Um “Cavaco colorido” e demais pobrezas

Neste tempo de debates eleitorais com vista à eleição do Presidente da República, o espaço televisivo encontra-se bastante poluído por vacuidades, das quais, para me poupar, vou sabendo quase sempre pelos jornais. Pouco tenho visto, portanto, mas o que vi foi inútil e continuo sem saber em quem votar. De destacar verdadeiramente apenas a nota de humor certeiro de Edgar Silva: Marcelo será um Cavaco colorido. Colorido é, e do PSD também. E é um catavento. E inseguro, ou não tivesse ganho coragem para se candidatar apenas por ter visto a inexistência de concorrência (mesmo com a televisão durante anos a promovê-lo). Não voto nele, mas não será por isso que vou votar em Edgar Silva. Tal como o PCP, Edgar fala em nome dos trabalhadores, de cujos direitos se proclama defensor, e diz que iria para a Presidência para acabar com as injustiças, mas todos sabemos que a esmagadora maioria dos ditos trabalhadores não vota sequer no PCP, logo há aqui um devaneio, uma volumosa presunção e uma nota totalmente forçada, se não mesmo uma ameaça de tomada do poder. O problema do PCP é que tem a mania de que defende os trabalhadores e, como eles ainda não sabem ou não ouviram, convenceu-se de que, com a insistência no slogan, um dia eles lá chegarão e lhe entregarão o destino. Enfim. Parece-me tarde e, no fundo, o partido limita-se a sobreviver, agora apoiado numa geração jovem, engraçada e bem apessoada, potencialmente sem emprego, que Edgar ambiciona dirigir. Caso falhe a Presidência, claro. Mas há outros, como Paulo Morais, demasiado ligeiro a puxar o gatilho, que também pensam que vão governar a partir da Presidência.

 

Será que Cavaco desqualificou de tal forma a função de Presidente que o máximo que conseguimos como candidatos é o leque exibido?

 

Mais grave, no que toca a espaço mediático: até António Guterres, que não é candidato porque não se vê na função de árbitro, me pareceu pouco profundo nas considerações que teceu ontem na RTP3 a propósito da crise dos refugiados. Eu sei que ele anda há anos a lidar com grandes crises migratórias, fomes, violações, miséria humana, e que o seu papel é aliviar o sofrimento e organizar e gerir os espaços disponíveis. Mas como pode este homem achar que não haverá problema algum em receber, na Europa, milhões de refugiados provenientes de países muçulmanos? Sobretudo quando sabemos hoje da facilidade das gerações mais novas em aderirem a ideias de grandeza, real ou etérea, materializadas com o manejo de AK-47 e o recurso a crianças e jovens-bomba? E das redes de ligação de jovens muçulmanos nascidos na Europa a tresloucados islamitas radicais? Como pode dizer que bastaria a Europa ter-se organizado para ter evitado o caos, como quem diz que tudo fluiria tranquilamente? Como pode surpreender-se que os europeus receiem a geração que se seguirá a estes refugiados na Europa e a proliferação de mesquitas quando a tendência era para a reconversão de igrejas cristãs vazias em espaços culturais ou sociais por falta de clientes? Como pode resumir tudo a “A Europa tem de convencer-se de que é uma sociedade multiétnica e multirreligiosa”? Será que a Europa tem de voltar a admitir, ainda que localizadamente, a discriminação entre os sexos, a inferioridade das mulheres, o seu papel meramente reprodutor ou de objeto em nome da multirreligiosidade? A sharia? Como pode insinuar que todos os refugiados deviam ser acolhidos? Não haverá limites? Como pode ignorar que a maioria deseja, quando não exige, ir para a Alemanha e para a Suécia? Como pode afirmar que, se o Líbano consegue viver com um refugiado por cada três libaneses, a Europa também poderá viver com um refugiado por cada mil nativos? Dito assim, parece escandalosa a “má vontade”, mas como pode omitir do quadro os campos de refugiados?

