我々はすべての日本人です

As tragédias no Japão, para além de tudo o resto, também nos comovem pela manifestação de civismo e solidariedade entre o povo, ao ponto de ainda não se terem registado pilhagens apesar da falta de bens de consumo de primeira necessidade até em Tóquio. Aqui tenta-se encontrar uma resposta para o admirável fenómeno.

Qual é a tua explicação?

13 thoughts on “我々はすべての日本人です”

  1. O grau civilizacional mede-se pelo civismo. Isto não é uma resposta, bem entendido, é só um facto. Quando tive alunos japoneses na faculdade foi dos maiores prazeres que tive no ensino.

  2. Não é verdade que não existam pilhagens no Japão. Não são é muitos casos, e não aparecem na CNN, mas existem. Este é um artigo sobre pilhagens.
    Este sobre açambarcamento. Este sobre vigarices. O Google tradutor dá uma ajuda.

    Logo, as causas não são culturais. Os japoneses, simpáticos e educados, são tão capazes de criar o caos como os haitianos. O que eles têm, que os haitianos não tinham, é uma sociedade próspera, forte, e bem estruturada. Não tenho muito mais tempo para desenvolver isto, mas aqui fica um artigo que explica bem as coisas:

    A better explanation may be structural factors: a robust system of laws that reinforce honesty, a strong police presence, and, ironically, active crime organizations.

  3. vantagens do acarneiramento sobre a criatividade do desenrascanço. ainda morrem todos por obediência à radioactividade do governo, herança cultural que haveremos de pagar nos seguros, nos toyotas, no aquecimento e no homecinema.

  4. Não sei se existem pilhagens, o que, naquela situação, convenhamos, a existir, tratar-se-ia de sobrevivência; pilhagem no deserto inóspito, lembraria a lenda de Midas. Agora, sei que, se algo de semelhante (cruzes, canhoto) acontecesse por terra lusa, era o salve-se quem puder. Veja-se o que dois dias de greve dos camionistas gerou. Açambarcamentos nos postos de gasolina e supermercados. Que Zé povo magnífico! Em situação de carência (cruzes, canhoto) abençoadas as pilhagens que acontecessem.

  5. Blonde, estou curioso: porquê tanto prazer com os alunos japoneses?
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    Vega9000, existirem alguns casos não anula a surpresa relatada pelos jornalistas ocidentais perante a sua tão baixa incidência. Claro que o Japão tem criminosos e desesperados, como qualquer outro país, mas é o sentido da resposta colectiva – até agora e nos dias imediatamente seguintes em que começaram a faltar os bens – que cala fundo em quem a testemunha.

    O artigo da Slate tem graça ao apontar para a Yakuza como uma fonte de organização social. Tem mais picante do que lembrar a tradicional ética cívica japonesa, que até se tornou anedótica no mercado de trabalho tamanho o respeito pela “honra” (antiquíssima herança…).
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    amónio, vê-se que estás bem informado.
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    Sinhã, muito bem observado.
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    Anabela Almeida, Portugal tem um longuíssimo caminho a percorrer quanto à vivência de uma cultura de civismo maturo, robusto. É um belo desafio.

  6. Val,
    Porque são:
    a. aplicados;
    b. aplicados;
    c. aplicados;
    d. pontuais;
    e. interessados e
    f. muito respeitadores de hierarquias e, que eu saiba, o ensino ainda não é uma transmissão entre pares.

  7. Pois, vendo agora, a reacção foi um bocadinho a quente, mas seguindo as pistas do site da CNN, e o tom geral das respostas (Os japoneses são civilizados! Nós somos umas bestas!) decidi-me por um pre-emptive strike (o Bush ensinou-me esta) antes que isto se transformasse num exercício igual. Irritam-me estas comparações, porque se é verdade que os japoneses se comportam, no geral, admiravelmente, isso acontece não porque tenham muito a ensinar aqui aos selvagens, mas porque o modelo de sociedade que adoptaram os leva a ter esse comportamento. E é um modelo rígido, hierárquico, autoritário, muito virado para dentro, que se tem por um lado a vantagem de permitir uma paz social e um nível de vida como poucos países têm, por outro lado os torna fechados, racistas, intolerantes e com muito pouco espaço para a criatividade, o rasgo, o inconformismo e o individualismo, traços que eu aprecio particularmente numa sociedade. E que valem bem uma pilhagem de vez em quando.

