“Sr. Doutor Passos Coelho, é para arquivar?”

Depois das declarações altamente elaboradas (para o que é costume) de Passos Coelho sobre Sócrates e a comunicação social, o Ministério Público deverá andar a estas horas a coçar a cabeça, sem saber o que fazer. Bem, a coçar a cabeça já andava, mas por outros motivos.

Eis as declarações:

O que terá acontecido na sociedade portuguesa para que um jornal de referência faça um editorial a mandar calar um político, quando muito tolerando que ele se possa defender da justiça na comunicação social? Deveria ser ao contrário, ele deveria defender-se da justiça na justiça e recorrer à comunicação social e ao público em geral para confrontar as suas ideias”, pois “não ficou diminuído de as ter”, disse.

Fonte: DN

Temos então que, para este traste, Costa cria as condições para a asfixia democrática, como dizia o outro. Se se estão a rir, estão a  rir bem. É que o «asfixiado» é, neste caso, o homem contra o qual o PSD apontou todos os canhões do ódio de que dispunha no seu arsenal, envenenando a sociedade portuguesa a ponto de o Correio da Manhã, que «interpreta» o sentimento público, o começar a julgar feroz e impunemente, em criminosa promiscuidade com o MP, na tentativa de o destruir de vez. Mas isso era dantes. Agora, já chega.

O simples facto de Sócrates ter dito, em entrevista, que não chefiaria um governo se tivesse perdido as eleições foi a luzinha que o PSD avistou ao fundo do túnel. Mesmo sabendo nós que tal fórmula governativa não aconteceria principalmente porque o relacionamento de Sócrates com a esquerda radical e os comunistas sempre andou pela hora da morte (pois a urgência de correr com a matilha Passos & Companhia estaria lá), tal foi o bastante para o PSD, que andava aos papéis com a consolidação do entendimento à esquerda, a que chamou «geringonça» numa tentativa de achincalho, sem sucesso, desatar a defender a liberdade de expressão de Sócrates e até, pasme-se, o seu direito a defender-se perante a justiça (que o não acusa, é um facto) e não na comunicação social. Vale tudo, senhores! O post do Valupi foi certeiríssimo. Será que, só para derrubar António Costa e retomarem o poder, iremos assistir ao PSD a exigir que o Ministério Público acuse ou arquive de uma vez por todas o processo contra Sócrates?

Como não há de andar o Ministério Público, totalmente endrominado pelas estratégias políticas mais sórdidas da direita? Se anda mal, não tenho pena. Se anda bem, isso prova muita coisa e o desfecho não tem graça. O grau zero da política e o grau máximo da falta de vergonha é isto.

13 thoughts on ““Sr. Doutor Passos Coelho, é para arquivar?””

  1. Outra. Acho que o preconceito e a febre de conspiração estão a roubar a razão nesta casa. Passos Coelho sequer falou no conteúdo da entrevista. Fez uma crítica contundente a um texto ignóbil que, na prática, identifica a orientação editorial de um dos poucos jornais supostamente “não correio da manhã”. Isso é saudável, sejam quais forem as suas motivações. Se não fosse cínica, era uma excelente oportunidade para a actual direcção do PS corroborar e mostrar apoio a um companheiro perseguido.

  2. A visão da Penelope sobre o Coelho é a mesma da do Público sobre Socrates. A total inversao da logica argumentativa e do posicionamento E isto tudo isto porquê? Porque nao pode dizer que o PS e Costa primam por uma vergonhosa ausência em assuntos que estão no adn do partido e que o Coelho se limitou a aproveitar isso. O que faria um PS normal e boa consciência? Diria que Coelho tem absoluta razão em apoiar Sócrates e que devia te-lo desde inicio e não o ter acusado e difamado como anteriormente. Fácil, isto é corriqueiro e faz-se a propósito de dezenas de assuntos. O incomodo com que isto e tratado ou nao tratado no PS diz bem da ma consciencia.
    Ate hoje os únicos que tiveram coragem para defender a democracia neste caso foram Louçã (nas páginas do Publico) e agora Coelho, com ou sem hipocrisia fizeram-no e isso não é pouco nesta democraciazinha da treta.

  3. A democraciazinha so funciona bem la fora (Brasil e Angola) e quando os nossos empregozinhos não estão em causa. Ai o português é um animal pela democracia, juntam-se os Charlies ao pessoal que esta na Assembleia mais os amigos nos jornais e agencias de comunicação e faz-se um foguetorio. Sentem-se uns campiões, rejuvenescidos e prontos a fechar os olhos ao que se passa a seu lado.Ah a Africa Ah o Brasil!

  4. a democracia defende-se na assembleia quando toca a votar, o resto é folclore. o massamólas já disse tudo e o seu contrário, até os relógios avariados acertam 2x ao dia.

  5. Lucas Galuxo: O problema é mesmo o de ser cínico, no que respeita a Sócrates. E pulha e contraditório e oportunista. Alguém que não olha a meios. Do conteúdo da entrevista, retira a pequena passagem que lhe abre uma nesga de oportunidade de combater Costa. Se houvesse bom jornalismo, marcavam-lhe já uma entrevista para detalhar as suas observações e confrontá-lo com declarações anteriores sobre o mesmo assunto.

    Quanto à insinuação que deixa no ar de que o editorial do Público é sintoma da asfixia que se vive com este Governo, fazes o favor de comentar ou achas que tem razão? Praticamente todos os jornais, revistas e estações de rádio estão dominados pela direita – Expresso, Sol, CM, DN, Sábado, TSF, etc. Para asfixia costista é um tanto bizarro.

  6. Penélope, apenas vi observações acerca do Editorial do Público, não vi Passos Coelho comentar a entrevista. Onde é que isso está?
    Ele pode insinuar que a atitude censória e anti-democrática do Público se deve à mudança de governo. É uma boa oportunidade para o PS desmontar essa fantasia torpe e desmascarar “os truques da imprensa portuguesa” dominante, nos últimos anos. Ter António Costa ou Fernando Medina entre os colunistas do Correio da Manhã não ajuda.
    De resto, Passos Coelho disse a mesma coisa que o post do Valupi aqui colocou. Não percebo porque um anónimo pode dizer o que um líder político identificado não pode. Sendo adversário, deveria era ser aplaudido.

  7. Registe-se que o Público nem deu destaque ao conteúdo da entrevista de Sócrates nem à reacção de Passos Coelho. Mostrou-nos o carácter da sua Direcção pelo Editorial e pela prática jornalística consequente. Mais uma vez, José Sócrates fez sair o coelho da toca, está à disposição da mira das consciências livres.

  8. Lucas Galuxo: Não é o que diz, é por que razão o diz. E o que já disse antes.

    Não viu Passos a comentar a entrevista, porque ele oficialmente não a comentou. No entanto, todas as suas declarações pressupõem que a conhece, no todo ou, mais provavelmente, em parte, a que lhe interessa.

    Sim, concordo que Costa podia pegar no que Passos disse e dizer também alguma coisinha sobre justiça e direitos dos cidadãos, nomeadamente o de não serem eternamente suspeitos de crimes. Podia até dizer que fazia suas as palavras do Passos, embora agora pareça tarde.

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