 

A Europa pode e deve ser solidária com quem foge de guerras, mas não pode escamotear os custos do reforço da segurança, da vigilância, da reposição de fronteiras e da preservação de valores que demorámos séculos a estabelecer, que implica a vinda em massa destas populações concretas, muitas delas com valores arcaicos e chocantes aos nossos olhos. Compreender as cautelas e os limites, e já agora, mencioná-los, será meio caminho andado para que essas mesmas cautelas e limites não passem para as mãos de extremistas de direita europeus com os quais a convivência e o diálogo nunca chegarão a bom porto e, não menos importante, para lembrar aos imigrantes e refugiados quais os valores que deverão passar a respeitar na nova sociedade em que se inserirão.

23 thoughts on “Um “Cavaco colorido” e demais pobrezas”

  1. e o Tino? :-)

    (estás cheia de cagufa, Penélope, que a vaga de humanismo vingue e se sobreponha aos demais interesses. isso de serem muçulmanos é construção social. são pessoas desesperadas e com nada na mala. imaginas-te refugiada assim ou esse exercício é pobre demais? saber lidar com os riscos é o desafio.)

  2. Para mim o problema maior são as ” redes de ligação de jovens muçulmanos nascidos na Europa a tresloucados islamitas radicais” mas sim o facto da maioria desses tresloucados já terem nascido na Europa. Ou seja, não me parece que, tirando os infiltrados, seja a imigração recente de quem foge da guerra que alimenta o terrorismo; os turras já cá estão, são dos nossos.

  3. A Europa está a deitar-se na cama que andou a fazer. Cantigas de multiculturalismo com neoateístas relativistas à viola, total subserviência a rancores de guerra fria mal resolvidos pelos EUA, UE de política chuta p’rá frente e votos um dia logo se vê, deram nisto: caos penetrante em toda a sua periferia e ovos de serpente espalhados pelo chão, a quebrar a casca.

  4. Eduardo J: Não são os imigrantes recentes o problema. Esses só podem estar gratos e aliviados com o acolhimento e a fuga da guerra. A incógnita são as gerações seguintes, mas já se vê alguma coisa com os atuais terroristas europeus. Muita coisa tem que ser pensada e acautelada.

  5. Ou vai provar-se aquilo que muita gente não gosta de admitir: que a Democracia e seus valores de cidadania só são possíveis nas sociedades em que a maioria dos cidadãos tem meios de subsistência próprios pelo trabalho. A ociosidade é má conselheira, não sendo o Rendimento Social de Inserção (ou outras estratégias simplistas) solução para impedir que cidadãos sem ocupação se dediquem à delinquência, se façam ladrões, traficantes ou (o que é mais moderno) homens-bomba…
    A perseguição histérica da Produtividade está a expulsar grandes quantidades de cidadãos do processo produtivo, da participação da criação de riqueza na sociedade que é a sua. Esta política de gestão dos recursos humanos está a conduzir-nos ao abismo. O islamismo não tem culpas aqui.

  6. E que tal proibir os refugiados de se reproduzirem, para evitar «gerações seguintes», Penélope? E que tal estender essa proibição a todos os muçulmanos residentes na Europa, sejam eles europeus, imigrantes ou refugiados? Não seria mesmo preferível a castração geral de todos os que se recusem a abjurar os seus «valores arcaicos e chocantes aos nossos [nós quem?] olhos»? Isto é o «Aspirina B»?

  7. Por falar, em demais pobrezas… agora as ” janeiras” têm algum protocolo com o psd ???
    São as tradições?
    Passos cantou, mais três minutos que a pròpria janeira, bravo.
    Grande Máquina de canto.

  8. Porque não lêem os clássicos? Está lá tudo,claro como a água… não sejam preguiçosos…

  9. Se não partirmos do principio que sabemos mais que os outros e somos melhores, a pensar e ter ideias como se deve ser presidente e refugiado, sugiro que acompanhe a pratica efectiva da Alemanha, Suecia na integração dos refugiados. Compare depois com a pratica de há trinta anos da Belgica (Molembeques são as dezenas e por toda a Belgica, a na França dos holandinhos -uma visita a Marselha, sem relogio nem joias, mostraria a quem goste de ver, se acha que aqueles jovens, podem ter grande sentimentos de justiça. Vale a pena ir ver no terreno e depois talvez já possa fazer uma ideia do que é ser descriminado e do resultado que isso dá , principalmente na 2ª geração. Quando os holandinhos da França. Belgica, Holanda e Inglaterra lhes contarem as suas versões, apanhe um voo low-cost e vá passar lá 3 ou 4 dias; fica mais esclarecido.

