Santana Lopes é um personagem político errático, do qual não se sabe se tem noção das contradições em que incorre. Suspeita-se que não tem a mínima. E isso faz dele uma espécie de criança, que, como já provou na sua passagem pela liderança de um governo e de uma câmara, acaba a protagonizar um festival de irresponsabilidades e desnorte. Para quem não se lembra, nunca os jornalistas e humoristas se divertiram tanto como nos poucos meses do seu mandato. Era uma roda viva, cuja interrupção muitos da indústria lamentaram. Em entrevista publicada hoje no Público, diz coisas como esta, aparentemente sérias:
“Quem já exerceu funções de chefia do Governo sabe o quanto a União Europeia fiscalizava à lupa, já antes desta crise, as contas do Estado. Os países não se endividaram às escondidas da Europa.”
Não dura, porém, muito tempo este registo. Mais adiante, a culpa do endividamento já é de muitos dos que assinaram o Manifesto (ele não assinou e não é culpado de nada): “Autênticas mistificações. Tínhamos poupado tanto, tanto, tanto se o país não endeusasse asneiras. Apetecia-me fazer uma pergunta a cada um dos subscritores: “Olhe, desculpe lá, e naquela altura em que decidiu isto assim-assim não tinha ali nada para ver as contas?””
Eu ainda me lembro de quando este homem entendeu descentralizar o Governo, começando por Santarém. Tudo extremamente prático e barato.
Ainda a propósito do Manifesto, e sem qualquer intervalo para distrair o entrevistador: “Não quero ser antipático, mas nesta altura, quando estamos a dois meses da saída da troika, quando os juros estão a baixar para níveis satisfatórios, não se podem dar sinais errados aos mercados. (e… zuc, sem pausa) Os organismos internacionais e os nossos credores também precisam de saber que muitas das nossas elites têm um pensamento muito céptico em relação ao caminho que essas organizações querem seguir. Isso pode ajudar até, em certa maneira, o Governo na negociação que tem de fazer e no modo como tem de conduzir o processo de saída da troika. Não vejo o manifesto como um acto prejudicial. Até o pode ajudar.”
Traduzindo, o Manifesto é inoportuno, portanto, criticável, não devia existir, mas é um aviso indispensável aos credores e até uma ajuda negocial para o Governo. Boa, Santana. Não sabes o que dizer, mas entrevistaram-te e, sendo assim, vais por aí fora, como se estivesses a falar entre duas festinhas na careca, alongado no sofá. Uma indefinição fofinha.
Muito ajuizado, afirma, a dada altura: “Não acredito numa Europa que começa por dizer ‘vamos tirar aos Estados o poder soberano de fazer os orçamentos, já tirámos o de emitir moeda, vamos tirar o poder soberano da supervisão do sistema financeiro’. ‘E se nós só pudermos crescer 1,5%?’, ‘Pois, isso é com vocês.’ Não faz sentido.”
Pois bem. Se não faz sentido, e não faz, não devia ser o próprio Governo a confrontar a troika com o problema? Porquê defender o primeiro-ministro e o seu radicalismo em cada curva do discurso?
Como aqui, em mais uma contradição, em mais umas meias-tintas:
“Falta sensibilidade social a este Governo?
Não vou dizer isso. Acho que o primeiro-ministro a tem, mas não a mostra em público. A possibilidade de tratar o despedimento sem justa causa como o despedimento com justa causa não passa pela cabeça…”
Ai, que já falou demais. Conhecemo-lo tão de ginjeira, que quase o ouvimos dizer logo a seguir: ”Ouça, mas isto…” (completar com qualquer coisa simpática)
Quanto a Sócrates, confessa admirá-lo e, nas entrelinhas, porque este Santana é, no fundo, transparente como um puto, invejá-lo por ser tudo o que ele próprio não é (sem hesitações, chama-o um deus):
“Eu não sou daqueles que fustiga o engenheiro Sócrates a dizer que ele é o culpado por tudo o que se passa em Portugal. Acho essa ideia absolutamente caricata e ridícula. A principal culpa pelo que se passa em Portugal são factores externos. O engenheiro Sócrates desorientou-se na parte final do mandato, tomou muitas medidas erradas, mas durante vários anos desenvolveu políticas correctas e tomou muitas boas medidas. O Governo agora até adoptou o Simplex 2. Na área da investigação científica fez muitas coisas bem-feitas e teve muita visão nessa matéria das novas tecnologias.”
