em papel para a quase totalidade dos títulos, embora se mantenham excepções sociológicas (por exemplo, Correio da Manhã) e temáticas (por exemplo, jornais desportivos), o único caminho aberto pela digitalização mediática é o da imitação dos canais televisivos por via do crescente consumo de vídeo em computadores e telemóveis. É assim que se chega à semelhança crescente entre a forma como um jornal e uma rádio comunicam na Internet, ambos desejando distribuir e produzir vídeos e imagens às pazadas. Cá está, o meio é a mensagem.
Last but not least, temos o imbróglio da infografia. Não é um acaso que a moda a que deu origem, há uns 5 ou 6 anos, tenha desaparecido da vista do público. Os cromos da disciplina foram trabalhar para grandes empresas e a promessa de vermos a infografia a ser adoptada como linguagem corrente pela comunicação social profissional não se cumpriu. As causas para esse fracasso, ou para esse adiamento, não estão só do lado da crise financeira na imprensa. Outra razão terá de ser reportada ao erro que se constata em todos os vídeos do Expresso – e que também se encontra nos vídeos de Costa a explicar o Orçamento – onde os materiais gráficos não servem a narrativa, antes obrigam a narrativa a servi-los ou são negativamente redundantes (por exemplo, colocar palavras a pairar ao lado do orador sem que tal contribua para o entendimento da mensagem, antes ficando como ruído visual). Resultado? Os locutores de serviço tentam debitar o máximo de informação no mínimo espaço de tempo possível, acreditando (mas será mesmo que acreditam?…) que o espectador assimila os dados despejados graças à bonecada colorida e saltitante. O inverso é o que acontece, porém, pois não é à bruta que os nossos neurónios funcionam. No tempo em que o termo storytelling se tornou num bordão do marketing e das indústrias de comunicação, um dos mais prestigiados e poderosos grupos de imprensa, tal como o próprio Governo e o partido donde emana, ainda mostram não dominar os mínimos da arte de contar histórias com sons e imagens.
Estas “rapidinhas” de desinformação chegam a ser ridiculas. Comparativamente, vejamos como ocupar mais ou menos o mesmo tempo de forma mais útil;
1 – 2:59) https://m.youtube.com/watch?v=NnWOBMQhNBQ
2- 2:38) https://m.youtube.com/watch?v=3irmBv8h4Tw
3 – 2:15) https://m.youtube.com/watch?v=dEGJ8XyZw40
E, para o Gungunhana ;
1:43 ) https://m.youtube.com/watch?v=CNJ1LLcsQII
sim, querido, também me sinto insultada. :-( o que vale é que ler sobre a pobreza, essa cena aí em cima, faz-me mais rica. :-)
“… a fingir ser jornalista só para ir atacando Sócrates …”
Cá está. Inevitável.