    De modo que quando afirmas que “temos um longo caminho a percorrer”, presumo que até atingirmos o nível dos japoneses, não sei se concordo muito, porque por outro lado, pode-se perfeitamente argumentar que um modelo tão rígido e com tantos cuidados e regras só existe porque os japoneses são ainda maiores bestas do que nós, e seriam incapazes de sobreviver sem isso. Como se viu em todas as guerras em que entraram. Mas isto sou eu a ser mauzinho.

  8. Acerca do civismo dos japoneses nesta situação, não recomendo a sua génese – a qual, como referes, diz respeito a uma cultura, história e geografia. São factores irrepetíveis, únicos e levando a consequências que até poderão estar fora, ou nos antípodas, do que mais valorizamos nas nossas comunidades. E, acima de tudo, não servem de comparação para o que aqui importa: relevar o seu desfecho. É que a manutenção da ordem, a ausência de pânico perante uma catástrofe, tem benefícios de alcance universal, sendo indiferente em que sociedade ocorre. Tanto vale para grupos como para indivíduos; o pânico só é bom quando a salvação implica um esforço físico extraordinário, no resto dos casos apenas causa prejuízos.

    Quanto ao nosso longo caminho a percorrer, e sendo esta uma generalização de um brutal reducionismo, reconheço que vamos conquistando a cidadania. Isso tem sido o natural resultado da chegada da democracia, da escolaridade alargada e desenvolvida, da renovação geracional, das tecnologias de informação praticamente ubíquas e do cosmopolitismo. Mas é pouco quando pensamos nos atentados urbanísticos e ecológicos, na fragilidade psíquica perante as dificuldades, na desconfiança difusa, no alheamento partidário, no sectarismo latente, no fechamento intelectual, na pobreza ritual. Obviamente, perante uma catástrofe podemos descobrir que a resposta comunitária seja um exemplo de solidariedade. No entanto, a previsão é a de vermos respostas violentas por causa do medo e do deserto ético. Enfim, o mais certo é ser uma misturada de comportamentos, havendo de tudo para todos os gostos.

  9. Acho que descobriremos, sabes. Porque não entendo quem afirma, como a nossa amiga Anabela Almeida, que numa situação igual aqui ia ser uma selvajaria. Respostas violentas? Baseias-te em quê para fazeres essa afirmação?

    Afinal, derrubámos uma ditadura viciosa, no meio de uma guerra e através de um golpe militar, sem derramamento de sangue nem guerra civil, com uma transição mais ou menos limpa para a democracia, no meio de manifestações gigantescas, numa altura em que os níveis de educação, literacia e cultura eram abismais, num clima bastante propenso a anarquismos. E em muito menor escala, tiveste recentemente milhares de pessoas, da extrema-direita à extrema-esquerda, numa manifestação alegre que acabou em cervejolas. E já nem falo da reacção quando da mini-catástrofe na Madeira, dos fogos florestais aqui há uns anos, etc etc.

    Somos bastante civilizados, mesmo que ás vezes possa parecer que não. O que não quer dizer que não possamos melhorar e continuar esse caminho, claro. Mas não estamos tão mal como isso.

  10. As respostas violentas serão aquelas que se constataram aquando do Katrina, em que as pilhagens eram preferidas por muitos ao arrepio da necessidade de ir ajudar os desalojados e os feridos. Portanto, estou a situar-me no contexto de catástrofe, como agora no Japão, e não no de mudança de regime ou luta política.

    Os casos da Madeira e o dos incêndios não causaram cortes nos abastecimentos fosse do que fosse, nem geraram milhares de vítimas, sequer centenas.

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