“Sócrates foi um reformista?
Foi um primeiro-ministro com visão em várias áreas. Ele era vários deuses ao mesmo tempo, depois caiu em desgraça e passou a ser o culpado de tudo. Isso é caricato. Ele foi um primeiro-ministro com várias qualidades, um chefe de Governo com autoridade e capaz de impor a disciplina no seio do seu Governo.”
Claro que ficamos sem saber em que medida Sócrates se desorientou na reta final ou o que terá acontecido, mas ficará para a próxima. Ou talvez não. Frases como esta têm, para a direita, lugar cativo no éter. Quanto ao “caiu em desgraça”, este homem, que também, no fundo, não é criança nenhuma, mas apenas ridículo, até nem fez nada para sujar o seu adversário, pois não?
Ó Santana, és um bonzinho, um injustiçado, um amigo dos velhinhos. Vens aqui perguntar-nos: Gostam de mim? Olhem que eu gostava de ser Presidente da República.
Haja paciência. O hino do Menino Guerreiro já dissera tudo.
A que horas,do dia ou da noite,ocorreu a citada entrevista?(…)
A tragédia maior que decorre desta entrevista,é a seguinte: como é que gente desta,chegou e está no topo da piramide do Poder Politico Em Portugal?É,em função da resposta que naturalmente se obterá,que consequentemente se percebem,por inteiro,as razões que nos trouxeram ao ponto em que,coletivamente,nos encontramos.
A porca de vida,que estamos a viver,é o resultado brilhante de termos,pela ação ou pela omissão,permitido que os videirinhos, forjados e alimentados pelos poderes obscuros das mais valias a qualquer custo,fossem tomando conta dos aparelhos partidários primeiro e dos governos depois.Santanas Lopes e quejandos,são apenas rodelas de uma engrenagem muito maior com objetivos mais profundos e mais densos.Para eles,basta-lhes a mesada garantida para a vida.Decoro,Vergonha,Princípios,Decência ou Valores,são palavras que não constam da sua postura comportamental.Esta gente,só tem medo de ter medo.Não façamos o que tem de ser feito, para que esta gentinha e os seus mandantes, voltem a ter medo e,seremos nós a se trituradinhos que nem picadinho para rissóis.Portugal,só avançou Civilizacionalmente,quando o Poder do Dinheiro teve medo e foi obrigado a recuar estrategicamente.Logo que o Povo se voltou a encostar à sombra,pensado que tudo estava feito e adquirido,as bestas voltaram a pôr a cabeça de fora e observando o sono coletivo que de nós se apoderou,caíram-nos em cima, à força e à bruta,com os resultados que estão à vista de todos.Cada um de nós,que tire as suas conclusões!
santana é isto.diz uma coisa e o seu contrario o mesmo texto.penélope,os meus parabens por pegares nesta deixa (mais uma) do santana!
Cara Penelope
Extraordinário o texto e os comentários que aqui coloca. Bom, mas vamos por partes.
Fala em politico errático. Olhando para Sócrates e Passos Coelho, penso que estamos conversados. Mas também podemos ir ao seu percurso. Gosto sempre de ler estas verdades absolutas de que foi errático a passagem pelo Governo e por Lisboa. Bem, até chegar a Lisboa era um jovem promissor. Depois muda a cidade, com projectos, com ideias, com apoio social, com um túnel, que ai jesus vinha aí o terramoto e hoje dá tanto jeito. Vai para o Governo porque o sério, esse já não deve ser errático, Durão foge, como tinha já fugido o outro sério Guterres. E depois em 4 meses tinha que resolver o mundo. Mas Sampaio, sempre sério demite um governo legitimo porque sim.