  10. “Será que Cavaco desqualificou de tal forma a função de Presidente que o máximo que conseguimos como candidatos é o leque exibido?”

    Cavaco foi o único político em Portugal que não recorreu a Maçonarias, Opus dei, militares, terroristas, foices nem martelos.

    Se o tino de rãs não tem méritos, nem o padre de Câmara de Lobos sabe o que diz, a culpa é de outros, antes de Cavaco.

  11. O Guterres pode ter muitos defeitos mas e António, não é Eugeni(c )o.

    O busilis da entrevista foi o que não aconteceu. A sacrossanta pergunta , que biografo de Cavaco Silva faz a todos os condicionados Socialistas que entrevista”o que pensa do processo a José Socrates?”
    Estranho. Ou talvez não.

  12. dsm: A desconversa dá sempre jeito. Olhe, aproveito-a para dizer o seguinte: a reprodução interessa, e muito, aos países de acolhimento. Só lamento que aconteça porque as mulheres não fazem, regra geral (há exceções), outra coisa.

  13. Ó Ignatz essa do cavaco que ri está porreira.
    Lembrei-me dos sacanas dos brasucas da piada que perguntaram ao Eanes numa visita lá, porque é que não se ria o presidente português.
    Então inventaram que não se ria porque era “curto de pele”.

  14. No debate de ontem à noite na SIC Notícias, entre Sampaio da Nóvoa e o cata-vento hiperactivo, ficou clara uma coisa: o troca-tintas efemeramente fofinho, que de burro não tem nada, mostrou que sabe bem quem é o seu principal adversário. O Nóvoa deitou-lhe areia no sistema de lubrificação e o desgraçado gripou a cambota! Foi sol de pouca dura, a ternurenta fofura, e do breve interregno fofinho dos últimos dias sobrou o sorriso idiota. No lamentável espectáculo que deu ontem, chegava a ser confrangedor ver o coitado com o verniz estalado, tentando compensar a sova com a exibição deslocada e permanente do corta-palha. Nem se apercebia, o pobre, de que, nesta altura do campeonato, o sorriso alarve, anteriormente um trunfo, se converteu em activo tóxico.

    E ao perder truculenta e malcriadamente a tramontana, perante os golpes do adversário, mostrou igualmente por que motivo, quando em vez da confortável comentadoria se dedicou à política activa, na liderança do seu partido, a breve experiência redundou em clamoroso fracasso: o frenético cata-vento não tem controlo sobre si próprio, tão simples como isso. Imaginem o que seria uma criatura destas no mais alto cargo da nação. Vade retro!

  15. elas engravidam, sozinhas, por obra do espírito de maomé que não sabe fazer mais nada. dava uma capa gira para o charlie. ai que riso! :-)

  16. Lopetegui pode ser substituído por Edgar madeirense ou Tino de rãs.

    Marcelo e Nóvoa ficam em lista de espera.

  17. Se assim é… :
    – espero pela 2ª volta!
    O melhor será receber conselho fidedigno ou, :
    – não vejo volta a dar.
    Dado que :
    – o riso idiota e a beatitude desalentam o mais santo
    – tempos de antena bem sacados mas só
    – Nóvoa ainda é névoa.

  18. trucidar pessoas ao jantar através da tv sem contraditório, e ao longo de muitos anos,é efetivamente uma brincadeira de crianças.marcelo teve ontem um adversário duro de roer, e por isso, passei a acreditar numa segunda volta.

  19. fifi não acreditava na segunda volta, passou a acreditar.

    A fé é que salva o fifi.

    Que seria de fifi sem acreditar.

  20. a corrupção de paulo morais,nunca deu um corrupto para amostra! mas dá dinheiro este seu modo de vida! já escreve no “correio da manha”

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