Sobre humoristas, não sei se foi nessa altura, mas os gato fedorentos tiveram muito que fazer com Sócrates…
Diz que diz coisas sérias e a suposta contradição, mas o que leio é coerência. E grande. Fala do problema da Europa e fala também da lata que estes membros que assinaram o manifesto têm. Não diz que não tem culpa, chama a atenção para o ridículo destes 70 personagens chegados a Portugal agora…
Que bom também que se lembra da descentralização do Governo. Também é daquelas pessoas que gritam pela luta contra a desertificação do território, mas prefere mandar só batatas e milho para fora de Lisboa? Extraordinário como num país com a nossa dimensão, esta ideia crie essa comichão toda. É que a ideia era dar vida além de Lisboa. Dotar o país de mais infraestruturas, de proximidade das pessoas com o poder central. Esta ideia de que tudo deve ficar em Lisboa, não tem sentido. Não temos assim tanta dimensão. Podemos e devemos alargar organismos ao longo do nosso território.
Que é inoportuno o manifesto ninguém desmente, e Santana Lopes faz muito bem em chamar a atenção. Mas, existindo é preciso contornar a questão. Gosto da forma como tenta aproveitar tudo para criticar.
Quanto a Sócrates, é extraordinário o que diz. Porque vejo exactamente o aposto. Sócrates sim, sempre demonstrou um enorme ciúme do que é Santana Lopes. O trabalho que teve para tentar ser bem falante, para tentar ser cosmopolita.
Sobre o que desorientou Sócrates, acho que é tão evidente que custa ler esse seu comentário… Foi um descalabro a partir de 2009. Fruto da sua desorientação na política económica.
Mas, é interessante ver a irritação que Santana Lopes provoca. Muito interessante.
oh santanette! haverá alguma caixa de comentários onde não cagues encómios ao menino guerreiro? pela amostragem, googlar marco dinis, não fazes outra coisa na vida, que não passe pela beatificação do B-A-N-D-A-L-H-O, aquele dos outdoors e do freeporcos, que foi demitido a pedido do cavaco por ser má moeda.
marco dinis, não é a penélope que diz que santana lopes deu muito trabalhinho aos cartonistas, mas os proprios.era trabalho todos os dias.a sua “maratona” para o precipicio começou, quando saiu de proposito de um casamento,para ir buscar carlos queiros para o sporting.socrates tem inveja de santana? poupe-nos pf.o que faria santana agora se o governo não tivesse a “santa casa” para lhe entregar? o que o safa saõ as raspadinhas que andam a desgraçar o povo,que procura uns trocos para dar de comer aos filhos.
Oh ignatz, sim, sempre gostei de PSL. E sim, acho que merece defesa. Tem problema? Pelo bandalho já percebi com quem estou a falar.
Caro Nuno, é claro o seu post. Acho muito mais cómico o Sócrates e o Passos por exemplo.
oh santanette!
achas que o dos pontapés na incubadoura vendia se não falasse do sócras?
para que não te restem dúvidas, B-A-N-D-A-L-H-O quer dizer:
“pessoa sem vergonha, cujo comportamento é desprezível”
“bandalho”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://priberam.sapo.pt/dlpo/bandalho [consultado em 20-03-2014].
se quiseres exemplos da bandalheira é só pedires.
Marco Dinis: Eu estava francamente convencida de que o “hino” com que encerro o meu post seria barreira suficiente para qualquer tentativa de elogio a SL. Enganei-me. Esqueço-me por vezes que se trata de um país que elege Cavaco para a PR, Passos para PM e uma música pimba para a o festival da Eurovisão.
Extraordinária a vossa capacidade de argumentação. Mas não é de estranhar.
Comparar Santana Lopes a Cavaco ou Passos é para mim ofensivo.
Sobre a incubadora, adoro que não se entenda o que é uma força de expressão.
Acho que defender Sócrates e misturar bandalho, diz muito…
Cara Penolope, tentei dar-lhe o meu ponto de vista. Lamento que fique por hinos… lamento mesmo.